1. Spirit Fanfics >
  2. CHRYSA: Além do Sangue - taeyoonseok >
  3. Eftá

História CHRYSA: Além do Sangue - taeyoonseok - Eftá


Escrita por: SafiraOpaca e SafirArmy

Notas do Autor


Oi pessoinhas ><

Boa leitura e perdoem os errinhos ~

Capítulo 8 - Eftá


Jibeom não se lembrava de já ter ficado tão cansado ao longo dos seus vinte e dois anos de vida. Tinha uma vaga impressão de estar sendo carregado para fora do salão que ocupava espaço nas masmorras, sentindo uma pele morna contra a sua, maciez de fios rebeldes tocando seu rosto e um suave cheiro de ervas frescas nublar seus pensamentos.

Namjoon parecia insaciável naquela noite.

Um novo garoto tinha aparecido e ele viu quando o Rei o tomou até o ponto do corpo frágil desfalecer sem forças. Ainda assim, ele avançou na direção das meninas, terminando a noite tomando Jibeom com fome e paixão, como fogo lambendo palha seca, implacável e finito.

Se agarrou com mais afinco aos ombros largos e afundou o rosto sonolento contra os músculos que se moviam a cada passo na direção das camas distribuídas na proteção de paredes rochosas. A visão embaçada mostrava borrões estendidos vez ou outra, pessoas descansando depois de servir o Rei, e Jibeom quis não ter sentido a bile voltar pela garganta quando teve mais uma prova do quão substituível era para o vampiro que pensava amar. Quando ele o deitou contra os lençóis limpos, cobrindo seu corpo com um cuidado distante e automático, agiu sem pensar ao segurá-lo pelo pulso. Namjoon pareceu surpreso ao notar que estava acordado, mas não se afastou.

– Me diz o nome dele – a voz era rouca e baixa, a garganta reclamava de sede e as cordas vocais vibravam doloridas depois do desgaste causado pelos gemidos. Viu o maxilar de Namjoon travar.

– Descanse, Jibeom.

Ele se virou para sair e Jibeom sentiu como se ele tivesse acertado um soco em seu estômago, um impacto grande o suficiente para se erguer e puxá-lo de volta mais uma vez.

– Eu sei que cuida de mim porque te lembro alguém – ainda não tinha certeza do motivo de trazer aquele assunto à tona, aquela dor à ponta da língua. Talvez acreditasse que se visse a verdade nos olhos dele enquanto escutava-a escapando pelos lábios, pudesse convencer o próprio coração a deixar de amá-lo. Namjoon parecia suplicá-lo que parasse – Quem é ele?

O Rei viu determinação nos olhos cansados. Sempre os olhos e, novamente, foi por eles que cedeu e se agachou ao lado da cama, tocando com delicadeza o pulso fraco de Jibeom enquanto o corpo tentava repor o sangue que havia tomado.

– Ele é mestrando na Universidade de Aima – contou baixinho. Falar de Seokjin o deixava vulnerável e Jibeom notou. Namjoon não afastou o carinho que ele deixou em seus fios e o olhou em silêncio por um momento antes de transformar todos os medos de Jibeom em realidade – Seus olhos... Me lembram os dele.

Namjoon sentiu o peito apertar quando viu as lágrimas preencherem os castanhos que o observavam de volta. Sempre odiou ver Seokjin chorar, com Jibeom não era muito diferente. Os olhos eram expressivos demais para não se sentir afetado, se pareciam demais para não machucá-lo. Tocou-o no rosto para colher a lágrima com o polegar, ouvindo-o ofegar dolorido antes de fechar os olhos e segurar seu pulso como se pedisse mais um minuto de carinho.

– Você não precisa voltar, Jibeom – falou, manso e calmo como se temesse assustar uma criança. Jibeom abriu os olhos lentamente e sentiu o peito doer quando Namjoon secou suas lágrimas e acariciou seu rosto – Não quando isso te faz tão mal.

Precisou de menos que um instante para negar e Namjoon apertou os lábios como se a decisão dele o machucasse. Encará-lo de frente era se colocar cara a cara com o pior dos seus pecados. De todos os homens e mulheres que passavam pelas suas masmorras, Jibeom era o que mais usava. Não apenas no sentido de tomá-lo como alimento, mas no sentido de tomar seus sentimentos. Sabia que era amado assim como sabia que nunca corresponderia, mas ele era o alívio culposo que sua alma almejava e vê-lo irredutível sobre ir embora o aliviava tanto quanto machucava.

– Você sabe que virei – ele disse, mas desviou o olhar para a parede irregular de rochas frias como se precisasse de um tempo sem os olhos de Namjoon encarando os seus tão de perto, daquele jeito tão íntimo e ao mesmo tempo, tão impessoal – Cada um tem seus vícios e suas dores e eu decidi alimentar os meus.

Com um suspiro resignado, Namjoon se ergueu e o observou por um momento mais, enquanto ele o dava as costas e se deixava levar pelo sono.

– Tome cuidado com isso. Não é sábio brincar com veneno.

O corpo dele se encolheu e, antes de apagar, falou.

– Não é no veneno que sou viciado.

Engolindo a própria culpa, Namjoon deixou as masmorras.

A caminhada até a parte de cima da mansão foi silenciosa o suficiente para permitir que escutasse os próprios pensamentos indesejados. Sem prestar atenção, alcançou o casaco que havia deixado no sofá da sala e seguiu silencioso até as escadas, entrando no sótão e girando a maçaneta da porta do outro lado do cômodo, sentindo a brisa noturna transpassar a proteção da roupa e arrepiar sua pele mais quente que o normal. O sótão se abria para um espaço cimentado entre os telhados da casa, um parapeito de vidro era tudo o que o separava da queda – não que fosse fazer qualquer estrago, mesmo que ele se jogasse.

Ele inspirou o cheiro da noite e olhou para as estrelas, pensando em um tempo onde se jogar abismo abaixo seria uma opção para calar toda a dor.

– Você tem vindo aqui com mais frequência – a voz conhecida o fez abrir os olhos e Namjoon olhou para Heo Chan quando ele parou ao seu lado.

Vampiros dificilmente dormiam e vez ou outra, ele aparecia de surpresa para lhe fazer companhia e salvá-lo de se afogar nos próprios pensamentos.

– Acho que tem ficado mais difícil viver assim – foi tudo o que disse. Não tinha muitas ressalvas sobre conversar com Heo Chan e apreciava o apoio silencioso que recebia. O vento bagunçou as ondas escuras do cabelo quando ele assentiu, as mãos afundando nos bolsos dianteiros do jeans e uma camisa azul lisa cobrindo e delimitando todos os músculos até seu pulso.

– Como vampiro?

– Como uma besta incontrolável – suspirou, as estrelas pareceram piscar no firmamento, reluzindo sua inquietude – Tenho medo de perder essa batalha, de entregar o controle para essa fera irracional que eu sinto viver dentro de mim e depois não conseguir pegá-lo de volta.

Heo Chan notou quando a mão se fechou no pingente de pedra azul marinho, o cheiro conhecido de ervas o fazendo umedecer os lábios.

– Talvez você devesse ir até a Velha Maga de novo – ganhou o olhar do Rei – Ela pareceu meio decepcionada ao me ver no mês passado, acho que queria conversar com você.

Namjoon tinha medo de perder as esperanças. Perseguiu cada lenda, cada sinal que apontava uma direção para onde poderia correr e encontrar uma resposta no final do caminho, mas sempre deu de frente com muros intransponíveis. Devia muito à Velha Maga pelo colar e pelas ervas, se mantinha o mínimo da consciência enquanto se alimentava, era pelos esforços dos encantamentos dela. Mas temeu a frase de Heo Chan, temeu ouvir de uma de suas últimas esperanças o que passou a vida ouvindo dos outros: não há mais nada que eu possa fazer por você.

As mãos estavam em punhos quando ele assentiu para Heo Chan. De qualquer forma, já estava na hora de levar a pedra para uma nova imersão.

– Conseguiu alguma coisa sobre a amostra da floresta? – desviando a atenção de Namjoon de um problema para outro, Heo Chan questionou e viu o líder umedecer os lábios.

– Jin ainda não me disse nada, mas não o vejo desde o mês passado – respondeu – Vou visitá-lo em breve para ver o que descobriu.

Heochan assentiu e se preparava para voltar para dentro da casa quando resolveu parar os pés a meio caminho e falar.

– Sei que não é de grande ajuda, mas espero que saiba que acredito em você – Namjoon o olhou com certa surpresa no semblante e Heo Chan sorriu pequeno – Se existe alguém que pode controlar essa tal besta que você prende em seu interior, é você, Rei. Não existe consciência ou senso de justiça mais forte que o seu.

Namjoon sorriu agradecido antes de observá-lo sumir nas sombras do sótão. Com mais um suspiro, ele pensou em seu mestre com um misto de rancor e carinho antes de embrulhar as lembranças num manto de saudade que esperava logo matar quando encontrasse Seokjin novamente.

– Sabe, o mínimo que você poderia fazer por alguém que está te abrigando é ser organizado.

Taehyung, jogado no sofá de estofado branco com os pés para cima e as mãos cheias de gordura do frango que tinha feito Jimin encomendar, não fez muito além de erguer uma tediosa sobrancelha em sua direção, logo voltando a assistir o programa de sobrevivência que passava na televisão. Era um reality com muitas meninas que sonhavam em ser cantoras ao qual ele não tinha dado muito crédito à primeira vista, mas que estava tendo sucesso em mantê-lo cativo do sofá de Jimin.

– Você é muito enjoado, Jimin. Eu nem faço tanta bagunça assim.

Com um som exasperado, Jimin passou os olhos pela própria sala. O apartamento era pequeno demais para abrigar mais alguém além dele, ainda assim ele tinha feito um esforço para que Taehyung se sentisse confortável em sua sala. O problema é que ele estava se sentindo confortável demais. O lobisomem nem tinha roupa o suficiente para deixar tanta coisa espalhada nos poucos metros quadrados que estava usando de quarto nos últimos dias, mas Jimin sentia que teria uma síncope ao ver meias e cuecas sujas emboladas em lençóis e toalhas limpas por todos os lados. Fora as incontáveis embalagens de lanches que ele parecia ter imensa dificuldade em guiar até a lixeira.

Bufando, Jimin fez movimentos bruscos ao redor do corpo relaxado de Taehyung, colocando os restos de comida e a roupa suja no mesmo saco preto de lixo antes de dar um nó.

– O que você está fazendo? – Taehyung prestou atenção nele pela primeira vez, mas Jimin ao menos o dirigiu o olhar antes de falar.

– Se suas coisas estão jogadas para todos os lados junto com os restos de comida, quer dizer que é tudo lixo, certo? Pode continuar relaxando aí que eu mesmo faço um esforço e levo essa porcaria lá para baixo.

De um pulo, Taehyung tinha abandonado o balde de frango, os dedos engordurados agora numa silenciosa briga para tomar a sacola de Jimin. Forçou um sorriso falso que o fez franzir o cenho.

– Relaxa, eu cuido disso.

– Tira a mão ou eu jogo você na caçamba junto.

Se alguém observasse de perto talvez pudesse ver os raios elétricos que a troca de olhares provocou, nada além de implicância já que Taehyung tinha força o suficiente para erguer Jimin em um braço e se livrar da dor de cabeça. Internamente, ele apreciava a companhia ranzinza e cheia de presença do dono do apartamento, admirava a força que ele tinha e que quebrava completamente a ideia que havia formado sozinho sobre o garoto universitário.

Com um grunhido desgostoso, Jimin soltou a sacola e apressou os passos na direção do quarto.

– É melhor que você tenha lavado tudo isso quando eu voltar, não vou te dar uma segunda chance.

– Sim, senhor – foi a resposta de Taehyung enquanto revirava os olhos e voltava para o sofá, sentando com a sacola preta entre as pernas e franzindo o cenho enquanto tirava as roupas do interior.

Talvez Jimin tivesse razão, era meio nojento ver a mistura desagradável de restos de bibimbap grudadas em sua última calça jeans. Precisava se recompor, percebeu. Não ganharia nada se afundando em frustrações no sofá de um garoto quase desconhecido só porque não sabia o que fazer. Enquanto separava as peças, um celular muito mais atual do que o seu começou a vibrar no tapete da sala. Jimin não tinha muito local de fala quando abandonava as próprias coisas daquela forma, a um triz de Taehyung pisar em cima quando levantasse do sofá.

Inclinando a cabeça com curiosidade, ele leu a sigla JJK indicando a chamada e chegou a esticar os dedos na direção do aparelho antes de ouvir os passos apressados da corrida de Jimin até a sala.

– Eu atendo! – foi quase um grito, o corpo se jogando pelo sofá e caindo todo torto no chão para interromper o toque de fábrica ao aceitar a ligação. Jimin ignorou o semblante surpreso que ganhou de Taehyung.

A conversa não o interessou muito e ele observou com tédio Jimin terminar de se arrumar para sair enquanto tinha o celular preso entre o ombro e a orelha. Recolheu silenciosamente toda a bagunça que tinha deixado pela sala, pensando no que deveria fazer agora que tinha perdido o rastro dos irmãos Seung. Só de pensar sua cabeça voltava a doer e um desânimo tenebroso ameaçava jogá-lo de volta no sofá. Estava munido com tantas informações quanto tinha quando deixou a matilha, sem qualquer luz que apontasse uma direção. Quando se livrou da última embalagem vazia de comida congelada, tinha decidido pelo menos uma coisa: tomaria um banho e faria a barba mal aparada, se recompondo de fora para dentro. Talvez, depois que renovasse as próprias energias, pudesse voltar até a universidade e tentar descobrir qualquer pista que ligasse os lobos à instituição de ensino. Antes que pudesse formar qualquer linha de raciocínio além disso, no entanto, um nome o fez olhar por cima do ombro e encarar Jimin.

– Pode ficar tranquilo, eu vou voltar com Hoseok.

Não se assustou quando o coração pulsou em um resposta direta à simples menção da existência dele, à lembrança. Podia sentir como se ainda estivessem parados frente a frente na calçada perto da universidade, a corrente eletrizante que passava por seu corpo e acionava alertas barulhentos em sua cabeça. Jung Hoseok era o motivo de suas noites insones e de qualquer pensamento que não envolvesse a missão quase fracassada que deveria recuperar. E Jimin já tinha percebido isso. Quando finalizou a chamada, não se espantou em ver Taehyung com os braços cruzados e a cintura escorada em sua pia, olhando-o indagativo até que Jimin bufou e revirou os olhos.

– Pode desistir, eu não vou te levar comigo. Estou a quase uma semana da maior apresentação que já fiz na minha vida e a última coisa que preciso é de você no meu pé me enchendo o saco por causa do Hoseok – cortou antes que ele começasse, ajeitando os brincos na orelha como se estivesse prestes a sair.

– Logo escurece, é vantajoso para vocês me terem por perto.

Jimin o olhou com tédio e quase irritação antes de suspirar.

– Ele já tem alguém.

Taehyung sorriu presunçoso, nada afetado com a afirmação do colega de apartamento.

– É, mas eu sei que é o alguém errado.

Dessa vez Jimin o olhou como se tivesse nojo.

– Você sempre foi presunçoso assim? – Taehyung deu de ombros, mas Jimin cruzou os braços e o encarou com mais atenção – Por que não volta para a alcateia? Não entendi o que você está fazendo aqui até agora, pensei que os lobos odiassem a cidade.

– Por deus, eu odeio – Taehyung tremelicou o corpo como se a sensação fosse tão ruim que o arrepiasse. O semblante de Jimin amenizou quando ele precisou conter um sorriso, mas Taehyung reparou – Mas encarar Sejun com as mãos vazias é tão ruim quanto continuar aqui. Pelo menos aqui eu ainda posso planejar alguma coisa e continuar de onde parei.

Jimin checou alguma coisa no celular e alcançou a carteira na bancada da cozinha.

– Bom, espero que seu planejamento seja mais prático que seu senso de limpeza – Taehyung estreitou o olhar para ele e, dessa vez, Jimin sorriu ladino – Não tenho condições de sustentar você eternamente.

– Me manda pelo menos o endereço – chegou a insistir, mas Jimin já estava na porta quando gritou.

– Tchau, Taehyung.

O restante da noite foi tediosamente comum e Taehyung descobriu que limpar o apartamento não era algo tão odioso assim. Não que ele fosse um completo porcalhão na própria casa, mas era diferente limpar o lar de alguém. E o ajudou a pensar.

Em Hoseok, nos irmãos Seung, em Subin.

Quando o som da porta abrindo foi escutado novamente, ele já estava de banho tomado e barba feita. Os cabelos deixavam gotas d'água pingarem pelo ombro despido e os olhos estavam atentos a um filme qualquer reprisado na TV. Ele ouviu primeiro a risada embriagada de Jimin e acabou rindo sozinho do lado de dentro. Se levantou, mas cruzou os braços apenas para ver se ele conseguiria passar a chave pela fechadura sozinho.

A segunda risada o fez se lembrar que Jimin não estava sozinho.

Voltaria com Hoseok, foi o que ele tinha dito ao tal JJK, e mesmo que não tivesse escutado essa parte da conversa, Taehyung reconheceria o som. Era como o debandar de mil borboletas batendo asas ao seu redor, um carinho delicado contra a pele. O som puro de uma música tocada de maneira a completar o bumbo alto de seu coração. Engoliu em seco e assustou os outros dois quando eles finalmente conseguiram abrir a porta e se depararam com ele do outro lado.

– Meu deus, eu esqueci que você estava aqui – Jimin, praticamente carregado por Hoseok, pareceu realmente desanimado ao se lembrar do intruso. Taehyung apenas arqueou uma sobrancelha, os olhos logo passando para o rosto de Hoseok, que parecia constrangido e um pouco mais sóbrio que o amigo.

– Boa noite, Kim Taehyung-ssi – murmurou e Taehyung umedeceu os lábios antes de negar.

– Só Taehyung – pediu e terminou de abrir a porta para ajudar a colocar Jimin no sofá. Viu quando ele resmungou com a mão na barriga, a cabeça caindo contra o encosto e os olhos fechados – O que ele bebeu?

– Tudo – Hoseok, já servindo um copo de água na cozinha, respondeu – Acho que ele está muito ansioso para a apresentação, bebeu de tudo o que tinha no bar.

– Parem de falar como se eu não estivesse aqui – Jimin resmungou do sofá e Hoseok sentou ao seu lado para oferecer a água.

– Para ser sincero, você não está completamente aqui. Deve ter uns cinquenta por cento do Jimin autoritário e mandão que saiu hoje mais cedo.

Hoseok conteve a risada ao espremer os lábios, mas Taehyung não foi tão cuidadoso. Era a primeira vez que o fazia rir e acabou abrindo um sorriso tão grande que estufou seu peito e chamou a atenção de Hoseok. Era uma visão e tanto, tinha de dizer. Os lábios finos puxados num retângulo perfeito ao redor dos dentes, o peito exposto num tom bonito de oliva que era banhado por gotículas esporádicas que escorriam do cabelo úmido. Taehyung parecia tão quente que Hoseok se sentiu esquentar, da cabeça aos pés, e corou.

Ele desviou o olhar, não sem antes notar uma ou outra marca grotesca que tinha cicatrizado em linhas rosa-prateadas. A curiosidade fez a língua coçar, mas ele se conteve.

– Acho que ele dormiu – comentou, ouvindo Jimin ressonar baixinho com a cabeça ainda largada contra o estofado, os lábios fartos separados e as mãos frouxas quase deixando o copo cair no chão. Taehyung o pegou antes que ele fizesse uma bagunça e o culpasse depois.

– Vou levá-lo para o quarto.

Hoseok assentiu e prendeu o som surpreso quando viu Taehyung erguer o corpo de Jimin com a facilidade que o faria com um travesseiro. Havia certa gentileza na forma como ele se preocupou em apoiar os lugares certos do corpo do amigo, mesmo que a imagem que Jimin pintasse dele fosse tão deturpada e cheia de defeitos. Ainda assim, Hoseok sabia que vê-lo por cinco minutos era completamente diferente de dividir um apartamento à força com ele.

Sobre essa parte, na verdade, não entendia muito bem.

Taehyung voltou para a sala assim que Hoseok respindeu a mensagem de Yoongi e percebeu o universitário o olhando com menos vergonha quando falou.

– Posso esperar alguém aqui?

– Estão vindo te buscar? – Taehyung questionou, pensando no tal alguém que Jimin comentava que Hoseok tinha. Não fugiu de sua atenção que ele mesmo não havia mencionado qualquer namorado – Tudo bem, é melhor do que ficar sozinho.

Hoseok sorriu agradecido, mas quando Taehyung sentou ao seu lado, tão perto que sentiu o calor irradiar da pele bronzeada, percebeu a cilada em que havia se enfiado. Nenhuma ameaça noturna era mais perigosa do que aquela dividindo o pequeno sofá de Jimin consigo, tão relaxado que os joelhos se tocavam e faziam as bochechas de Hoseok queimarem.

Era estranho que se sentisse assim por alguém com quem não trocara mais de dez palavras, mas a atração que sentia e o puxava na direção de Taehyung era tão forte quanto a que sentiu no dia em que conhecera Yoongi. Era além do pensamento lógico, como um conto atemporal, algo maior do que os dois que os impulsionava a ficarem juntos. Mas Hoseok resistia, pelo vampiro que estava a caminho de buscá-lo e por respeito aos próprios sentimentos. Não importava o quão lindo e familiar Taehyung parecesse, tinha certeza do que sentia por Yoongi e não brincaria com os seus sentimentos ou os dele dessa forma.

– Você já ouviu a lenda de chrysa, Hoseok?

A voz rouca fez arrepiar os pelos de sua nuca, tudo parecendo íntimo demais com as luzes apagadas e a televisão baixinha quase sem ser escutada entre eles. Hoseok se perguntou quanto mais Yoongi demoraria para chegar.

– Não – respondeu por fim e engoliu em seco, decidido a não dar muita relevância para nada que envolvesse Taehyung. Se o tratasse como algo banal, logo era no que ele se tornaria, certo? Olhou-o nos olhos antes de falar – Ouvi dizer que os lobos têm uma cultura com muitas lendas.

O sorriso que Taehyung abriu foi ilegal, ladino, enviesado. Os olhos morteiros quase escondidos pelos fios escuros manchados de cobre pelo sol, mas ainda atentos e escuros o suficiente para quase constrangerem Hoseok. Será que ele percebia o quanto impunha sua presença quando apoiava o cotovelo contra o encosto do sofá e virava o corpo para observá-lo melhor? Hoseok quis sair correndo, com medo de ceder fácil demais.

– Se interessa por lobos? – a pergunta risonha cheia de intenções explícitas fez Hoseok rir de nervoso antes de desviar o olhar. Para a sua surpresa, o indicador de Taehyung o ergueu pelo queixo e ele pareceu mais perto do que seria saudável. Hoseok arfou e tremeu com um simples toque – Porque eu me interesso por você, Jung Hoseok.

– E-Eu... Eu tenho alguém – a voz saiu fraca, mesmo que ele tivesse convicção no que sentia. O sorriso de Taehyung foi quase divertido.

– Eu sei, mas não me importo. Nós fomos feitos um para o outro, Hoseok – a voz dele abaixou mais tons, a distância diminuiu mais centímetros. Hoseok se sentiu embriagado pelo hálito quente, o cheiro de terra misturado ao orvalho da manhã arrepiou seus pelos e antes que percebesse, seus olhos perdiam a luta enquanto tentavam se manter abertos. Sua mão encontrou a pele quente da cintura de Taehyung e ele sentiu o arrepio que o tomou por isso, as bocas se esbarraram quando ele completou – Você é meu chrysa.

Hoseok não perguntaria sobre o termo desconhecido, não contestaria as próprias vontades e não se esforçaria para abrir os olhos se as batidas contra a porta não tivessem o despertado do torpor. O pulo que deu do sofá fez Taehyung se afastar com um suspiro quase irritado enquanto o observava procurar pelos próprios pertences em movimentos nervosos e agitados, sem nunca olhar Taehyung nos olhos.

– D-Desculpa tomar seu tempo, Taehyung. E obrigado por me deixar esperar aqui.

Até mesmo a reverência foi feita toda torta enquanto tentava fugir dos olhos dele, fugir dele ao correr até a porta. Mas Taehyung era um lobisomem e assim que Hoseok tocou na maçaneta, ele o puxou de volta pelo braço. Não tinha sido bruto, um mero chamar de atenção antes de levar os dedos ao rosto dele.

– Quero você, Jung Hoseok. E por mais que você tente fugir, eu sei que você me quer também – as palavras acariciavam seus ouvidos como os dedos longos faziam com seu rosto. E Hoseok estava desesperado por perceber, na batida errática do coração, que ele estava certo. Sua mão subiu por trás das costas, tateando a madeira até encontrar a maçaneta um instante antes de ouvi-lo sussurrar – Você é minha alma gêmea.

A maçaneta girou no abrigo úmido das palmas suadas e meio segundo depois, Hoseok tinha trocado de lado e ouvia um rosnar e um sibilar se enfrentando enquanto o corpo de Yoongi se colocava entre o seu e o de Taehyung em um gesto protetor e quase adorável pela diferença de altura.

Quase, porque no olhar duro e feroz que trocavam, não havia nada de adorável. Era primitivo e selvagem, vermelho e amarelo e presas. O som de Yoongi lembrava muito o que o gato de sua mãe fazia quando brigava com outro, a versão dominante do som pelo menos. Taehyung era todo músculos tensos e rosnados incomodados e Hoseok notou que a mão de Yoongi ainda o segurava atrás de seu corpo pela cintura.

– É melhor manter suas mãos longe dele – foi a primeira vez que Hoseok escutou Yoongi falar daquele jeito, tão seco e baixo, frieza na mais pura forma. Taehyung sorriu um sorriso perverso antes de se aproximar um passo, fazendo Yoongi sibilar mais uma vez.

– Sinto informar, mas é você quem deve manter essas garras longe do meu chrysa.

Como se alguém acionasse um interruptor, toda a postura e o semblante de Yoongi se transformaram. Havia surpresa e incredulidade no rosto pálido, os ombros, antes curvados em uma posição pronta para o ataque, tinham tensionado sob o casaco escuro e ele pareceu não acreditar no que tinha escutado.

– Seu... O que?

Taehyung umedeceu os lábios e passou a mão pelo cabelo num gesto quase arrogante. Observando-os em silêncio, Hoseok sentiu todo o corpo se agitar. Era como ter a prova de que o que quer que sentisse, qualquer que fosse a forma como nomeavam aquela avalanche de sensações e sentimentos, era pelos dois. O que era assustador quando considerava que só conhecia Taehyung a poucos dias.

– Você ouviu, ele é meu chrysa – Taehyung fez um movimento como se fosse tocar o braço de Hoseok para levá-lo de volta, mas Yoongi não estava tão atordoado assim ao ponto de deixar. Fechou a expressão e afastou Hoseok um pouco mais com o braço protetor, irritando Taehyung – Sabe que não adianta continuar com isso, sanguessuga. Para que se dar ao trabalho?

Yoongi pensou na forma como a pulsação de Hoseok batia contra seus dedos e enviava vida por seu corpo petrificado, em como o sorriso dele alcançava as partes mais longínquas de sua alma e sempre o fazia sorrir junto. Era muito mais do que por isso, mas não tinha tempo para explicar. Por isso, com um sorriso resignado e uma pontada na nuca ao imaginar a dor de cabeça que enfrentaria dali para frente, o que respondeu foi.

– Porque ele também é o meu – e foi assim que três pares de pulmão deixaram de trabalhar no estreito corredor do prédio de Jimin – Ele também é meu chrysa.


Notas Finais


É isso, galeris!

Sentiram cheiro de treta chegando?

Não deixem de votar e comentar oq acharam, anima muito a escritora aqui...

Obrigada por lerem e até o próximo ~
XOXO


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...