Óculos escuros, moletom e pantufas. Essa sou eu enquanto caminho pelo aeroporto. Meu pai está na minha frente, conversando com Sérgio sobre a noite passada. A única coisa que posso dizer é que nunca mais vou misturar bebidas na minha vida. Passei muito mal e acordei com uma bronca do meu pai ao mesmo tempo que minha cabeça parecia explodir.
Assim que passamos pela segurança, sento-me na primeira cadeira vazia que encontro na sala de embarque. Zidane senta ao meu lado e aconchego-me em seus braços. Ele beija a minha cabeça antes de me apertar em um abraço de urso.
-Pai, você está me esmagando! -reclamo.
-Você merece. -diz.
-Eu já pedi desculpas. -reviro os olhos sem que ele veja. -Foi um descuido meu, não vai acontecer de novo.
-Espero que não já que você vai ficar de castigo.
-Castigo? -pergunto chocada. -Eu tenho dezoito anos, pai. Não tenho mais idade pra ficar de castigo.
-Se você tem idade para beber, pode muito bem ficar de castigo. -retruca. -Vamos conversar em casa.
Cruzo os braços e fecho a cara, exatamente como uma criança faria, mas não consigo evitar. É muito injusto ficar de castigo por algo tão bobo. Eu nunca dei trabalho, isso deveria ter algum crédito. Uma vez o Elyaz quebrou um dos vasos favoritos da mamãe porque estava jogando bola dentro de casa e o máximo que ele recebeu foi uma bronca.
O embarque é anunciado meia hora mais tarde. Entro no avião procurando pela poltrona que devo sentar. Dessa vez fiquei com a do corredor. Procuro os meus fones de ouvido na mochila. Hoje não estou afim de conversar com ninguém.
Observo os passageiros entrando e meus olhos encontram com os de Marco. Ele senta ao meu lado e faz um sinal para eu tire os fones de ouvido.
-O que foi? -tento não soar grossa.
-Você está bem? -pergunta preocupado.
-Estou melhor. Minha cabeça ainda dói.
-Acho que não é um bom momento para conversarmos. -diz chateado.
-Não, desculpa. -suspiro. -Podemos fazer isso amanhã?
-Não quero ser grosso, mas não tem muito o que falar, Catarina. Você gosta de mim?
-Marco, eu realmente não quero fazer isso agora.
-É uma resposta simples. -ele parece irritado. -Porque você está me enrolando?
-Eu só não quero discutir o que eu sinto em um avião com pessoas escutando a nossa conversa. -explodo. -Depois conversamos.
Coloco os fones de ouvido e aumento o volume, impedindo que eu ouça qualquer barulho externo. Clico na playlist com as minhas músicas favoritas. Só elas podem me animar depois de descobrir que ficarei de castigo e dessa discussão idiota com Marco.
Passar pelo aeroporto de Madrid foi um verdadeiro inferno. Fotógrafos, fãs, jornalistas. Todos eles se amontoavam tentando chegar nos jogadores. Felizmente passei ilesa por eles e pude ir para casa sem conversar com ninguém.
Minha mãe nos recebeu com uma fornada de buñuelos de Calabaza, mas dispensei. Estou cansada, chateada e tudo que quero é a minha cama. Subo a escada com a mala, ignorando os chamados de Elyaz para que eu vá a cozinha. Jogo-me no colchão e fico imóvel.
-Querida? -a voz da minha mão ecoa no quarto. -Está acordada?
Resmungo como resposta. Escuto seus passos se aproximando e o colchão afunda no lugar que ela sentou. Suas mãos puxam delicadamente a minha cabeça para deitar em seu colo e fazem um carinho gostoso em meus cabelos.
-O que está acontecendo, meu amor? -sinto a preocupação em sua voz.
-Os últimos dias foram horríveis. -murmurei.
-Você conversou com o Marco? -ela pergunta. Balanço a cabeça dizendo que não.
-E eu nem sei se devo. -suspiro. -Ele foi um idiota comigo no avião. Não quero vê-lo tão cedo.
-Acho que você deveria falar com ele. -olho para a minha mãe. -Você precisa expor seus sentimentos. Se ele disse que está apaixonado por você, tenho certeza que ele quer uma resposta. Nenhum homem gosta de ficar atrás de uma mulher indecisa.
-Mas eu não estou indecisa. -coloco a mão no peito. -Eu só não queria me declarar em um avião com pessoas ouvindo. Mamãe ele é a primeira pessoa por quem eu me apaixono e é um jogador de futebol famoso. Por mais que ele goste de mim, não consigo pensar nas milhares de meninas que o amam. Eu fico me comparando com a ex-namorada dele e…
-Pode parar. -minha mãe me interrompe. -Marco gosta de você, Catarina. Não vou ser hipócrita e dizer que estou feliz com essa relação, mas eu só quero te ver feliz. Essa menina insegura e triste não é a Catarina que conheço.
Minha mãe tem razão. Desde quando me tornei essa garota medrosa que não luta pelas coisas que quer? Preciso conversar com o Marco.
-Você está certa. -sorri. -Posso sair com ele?
-Claro. -ela ri. -Porque está pedindo permissão?
-Porque o papai disse que iria me deixar de castigo. -mordi o lábio.
-Sim, ele me falou. -Véronique pensa por alguns segundos. -Mas o castigo pode começar amanhã.
Fiquei de joelhos na cama antes de pular em cima da minha mãe para abraçá-la.
-Obrigada.
-Por nada, amor. -ela beija minha bochecha. -Mas você precisa de um banho.
-Eu sei. -fiquei de pé. -Vou me arrumar.
Entro correndo no banheiro com o celular na mão. Espero a risada da minha mãe sumir para procurar o número de Isco na agenda. Bato o pé no chão, impaciente, enquanto espero que o espanhol me atenda.
-Você tem a honra de falar com Isco. -o próprio diz. -Seja breve.
-Meu Deus! -exclamo incrédula. -É assim que você atende seus amigos?
Ele ri.
-Com certeza. Você tem a honra de ser minha amiga, se não fosse eu nem atenderia.
-Obrigada, eu acho. -revirei os olhos.
-Mas porque me ligou? Não foi para ouvir a minha doce voz.
-Acertou. Preciso que você me leve a casa do Marco.
-Hm...vai rolar um triângulo amoroso entre nós? -ele brinca.
-Não seria uma má ideia. -ri. -Mas eu preciso conversar com ele e não sei onde ele mora.
-Tudo bem, eu vou te levar.
-Obrigada Isco. -sorri mesmo que ele não pudesse ver.
-De nada. Te pego em meia hora.
Encerro a ligação e deixo o celular de lado. Vejo a minha imagem no espelho e penso no que devo dizer para Marco quando o vir.
-Se continuar a estalar os dedos eu vou enlouquecer. -diz Isco apertando o volante.
-Desculpa. -paro com o ato. -Eu estou nervosa.
-Porque? Vai pedir o Marcinho em casamento? -ele brinca.
-Nós só vamos conversar. -dou de ombros como se não fosse nada demais.
-E não podia ser pelo telefone?
-Não, é muito importante. -mordi o lábio.
-Você tá grávida? -pergunta. Fico em silêncio. -Caralho Catarina, você tá grávida? -ele grita.
-Claro que não, Isco. -reviro os olhos.
Ele estaciona em frente a uma casa enorme.
-Boa sorte na sua conversa.
-Obrigada. -forcei um sorriso.
Desci do carro e caminhei lentamente para perto da porta. Toquei a campainha, me segurando para não roer as unhas de nervosismo.
-Catarina? -diz Marco surpreso.
Continuo parada sem conseguir dizer uma palavra. Marco está sem camisa, exibindo seu peitoral e sua barriga definida.
-Ei? -ele chacoalha a mão na frente dos meus olhos.
-Oi. -murmuro sentindo as minhas bochechas pegando fogo. -Podemos conversar?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.