História Choose me, Jungkook! - Sobre Violetas e Park Jimin

          Jungkook's POV

Violetas sempre foram flores que me cativaram. Cresci assistindo minha mãe cultivá-las em pequenos vasos espalhados pela casa, dizendo que a paixão por estas iniciou-se quando conheceu meu pai. As pequenas e delicadas flores pareciam expressar muito mais do que eu poderia entender, mas só anos mais tarde elas passaram a ter sentido para mim.

Quando o conheci. 

O ensino médio nunca foi algo que me animava. A idéia de precisar enfrentar tudo sozinho, dia após dia me assustava mais que os próprios brutamontes responsáveis por tornar a escola ainda pior, mas tudo pareceu ficar menos assustador com a chegada dele.

Logo que o ano letivo começou e iniciei o terceiro do ensino médio, ele surgiu. As aulas regressaram na primeira sexta-feira do mês de fevereiro, e na semana seguinte minha turma descobriu a chegada de uma nova família a Busan, o que resultou em um aluno a mais na sala extremamente pequena. Quando Park Jimin pôs os pés ali, eu quis socá-lo. O que um garoto tão bem vestido e com aparência de quem acabara de sair da capa de alguma revista, fazia a menos de dez passos de mim?

Analisei-o por longos instantes. Cabelos negros brilhosos, ombros largos e definidos. Os traços coreanos gritavam em seu rosto de uma forma harmoniosa como eu nunca vira antes. Os lábios cheios se movimentam parecendo tentadoramente macios e convidativos.

O recém chegado se apresentou, acabara de completar 18 anos, mudou-se para Busan por conta do trabalho do pai, depois de anos vivendo nos Estados Unidos. Contou sorridente que sentia falta da cidade, e estar de volta era algo bom.

Eu ignorava tudo ao meu redor, dedicando minha atenção a sua voz e ao sorriso que estampava os lábios ao final de cada frase. Quando acabou, a turma explodiu em palmas e gritinhos de boas vindas.

Foi em meio a aplausos que ele me enxergou pela primeira vez, e foi então que eu percebi: eu e minha alma éramos um livro aberto, aguardando que Park Jimin decidisse nos ler.Quatro anos anos depois, 1460 dias após tê-lo deixado para trás, ele estava ali. Materializado na minha frente, como naquela sexta-feira. A diferença é agora havia um passado entre nós dois.

Seus traços permaneciam idênticos, apesar de ele parecer mais velho e mais magro. O corpo minúsculo recebera alguns centímetros a mais e o cabelo que costumava ser preto agora iluminava-se em um loiro suave. Suas orbes pareciam ainda mais escuras do que costumavam ser, e eu tinha certeza que tal desespero estampado nelas era causado por mim.

Dei um passo a frente, em modo automático. O balcão de mármore nos separava e mesmo assim ele recuou, deixando a banqueta onde estava sentado e dando passos para trás. Olhei ao redor por um mísero instante, e os clientes que se viraram na direção do barulho agora pareciam pareciam alheios a nós dois.

— Jungkook-ah! Que bom que você apareceu! Eu estava prestes a comentar com você que temos um conterrâneo a procura de boa....

A voz de Hoseok foi quem despertou a nós dois. Pisquei, afastando o olhar para o hyung que interrompera a própria frase para alternar olhares entre o loiro e eu.

— Jiminie!

 Seu  nome escapou por entre meus lábios e ele se encolheu. Meu coração parecia querer saltar do peito tamanho frenesi em que se encontravam as batidas.

— E-eu preciso ir. Pedirei ao meu noivo que venha buscar nossa comida em alguns minutos, sim? Com licença!

Depois de se dirigir somente a Hoseok que parecia encrustado ao chão e lançar um último olhar na minha direção, o loiro se foi. Passou pela porta de vidro apressado, sumindo em meio as pessoas que caminhavam pela calçada no instante seguinte.

As palavras recentes de alguém que eu amei com todas as minhas forças pareciam facas, perfurando minha pele e ferindo meu coração de maneira torturante. Park Jimin tem alguém. Alguém que com certeza o ama como eu não fui capaz de fazer.

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Cheguei em casa sentido minha cabeça doer. O corpo pesado quase me impedia de caminhar, e foi com moleza que me arrastei porta a dentro. Escorreguei os dedos pela parede clara, ligando as luzes para então me dirigir ao sofá de três lugares. Respirei fundo, passando a mão direita pelo cabelo, puxando-o pela raiz. Frustrado e nostálgico, exatamente assim que eu estava. A face de Jimin estava gravada em minha mente, a forma como ele parecia quebrado por ter me encontrado. Eu nunca conseguiria associar tudo, principalmente o fato de ele estar com alguém.

— Pensei que você iria madrugar no restaurante, Jeongguk.

A voz de Taehyung ecoou em meus ouvidos fazendo com que eu desse um pequeno pulinho sobre o sofá. Resmunguei, erguendo a cabeça para fitar o acastanhado que circulava pela sala parecendo animado.

— E eu pensei que você sairia a caça de algum novo amante, hoje.

Assim que as palavras saíram, me arrependi. Automaticamente o castanho estacou. Engoli em seco, baixando o olhar.

— Eu deveria te colocar para fora do meu sofá nesse instante, seu grosso. Eu não tenho amantes, Jeongguk! Tenho pessoas que me dão prazer, recebem e que assim como eu mantém o respeito. Você deveria filtrar suas palavras antes de soltá-las, cara. Algumas vezes, elas são piores do que uma surra de algum homofóbico por aí.

Taehyung parece realmente magoado, o que fez a culpa aumentar em mim. Suspirei, me sentando e encarando o mais baixo, que se acomodara sobre o tapete.

— Me desculpe Tae. Eu só estou com coisas demais na cabeça, sim? O dia não foi fácil.

Deixei um risinho frustrado escapar. Tae me encarou, analisando-me por alguns segundos antes de se levantar. O castanho caminhou para o sofá, me empurrando para o lado e fazendo com que minha cabeça deitasse em seu colo. De repente todo o peso acumulado em meus ombros caiu, dando espaço para que as lágrimas surgissem em meus olhos. Tae não falou uma só palavra, apenas me abraçou, afagando continuamente meu cabelo. Há anos ele aprendeu que essa é sempre a melhor forma de me consolar, mas naquele instante não era.

— Eu preciso falar. Vou explodir, Tae! 

Minha voz embargada levou o acastanhado a me olhar, a preocupação saltava em seus olhos escuros.

— O que aconteceu, Kookie? O que te deixou assim?

Suspirei, esfregando a manga da blusa azul em meu rosto, na tentativa de secar algumas lágrimas.

— Quando eu me mudei para cá senti como se toda a minha alma estivesse presa a Busan, meu coração também. Era como se só o meu corpo estivesse aqui. — soltei um pigarro, tentando afastar o nó em minha garganta — Eu deixei tudo para trás naquele maldito dia 12 de Dezembro. Eu abandonei tudo, inclusive o amor da minha vida. Eu pensei que nunca mais o veria, Tae.

Tae me fitava com a cabeça tombada para o lado, parecendo confuso.

— Jungkook-ah...

— Eu vi Jimin hoje, eu o vi! Ele está tão diferente, tão bonito. Mas a forma como ele me olhou, como se me odiasse. Ele foi ao meu restaurante, Tae! Eu estive a alguns passos do amor da minha vida, e eu o deixei ir. Mais uma vez eu não lutei por Jimin, e eu não poderia agora. Ele tem alguém.

A mistura de dor e lembranças finalmente conseguiu me engolir. O choro rasgava minha garganta enquanto eu tremia contra os braços do meu melhor amigo. Era como se eu estivesse passando por uma cirurgia de peito aberto, sem anestésicos. Meu coração estava sendo dilacerado lentamente, enquanto a dor se espalhava como fogo.

Pela segunda vez eu deixei Park Jimin escapar por entre meus dedos.