História CILADA -Noiva de Sacrifício - Le bal - Parte 2

Audrey Chermont

Às águas de Lake Windermere, ficavam mais agitadas no período da noite. Dava para perceber por conta das fortes batidas da água na madeira de nossa gôndola. Que balançavam nossa embarcação. Dando a impressão de que íamos virar.

Eu permanecia sentada no assento de couro, no tempo em que Alfred ficava em pé na minha frente. Observando a escuridão a nossa frente e ouvindo o barulho da água. Em breve, estaríamos na Maison d’or, onde o baile de fim de verão ocorreria e Sebastian provavelmente nos aguardava.

Fiquei um pouco chateada por ele não ter vindo me buscar. Queria ter visto sua expressão, e quem sabe o brilho em seus olhos, ao me ver descendo a escadaria da Mansão Michaelis. Usando a roupa de Alice.

Toco o pingente de minha gargantilha,no tempo em que desenho mentalmente o leve sorriso, discreto e misterioso, do Lord Michaelis. Sebastian tem um modo próprio de sorrir. Peculiar, mas muito atraente.

--- Quem está tomando tanto espaço em seus pensamentos, My lady? - Alfred, pergunta.

---- Sebastian. - Murmurei. Dando um sorriso tímido.

--- Está ansiosa para que ele a veja? 

---- É. Sim, estou. - Admito.

Por trás dos pinheiros plantados sobre os pequenos pedaços de terra, que surgem no meio do lago, consigo ver a imagem da Maison D’or. Com suas inúmeras janelas e luzes.

--- Chegamos! - Falo. Espantada pela quantidade de quartos, neste lugar. Acho que dá para abrigar quase toda a Inglaterra, nesta casa.

--- São mais de quatrocentos quartos, fora os outros cômodos, às saídas secretas e quem sabe até cômodos subterrâneos. - Alfred parece fazer um raio x da mansão. Não vejo muita admiração no seu rosto, já que o Castelo das Rosas, deve ser muito maior.

---- Será que Sebastian está lá? - Pergunto. 

---- Não se preocupe ele saberá como achá-la.

Continuamos remando em direção ao cais, onde alguns empregados da mansão nos avistam. 

--- Tem algum conselho? - Pergunto, me levantando e parando ao lado dele.

---- Seja você mesma, Senhorita Chermont. É disso que o Lord gosta. - Alfred, responde.

Minha respiração fica acelerada, conforme vamos ficando mais próximos. Assim que nossa embarcação é amarrada, perto do cais de madeira. Solto um suspiro, para manter a calma.

--- Boa noite, Senhorita. Bem-vinda ao país das maravilhas. - Um dos mordomos estende a mão para que eu consiga subir.

Sorrio gentilmente e seguro em sua mão. Subo devagar os pequenos degraus de madeira e sou guiada por outro funcionário da casa, para dentro dos jardins da mansão.

Alfred vem logo atrás, no tempo em que caminho pela trilha cheia de curvas do jardim. Enfeitado com árvores tortas e arbustos em formato de coelhos, cartolas, cartas de baralho, pássaros e corações. A maior parte deles ainda ganha um laço colorido para enfeitar.

Logo me dou conta que esse jardim imita um tabuleiro de xadrez, com partes mais claras no gramado e outras mais escuras. Às fileiras de flores vermelhas e brancas ao redor do jardim, provavelmente representam as abas do tabuleiro. Fico pensando quanto tempo eles levaram para fazer isso.

--- Perfeito. - Alfred, murmura atrás de mim. Espantado por tamanha produção.

Mais serviçais da mansão surgem, porém na sacada. Um do lado do outro e vestindo máscaras de carnaval veneziano e uniformes parecidos com cartas de baralho. Esses devem ser os guarda-costas do lar. Provavelmente vão ficar aqui fora a noite inteira.

Aproximo-me da enorme porta dupla de ferro. Que range alto ao ser aberta lentamente. Do outro lado consigo ver mais guarda-costas encostados nas paredes e no andar de cima, com suas fantasias.

--- Boa noite, Senhorita. Poderia me entregar seu convite? - Um serviçal usando um terno todo dourado e uma máscara de porcelana um pouco diferente dos outros. Aproxima-se de mim.

---- Somos da Casa Michaelis. - Alfred, anuncia. Atrás de mim.

O serviçal faz um gesto e outra grande porta, no alto da escadaria é aberta por dois mordomos.

---- O salão de baile é por alí. Seu nome será anunciado assim que entrar. Tenha uma boa noite. 

Olho por cima dos ombros, na direção de Alfred e ele faz um gesto com a cabeça para que eu vá.

--- Eu tenho um pedido a fazer. É sobre meus aposentos. - Falo.

--- Pois não, Senhorita. Estamos aqui para servi-la. - Disse, o serviçal.

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Chloé observava a movimentação no salão, atrás do guarda-corpo do segundo andar, que lhe dava a visão de cada ponta do cômodo. O salão de festas estava mais cheio, do que o da festa da família Bélier, no ano passado. E, para Chloé isso já era motivo suficiente de orgulho. Os Bélier teriam que se esforçar muito para continuarem sendo os anfitriões preferidos.

Embora, o tema da festa fosse diferente do acostumado. Nenhum dos convidados pareceu ter dificuldade em montar sua própria fantasia, usando os trajes tradicionais de baile.

Lord Hobbes, ficou muito elegante usando alças de xícara para enfeitar seu smoking e às penas rosas do vestido de Lady Shelley, usadas para representar um pelicano, foram usadas com muito bom gosto.

Talvez, o fato da festa exigir a criatividade tenha sido uma das partes mais agradáveis do baile. Ninguém ficava preso a nenhum padrão e nenhuma cor. Todos poderiam ser o que bem quisessem. E, essa foi a jogada mais perfeita, de Chloé.

---- Querida, por que não está lá embaixo? - Disse, Karlheinz. Se aproximando de sua amada vestido uma fantasia elegante de Rei de copas. E, desfrutando de seu vinho.

---- Não quero entrar ainda. Minha entrada tem que ser triunfal e perfeita. - Chloé, comenta Com um sorriso vaidoso no rosto.

--- Está linda de Alice. - Disse, Karlheinz. 

--- Obrigada, fico feliz de ter escolhido essa fantasia. Serei a verdadeira Alice, desta noite. 

Karlheinz beija o rosto de sua amada, e os dois admiram o salão repleto de nobres. Parecendo um jardim de flores todo colorido e enfeitado. 

--- Quando os Bélier, irão chegar? - Karlheinz, pergunta.

---- Querido, não vamos falar dos Bélier, agora. Eles são nossa última preocupação. 

Karlheinz caminha em direção a uma mesa com uma taça de vinho, em cima. Oferece a Chloé que aceita com um sorriso.

--- Relaxe. Não podemos fazer nossa grande entrada, nos preocupando tanto. - Disse, Karlheinz.

Chloé bebe um pouco do vinho e logo em seguida fita os olhos no salão. Fazendo seu coração acelerar, ao perceber a figura que surge, após as portas se abrirem.

---- Lord Sebastian, da Casa Michaelis - Um mestre de cerimônias, anuncia. E, a maior parte dos convidados fita o jovem Lord descer a longa escadaria. Trajado com uma cartola muito bem enfeitada e um smoking preto, todo decorado com broches e penas roxas.

Chloé quase consegue ouvir o vidro da taça estalar, nas mãos de seu amado, quando ele aperta o objeto com força. Seu semblante escureceu e ele fica sombrio, de repente.

--- O que ele está fazendo aqui? - Ele encara sua amada, que demonstra um semblante perdido.

--- Não sei.

--- Você o convidou?

--- Não. Eu juro que não. - Chloé, revela.

Karlheinz põe a taça na mesa e caminha, de volta para um dos quartos e fecha a porta. Chloé vira-se na direção do salão. Buscando a figura do Lord, em meio aos convidados.

Sebastian caminhava no meio dos convidados sem perceber que Chloé procurava por ele, no andar de cima.

--- Alguma coisa de suspeito, Alfred? - Sebastian, pergunta. Encostando em sua orelha.

Nada ainda. Os aposentos parecem seguros, My Lord. Acabei de vê-los e de revistar. Não há como se esconder neles.

---- Onde a Audrey está? - Sebastian, pergunta. Procurando agora pela sua noiva.

 Está comigo. Fique tranquilo. Ela está ajeitando os aposentos, para quando forem dormir.

--- Por que? - O lord, pergunta. Deixando uma risada curiosa escapar.

 Não sei. Ela se trancou com duas criadas, no quarto e não me disse nada.

---- Quando ela terminar mande que desça. Estou esperando por ela. - Sebastian, ordena. E, depois aperta de novo em sua orelha.

Chloé o encontrou e mal conseguia demonstrar que respirava, ao perceber a presença do Lord.

 Sim, ele realmente está aqui. 

 O coração da jovem lady bate acelerado no peito, como se fosse explodir de mil emoções, ao ver aquele que ela ama em segredo.

--- Sebastian… - A voz dela saiu quase como um suspiro, ao admirá-lo mesmo de longe e de forma tão pequena.

Ela mal podia deixar de sorrir ao ver seu belo rosto por debaixo do chapéu. Passaram anos, desde a última vez, que se viram. E, agora tudo parecia ser como uma festa no íntimo de Chloé.

Agora ele é um homem completo. O conde que ele sempre sonhou em ser, e que ela sempre sonhou em ter.

A porta bateu outra vez e Karlheinz surge, quase roendo os dentes de raiva, ao ver o filho.

---- Ele não poder ficar aqui.

--- Querido, não se preocupe. Pensa que esse pode ser um presente do destino, para nós dois. Ainda mais agora. - Disse, Chloé. Com um brilho maldoso falso, nos olhos.

Seu amado parece concordar, e inclina-se para dar um beijo nos lábios de Chloé. Que imediatamente retribui.

--- Dê um jeito nele. Garanta que não causará nenhum problema. - Karlheinz,ordena fitando o Lord, com o canto do olho.

Chloé move-se para a escada. Mas, seu braço doí com o aperto de Karlheinz. Que a segura com força. Ela o encara por cima do ombro sem entender sua atitude.

--- Não fale muito com ele…. - Karlheinz,ordena. Com seu tom de voz sombrio e autoritário. 

Ele a solta e volta para dentro. Ainda mais furioso do que nunca.

Chloé acaricia a região, com uma marca vermelha. E, depois solta um suspiro de alívio.

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Outra gôndola se aproximava da mansão. Desta levando duas senhoras muito bem vestidas, com trajes vermelhos. Uma delas era uma Senhora, de no máximo uns noventa anos, e a outra tinha um ar mais jovial, porém que escondia o rosto por debaixo de uma renda, de seu chapéu.

---- Boa noite, Senhoras. - Os serviçais ajudam às duas Ladys.

--- Ah boa noite, querido. Eu adorei a ideia de nos trazer nessas gôndolas, parecem muito com as que têm, em Veneza.- A senhora, elogia. E, depois caminha acompanhada por outro serviçal, pelo cais.

A outra Lady é ajudada, pelos serviçais. E, segue de cabeça baixa.

--- Isso não é lindo? Eles foram tão talentosos em fazer essa decoração. 

--- Mãe, esqueceu seu chapéu. - A Lady aproxima-se da idosa e veste o modelo fedora, em sua mãe.

--- Obrigada, querida. Ah o que houve? Não está sorrindo. Anime-se é uma festa.

Sua filha franze um pouco o lábio.

--- Me perdoe, Mãe. Eu só me sinto um pouco nostálgica indo em uma festa de verão. 

--- Meu amor, você ainda é muito jovem para ser nostálgica. - Sua mãe,comentou dando uma risadinha.

As duas continuam caminhando juntas, para dentro da mansão. No tempo em que, a Lady mais nova analisa a aparência espetacular da casa.

Às portas são abertas e logo o mascarado surge, com seu terno dourado.

---- Boa noite, Senhoras. Bem-vindas ao país das maravilhas. Posso ver seus convites? - Ele, pergunta.

--- Ora, que coisa fantástica. Eles colocaram o porteiro vestido como um funcionário da Rainha Vermelha. Que coisa linda. - A idosa, elogia. Encantada com tamanha criatividade. Mas, sua filha permanece com a expressão neutra embaixo do chapéu.

Dois convites em forma de carta de baralho são entregues. E, o porteiro logo confirmar suas presenças.

--- Tenham uma boa noite, Senhora Anastácia Flaubert e Senhora Grace Michaelis. - Disse, o porteiro. Reverenciando às duas e deixando que elas entrem.

--- Obrigada, Senhor. - Disse, Grace Michaelis. Levantando o rosto e deixando transparecer seu semblante por debaixo da renda.

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Sebastian continua circulando pelo salão, passando pelos convidados, que percebem sua presença. E, começam a espalhar a novidade pelo salão. O Lord ignora e apenas caminha, em busca de Audrey.

---- Procurando alguém, Lord Michaelis? 

O rosto frio do Lord Michaelis, fita o semblante fino e ao mesmo tempo único, de Chloé Beauvoir. A qual ele jamais esqueceu ser a figura mais sombria de seu passado.

Os dois ficam em silêncio por alguns minutos. Ela com as mãos juntas e um sorriso de canto e ele sério e inexpressivo, como sempre.

---- Chloé… - Ele, pronuncia o nome dela. Como se estivesse falando ao vento.

--- Sebastian Michaelis. --- A voz dela ecoa, um pouco mais expressiva. Com um pouco de dureza e ao mesmo tempo, com uma falsa felicidade. ---- Surpreso ao me ver?

Ele a encara de cima a baixo. Depois ergue a sobrancelha e dá de ombros.

--- Adorei sua fantasia de chapeleiro.

--- Meu pai também parece ter gostado. - Sebastian, encara com o canto do olho a sombra de Karlheinz passando pelo segundo andar, fitando os dois.

---- Sua presença era inesperada. Mas, fico feliz que tenha vindo. Por favor, fique até o fim. - Ela, pede. Fingindo uma boa educação que ele sabe que ela não tem.

---- Obrigada, mas partirei assim que a vontade me bater. - Ele, diz. Sem usar seu tom rude, mas com as palavras secas de sempre.

Ela sorri em resposta, porque já conhece o seu jeito Michaelis de ser.

--- Claro. Ninguém impede um Michaelis, de fazer algo, quando ele tem vontade. Não é mesmo? - Ela, diz. Com um sorriso arqueado, que faz o Lord entortar o lábio disfarçadamente.

Sebastian volta a sua caminhada, e ela o vê partir. Contendo a emoção ao sentir a eletricidade do corpo do Lord, quando ele passa ao seu lado. Se não fosse pelos olhos de Karlheinz vidrados nos dois, ela o segurava pelo braço e o beijava intensamente. Para matar a vontade que tanto doía em seu peito.

--- Sebastian…. - Ele virou-se novamente. - Foi bom te ver. Faz muito tempo desde a nossa última vez juntos.- Disse, Chloé.

Ele acena com a cabeça e segue seu caminho. Ignorando a presença de sua ex-noiva e seguindo adiante.

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Matteo, ajeita sua coroa no espelho do corredor. Passa pela última vez o lápis de olho. E, depois vira-se para entrar no salão.

--- Matt! - A voz de Audrey O conduz, para o outro lado do saguão.

--- Audreyzinha. - Ele, exclama e a abraça.

---- Nossa. Sua fantasia é demais. - Audrey, elogia.

--- Gostou. Agora sou Matteo Le Roux, o príncipe de copas. - Ele diz, exibindo sua capa vermelha.

--- Muito criativo. - Audrey, comentar.

--- Você já entrou no salão? - Pergunta, Matteo.

---- Ainda não eu fui fazer algo, para Sebastian, em nossos aposentos. - Audrey, revela. E, Matteo dá uma risadinha maliciosa.

Audrey revira os olhos.

--- Não é isso que está pensando.

--- Sei. Já tá querendo fazer a festa né? - Ele, diz. Franzindo os lábios e ainda sendo malicioso.

---- Vamos entrar no salão? - Ela, pergunta.

--- Claro, mas antes. Saiba de uma coisa; Ir a um baile é muito bom, porém tudo tem dois lados. - Matteo, levanta o dedo para começar a explicação. --- O lado bom dos bailes é que a gente dança, vê gente bonita, come de graça e beija alguns condes gatinhos, todavia a parte ruim é que para isso sempre acontecer. Devemos afastar as cobras e as piranhas, que surgem no nosso meio.

--- O que?

--- A ex-noiva de Sebastian é a anfitriã da festa. E, ela está doidinha para pôr as garras nele. - Disse, Matteo. Imitando uma leoa raivosa.

---- E, eu preocupada com alguma Lady metida dar em cima dele. - Audrey, murmura.

--- Por isso você vai entrar lá. Igual a uma Rainha e pegar o chapeleiro, antes que a Rainha Vermelha, de uma maçã envenenada para ele. E, o seu Romeu fique preso em um pesadelo amoroso com ela para sempre.

---- Isso é de outro filme.- Disse, Audrey. Erguendo a sobrancelha.

--- Eu sei, mas você entendeu. Vai lá e seja a Alice e beije o chapeleiro. - Ele, aponta na direção da porta.

--- Como?

--- Não sei. Mostra sua xana depilada para ele. Quem sabe ele gosta. - Disse, Matteo. Empurrando a garota até a escadaria.

Os dois sobem os degraus juntos. E, às mãos de Audrey suam. Matteo, percebe e dá um tapinha nas costas. Para dar um apoio.

--- Chloé é bonita?

--- Não, ela é uma cobra de peitos grandes. Só que os homens não percebem isso. 

Audrey solta um suspiro, enquanto a porta do salão se abre outra vez. Exibindo o verdadeiro país das maravilhas, escondido dentro da enorme mansão.

---- Você primeiro. - Matteo, anuncia. --- E, lembre-se: Chloé é uma cobra e ela fará de tudo para enforcar você, como uma cobra faz quando quer comer um rato, ela mata quebrando  pescoço e depois engole.