História Cinza - Cap 2

Já passavam das duas da manhã, quando ouço a voz do Levi chamar meu nome insistentemente. Uma, duas, três vezes. Eu não via nada devido ao breu que havia no quarto, mas dava para saber mais ou menos da onde vinha sua voz, que não era ao meu lado na cama. 
- Levi? Onde você está? 
- Eren, venha logo aqui. 
- Se você me falasse onde você está facilitaria... 
- Eren! 
- Vai mesmo me fazer levantar? 
-... 
- Levi? 
- Venha por bem, ou eu vou te puxar pelos cabelos até aqui. 
- Tabom, eu vou. - Choraminguei sonolento, levantando-me da cama. Eu andava quase involuntariamente, como se minha vontade de estar em seus braços novamente. Eu estava com medo. Com medo de não tê-lo novamente, mesmo que eu fosse dele, mesmo que eu não soubesse o motivo dele estar me chamando uma hora dessas. 
- Levi, cadê você? 
- Estou na cozinha, vem rápido ver isso! - Sussurrou. 
Segui sua voz até trombar numa coisinha pequena que logo reclamou. 
- Ai, caralho, olha por onde anda! 
- Dá uma folga! Eu não estou vendo nada! 
- Mesmo assim! 
- Fala logo porque me chamou aqui uma hora dessas! 
- Fala baixo! 
- Por quê? 
- Olha lá fora! 
Direcionei meu olhar para a janela de vidro, logo vendo um cachorro na varanda da casa. 
- Oque é isso? - Perguntei em baixo tom 
- Não sei ao certo, mais acho que é um beagle. 
- Sério? Você me acordou pra ver um bicho?! 
- Corrigindo: Um cão de caça. 
- Afe. 
Dei meia volta me preparando para voltar á cama. 
- Não entendeu? Se tem um cão de caça aqui... 
- Aqui tem caça? 
- Talvez, mas deve ter algum caçador por perto. 
- E...? 
- Ah, sei lá, isso não te assusta? 
- Não. Deveria? 
- Talvez. Não te assusta o fato de ter um cara de índole duvidosa com uma arma por perto? - Senti um sopro gelado na minha nuca, que me deu um frio na barriga. 
- Vendo por esse lado... 
- É. Vai ver esse caçador também é homofóbico e resolve entrar aqui e, quem sabe, nos torturar com cortes profundos e extremamente doloridos até acabar nossas forças e morrermos por falta de sangue, dor e cansaço. - Passou por mim andando calmamente em direção ao quarto, relando no meu braço. 
- Levi... 
- E quem sabe ele não esteja atrás dessa porta agora mesmo... - Uma pequena pausa e não ouvi nem mesmo seus passos, até sua voz cortar o silêncio sombrio ali contido, num sussurro rouco - Só ouvindo o que falamos, sentindo raiva de nossa raça, nossas vidas, nosso relacionamento, percebendo o medo no tom de nossas vozes. Só observando até finalmente arrombar essa porta frágil, num movimento brusco. 
- Levi, para!! - Me pronunciei indo até o quarto já com aquele arrepio na espinha. Deitei na cama, ele logo deitou ao meu lado e me abraçou, aproximando seus lábios do meu ouvido e cochichando de forma sombria. 
- Quem sabe ele não queira somente nos torturar e matar, mas talvez ele seja homofóbico porque ele é um gay reprimido, mas por ser feio, ninguém o quis. Por isso ele tem raiva de gays que se amam. Então ele decida nos estuprar antes de nos torturar muito até nos matar e depois nos enterrar no quintal, para sermos comidos por vermes. 
- Levi! Que horror! 
- Ei Eren... E se fizermos sexo agora? 
- Não! 
- Ah é? E se esse tal caçador gay homofóbico de índole duvidosa com uma arma e pervertidamente psicopata já tiver matado seu namoradinho baixinho depois de ter estuprado e torturado ele, e seja eu aqui e agora? - Engoli seco depois de ouvir isso. 
- Le-Levi, não brinca c-com i-isso... 
- Não percebeu que eu sou um pouco mais alto que ele e minha voz é mais grossa? 
- A-Agora que você falou... 
- Pois é, Eren... Esse é seu nome não é? O "Levi" gritou muito por você em quanto eu... - Riu baixinho. 
- Oh... Meu... Deus... - Lágrimas já se formavam em meus olhos - Levi... O que você fez com ele?... - Minha voz desafinou um pouco no começo da frase. 
- Quer perguntar á ele? Ele está no cantinho mais escuro do quarto. Só não tenho certeza de que ele vai responder. 
- Levi... 
O cara levantou-se e longos segundos de silêncio até a luz do quarto se acender. Rapidamente me enfiei em baixo do cobertor, fechando meus olhos com força. Senti o meu "abrigo" sendo retirado de mim. 
- Abra os olhos. 
- Não! Eu não quero ver! - Lágrimas escorriam pelo meu rosto e o medo tomava conta de mim. 
- Abre a porra dos seus olhos e deixa de drama, pirralho! 
Abri meus olhos lentamente, esperando ver um brutamonte na minha frente, quando tudo o que vejo é Levi de braços cruzados á fitar-me com impaciência. 
- LEVI! VOCÊ ESTÁ VIVO! Onde está aquele caçador filho da puta? EU VOU MATÁ-LO!! 
- Sou eu, pirralho imbecil. 
- OH MEU DEUS! VOCÊ É MUITO PARECIDO COM O LEVI! - Deu um tapa na parte de trás da minha cabeça - Ai! 
- Pare de ser idiota Eren! Sou eu! Levi! Eu só estava te botando medo! 
- Mas por quê? 
- Porque você me empurrou da cama á puta que pariu! 
- Para que tudo isso? Você me fez chorar! Olha! Eu quase fiz xixi nas calças, por sua culpa! 
- Já falei pra deixar de drama. - Massageou suas têmporas, antes de me olhar com deboche - Não acredito que você caiu nessa. 
Fitei-o por um longo espaço de tempo. O abracei repentinamente, e logo comecei á chorar de novo. 
- Não me abandone! Por favor, Levi! Não vá embora! 
- Do que está falando? Eu não vou embora. 
- Prometa-me! Prometa-me que não vai me deixar sozinho! Prometa-me que nunca vai me abandonar, Levi! Eu preciso de você! 
- Tabom! Calma! Eu prometo! - Me abraçou e afagou meus cabelos. 
- Eu te amo! 
- Eu também te amo, seu louco.