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História Chess - Jogo perigoso


Escrita por: Pan_Alban

Notas do Autor


Yoo!
MillaSenpai aqui fazendo aquela ajudinha pra Pan e postando o capítulo pra ela.
~Boa leitura.

Capítulo 14 - Jogo perigoso


Fanfic / Fanfiction Chess - Jogo perigoso

— Hmm… Então você era o motivo para meu filho fazer tão rápido as coisas que mandei. — Yoshino estava na porta da sala com as mãos na cintura e um sorriso malicioso no rosto esperando Temari avançar pelos portões. Temari acenou sem jeito, não sabia o qu comentar — Vocês vão sair?

— Olá dona Yoshino. — Temari sorriu um pouco nervosa e levantou os dois ombros sem saber como responder — Ele está dormindo?

— Banho. — Yoshino sorriu amigável e gesticulou para que Temari entrasse. Em seu ombro havia um pano de prato e da cozinha vinha um cheiro delicioso de assado. A mulher riu para si mesma andando na frente de Temari até a cozinha e continuou — Ele estava agitado hoje, eu aproveitei isso e acho que por minha causa ele está atrasado. Desculpa. — Não havia arrependimento na voz de Yoshino, havia humor e Temari ficava cada vez mais constrangida. — Lavou todo o quintal para mim, arrumou as gavetas do guarda roupas, limpou a piscina, cortou alguns galhos… E em uma velocidade que eu tive que me beliscar para não pensar que estava sonhando. — Foi contando nos dedos e riu no final voltando a mexer em uma panela que fumegava no fogão.

— Difícil imaginar algo assim. — Temari comentou puxando as mangas da camisa que usava e lavando as mãos na pia.

— Ele é um preguiçoso, assim como o pai dele era… pode começar pelos pimentões, por favor… e por isso as mulheres têm que colocar eles no lugar. Se eu não grito com meu filho, ele não sai do lugar.

Temari começou a picar os pimentões em cima da tábua já pronta em cima da pia e ia ouvindo Yoshino falar sobre o quanto Shikamaru tinha potencial, assim como o pai, mas que havia a necessidade de alguém estimular ele a ser grande, assim como o pai. Era uma cena normal aquela em que as duas estavam. Temari e Yoshino haviam ficado amigas desde que Temari começou a frequentar a casa dos Nara com regularidade e, sem perceber, havia criado uma sintonia surreal com a mulher. As duas se entendiam de uma forma assustadora - nas palavras de Shikamaru - e acabavam se comunicando sem que usassem palavras propriamente ditas, como naquele caso em que Temari via que Yoshino poderia precisar de ajuda e já começava a fazer.

Yoshino sorriu para a garota que cortava os legumes a disposição dela na pia sem se dar conta da imagem de nora ideal que passava na cabeça da mulher. Uma nora que não precisava de ordens, que era altiva e decisiva, que tomava a dianteira e fazia acontecer. Que com certeza daria um jeito no seu filho.

— Mas, se tem uma coisa que não posso reclamar do meu filho — Yoshino secou as mãos molhadas no guardanapo em seu ombro e olhou com um sorriso para Temari que terminava de cortar tudo. Temari estranhou a pausa da mulher e a olhou de canto mostrando estar escutando, mas seu rosto se coloriu de vermelho com o olhar raro e doce de Yoshino e com suas próximas palavras — é que ele tem bom gosto para mulher. — Antes que Temari achasse sua voz perdida no abismo da vergonha, antes que sua mente conseguisse formular qualquer reação aceitável que não fosse ficar com a boca aberta e os olhos arregalados, Yoshino sorriu e pegou os legumes cortados para colocar dentro da panela — Vão jantar aqui, filho?

Temari sentiu o frio percorrer sua espinha quando ouviu a pergunta. Yoshino nem precisava olhar para trás para saber que o Shikamaru estava ali, talvez estivesse há muito tempo e Temari nem tivesse percebido.

— Hmm, acho que sim. Temari?

De costas, ela segurou firme o cabo da faca e balançou a cabeça duas vezes. Ela estava tensa e aquilo poderia ser cômico se não fosse com ela.

— Tudo bem, saiam daqui e não voltem tarde. Não vou esperar ninguém para jantar. — Yoshino falou alto como se toda aquela situação fosse a coisa mais normal do mundo. Temari só queria enfiar a cabeça dentro daquela panela. — Não preciso avisar que se eu encontrar roupa fora do cesto do banheiro eu vou jogar no lixo, né?

— Tá. Tá.

— Só um “tá” já está bom, Shikamaru!

Temari acabou suprindo seu nervosismo com aquela tão rotineira cena de Yoshino chamando a atenção do filho e ele respondendo de forma mole e quase desaforado. Lavou as mãos na pia e secou-as quase rápidas demais, então se virou para ver um meio sorriso divertido no rosto inclinado de Shikamaru, o cabelo preso num coque alto e uma camisa cinza de flanela aberta sobre uma camiseta branca, usava uma calça jeans clara e com partes gastas estratégicas perto dos joelhos, nos pés os sempre presentes coturnos. O sorriso dele pareceu crescer com o olhar dela por seu corpo, mas morreu quando ela apertou os lábios e as sobrancelhas irritada.

Não demoraram a sair da casa e Temari ia na frente em passos pesados, morta de constrangimento e não sabendo como lidar com toda aquela avalanche de acontecimentos e sentimentos que estava ocorrendo naqueles poucos dias, então fechava a cara e fingia que socaria a cara de Shikamaru se encostasse nela.

Shikamaru, entretanto, parecia não ter medo ou conseguir ver através daquela máscara, pois, assim que fechou a porta da entrada, a girou pela cintura e encostou os corpos sob o olhar surpreso dela. Ele sorria e Temari sentia seu coração quase saltar pela boca.

— Espero não apanhar por querer te beijar — ele sussurrou com as duas mãos bem firmes na cintura dela e o rosto abaixando-se bem próximo. Temari decididamente não esperava uma ação daquelas vinda de Shikamaru, realmente pensou que teria que dizer a ele que poderia beijá-la sem esperar que ela tivesse que tomar a iniciativa sempre, mas lá estava Shikamaru mostrando uma segurança máscula impressionante. E ela gostou. Vendo a expressão de Temari suavizar, ele sorriu um pouco e inclinou a cabeça para o lado moldando uma respiração a outra. O coração acelerou mais uma vez e uma quentura gostosa subiu pelo corpo dela. Ele moveu os lábios preparando-se para dizer algo bem próximo aos dela e Temari tinha certeza que surgiria um “Problemática”, mas a voz embargada e rouca sussurrou outra coisa antes de tocá-la completamente — Linda.

Poderia ser uma palavra simples demais, um elogio que carregava um singelo significado perante vários outros com mais exuberância, mas aquela palavrinha mexeu em algo dentro de Temari que quase a deixou paralisada e sufocada. Então foi a vez dela de parecer inexperiente enquanto os lábios finos dele pousavam nos seus e lentamente a embalava num beijo profundo e certo. Ele se afastou um pouco - talvez confuso com a inércia dela - e Temari acordou de seu torpor, então moveu os braços inúteis ao lado do corpo entrelaçando o pescoço dele e o prendendo contra sua boca mais uma vez, sua ferocidade o fez rir.

Os dois se beijaram na frente da casa dele com uma saudade que Temari não sabia estar sentindo até estar novamente naqueles braços, com um fogo como se fossem dois adolescentes descobrindo os prazeres da vida. Bom, um deles ainda era…

Ofegantes, os dois se olharam com sorrisos cúmplices sem se separarem.

— Isso foi muito bom, Nara. — ela disse puxando um sorriso de canto e roubando um selinho do distraído garoto que sorria orgulhoso — Andou treinando? — O sorriso de Shikamaru morreu com a pergunta e balançou a cabeça negativamente de forma apavorada. Temari riu e o puxou para um beijo mais rápido, ela não queria que Yoshino os pegasse ali. — Vamos para outro lugar, sim?

Mudou de assunto sentindo uma coisa no peito, um pouco de ciúmes só de pensar nele com outra garota. Claro que ele não teria ficado com outra menina naquele meio tempo, ele não seria tão estúpido, era mais fácil acreditar que Shikamaru criara um padrão em sua cabeça e estudou “como beijar bem” com o mesmo afinco que deveria estudar estratégias de shogi.

Shikamaru resmungou sobre a pergunta e segurou a mão dela a levando até a caminhonete.

— Tudo bem passarmos na cidade para eu comprar umas coisas? Eu ia antes, mas minha mãe…

— Tudo bem. — Temari o interrompeu colocando o cinto. — É você quem quer falar comigo, tenho muito tempo hoje.

Shikamaru engoliu em seco com aquela menção à conversa e assentiu com a cabeça dando partida na caminhonete. Os dois iam conversando com a mesma flexibilidade que tinham quando ainda eram amigos, mas havia algo de diferente naquela conversa.

— Então todas as vezes que eu ficava nervosa você colocava música para me acalmar? — perguntou fingindo-se de ofendida e ele sorriu assentindo.

— Sempre deu certo. As pessoas costumam relaxar sob influência musical. Aquela vez que me salvou no cais e estava brava com seus irmãos, por exemplo. Eu achei que fosse morrer com você dirigindo daquele jeito. O medo que não senti pela garota tentando me assaltar, eu senti de você.

— Você gosta de brincar com o perigo, Shikamaru. — ela apertou os olhos na direção dele e o viu rir e lamber os lábios. Temari não soube o que pensar daquilo, mas achou tão sexy que teve que desviar os olhos para a rua.

— É… eu gosto mesmo.

Temari não esperava que ele respondesse. Ainda mais que respondesse aquilo no tom malicioso que ele usou. O olhou de canto um pouco abalada, mas quando viu o sorrisinho petulante dele não pôde deixar de pensar que tinha que mostrar em que posição cada um estava ali e que ela tinha mais chances de derrotá-lo do que o contrário.

Respirando fundo, ela atrevidamente apertou a coxa dele e sentiu o corpo dele ficar rígido na mesma hora. Um sentimento de vitória subiu pelo estômago dela. Olhou-o de canto e sorriu para o rosto pálido.

— Se não aguenta o furacão, então não provoca.

Com um tapa na coxa masculina, ela retraiu a mão para seu próprio colo fingindo muito bem que aquilo não a afetava de jeito nenhum, mesmo que seu corpo se aquecesse de uma forma descontrolada. O viu mexer-se desconfortavelmente no banco e passar uma mão pela testa.

— Não faça isso comigo, mulher. — resmungou baixo tirando um riso nervoso dela, e então ligou o rádio para tocar qualquer música que estivesse passando.

— Oras, ligou o rádio por quê? Eu não estou nervosa. Está tentando acalmar quem? — Temari ainda conseguia disfarçar sua própria vergonha e provocou com um sorriso convincente.

Shikamaru estalou a língua e enrugou as sobrancelhas a chamando de “problemática”.  Os dois mudaram de assunto tão rápido e parecia haver um combinado mudo de que deveriam tomar cuidado com aquele tipo de jogo entre os dois.

Ele parou a caminhonete numa conveniência e Temari nem se surpreendeu com a mão estendida de Shikamaru. A segurou muito bem vinda e entraram juntos no espaço. Temari não sabia sobre Shikamaru, mas ela sentia uma coisa gostosa e inexplicável em ser vista de mãos dadas com ele. Talvez fosse um ínfimo sentimento de posse.

— Vou pegar algo para beber. Quer alguma coisa. — ela disse vendo os freezers adiante e ele balançou a cabeça pegando outra direção.

Temari não demorou a escolher o que queria e pegou mais uma caso ele mudasse de ideia. Teve vontade de pegar um chocolate, mas imaginava como Yoshino ficaria brava com eles se não jantassem, então desistiu e foi atrás de Shikamaru pelas prateleiras. Foi andando distraída olhando os produtos nas prateleiras quando finalmente achou Shikamaru, mas a cena que viu a fez se esconder e segurar um sorriso sacana: Shiho estava tentando paquerar Shikamaru.

Aquilo seria divertido de se assistir.

Shiho ajeitava os óculos a todo momento e sorria debilmente na direção do garoto que estava visivelmente desconfortável. Temari viu com satisfação Shikamaru olhar ao redor com um pouco de pânico.

— Que surpresa gostosa… digo, maravilhosa te encontrar aqui, Shikamaru. — Temari ouviu a risadinha de Shiho e revirou os olhos.

— Sim, sim. Bom, eu já estou indo. Foi bom te ver, Shiho.

Temari apertou os lábios entre os dentes querendo rir, era sempre interessante ver as investidas de Shiho e o jeito gentil que Shikamaru tentava manter a menina longe. Temari aguardou a próxima jogada da sua fraca oponente, tinha até uma ideia do que ela faria. Shiho tentaria puxar algum assunto desinteressante e então o chamaria para sair, era bem óbvio.

Entretanto, Shiho surpreendeu Temari segurando a manga da camisa de Shikamaru e ultrapassando o limite pessoal. O rapaz deu um passo para trás, mas bateu as costas na prateleira e a menina de óculos avançou.

— Eu queria te dizer uma coisa, Shikamaru. — ela levantou o rosto e Shikamaru só tinha horror estampado ali. Certamente ele não sabia o que fazer e tinha medo, e estava certo em ter medo, porque o sorriso de Temari se desfez e as narinas se inflaram com a cena.

Aquilo não era mais engraçado.

— Shiho, por favor… — Shikamaru tentou empurrar a menina pelo ombro com gentileza, mas ela não parecia se dar conta, ficando ruborizada com o toque dele.

— Se não estiver ocupado, digo… a gente podia fazer algo...

Mas era uma abusada mesmo. Temari pensou estreitando os olhos e saindo sem pensar de seu esconderijo. Shikamaru foi o primeiro a vê-la e não sabia se olhava com alívio ou medo para ela. Mas os olhos de Temari tinham apenas um alvo e este alvo não tinha ideia do quanto era alvejado em pensamento por insistir em tocar em algo que não era dela.

— Oi, Shiho. Que surpresa maravilhosa te ver aqui. — Temari usou a mesma palavra que Shiho e sorriu assustadora quando a menina pulou surpresa com a terceira pessoa.

— Temari? Ah.. oi! — arrumou os óculos e soltou a manga de Shikamaru dando um passo para trás. — Coincidência todos nós estarmos aqui, né?

Temari parou ao lado de Shikamaru e nem o olhou, Shiho pareceu perceber que nenhum dos dois estava surpreso com o outro ali, nem haviam se cumprimentado. Vendo a garota olhar de um para o outro, Temari se preparou para sua jogada decisiva, iria acabar com aquilo de uma vez por todas.

— Realmente. — estalou os lábios e sorriu novamente — Tudo bem com você?

Shiho olhou confusa para Temari, não era do feitio dela agir daquela maneira tão… gentil…

— Hmmm… estou bem. E você?

— Só estaria melhor se não estivesse atrasada. — sorriu inclinando a cabeça e encenando uma boa cara de pesar. Então inclinou o corpo para frente e sussurrou — Jantar com a sogra. Não é bom se atrasar, não é mesmo? — Deu uma piscada e Shiho abriu a boca em um perfeito “o” concordando com a cabeça. Temari ouviu um engasgar de Shikamaru as costas dela, mas lidaria com ele depois, continuou sorrindo e sabia que não era um sorriso bonito. Endireitou o corpo e ficou pronta para o xeque mate, olhou a baixa Shiho de cima e buscou a mão de Shikamaru atrás de si, ele viu o que ela procurava e estendeu a mão para ela. Shiho ainda não havia percebido o movimento. — Foi bom ver você, Shiho. Vamos, Nara, sua mãe está esperando.

E ela se virou sem ver o queixo de Shiho caindo, só ouviu um barulho de algo chegando ao chão que deveria estar nas mãos da garota e um gaguejar confuso. Shikamaru quase teve que correr pra não ser arrastado por ela até o caixa da conveniência. Ela estava espumando, mesmo que sentisse um pouco do sabor da vitória diante de uma oponente tão fraca. E então sentiu-se ridícula. Por que ela precisou ter feito aquilo?

— Ciumenta… — a voz de Shikamaru respondeu com humor perto do ouvido dela na fila do caixa e Temari apertou as latinhas de refrigerante nas mãos. — Não achei que chegasse a isso.

— Cala a boca.

Virou o rosto vermelho para frente xingando a si mesma pelo comportamento infantil e impulsivo. Mas, por outro lado, tinha mesmo que mostrar a Shiho que Shikamaru não estava disponível. Bom… ele não estava, não é? Não que eles fossem namorados e tudo mais, mas ela não gostaria que ele saísse com outras garotas ou que elas achassem no direito de cogitarem a possibilidade de terem algo com Shikamaru. Ah, não! Ele disse que era apaixonado por ela, aquilo queria significar que não havia espaço para uma terceira pessoa. Isso!

Com esse pensamento, Temari ficou bem consigo mesma e sorriu para o atendente que pegava suas coisas. Calou Shikamaru que disse que iria pagar tudo tirando o dinheiro de sua carteira e pegando sua sacola enquanto ele passava o que tinha comprado. Numa tentativa de não olhar para a cara de deboche dele depois da ceninha dela, ela olhou o que ele tinha comprado e um vinco se fez entre suas sobrancelhas na hora que viu os maços de cigarro. O atendente nem ao menos pediu o documento de Shikamaru para vender os cigarros e Temari mudou de humor no mesmo momento. Não, ela não iria envergonhá-lo na frente de todo mundo falando sua verdadeira idade e o fazendo devolver os cigarros, mas ela conversaria do seu jeito para entender aquele vício e convencê-lo a largar.

Shikamaru percebeu a expressão dela e não precisou de uma palavra para saber o que se passava ali. Suspirou audivelmente pegando a sacola com mais algumas coisas que Temari não reparou e a seguiu para fora da loja. Os dois iam em silêncio até o carro, cientes do porquê estavam daquele jeito e ainda mais cientes de que Temari não deixaria aquilo para lá.

— Algumas pessoas tem lutas individuais. — ele disse sério em tom baixo, Temari o olhou por cima do ombro antes de entrar na caminhonete alta — Apenas… deixe-as lutar.

— Isso mais parece uma saída covarde do que uma luta em pé de igualdade. — respondeu seca não deixando de olhar para ele.

Shikamaru não queria falar sobre os cigarros e aquilo ficou óbvio com sua expressão voltada para a rua. Mas, Temari não aceitava que ele pudesse estragar a vida por conta de um vício que parecia inofensivo. Se preparava para recomeçar a falar quando ele falou.

— Teve um tempo na minha vida que eu precisei de algo para não surtar. — explicou-se de modo ainda baixo, aquela pequena revelação já fez Temari apertar os lábios com compaixão. Ela conseguia imaginar o tanto de informação deveria passar pela mente de Shikamaru nesse tempo obscuro da vida dele e o perigo que deveria ser ter uma mente tão brilhante num corpo quebrado. Suspirou inaudivelmente e aguardou que ele dissesse mais alguma coisa. — Eu sei o quanto eu posso fumar para não me tornar dependente e acabar com a minha saúde, ok?

— Se sabe, então por quê não para?

Shikamaru respirou fundo e umedeceu os lábios com a ponta da língua.

— Porque ainda não consigo.

E foi tão doloroso para ele dizer aquilo quanto foi para ela ouvir.

Temari respirou fundo e olhou o garoto que antes de tudo era o seu melhor amigo e que se importava muito mais que com qualquer outra pessoa. Seu peito se apertou e ela quis dizer que tudo ficaria bem e qualquer mensagem motivacional clichê, mas ela não sabia o que ele sentia de verdade para ter tanta certeza que iria ficar bem.

Ele suspirou levemente ao lado, talvez chegando a mesma conclusão que ela que não havia nada a ser feito e que não era algo que outra pessoa podia ajudar. Talvez ele até esperasse seu silêncio sabendo bem que Temari não era o tipo de pessoa que desperdiçava palavras, mas ela não ficou em silêncio. Primeiro tocou a mão dele por cima do câmbio e afagou delicadamente o lugar, depois deixou que sua voz soltasse uma verdade que ele não deveria jamais esquecer:

— Você não está sozinho.

Ela podia não entender em profundidade o que Shikamaru passava, mesmo que ele explicasse e colocasse em um gráfico. Mas, ela podia mostrar que ele não precisava de artimanhas maliciosas à saúde dele para se sentir relaxado ou bem. Ela estaria ali. Assim como os amigos dele e a mãe.

Suas palavras pareceram chegar no ponto exato e Shikamaru a olhou agradecido com um sorriso tão pequeno que quase era imperceptível, mas que trouxe um significado grande de gratidão. Pegou a mão dela sobre a sua e deixou um beijo.

— Sabe? Você me faz um homem melhor.

— Não acha cedo dizer uma coisa dessas? — ela riu um pouco corada e constrangida, mas conseguiu manter seu tom natural.

— Não. Desde que eu era pirralho, a única pessoa, fora a minha mãe, que me deu impulsos para fazer algo, foi você. Quando eu pensava em desistir da vida militar lá no colégio, eu te imaginava aparecendo e me censurando.

Era a primeira vez que ele falava sobre o colégio militar e Temari voltou a ter aquela curiosidade inicial sobre essa fase dele. Agora não havia mais motivos para temer estar sendo invasiva. Sorriu e seguiu com a mudança de assunto dele, mais descontraído.

— Verdade? De braços cruzados e cara fechada? Te chamando de covarde e preguiçoso?

— Exatamente assim. — Shikamaru entortou a boca e Temari riu.

— Eu deveria me sentir ofendida, mas adorei isso. Fala mais sobre como foi no colégio.

E ele falou. Não era tão diferente do que ela já havia pensado e visto na TV. Ele tinha treinamento militar durante a manhã e a tarde, e a noite ele estudava por ainda não ter terminado o ensino básico. Ele explicou que o ensino de lá não seguia o mesmo das escolas e que o aluno ia se graduando por mérito. Ele havia deixado a preguiça de lado e feito os testes necessários para acabar logo com aquilo e ter a noite livre. Havia sido algo incomum acabar o ensino básico em um ano, mas ele havia quebrado o recorde e ganhado status dentro do colégio.

Temari percebia como o brilho nos olhos dele ia aumentando a cada façanha que ele ia contando ter feito, a cada honra recebida e em como tinha a confiança de pessoas grandes dentro do próprio exército. Soube que o pai era alguém muito respeitado e que mesmo assim ele não ficou na sombra do genial general Nara.

Ela sorria sem perceber enquanto ele contava empolgado sobre as vezes que jogou xadrez lá e de como achava tudo aquilo entediante, sempre pensando que se ela estivesse lá ia ser diferente, mais divertido.

— Não haviam pessoas do seu nível lá?

— Não gosto de colocar assim. — ele estacionou na frente da casa e sorriu — Mas não tinha ninguém igual a você. Consigo te imaginar subindo alto numa carreira militar. — ele completou com um comentário mais genérico, mas o coração dela esquentou com o “ninguém igual a você” e nada mais foi ouvido.

Os dois desceram do carro e ele deu a mão para ela mais uma vez. Não adiantava mais ela ter vergonha de Yoshino àquela altura do campeonato, então chutou o balde e aceitou entrar assim com ele na casa. Mas uma pergunta ficava matutando em sua cabeça depois de ouvir tudo o que ele havia dito.

— Você amava o que fazia, não é?

Ele parou o passo antes de chegar a porta e a olhou de canto. Temari sustentou o olhar firme, os dois sabiam onde ela queria chegar.

— Eu teria que deixar minha mãe sozinha e também tem meus amigos…

— Ela não vai ficar sozinha. E seus amigos já são grandes demais pra ter uma babá, não acha? Se por acaso tem algum medo aí, é melhor deixar de lado e seguir o que quer. Você tem potencial para ser grande e não dá pra esconder que é aquela vida que você quer. Talvez até largue esses malditos cigarros.

Shikamaru revirou os olhos sorrindo e Temari o empurrou delicadamente com o ombro entrando junto dele na casa.

Eles jantaram com Yoshino e conversaram coisas engraçadas como normalmente faziam, Temari o viu lavando louça como um filho obediente que gostava de resmungar e depois conversou um pouco na beira da piscina, apenas com os pés na água. Não conversaram sobre o colégio militar ou sobre o futuro, mas sobre as pessoas que conheciam e como pensavam ser a reação de cada um quando soubessem sobre os dois. Ela falou sobre Tenten e ele sobre Chouji, os dois riam como dois bobos e se beijavam sob a luz da lua.

E mesmo que Temari tivesse ido embora sem saber o que Shikamaru queria de verdade conversar com ela naquela noite, outra coisa ficou na mente dela: Shikamaru e seu futuro.

Os dois não iriam tocar no assunto até duas semanas depois.

 


Notas Finais


Pan pediu pra dizer: "Não acreditem nas notas finais dela, ela nunca cumpre com o que promete".

Essa safada vai responder os comentários em breve, o notebook dela resolveu se rebelar, deem uma colher de chá para a minha mulher. <3


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