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História Cidade Estrelada - I - Uísque.


Escrita por: 7thkkum

Notas do Autor


Opa, olha eu!
Antes de lerem, eu queria dar um pequeno aviso.
• É o seguinte: essa história é muito importante pra mim, foi um história onde eu pude colocar alguns dos meus sentimentos mais profundos. E não, eu não estou romantizando algo tão serio, até porque o que eu quero mostrar é que o amor, seja ele próprio ou por alguém, pode salvar vidas.
• Espero que você tenha lido os avisos hehehe. Críticas construtivas sempre serão bem vidas.
• Lembrando que os personagens são completamente FICTÍCIOS.
• O drama contém cenas um pouco pesadas demais. Contém palavras ofensivas e impróprias.
• A história aborda alguns temas um pouco polêmicos e tabus.
Eu espero que vocês gostem da historia, e por favor, dêem muito amor ao meu bebê.
Boa leitura :3

Capítulo 1 - I - Uísque.


Fanfic / Fanfiction Cidade Estrelada - I - Uísque.

 Na rua completamente escura

Eu estava perdido e sozinho

Mesmo se eu tentasse levantar novamente

Sonhos despedaçados aprofundavam ainda mais a ferida

- 함께 (Cure)

Yoo Young Jin & Taeyong

 

Taeyong.

Foge.

Fugia quando sua mãe gritava o seu nome do andar de baixo, para que colocasse o lixo para fora, pelo simples fato de ser incômodo sair de casa e expor a todos a sua inutilidade e culpa. Normalmente era dentro de casa onde tinha o privilégio de poder sentir um pouco mais seguro ou confortável em relação a isso, mais especificamente dentro do seu quarto, onde ninguém o julgaria a não ser ele mesmo. Não que aquela casa não o fizesse sentir um lixo ambulante, mas era bem menos do que em qualquer outro lugar. 

Fugiu da enlouquecedora prova de matemática no segundo ano, quando a falta de ar e a agitação do coração decidiram dar as caras, fazendo com que sua mente entrasse em um loop infinito de pane. Parecia que tudo estava desmoronando aos poucos, como se as forças restantes que ainda armazena dentro do seu corpo fosse esvaziando a cada arfada pesada produzida por seus pulmões fajutos, e a angústia densa que ocupava seu coração voltasse depois de um tempo sóbrio de dor e desespero interno. 

Indescritível. Indescritível talvez fosse, hipocritamente, a palavra certa para descrever o que se passava com seu corpo, mente e coração dentro daquela abafada sala de cálculos, onde dezenas de alunos concentrados em seus exames se encontravam. Naquele dia, ele não sabia ao certo o porquê do seu corpo reagir de tal forma, fazendo com que deixasse de responder aquelas questões complicadas, para escrever palavras desconectas na parte em branco do exame. 

Na hora de entregar a atividade avaliativa, por um momento ele pensou que estivesse respirando ar puro, como se seu pulmão estivesse dando, pela primeira vez, a oportunidade de receber algo leve, como a brisa de um campo de flores. Quando a folha passou da sua mão para a mão do velho professor de matemática, automaticamente a vida o deu a rasteira final do dia, provocando uma risada descontrolada, um misto de alívio e desespero.  

Ele fugiu dos questionamentos dos seus pais – esses que nunca precisaram se preocupar com sua vida escolar – quando perguntaram o que estava acontecendo consigo depois que o coordenador ligou, avisando de todas as palavras aleatórias – sejam de ódio e de amor, escrita na última folha daquela prova –, apenas respondeu que estava tudo bem. Mas sempre foi um grande mentiroso, já que conseguiu que dessem uma trégua, não conseguia lembrar de um mísero momento que tivesse sido verdadeiro, ao menos consigo mesmo.  Lee Taeyong era um idiota, que não conseguia controlar seus sentimentos e acabava sufocado com o peso de todos eles.

Fugiu dos seus amigos por medo de machucá-los com todos aqueles cacos que sobraram de um coração que um dia foi intacto, sem ao menos nenhum arranhão. Os poucos amigos que lhe restaram, acabaram se afastando um pouco, com a justificativa de que ele precisava de um tempo para si. Mas o que ele não entendia, era que sua mente era traiçoeira e que distorcia todo o cuidado e carinho que as pessoas próximas tinham por ele. Era como se seus olhos estivessem vendados e seus ouvidos prejudicados.  

Na sua cabeça, poderia contar nos dedos aqueles que ainda continuavam ao seu lado. Mas não os julgavam, cada um sofre uma batalha interna dentro de si, muitas vezes é difícil enfrentá-las, principalmente quando tem que lutar as batalhas dos outros também, pelo menos era isso o que ele pensava. Fugiu dos seus sonhos. Fugiu de si mesmo, fugia da verdade. Não existia coisa pior do que fugir e desistir de si mesmo. Ele tinha desistido.

Não é como se fosse uma coisa completamente difícil de conviver, na verdade, dava para conviver um pouco. Conseguia viver com sua cabeça destralhando com sua vida e conseguia conviver com o ódio que sentia dele mesmo e de suas atitudes, que geraram consequências dolorosas demais para serem colocadas em palavras. Mas tudo tem um limite. Conseguiu fugir quando ele mais precisava de si. E se sentia um lixo por isso. Um grande e malcheiroso lixo, que transbordava a culpa e desespero. 

Descia as escadas em uma pequena esperança de ter um dia legal, sem aquele aperto desgraçado no peito que o fazia se tornar cada dia mais fraco. Mas a cada degrau era como se fosse um copo de água com cubos de gelo. Cada degrau a mais, mais um cubinho de gelo. Quando finalmente chegou ao último, era como se a água toda tivesse escorrido devido à densidade dos cubos. E então, toda a esperança se foi, sobrado apenas a tristeza, que eram justamente os cubos de gelo misturando-se a mínima esperança restante no recipiente. 

A casa toda tinha cheiro de ovos, sopa de legumes e queijo fresco. O sabor da casa já era um pouco diferente, um gosto de monotonia com sonhos destruídos e um pouco de culpa misturado com ódio. Sua mãe parecia mais perdida que o normal, vivia desorientada e gritando pelo nome do filho mais novo sem parar, muitas vezes saia correndo rua a fora, ou quebrava os pratos. Geralmente, depois de um dia muito estressante, a mulher via coisas e gritava para o nada, com um olhar tão perdido quanto suas esperanças. O vestido amarelo que tanto realçava o bronze da pele, estava tão apagado quanto o castanho dos olhos dela. 

Seu pai ainda mexia no celular, o homem tinha substituído seu calor de verão por uma brisa congelante de um  extremamente frio, falava pouco, algumas vezes ainda tinha a decência de passar no quarto do filho e ter uma conversa civilizada, como antigamente. Sentia falta dos seus pais, sentia saudades do calor de ter uma família, mesmo que ambos ainda vivessem debaixo do seu próprio teto. Taeyong olhou em volta, tinha um prato a mais na mesa e o Bob, o velho cachorro ainda continuava no chão, aliado de cabeça baixa. 

Monotonia. 

- Você vai vir direto para casa assim que sair da escola, meu filho? – Sua mãe perguntou, puxando uma cadeira e sentando ao seu lado naquela mesa redonda. – Quer ovos?

Seu pai ainda mantinha os olhos no celular, de um modo que o mais novo dos três tivesse a sensação de que o homem não existisse naquele momento. Apenas confirmou com a cabeça, para ambas as perguntas. 

– Seu pai e eu vamos sair para jantar hoje à noite, vou deixar alguma coisa para você comer e depois iremos andar por aí. Não espere acordado, e não deixe o seu irmão ficar acordado até tarde.

Ela estava delirando de novo, perdida em um universo desmoronado.

Resmungou que não precisava e baixou a cabeça, não sentia o prazer de comer, assim como também não sentia as outras sensações que o faziam lembrar que era um ser humano. 

Eles finalmente começam a comer, seu pai tirou os olhos do celular e encarou o prato que estava vazio e perdido ao lado do filho, que se acolhia dentro de um casaco laranja. O corretor torceu o nariz e levou uma colher de sopa à boca, engoliu e mais uma vez olhou o prato vazio, depois observou o do filho, preenchido de sopa de legumes e ovos – intacto – e suspirou. 

Taeyong percebeu o modo como o pai tentava ignorar aquela situação, percebeu a inquietude tanto no olhar, quanto no corpo já gasto. Mas não falou nada, não tinha nada o que falar, preferindo assim, voltar a se enterrar naquele interior machucado. mergulhar em suas feridas era menos doloroso do que encarar a realidade.  

- Meu amor? – Chamou o anfitrião, com uma voz doce e paciente, e por um momento, tinha sentido o seu corpo aquecer, como a muito tempo não aquecia, mas era só um momento. A voz grave do homem mais velho, recebeu total atenção da mulher, e mesmo que não quisesse demonstrar, seus sentidos estavam atentos para as palavras seguintes. – Você não acha que... – suspirou e apontou para o lugar ao lado do Taeyong – esse prato é um pouco demais, não? O San…

Bob levantou a orelha, atento, como se entendesse tudo, inclusive que ele nunca voltaria para casa. 

Por um momento, ele só queria correr, mas se identificava com o clima pesado que se instalava na grande cozinha, bem arrumada e farta. Identifica-se com a respiração pesada da mãe e o desconforto do seu pai. Se identificava também com seu próprio vazio. 

E antes que sua mãe pudesse responder alguma coisa, se levantou e foi até a porta, onde ignorou as perguntas do velho e deu de cara com o sol frio da manhã. Ele tinha pensado que na escola seria um pouco diferente, com um clima mais leve e quem sabe encontrar o Yuta, Taeil ou Doyoung por um dos corredores, mas não os encontrou. Na verdade, tinha encontrado Johnny, que tinha chegado há pouco tempo, encostado no armário do lado do seu, mexendo no celular. Parecia distraído. 

- E aí Taeyong – cumprimentou, baixando o celular e deixando um sorriso iluminar seu rosto, Taeyong retribuiu o sorriso e abaixou a cabeça enquanto abria o cadeado velho e já bem conhecido. 

- Olá, Johnny. – Respondeu baixinho e sem ânimo. 

Não era como se não quisesse falar com o estadunidense, mas algo dentro de si sussurrava, e muitas vezes gritava, para fugir dali. Que seria seguro para o amigo se estivesse longe de si. Era um absurdo, porém, mais absurdo ainda era quando ele simplesmente aceitava aquelas palavras. Ele próprio sabia que era absurdo, mas não conseguia negar. 

– Você vai à exposição de Arte e Fotografia do pessoal do campus dois? – Insistiu em falar, usando a mesma voz que usava com seus pacientes. - Vai ser especial, Tae, você deveria ir! 

A tão famosa e esperada exposição de artes e fotografia do pessoal do campus dois... Deve inventar uma desculpa só para ficar em casa e não pisar os pés no prédio atrás da escola? Seria muito errado? Quer dizer, o fato de mentir e não o de comparecer? Ele tentava fugir daquilo que achava que não o fazia bem, mas nunca fugia daquilo que realmente o matava por dentro. A dor fazia parte da vivência, e a morte a consequência da vida.

A exposição estava sendo programada há três anos, quando abriu desde aquele dia trágico, e os artistas vinham trabalhando duro sem parar desde o primeiro dia. Tinha que admitir, as obras eram realmente lindas. Até o ano passado ia até o campus dois, e passava horas observando o pessoal pintando. Vez ou outra se sentava perto da janela e tocava alguma música calma que ainda se lembrava no violão. Mas tudo mudou, como cair no sono. 

- Eu não sei bem, cara. – Sussurrou – Talvez não seja o certo a ser feito. Você sabe, eu não seria bem recebido... 

O sorriso do americano murchou e Taeyong ainda estava parado defronte ao mais velho de cabelos pretos. Era inevitável não ficar mexendo no seu anel, e era o que fazia sempre que se sentia ansioso. Mexia no seu anel porque, apesar de tudo, tentava se esforçar em se tornar quem é de verdade. Acreditava que poderia voltar a sorrir e ter todos os caquinhos de volta ao seu lugar de origem. Mas quem estava tentando enganar? Uma folha amassada não voltaria ao seu estado inicial.

Continuava a mexer no anel, sua velha mania e solução de tentar acalmar um coração que já está acostumado a sofrer tanto. Quando Johnny soltou um pequeno suspiro, Taeyong não levantou a cabeça, tinha medo do que os olhos alheios poderiam demonstrar sobre ele, não sabia o porquê desse medo, apenas tinha. Algumas vezes o medo se desenvolve aparentemente sem motivo, até você cutucá-lo e vê que o motivo sempre esteve na sua frente. 

- As pinturas do Sang vão está lá. – Comentou – Seus pais falaram que iriam levar algumas fotografias que estão na sua casa. Eu simplesmente amo aquelas fotos que ele tirou com a câmera enológica da sua avó. 

- É...,o Sang. – Sussurrou cansado – as fotografias e pinturas... As pessoas vão gostar. Se ele ainda estivesse aqui, estaria feliz. É tudo culpa minha. – Lamentou, estalando os dedos ossudos, uma velha mania que também entregava seu nervosismo - Meu irmão merecia isso, deveria estar aqui. 

- Taeyong, você não pode pensar desse jeito. - Johnny repousou uma mão em seu ombro, depositando um carinho singelo - Você não sabe o quanto eu fico preocupado com você quando pensa assim. 

- Eu estou bem! – assegurou, mesmo não sendo completamente verdade, retirando a mão do amigo do seu ombro - Não se preocupa.

- Não foi sua cul-

E antes que ele pudesse terminar de falar, o que para alguns era óbvio e para outros uma grande mentira, o som alto do toque de recolher ecoou pelo corredor e o barulho dobrou quando os alunos começaram a correr para as suas salas. 

Taeyong não queria ir para a aula, não queria ficar na escola e nem ir para casa, parecia que esses lugares o faziam pensar mais que o necessário, e pensar mais que o necessário para ele era sinônimo de uma dolorosa facada. Relembrar é reviver. E reviver é como sentir dor novamente. 

Pegou a carteira no seu armário e caminhou até o portão, com fones jogados nos ombros largos e tensos, tensão essa que denunciava seu cansaço mental e até físico. Sabia que não deveria sair daquele jeito, como se não estivesse nada acontecendo, mas tinha algo acontecendo, por isso apenas seguiu. De cabeça baixa, puxou o capuz alaranjado e colocou mais uma vez o fone nos ouvidos, deixando ecoar em seus fones a tão clássica melodia de Yiruma: River Flows in you. 

E foi com River Flows in you que saiu pelo o grande portão da tão familiar escola.  Caminhava pela cidade sem saber para onde ir, vez ou outra fechava os olhos para apreciar a tão deliciosa emoção que o pianista conseguia transmitir através da música, tentava controlar a respiração que sempre vacilava com sua vida. Pegou o ônibus do centro, resolveu ficar com uma cadeira do meio e não do lado da janela, como sempre costumava a sentar, e fechou os olhos para a realidade.

Dormir ou um simples fechar de olhos, eram tão torturantes quanto pensar demais. Decidiu parar no shopping, onde entrou e comprou um maço de cigarros, um litro de uísque barato e balinhas de hortelã, que colocava na boca sempre que sentia que tudo parecia amargo e destruído. Servia também para distrair o cheiro forte da nicotina. Na verdade, naquele exato momento, queria maconha, pois o tragar e o gosto que ficava impregnado em sua língua e garganta era mais leve quando tudo parecia muito pesado. 

Quando finalmente chegou a uma pequena loja e adentrou, reconheceu o forte cheiro de café e conforto, era uma loja antiga e quase nunca chegava coisas novas, mas sempre esteve ali. Olhou mais uma vez ao redor, admirando aquele chão de madeira e as paredes preenchidas de quadros e uma grande prateleira cheia de roupas antigas e bonitas. 

Caminhou até uma arara com peças brancas, saiu cutucando todas as roupas até achar um moletom branco com uma tipografia negras e bem desenhadas no meio. O tão familiar moletom agora estava em suas mãos, agora parecia bonito e significativo para ele, que permitiu sorrir ao lembrar-se da primeira vez que viu a peça. Tinha a odiado. 

Queria não ter um objetivo naquele momento, mas deixou com que seus pés lhe levassem para um lugar específico, um lugar que pretendia habitar em breve, o cemitério da cidade nem era tão longe afinal. 

Quando parou no sinal vermelho para pedestre, sentiu toda a amargura envolver seu interior e pensou em algo que não gostaria de pensar. Foi involuntário na sua mente querer se jogar em frente ao próximo carro. Quase sentia o seu corpo dando impulso para frente, quase sentia o impacto contra o seu corpo. Quase sentia, mas não sentiu.

Ah como se sentia confuso e perdido. Uma hora pensava em felicidade e alegria, outrora em cigarros e bebidas – coisas que não lhe interessavam muito - mas era o suficiente para o arrancar da dura realidade. Algumas vezes pensamentos da própria morte e de como realizar tal procedimento passavam por sua mente. 

Gostava de pensar que tudo andava normal em sua vida, e que todos aqueles pensamentos não eram reais e tudo era apenas um pesadelo. Qual é... apesar de tudo Taeyong era forte e já superou tantas coisas, já passou por tantos obstáculos. Mas queria saber o porquê de tanta demora em finalmente conseguir superar os obstáculos. Por que tantos anos? Sempre ouviu falar que o tempo cura, mas até agora estava esperando a famigerada cura. Onde estaria ela? Quem seria ele? Por quê? Perguntas, perguntas e mais perguntas. 

O sinal ainda denunciava o vermelho quando atravessou a rua correndo, desviando de um carro que buzinou, chamando a atenção de alguns. Deveria correr na direção sul, porém acabou entrando em um beco escuro ao leste. Ainda corria, pois, correndo sentia que estava se livrando dos problemas, e sua única preocupação era em como controlar sua respiração pesada quando foi ao chão, sentindo um chute forte na região do seu estômago. 

Gemeu baixinho, tentando não se concentrar nos diversos chutes em sua estrutura magra e fraca. Na primeira oportunidade de levantar a cabeça, reconheceu uma silhueta alta e musculosa, tinha fúria nos olhos. Pôde notar a pequena claridade do dia. Sabia que Park Dongyul não estava sozinho e muito menos com pessoas desconhecidas, conhecia os rosnados raivosos do Kim Shin, o grito estritamente do americano Leo e os típicos palavrões do Lee Jaehyo. 

- Está confortável aí, meu irmãozinho? – Dongyul perguntou um pouco risonho, mas não significava que sua raiva não era transmitida em palavras. Cada sílaba que saia daquela boca era recheada de veneno e amargura. Abaixou-se e puxou a gola do moletom do garoto machucado, ficando cara a cara. Em seguida cuspiu no chão próximo – como anda o maior assassino da escola? Que coisa feia Lee Taeyong, que coisa feia… Até hoje não entendo como o diretor ainda te aceita depois de tudo o que você fez.

- Seu assassino! – Gritou alguém atrás de si. – Gostou de nos colocar atrás das grades por um erro seu? O Heng ainda foi esperto de fugir, aquele chinês desgraçado, deveria morrer, assim como você! 

- ASSASSINO DE CRIANÇA! – Disparou mais outro – VOCÊ É UM MONSTRO, SEU MERDA!

E aquilo foi a gota d’água.

Seu corpo tornou-se uma folha, mas ao mesmo tempo parecia chumbo. Às lágrimas tinham resolvido dar as caras, não pela dor física, mas pela dor emocional. Dongyul jogou seu corpo com força sob o chão seco e áspero, sentiu quando sua sacola fora puxada da mão e logo sentiu um líquido morno e alcoólico descer pela sua testa, logo deduziu que o conteúdo da garrafa que comprara fora derramado sobre si. O maço de cigarros também fora aberto e acesso alguns, via o maço ser passado em mão em mão, sentia o cheiro da nicotina se confundir e misturar com o ar que respirava, mas não se importou, a nicotina vinha lhe fazendo companhia de uns anos para cá, era familiar até. 

Seu braço fora puxado com brutalidade por um dos quatro homens, e a manga de seu moletom fora puxada para cima, revelando um pulso com as cicatrizes da luta que vinha enfrentando nos últimos três anos. Gritou ao sentir algo quente em seu antebraço, perto de uma abertura recente, continha sangue ainda. Gritou e chorou com a dor da queimadura. Uma. Duas. Três. Quatro vezes. Seu corpo se contorcia em busca de liberdade. Respirava com dificuldades quando sentiu seus olhos pesarem e não sentir absolutamente nada, mas antes, uma batida forte em sua cabeça. 

Quando finalmente abriu seus olhos, percebeu que estava só, apenas com a escuridão do beco e o barulho que denunciava o trânsito de Seul. Levantou-se com dificuldades, sentindo a dor percorrer seu corpo. Olhou seu braço marcado de queimaduras e mais cortes, dessa vez, feitos por alguém que não era ele. 

Estava destruído, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Começou a caminhar pelas ruas, recebendo olhares o julgando e deixou ser guiado pelos seus passos arrastados até a escola, no campus dois, onde seria a exposição de artes. 

Entrou com dificuldades até os fundos e subiu as escadas até o sótão. A cada degrau, uma certeza. Não aguentava mais toda aquela dor em seu peito, toda a culpa e toda a agressão que vinha recebendo nos últimos três anos. Estava exausto de si mesmo. Flores bonitas foram feitas para ser as primeiras a serem retiradas do jardim. Era uma flor feia, aos olhos dos demais, e estava sendo retirada do jardim por não ser o suficiente. No final, as flores são retiradas, sendo bonitas ou feias. A diferença é que umas vão mais cedo e outras mais tarde. 

Quando chegou ao sótão, depois de subir alguns lances de escadas e fingir que aquele lugar não significava nada, conseguia ouvir o piano tocando uma música calma ao fundo, uma melodia familiar. Tudo parecia borrado e confuso. Caminhou até a grande janela, que ia do chão ao teto e abriu, ficando na beirada. Fechou seus olhos, abriu os braços e sorriu. A gargalhada saiu rasgando sua garganta. Estava pronto para ser retirado do jardim, afinal, era apenas uma flor inútil, murcha e machucada. 

Jogou-se, mas para sua surpresa, ao abrir os olhos, estava no chão do sótão, sentando em meio à poeira, caído sob um corpo quente, segurando seu braço.  Uma respiração profunda e desengonçada estava perto demais do seu ouvido.

Olhou para trás, de onde a respiração pesada vinha, e se deparou com um moço sentado no chão, com o peito servindo de sustento para suas costas. O rapaz usava um avental cheio de cores e tinta azul no rosto e nos cabelos castanhos. Desespero estava estampado no rosto do estranho, e por um momento ficaram assim, olhando um nos olhos do outro, compartilhando do medo e das dúvidas. O pânico presente nos dois garotos, era resultado de um passado amargo. 

- Por que fez isso? – Perguntou, sem desviar o olhar – Por que me puxou? – Questionou novamente, sentindo toda a sua coragem esvaziar aos poucos junto com sua voz que ficava cada vez mais falha devido ao bolo na garganta – P-por quê?

- Nunca mais faça isso! – Falou o estranho, de uma forma grossa, mas tinha medo naquela voz, um pânico e lembranças horríveis. – Nunca mais! Onde estava com a cabeça? Você poderia ter morrido! Sabe como é a dor de perder alguém dessa forma? VOCÊ TEM IDEIA DO QUE IA FAZENDO? TEM IDEIA DA DOR QUE SUA FAMÍLIA IRIA SENTIR?

Ele sabia. Sabia da dor de perder alguém.

O pintor levantou-se, limpando suas roupas cheias de poeira, desfazendo o único contato morno de verdade que tinha recebido no dia. Esticou o braço para o platinado, ainda estava sério e assustado, mas continuava ali, sem mover um dedo, com o braço esticado para o garoto sentando no chão, sem entender nada. 

- Me deixa… - pingarreiou - deixa eu te ajudar?

Taeyong olhou para o estranho, olhou para a janela, e viu sua coragem ser levada pelo vento. Aquela tinha sido sua maior oportunidade, e ele tinha certeza que conseguiria. Como um ímã, seus olhos foram de encontro com os olhos alheios, na qual o dono ainda permanecia com a mão esticada em sua direção.

- Por favor…

E foi assim, Taeyong pegou naquela mão clara e macia, cheia de tinta fresca grudado naquela pele e se levantou. Sem acreditar no que estava acontecendo. A tinta laranja que envolvia seus dedos, que antes estava na mão do pintor, parecia viva. Sentia inveja daquela cor, sentia inveja de estar vivo. 

- Obrigado por me deixar te ajudar. – Sorriu, ainda de mãos dadas – Jung Jaehyun.

- Lee Taeyong. 

 


Notas Finais


O que acharam?
Postei e sai correndo uhuuuuuu até sábado... eu acho...


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