História Chihiro: O retorno ao mundo dos Espíritos - Capítulo Oito.

Fichas vermelhas da casa de banhos clipadas em fitas de cetim púrpura caíram penduradas sobre Kamagi cortando o silêncio na sala das caldeiras.

- Hummmmm! - Kamagi resmungou como de costume e lentamente voltou-se para as fichas um pouco perdido sobre o que fazer - deixe-me...deixe-me terminar isso por um momento menina… - Ele lentamente começou a rodar sua manivela que revivia o fogo e a pegar as ervas para moê-las afim de se fazer o banho de ervas solicitado.

Chihiro ficou imóvel, as lágrimas caiam pelo rosto, lágrima de uma alegria estática.

"Tudo é real…" - pensava a menina consigo mesmo.

Ela só voltou a sí com o barulho das marteladas de Kamagi enquanto cobrava as fuligens de seu trabalho. Chihiro olhou para eles que também continuavam imóveis olhando para a menina e Sem Rosto, mas com as ordens de Kamagi elas foram aos poucos retornando seus afazeres, dando pequenas olhadas para a menina como se quisessem ter certeza que não era ilusões ou algo do tipo.

Chihiro ao perceber que o último banho solicitado estava sendo preparado desceu ao nível das fuligens e sem pedir permissão a elas, pegou um pouco de carvão, que agora não era mais tão pesado como antes, foi até a fornalha e lançou lá. Kamagi não a interrompeu quando a menina repetiu o ato mais de três vezes.

- Você ainda continua a mesma não é menina… - Kamagi disse puxando a última ficha e finalizando o trabalho.

A menina assentiu com a cabeça, lágrimas brotaram em seus olhos. Kamagi desceu de seu lugar, Chihiro foi ao seu encontro e o abraçou soluçando de chorar.

- Sua lembrança parecia um sonho distante minha pequena ! - Choramingou Kamagi ao abraçá-la com seus enormes braços aracnídeos.

- Eu achava….achava que tudo era apenas um sonho Kamagi - Soluçava Chihiro em seus braços - Pensei que nada disso...era… era real.

- Mas somos reais Chihiro - Kamagi respondeu secando suas lágrimas - Sempre estive aqui.

Eles ficaram abraçados por um pequeno tempo até que Kamagi à afasou um pouco de si e a olhou melhor.

- Você cresceu heim menina, está uma moça agora - Kamagi sorriu - mas não temos muito tempo agora antes que mais pedidos sejam feitos - Ele olhou para Sem Rosto por um tempo e depois retornou seus olhos para Chihiro -  O que veio fazer aqui?

As lembranças felizes de Chihiro se transformaram no pesadelo daquela floresta onde Kimiro havia sido levada pela ave de Yubaba.

- Minha amiga...Kimiro, ela...ela foi levada pela ave de Yubaba na floresta, Kamagi - Disse a menina tentando formar as frases sem chorar - eu vim, Sem Rosto me ajudou a retornar, preciso salvá-la de Yubaba.

Kamagi fitou a menina por um tempo, o silêncio retornou ao local.

- O que devo fazer? - Perguntou a menina aflita.

- As coisas não são como eram em sua época  Chihiro, as coisas mudaram por aqui, tempos mais sombrios se apoderaram deste local.

Fichas novas caíram e Kamagi bufou de tristeza.

- Preciso retornar ao trabalho antes que venham aqui e pensem que algo aconteceu, posso responder às suas perguntas mas vai precisar ficar aqui e ter paciência.

- Mas os espíritos devem estar devorando Kimiro neste momento não posso esperar! - Chihiro tremeu só de pensar.

- Neste caso não temos o que fazer, ela já deve ter sido subistânciada… - Kamagi disse rispidamente enquanto subia em sua plataforma e recomeçava o trabalho.

Chihiro ficou estática pensando em Kimiro com medo sendo trasnformada em alimento e devorada por um espírito. A menina fechou os braços em torno de sí e se sentou no chão enquanto as lágrimas  caíram de seus olhos sem parar enqanto a imagem era revivida várias e várias vezes em sua mente.

- Ou ela ainda está viva, e você pode salva-la ainda, mas vai ter que me ouvir - Disse Kamagi trabalhando junto com as fuligens - como disse, nada é igual como aquela época, vai precisar de muito mais do que coragem e um pouco de sorte para conseguir sair dessa.

- Então fale-me… - Sussurou Chihiro voltando a sí - me diga o que tenho que fazer.

Kamagi respirou fundo enquanto trabalhava e logo iniciou a conversa:

- Quando você retornou ao seu mundo com seus pais, Yubaba retomou com muito mais severidade os negócios na casa de banhos, todos os empregados que se rebelavam contra ela eram transformados em alimentos ou simplesmente mortos na frente dos outros para demonstrar poder, assim ocupações foram sendo abertas e Lin foi promovida a acompanhante dos clientes da casa de banhos… - Kamagi deu uma pausa e olhou para a menina com o canto dos olhos - acho que sua mente vai assimilar mais o que digo se ajudar a fuligens a trabalhar.

Chihiro percebeu que algumas fuligens estavam parando para ouvir a conversa e logo se pôs a ajudá-las a carregar o carvão para a fornalha. Sem Rosto, muito desajeitado começou a fazer o mesmo.

- Por favor continue… - pediu Chihiro enquanto trabalhava.

- Onde parei? sim… Lin agora é uma acompanhante - Disse Kamagi meio sem graça.

- Eu sei o que as acompanhantes fazem Kamagi não precisa ficar assim - Disse Chihiro.

A menina mesmo ainda sendo nova tinha observado o mundo ao redor e compreendido que o termo "acompanhantes" em seu mundo era o mesmo utilizado ali.

- Então… - Retomou Kamagi - A casa de banhos continuou como sempre foi, novos empregados foram contratados, e Haku...bem, com a ajuda de Boh ele deixou de ser aprendiz de Yubaba e foi para as terras depois dos trilhos.

Chihiro parou por um momento enquanto assimilava a informação.

- Haku não esta mais aqui?! - Sussurrou ela.

- Não, ele não esta… - Confirmou Kamagi.

Chihiro ainda estava atônita, não só por ainda alimentar um amor profundo pelo menino dragão mas por que havia percebido que para a sua sobrevivência e a sobrevivência de Kimiro, Haku era mais do que necessário naquele momento, ele era essencial.

- O capataz tomou seu lugar como aprendiz de Yubaba mas logo não se adaptou e foi morto por aquela bruxa - Disse Kamagi como se tivesse gostado de ter se livrado daquele homem perverso -  Logo ela não aceitou mais ter aprendizes. Dizem que ela apenas tinha aceitado Haku por ele ser um dragão e por isso ter um grande poder trazido das terras do além-trilhos.

- E como farei para libertar Kimiro? - Perguntou a menina para encurtar a História.

As fichas haviam terminado e Kamagi se virou para a menina.

- Sinceramente não sei - Disse ele coçando a cabeça - mas acredito que se conseguir chegar até Boh, pode ser que ele interceda por você, mas deve tomar cuidado, não deixe que Yuababa te veja menina! ela te mataria sem nenhum momento de arrependimento. Seu retorno ao seu mundo a deixou extremamente irritada.

- E como farei para chegar lá?

- Como você fez para chegar aqui?

Chihiro olhou para Sem Rosto que estava fazendo pequenos doces comestíveis e dando para as fulígens que pulavam ao seu redor.

- Sem Rosto me trouxe de forma invisível - Disse a menina.

- Bem… você pode tentar - Disse Kamagi.

Assim que as palavras de Kamagi terminaram a porta de trás se abriu e uma mulher lesma entrou com uma cesta e comida. Todos ficaram imóveis observando  a mulher que ao olhar para Sem Rosto e Chihiro soltou um grito de desespero.

Antes que algo pudesse ser dito Sem Rosto lançou seu tentáculo sobre a mulher lesma, levou-a até a boca e a engoliu em uma velocidade absurda.

Kamagi e Chihiro ficaram boquiabertos com tudo aquilo por um tempo enquanto obervavam  a mulher parar de se debater dentro de Sem Rosto e tudo voltar ao normal.

Fichas novamente cairam sobre Kamagi fazendo todos voltarem a sí.

-Você precisa ir Chihiro, esse é o momento - Disse Kamagi.

Eles se encararam por um tempo, até que Kamagi fez um pequeno afago na cabeça da garota e lágrimas saíram de seus olhos.

- Você lembra minha neta… - Disse o aracnídeo  que logo foi abraçado por Chihiro, Kamagi à abraçou de volta - Vá menina vão dar falta da mulher e você ficará em apuros - Disse Kamagi.

- Sim - Disse Chihiro - Vou encontrar Boh, pedir que me ajude a encontrar Kimiro e voltarei aqui.

Kamagi assentiu com a cabeça enquanto Chihiro ia até Sem Rosto que já estava com os braços estendidos para a menina.

- Cuide dela por favor - Pediu Kamagi à Sem Rosto enquando ò via erguer a menina e gradualmente ficarem invisíveis. Sem Rosto assentiu para ele antes de desaparecer.

Kamagi olhou ao redor, pensou em tudo o que havia acontecido, respirou fundo e retornou ao seu trabalho, ele percebeu que os carvões não estam mais sendo lançados na fornalha e vasculhou o local atrás das fuligens às encontrando ainda comendo os doces que Sem Rosto havia dado a eles.

- ACHAM QUE ESSAS MÁQUINA SE ALIMENTA SOZINHA SEUS VERMES - gritou Kamagi batendo seu martelo na tubulação fazendo com que as fuligens voltassem a trabalhar - VOLTEM A TRABALHAR OU VÃO VIRAR ALIMENTOS PARA O FOGO!