História Chocolate amargo - Sem cor

A sujeira da neve e as ruas desertas de gente pintavam a noite.

Era mais uma vez inverno e a fome do pobre rapaz o instigava a roubar mais uma vez. 

Enquanto ele caminhava até o centro  da cidade, ele reflitia do por que as coisas eram assim para ele: precisava roubar, pois não tinha dinheiro; não tinha idade para trabalhar; não tinha teto; não tinha casa; não tinha nada. Mas não era culpa dele nada disto tudo. Seus pais não o educaram, simplesmente o abandonaram o mais rápido que puderam.

Ele sempre tentou levar pelo lado positivo da coisa. Talvez seus pais logo o viriam buscar, só tinham que fazer uma coisa de extrema importância; talvez, só talvez, eles queriam brincar de pique-esconde e foram se esconder, só que levaram a brincadeira tão a sério que não mais saíram do esconderijo. Porém, tudo isso não era verdade e ele já era grande o bastante para saber que era indesejado por eles.

Às vezes, ele se sentia muito mal por isso. Especialmente antes de dormir, pois sentia falta do cheiro da sua mãe, o melhor cheiro que já sentira. Sentia falta das brincadeiras de seu pai: elas eram as mais engraçadas do mundo. Queria ter alguém, queria uma vida como a dos garotos que ele via todo dia sair da escola de mãos dadas aos pais.

De repente, era como se o caminho até as lojas que ele já estava acostumado a roubar tivesse evaporado. Desejou algo do super-mercado que agora estava mais próximo a ele. Fez o ritual que já era conhecido por ele: esperou até o atendente ir ao banheiro, então foi correndo até as prateleiras e pegou as coisas que mais o agradavam, então correu para o lado de fora e desejou que não percebessem que isso tivesse acontecido.

Entre os alimentos, havia um chocolate. Ele logo abriu e começou a mastigá-lo. Para ele o chocolate era bem amargo, mas já ouviu algumas outras crianças como ele falarem que era bastante doce. Ele não concordava de modo algum, aquele chocolate era tão amargo para ele que o conquistava caretas. "As coisas não são iguais para todo mundo", pensou ele.

Ele já estava no beco sem saída em que gostava de ficar. Era escuro e úmido, à essa hora só via-se a grande camada de neve em seus pés, a parede suja, o lençol sujo que ele deixou no chão antes de sair para que pudesse se deitar. Tudo era sem cor. Ele se deitou e adormeceu logo.

Quando acordou, já era dia. Tudo estava sem cor.