História Cidade Clareana - S05: Lutar pode machucar

Elizabeth on

Haja vista que o desafio foi aceito, e pela manhã teria o resultado de como está a saúde desses três, eu o levei para a aplicação do soro. Em seguida, enquanto Diana espera o resultado do exame de sangue de Beth, nós dois viemos para a base de treinamento das Valkírias, onde teríamos ringue e platéia.

Enquanto estico os braços, alongando um pouco, pude enxergá-lo do outro lado do ringue, me encarando junto à seus dois amiguinhos, como se esta mini batalha estivesse ganha. Reviro os olhos, ouvindo a porta se abrindo, a platéia chegou. Dentre eles estavam Josh e Marla, acompanhados de Gally e Brenda, e obviamente junto à eles estava Thomas, Minho e concluindo Caçarola. Quando eu disse que iria dar um show não esperava que eles realmente esperassem por um.

Ao se aproximarem, Gally como sempre estava de cara fechada, mas me surpreendeu Caçarola vir até mim primeiro. Ele encarou o loiro do outro lado do ringue, desacreditado.

—Não é possível...

—Eu disse, Caçarola.—falou Brenda.—É exatamente igual, e agora que ta sem o vírus, mais igual ainda.

O que Brenda disse fez meus olhos automaticamente olharem para ele, porque eu sabia, ela tinha razão, era realmente muito igual.

—Liza, vai mesmo fazer isso?!—questionou Josh, interrompendo meus pensamentos enquanto vinha até mim com a Marla.—Essa eu não podia perder!

—Finalmente vou ver a Parkeson arrebentar...—disse Marla, animada.—Boa sorte lá.

Assim que ela disse isso, os dois se afastaram. Thomas e Minho, assim como o amigo cozinheiro que ficou ao lado deles, aquietaram-se, não souberam dizer nenhuma palavra. Talvez, estivessem tão perplexos quanto da primeira vez.

—E aí, boneca!?—exclamou o loiro, impaciente.—Como vai ser?

Respirei fundo, retirando o casaco preto que usava por cima de uma regata também preta, e junto ao look, uma calça de moletom cinza, descalço. Assim que retirei a blusa, ele subiu no ringue, já eu, amarrava o cabelo para não atrapalhar.

—Liza, tem certeza disso?—questionou Gally.—Não conhecemos ele e outra, estava com o vírus, pode ser bruto.

—Gally, o vírus já era pra ele, e outra, aquele magrelo não é tão mais bruto do que os guardas do CRUEL, e eu acabei com vários deles, várias e várias vezes.—falo, com certo tom cômico.—Confia em mim, vai ser divertido.

Assim que terminei de falar, sorri para meu irmão, ele não estava nada satisfeito.

—Quer cuidar disso aqui pra mim?—falo, retirando o colar com as cartas de Newt, encarei o objeto, e então, suspirei.—Pode ser perigoso usar isso.

Gally encarou-me, um tanto quanto desconfiado, já que eu nunca tirava aquele colar, mas fazia sentido que não usasse agora, realmente poderia ser perigoso. Ele segurou com firmeza, guardando-o no bolso, mais tarde, ele sabia onde deixaria.

Ei o fitei uma última vez e respirei fundo, subindo no ringue assim como o loiro. Estava pronta para me aproximar e mandar braza, porém, fui parada pela voz de Thomas.

—Aí, Liza!—exclamou ele, então virei-me para encará-lo, ele estava de braços cruzados.—Arrasa!

Thomas deixou aquilo no ar, seguido de uma piscadela divertida. Sorri em retribuição, pronta para botar pra quebrar.

Assim que me virei, indo até aquele petulante jovem idiota, vulgo Beth, reparei em seu olhar debochado, chegando a ser pouco mais afiado que o meu, porque já sabia como aquilo iria acabar. Ele no chão, quebrado.

—Vou pegar leve, boneca.

—Bom, eu não vou.—retruco, desafiadora.

Beth soltou o riso com a passada nos dentes.

O ar que estava ali tornou-se tenso, então com a respiração firme e focada, estava pronta para os primeiros golpes, que foram desviados com facilidade. Além disso, me deu uma brecha para acertar um forte chute em seu estômago. Beth cambaleou para trás, erguendo olhar surpreso.

—Ta bom...—comentou ele, controlando sua respiração.—Eu te subestimei.

Enquanto fazíamos aquele teatro, podíamos ouvir os gritos dos meus amigos a meu favor, torcendo a todo momento, e apesar de gostar daquilo, foi um pequeno descuido, uma pequena distração com a porta se abrindo, o suficiente para ter sido acertada com um soco no maxilar. Parei do outro lado, massageando a área.

Droga, por que você tinha que querer ver quem estava entrando, Elizabeth!? 

Assim que me recompus, e ergui a cabeça para ver a expressão de Beth. Ele gostava de provocar, então deveria ser testado, a próxima vez que me acertar, se acontecer, vou usar com propósito.

Os próximos golpes eram quase certeiros, mas ele segurou minha perna quando elevei-a para alcançar sua face, a posição não era a melhor para contra-atacar, então, joguei meu corpo no chão, segurando seu pescoço com ambas as pernas, segurando-o. É óbvio que achei que ali estava ganhando, mas fui surpreendida quando senti sua mão em minha barriga, apertando-a—ah, aquilo doeu, e doeu pra caramba. Solto um berro, desesperada, aquela fragilidade foi o suficiente para me desarmar.

O pior é que quando ele apertou minha barriga, eu senti uma dor intensa que me lembrava a noite em que dei a luz à David. As dores daquela noite estão comigo constantemente, o tempo todo, todos os dias. Realmente, involuntariamente enquanto durmo, eu seguro minha barriga. Mas agora, com aquele apertão, eu senti raiva, muita, muita raiva.

Beth prendeu meus braços acima da cabeça, segurando-os no colo, vendo-me por cima.

—Seu babaca!—berro, minha face provavelmente devia estar vermelha, e eu sentia faltar ar.—Eu vou fazer você se arrepender!

—Você não citou regras.—retrucou, cafajeste.—Ou seja, qualquer golpe vale.

—Aquilo foi golpe baixo!

—Qualquer golpe, boneca...

Foi interrompido. E quer saber pelo o quê? Pela minha perna, que havia acertado suas partes baixas com força, uma força que saiu de dentro de uma raiva que encontrei lá no fundo do mais precioso remorso. Beth arregalou os olhos, e eu lancei-o uma piscadela. Pude ouvir o silêncio da parte de todos em volta. Foi uma questão de segundos antes de cair duro para o lado, libertando-me. Assim que estava em pé, fiz questão de me agachar novamente, encarando-o com o deboche e raiva afiados.

—Olha...—comento, debochada.—Eu esperava mais.

—Você é pilantra!—retrucou ele.

Sorrindo, logo volto a ficar séria. 

—Agora que você entendeu o recado da titia Parkeson aqui...—digo, esvaindo aquela raiva com certa intimidação, tentando passar o recado que ele não tinha entendido antes.—Preste muita atenção Beth, você e eu não nos encontramos mais do que o necessário, e vocês vão trabalhar, os três de acordo com o que eu mandar, e se tiver alguma dúvida, algum protesto, vamos nos ver de novo, e não vai ser nesse ringue eu te asseguro.

—Na cama então?—provocou, lançando-me uma piscadela.—Ou no bar primeiro?

Não respondi nada, apenas me levantei, amarrando o cabelo que havia sido solto no meio da briga, e sem pressa, corpo arrebentado e cansada, suada, desci daquele ringue.

—Liza foi incrível!—exclamou Marla, batendo palmas na companhia dos outros.—Lacrou demais!

—Tinha que ver a cara daquele idiota.—falou Josh, acompanhando-a.—É sério o q...

—Josh!—gritou Brenda, vindo até eles com pressa.—Vocês tem aula agora, vão!

Josh iria protestar, mas Marla, depois de um bom tempo, como a garota inteligente que era, entendeu que com Brenda não adiantaria discutir, então simplesmente puxou o braço de Josh e os dois saíram dali, mesmo que o garoto reclamasse com ela.

—Ei, você ta bem?—perguntou Brenda, tocando meu ombro.—Aquilo foi...

—Doloroso eu sei, vai deixar uma boa marca roxa.—falo, rápido, nervosa.—Mas eu cuidei disso.

—É que, a sua barriga, eu sei que pra você...

—Bren, eu disse que estou bem.—corto-a, não queria ouvir sobre aquilo.—Agora...

Teria terminado de falar, mas só o que eu ouvi naquele minuto seguinte foi o alarme, o alarme que apitou no meu telefone, era o alarme das Valkírias, estavam em apuros. Encarei Brenda preocupada, precisava ir para a sede e rápido.