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História Cinza das Horas - Um traidor em potencial


Escrita por: Pri__

Notas do Autor


Olha eu aqui.😊

Capítulo 31 - Um traidor em potencial


Fanfic / Fanfiction Cinza das Horas - Um traidor em potencial

Swan

 

Cheguei à sala de Leroy, liguei meu notebook, me acomodei em uma mesa de canto que havia ali. Era um lugar pequeno, Leroy  colocou o seu toque pessoal ao decorá-lo.  Talvez porque passava mais tempo na escola do que em sua própria casa. Os outros inspetores não gostavam dele, Leroy estava sempre de mal humor, então não ficavam em sua companhia. Ele   aproveitou-se disso para tomar conta do lugar. Colocou um sofá usado, provavelmente  alguém iria se desfazer  dele, e um rádio, que eu não sabia se fazia parte do material pedagógico da escola.  Passava  a sua hora de descanso ali.  Ao lado do rádio, organizou  uma prateleira de livros,   pertenciam à escola, mas estavam dispostos exatamente naquela  prateleira por serem os seus favoritos. Mais ao fundo,  ficavam os materiais que os professores usavam esporadicamente nas aulas.

 

Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, e comecei a fazer a pesquisa que Graham havia pedido.

 

— Emma, por que está aqui sozinha? — senti um frio na barriga.  Aquela voz mexeria com as minhas estruturas em qualquer situação.  Ergui a cabeça.  E perdi o ar. Na hora da entrada nos falamos brevemente, mas hoje Regina estava especialmente linda. Eu não  tinha estruturas emocionais  para olhá-la sem me abalar com isso.

 

A blusa vermelha, com uma jaqueta preta por cima, lhe caia muito bem.  O modelo era curto, ela optou por fechar alguns botões na frente. Usava uma saia de couro, também preta, ia até a altura dos joelhos, marcava muito as suas curvas, e eu só conseguia pensar como aquela simples peça  conseguia ficar tão provocativa nela.  A meia calça  só estava à mostra nos joelhos, pois sua bota era de cano alto.  Os cabelos, soltos e escovados, pendiam um pouco depois do ombro. A maquiagem era leve, tirando o costumeiro batom vermelho, que eu adorava. Linda! Me perguntei se era possível me apaixonar mais por Regina a cada dia, e cheguei à conclusão que sim, era.

 

— Vim pesquisar um trabalho do Graham. — respondi, tentando voltar à realidade, depois de ficar alguns segundos aérea, passeando o olhar por cada parte de seu corpo. Ela sorriu, percebeu o abalo que tinha causado em mim. Deu alguns passos,  e sentou no braço do sofá que estava à minha frente.

 

— Por que não ficou na sala de computação junto com sua turma?  — perguntou, e franziu o cenho.

 

— Graham me deixou vir pra cá.  Nunca tem computadores para todos os alunos. Tem que ficar revezando. Por isso, sempre trago o meu notebook. Nem  todos podem fazer isso. — expliquei.

 

—  Realmente, a maioria é  carente, não tem um computador pessoal. —  entendeu o meu ponto de vista.

 

— Por isso mesmo, prefiro não tirar a vez deles. Deixar que pesquisem com calma.  — ela meneou a cabeça em entendimento.

 

— E a senhorita Lucas, por que não veio com você? — perguntou, e eu comecei achar estranho. Regina não  era assim.

 

— Ruby está fazendo a pesquisa com Belle.  Ela pensa que me engana, mas tá rolando um clima. — Regina ergueu uma sobrancelha, e fez uma expressão de  surpresa.

 

— Então  em breve teremos um romance?  — sorriu, e pareceu gostar da ideia.

 

— Estou apostando que sim! — também sorri  —  Elas formariam um belo casal. Além de Belle ser um garota responsável.

 

Ela concordou com a cabeça.

 

— Só não acho muito seguro você ficar aqui sozinha. — falou voltando a ficar séria — Esta sala é  um pouco afastada das outras.

 

— Por que está dizendo isso? — Ela respirou fundo.  Passou as mãos nervosamente nas pernas.

 

— Vi aquele rapaz aqui na porta te observando. 

 

— De quem está falando? Neal? — deduzi, comecei a entender o porquê de tantos questionamentos.

 

— Sim. Não o viu? — confirmou, com seriedade na voz.

 

— Não.  Não percebi que estava aqui. — respondi, surpresa. Realmente não fazia ideia de sua presença.

 

— Assim que me viu no corredor, saiu pelo lado oposto. — fez um gesto indicando a direção.

 

Meneei a cabeça em entendimento.

 

— Você decidiu não fazer nada em relação a ele, não  é? — perguntou, insatisfeita.

 

— Neal é estourado, mas acho que ele não chegaria a fazer nada de errado, Regina.

 

— Não sei, Emma, o vi tentando te agarrar.  Quer que eu pense o quê? —  usou um tom indignado — Ele não foi mais atrás de você no ginásio?

 

— Não! Nunca mais.  — respondi rapidamente.

 

Ela soltou o ar. E desviou o olhar por alguns instantes.

 

— Eu fico preocupada, Emma!  — falou voltando a fixar seus olhos nos meus, fez uma expressão  que mexeu comigo. Talvez  estivesse errada, mas me pareceu um misto de preocupação e carinho.

 

— Regina... — comecei a falar, e hesitei, não esperava por todo esse cuidado.

 

Levantei, fui até ela. Parei a poucos centímetros.  Ela ergueu a cabeça, mantendo o contato visual. Levei a mão direita a seu queixo, fiz o contorno dele com o dedo indicador. Ela não se esquivou do contato, como pensei que faria, pelo contrário, aprofundou mais o seu olhar no meu, sorriu sem mostrar os dentes.  

 

Desviei a atenção para a sua boca. Aquele vermelho me atraia tanto, a cicatriz sexy sobre seu lábio superior também. A vontade  de beijá-la naquele instante era enorme. Respirei fundo, tentando manter a sanidade para não fazer uma besteira. Meu coração batia  acelerado.  Fiz um carinho lento com as costas da mão em seu rosto. Ela fechou os olhos aproveitando o toque. Vi seus lábios se abrirem um pouco, soltou um suspiro manhoso. Ajeitei alguns fios de cabelo para trás.  E fiz um esforço enorme  interrompendo aquela proximidade.  Abaixei a mão, ela voltou a abrir os olhos. — Não vai acontecer nada. — retomei o assunto, com a voz um pouco falha, tocá-la assim me deixava ainda mais estremecida. — Fique tranquila! Vou ficar mais atenta, ok?  

 

— A escolha é  sua! — disse, e também pude sentir sua voz entrecortada —  Eu respeito, apesar de não concordar. —   Lancei a ela um sorriso agradecido.

 

— Obrigada pela preocupação. — ela não respondeu. Apenas meneou a cabeça  como resposta.

 

Escutei uma notificação de e-mail chegar em meu notebook. Dei alguns passos de volta à mesa. Regina me acompanhou com o olhar. Fitei a tela, e percebi ser do contato que me mandava informações sobre Liam, ou melhor, que me negavam elas. Abri rapidamente, e senti um aperto no peito.

 

— Emma, aconteceu alguma coisa? — tinha  receio em sua voz, provavelmente  analisou  minha expressão .

 

Dei alguns passos incertos, e me aproximei novamente do sofá. Tentava colocar os pensamentos em ordem, mas estava difícil.

 

— Emma, responde! — disse, e se mexeu nervosamente.

 

— Liam foi devolvido.  — contei, ainda sem acreditar.

 

A expressão de Regina mudou de receosa, para triste. Seus olhos marejaram na hora. Ela se levantou, e se aproximou  mais de mim.

 

— Não acredito! — meneou a cabeça  em negação — Essa família parece estar fadada  à coisas ruins. — Não é justo!

 

— E pior, ele não está no abrigo  de Boston, onde vivia. Parece que não tinha mais vagas. Faz quase um mês  que o mandaram a Nova Iorque, e só  agora me avisaram. — expliquei, desacreditada.

 

— Ele sabe o que aconteceu com Killian? — apertou os lábios.

 

— Eu não sei.  Sempre que pergunto, não me respondem. — passei as mãos  pelo  rosto  — Vou até lá agora! — estava decidida.

 

— O QUÊ? — Regina arregalou os olhos, se aproximou mais — Emma, você nem sabe se te deixarão vê-lo. Não pode fazer as coisas  por impulso.

 

— Impulso, Regina? Há  meses, estou pedindo informações, e elas só chegam pela metade.

 

— Eu sei de toda a burocracia. Mas uma viagem a Nova Iorque  não é  como ir daqui  ao centro de Storybrooke. —  segurou em meus ombros com ambas as mãos, me olhou fixamente nos olhos  — Peça  autorização para visitá-lo, planeje tudo, eu vou com você! — não consegui disfarçar a expressão  surpresa.

 

— Você iria comigo até Nova Iorque? — queria ter certeza se tinha escutado direito.

 

— Killian também foi meu amigo, mesmo que por pouco tempo. Essa história não foi justa desde o início.  Temos que saber se o irmão dele está bem,  entender porque o devolveram.  E se ele tem conhecimento da morte do irmão. Não vou deixar você passar por isso sozinha. — falou com segurança na voz.

 

— Obrigada!  — sorri pequeno, um pouco sem jeito. Poucas pessoas tiveram esse companheirismo todo que Regina estava demonstrando.

 

— Só peça autorização, confirme a data, e me avise. Eu estarei lá! — falou ainda  segurando em meus braços, me passando conforto. Meneei a cabeça concordando. — Vem, pegue  suas coisas. Vou deixar você na biblioteca, lá é mais movimentado. Tenho que subir para a próxima aula, e não vou  deixar você aqui sozinha.  

 

— Tá  bem. — falei já me virando para pegar tudo.  Regina conseguia ficar ainda mais linda assim, toda cuidadosa. Como não  ser completamente apaixonada por essa mulher?

 

Fomos até à biblioteca em silêncio.  Me acomodei em uma mesa ao fundo. O lugar quase não  tinha ninguém.

 

— Boa pesquisa! — falou baixo, fixando seu olhar no meu. Ah, o castanho intenso dos seus olhos. Eu gostava tanto deles!

 

— Boa aula! — respondi no mesmo tom, retribui o olhar.

 

A observei sair da biblioteca. Comecei a escrever o e-mail  pedindo autorização para ver Liam.

 

***

 

Mills

 

— Gold já chegou,  Victoria?  — Minha mãe perguntou assim que entramos no Salão do Château du roi René, o hotel mais luxuoso de Augusta, maior cidade  do Maine.

 

Um evento longe, mas necessário. A medida que o ano avançava, Cora ampliava meu círculo de convencia social.  A minha imagem precisava chegar a um maior número de pessoas, por isso o mapeamento de alcance de visibilidade  aumentava. A parte chata de tudo isso, era ter que conviver com o tipo de gente que eu não gostava. Já não bastava ter que aturar minha mãe todas as tardes, ainda tinha que jantar olhando para ela  e  Gold. Revirei os olhos. Ele nunca me desceu! Para piorar ainda mais a situação, Isaac, marido de Victoria, também se fazia cada vez mais presente. Além de todos os outros, que iam e vinham, tão fúteis quanto.

  

— É  esta aqui! — a moça que nos recepcionou indicou a mesa. Era muito bem localizada. Dali poderíamos ver bem o leilão  beneficente, e o discurso ridiculamente falso do patrono da organização, falando sobre os 100 anos do Hospital do Câncer de Augusta. Sentia meu estômago revirar por ter que presenciar isso. As denúncias sobre os desvios de donativos nos últimos anos eram frequentes.

 

— Liguei, mas ele não atendeu. — Victoria respondeu. Nos acomodados na mesa. 

 

— Deve estar a caminho. — Isaac entrou na conversa. Deu um sorriso falso. Poucas pessoas tinham a minha antipatia logo de cara,   e esse marido de Victoria  era uma delas.  Me olhava de uma maneira nada respeitosa, e na frente da esposa. Sua índole já se afigurava ali.

 

Taças de champanhe chegaram rapidamente à nossa mesa. De onde estava, podia ver a movimentação dos famosos chefes de cozinha  apresentando os pratos, e dando atenção aos convidados.

 

— Desculpem o atraso, tive um contratempo.  — Gold chegou. Pegou na mão de Cora,  beijou. Minha mãe sorriu. E eu me questionei como aquela simpatia mutua era possível, se ambos eram tão desleais. Passei o dedo pela borda de minha taça, analisando com calma aquela cena. Talvez seja exatamente por isso que dê tão  certo. Ele beijou a mão de Victoria também, apertou a de Isaac. Olhou para mim, e apenas meneou a cabeça em um cumprimento. Respondi da mesma forma. Gold sabia que não teria nada além disso.  Anos de convivência no partido, deixavam claro um limite de convivência saudável.

 

— Essa localização  é  ótima! Além de nos permitir visualizar todo o evento. Ainda veremos detalhes do leilão. — Victoria falou animada.

 

— O leilão não é importante, Victoria. — Cora apresou-se em dizer — Nossa imagem, e principalmente, a de Regina, ligada a um evento tão  caridoso, precisa ser veiculada nos principais jornais do Maine. É  por isso que estamos aqui!

 

— Este evento realmente fez  diferença na vida de várias crianças com câncer. — defendi. Não dava para ser hipócrita, quando o valor arrecadado realmente chegava ao seu destino certo, fazia muito bem  à  população do Maine.

 

— Ora , Regina! — sorriu — Eu sei que a sua tendência à filantropia  é  muito  grande, mas realmente não estamos aqui com esse objetivo. Você melhor que ninguém, deveria saber disso. — e eu sabia que toda vez que ela citava a palavra filantropia,  falava sobre a adoção de Henry. Respirei fundo para me controlar.

 

— Eu sei muito bem o que um evento como esse significa para uma figura política, Cora. — sorri com ironia — Afinal, a futura candidata aqui sou eu!

 

Vi o sorriso  em seu rosto morrer, ela entendeu a minha provocação.

 

— Atrás  de toda grande figura  política tem um assessor essencial. — tentou não ficar por baixo.

 

— Ou um  traidor em  potencial! — ergui minha sobrancelha, e tomei um gole de  champanhe. 

 

Cora fechou o cenho, fez menção em responder. Mas foi interrompida.

 

— Desculpe o atraso, Cora! Só eu mesmo para conseguir chegar atrasado a um evento no hotel no qual estou hospedado.  — um homem de meia idade, loiro, com alguns fios grisalhos,  alto e forte chegou à nossa mesa.

 

Cora sorriu simpática, e levantou-se para cumprimentá-lo. E só pela mudança em sua feição, já sabia que ele era influente.

 

— Ah, como  é  bom rever você! — Cora o abraçou. E eu estranhei tamanha intimidade.

 

— Também é  bom te ver novamente! — respondeu simpático.

 

— Bom, deixa eu fazer as honras. — Cora disse. E nessa hora por educação, todos levantamos. Minha mãe virou-se para Isaac — Este é  Isaac Heller,  membro influente em nosso partido. — Ambos apertaram as mãos. — Esta é Victoria, sua linda esposa. E também minha assistente pessoal. — o loiro cumprimento Victoria com um beijo no rosto. — Este é  Robert Gold, político experiente, e um conselheiro para todas as horas. — revirei os olhos pela falsidade. Os dois trocaram um aperto de mão — E esta  é  minha filha, Regina, ex-prefeita de Storybrooke,  futura candidata ao Senado pelo estado  do Maine, e se tudo ocorrer como o planejado, uma das figuras políticas mais influentes  de nosso país em alguns anos.

 

— É  realmente um prazer conhecê-la. Fiquei ansioso por este momento. — pegou em minha mão, e beijou.  Fixou seus olhos nos meus. Franzi o cenho sem saber o porquê daquele olhar, não  fazia ideia de quem era aquele homem.

 

— E o senhor, é? — perguntei com um sorriso amarelo, alternando  o olhar entre ele e minha mãe.

 

— David. —  falou ainda me encarando, com sua mão na minha.

 

— David Nolan! — Cora fez questão de completar, e eu perdi o chão naquele momento. Ela abriu um sorriso que só o diabo daria, já sabendo o abalo que tinha causado em mim.

 

— Nolan da marca esportiva? — Isaac interrompeu a conversa. David soltou minha mão,  e virou para olhá-lo.

 

— Conhece? — perguntou sorridente.

 

— Ora, não seja modesto. E existe alguém que não conhece? — Isaac começou a puxar o saco.

 

Escutava a interação entre eles em segundo plano. Estava estática, assimilando aquilo. O que Cora havia descoberto? E o que ela pretendia forçando aquele encontro?

 

— Saumon au Risotto Palmier? — o garçom chegou à mesa, e  perguntou educadamente. Então, todos nos acomodamos, inclusive David. A chegada do garçom indicava que seríamos  os próximos  a receber a atenção do tal chefe. Cora olhava para mim de soslaio, estava  adorando o meu abalo. 

 

— O molho Hollandaise dá um toque especial ao risoto de palmitos que acompanha o peixe — O chefe chegou atrás do garçom explicando o prato. Mas eu ainda estava presa às expressões de Cora e David Nolan, ainda sem acreditar.

 

— Gostaria de experimentar? — o chefe perguntou para mim, enquanto o garçom já estava a postos para me servir.

 

Balancei a cabeça, tentando colocar os pensamentos em ordem.

 

— Sim, obrigada. — respondi apenas por educação.  O garçom fez o seu trabalho.  Desviei os olhos para meu prato, passei a mexer com os talheres na comida. Nem se eu quisesse,  conseguiria  comer algo naquele instante.

 

— Então, Regina, você também é  professora, e dá  aulas na Escola Estadual de Storybrooke?  — David falou sorridente, já tomando  uma taça de champanhe. Me ajeitei nervosamente na cadeira.

 

— Sim, leciono lá há algum tampo. Estive afastada nos anos em que fui prefeita, mas voltei em março deste ano. — respondi totalmente sem jeito. Alternado o olhar entre ele e Cora, ela não tirava aquele  sorriso satisfeito do rosto.

 

— Imagina a minha surpresa quando sua  mãe me contou que você é  uma das professoras de minha filha, Emma Swan. — comecei a suar  frio,  o que mais Cora tinha contado a esse homem a ponto de trazê-lo aqui?

 

Forcei um sorriso.

 

— Miss Swan é uma ótima aluna. Muito esforçada. — falei já com receio de onde aquela  conversa chegaria.

 

— Admito que quando minha filha optou por estudar em uma escola pública, fui totalmente contra.  Mas agora sabendo o nível de profissionais que têm  lá, fico feliz por essa escolha. — sorriu. E eu fiquei analisando  sua expressão  para saber se o elogio era realmente sincero.

 

— Emma Swan? — Isaac entrou na conversa — A jogadora de vôlei?

 

— Essa mesma. — virou para olhá-lo — Bom, na verdade essa não é a carreira que eu desejei para ela. Mas Emma é  rebelde. — apertou os lábios.

 

— Ela joga muito bem! — Victoria disse — Isaac e eu fomos  a um de seus jogos.

 

— Sim, joga. Mas na verdade queria que ela se dedicasse à  Nolan — gesticulou —  Sabe, se preparar para assumir a empresa no futuro, afinal, não vou viver para sempre, e ela é a minha única herdeira.

 

— Não pensa em ter outros filhos? — Cora interrompeu, e me encarou, enquanto esperava a reposta de David. O que essa mulher pretendia?

 

— Despois que me  separei, tive alguns relacionamentos  que me fizeram cogitar essa possibilidade. Mas com o passar dos anos, desisti da ideia. — disse, e parecia conformado  com isso.

 

— Talvez, não  tenha encontrado a mulher certa. —  respondeu em um tom sugestivo, ainda com os olhos em mim.  Apertei fortemente o talher em minha mão.

 

— Pode ser. — David colocou sua taça na mesa — Mas quanto à Emma, realmente  não sei o que fazer.  Quando era mais nova, ainda consegui que fizesse algumas fotos como modelo para promover as novas coleções  da Nolan. Mas não foi adiante. Sempre estava muito ocupada com o vôlei. Pelo menos, se tivesse  continuado, hoje ela teria mais afinidade com a empresa. Seria mais fácil  convencê-la.

 

— Já pensou em apoiá-la ? — ergui uma sobrancelha, e o encarei diretamente.

 

— Como? — franziu o cenho.

 

— Swan é uma ótima jogadora. Treina exaustivamente. Suporta um tratamento doloroso no joelho,  justamente porque  não quer abandonar o esporte. O apoio do pai em relação a isso talvez fizesse bem à ela. — disse sem rodeios. Não gostei da maneira como queria podar os objetivos de Emma.

 

— Minha filha é uma criança mimada,  não sabe o que quer realmente. — falou, e pela primeira vez, fechou a expressão.

 

— Emma encara o vôlei  como uma profissão, tem planos claros para seu futuro. E está alcançado reconhecimento. O senhor deveria se orgulhar, não menosprezar as suas escolhas. — comecei realmente a ficar irritada.

 

— Me orgulhar do quê? De ver algumas mulheres de saia, jogando uma bola de um lado para o outro, tentando acertar o chão? Realmente... — balançou a  cabeça, fazendo uma expressão de desdém — não vejo mérito nenhum nisso.

 

—  O leilão  vai começar! — Cora tentou interromper, desviando nossa atenção para o palco.

 

Escutei um riso sair dos lábios de Gold que observava em silêncio. Estava adorando a troca de farpas. Victoria  e Isaac assistiam  atentos.

 

— O vôlei é um esporte olímpico. Ela pode chegar muito longe. — soltei os meus talheres, e apoiei as mãos na mesa.

 

— Emma precisa estudar! — sua voz saiu um pouco alterada.

 

— E eu não discordo. Acho  que ela precisa ter uma formação acadêmica. Mas isso não deve anular o seu dom para o esporte. — usei um tom firme, o encarando nos olhos. Podia ver sua face levemente avermelhada.

 

— Dom? — deu um sorriso debochado — Se eu falasse para o meu pai que tinha dom para bater bola, ele me dava um bela surra para aprender a ter reponsabilidade  com os negócios da família. — Respirei fundo. Eu não podia acreditar que estava escutando àquilo.

 

— Agora eu estendo porque Emma não quer contato com o senhor.  — balancei a cabeça.

 

— Emma só está levando adiante essa história de jogadora profissional porque quer me provocar. — e parecia o dono da verdade.

 

—  Eu não teria tanta certeza  disso, senhor Nolan. — ergui  uma sobrancelha, e usei um tom irônico.

 

— Pois eu tenho! A mãe dela realmente fez um péssimo trabalho. Sempre a deixou fazer tudo o que queria. Criança tem que ter o caráter moldado desde cedo. — senti meu sangue ferver. Ele não ia duvidar da índole de Emma. Não na minha frente.

 

— Talvez a mãe dela tenha feito o que estava a seu alcance. —inclinei meu corpo para frente, para que ele escutasse bem as minhas palavras — Pelo menos,   ela estava presente!  — também não o deixaria fazer um discurso machista, culpando a mãe  que criou a filha sozinha por algo.

 

 — Como ousa? —  vi seu rosto ficar ainda mais vermelho. Jogou o seu guardanapo sobre à mesa, e apontou o dedo em riste para mim. Eu fiquei exatamente na mesma posição   — Você não sabe nada sobre  mim. E de minha relação com a minha filha.

 

— Não!  — o encarei ainda mais — Eu não sei nada de sua vida. Mas conheço Emma.  E se tem a coragem de falar que o vôlei é  só um capricho, ou uma provocação, deixa claro que o senhor não conhece a filha que tem!  Que os anos que passou longe dela criaram uma enorme lacuna entre vocês.  Tem uma visão totalmente errada em relação aos desejos dela para o futuro.

 

 — Os meus desejos em relação ao futuro de minha filha, também não dizem respeito a você. — elevou a voz.

 

— Não dizem respeito a mim.  — concordei, balançando a cabeça  — Mas uma coisa é  certa! — foi a minha vez de apontar o dedo em riste para ele — Se o seu apoio não fez diferença enquanto ela era apenas uma criança, e uma adolescente, também não fará  agora! 

 

— Ela ainda é  uma adolescente irresponsável. — falou em tom indignado, virando as mãos com as palmas  para cima.

 

Sorri com ironia.

 

— Talvez se você tivesse um tempo para conhecê-la, teria a constatação que sua filha cresceu. Ah, e outra coisa ... — elevei meu tom de voz — Você não teve mérito nenhum em ralação à mulher incrível  que ela se tornou.  Parabéns pelo grande pai de merda que você  foi até hoje! — joguei meu guardanapo na mesa. Passei o olhar por Cora, ela estava vermelha de ódio, e me observava atenta. Não me dei ao trabalho de olhar para os demais. Me levantei bruscamente. — Perdi o apetite!  Com licença. — sai  pisando firme. Notei alguns olhares curiosos de pessoas das outras mesas vindo em minha direção.

 

***

 

— VOCÊ ENLOUQUECEU? — Cora apareceu falando alto atrás de mim assim que cheguei à porta de meu carro, no estacionamento. Me virei para ela. Dei um passo rápido em sua direção, praticamente coleio meu rosto ao dela.

 

 

— E VOCÊ O QUE PRETENDIA TRAZENDO ESSE HOMEM PARA O MAINE? — gritei.

 

 

Cora me irritava. Mas poucas vezes conseguiu me tirar totalmente do sério como eu estava agora. Sentia meu corpo tremer. — EU FALEI QUE NÃO ERA PARA ENVOLVER AS PESSOAS DO VÔLEI NISSO! — continuei, indignada.

 

 

Ela deu um passo para trás.

 

 

— Você não me deu escolha, Regina. — começou a falar, agora usando umtom calmo, fingindo superioridade, e isso me irritava ainda mais — O que mais anda escondendo de mim? Costumávamos ser um bom time, pelo menos na política.

 

 

— COSTUMÁVAMOS, CORA! VOCÊ  USOU BEM O VERBO NO PASSADO. HÁ MUITO NÃO VENHO CONCORDANDO COM  AS SUAS ESCOLHAS.

 

— Temos que ser oportunistas. Imagina a minha surpresa...  — ergueu as mãos, fazendo um gesto de indignação —  Ao pesquisar sobre Emma Swan e seu treinador, e acabar descobrindo que ela é  filha de um dos maiores empresários de nosso país. E mais, que ela ainda é  sua aluna.

 

— Se omiti justamente essa informação era porque não queria que você a usasse na campanha. — falei baixo desta vez, mas ainda em um tom cortante.

 

— Você tem noção de como isso  chegaria aos ouvidos do eleitor?—  gesticulou mais — Professora e aluna bilionária em uma escola pública? — tentou tocar em meu braço, mas eu me afastei —  Regina, isso é melhor do que qualquer propaganda de televisão.

 

— Você me dá nojo! — falei entredentes, meneando a cabeça.

 

— O que anda acontecendo com você? — perguntou séria fixando mais os olhos em mim, como se tentasse ler algo em meu rosto — Por que está tão descontrolada. Nunca vi você usar palavras de baixo calão como agora na mesa.

 

— Esse homem não pode  menosprezar todo o trabalho que Emma vem fazendo durante todos esses anos,  simplesmente porque queria que ela seguisse outra profissão. —  não  disfarcei minha insatisfação.

 

— Bom,  pelo que parece a filha é  só uma adolescente mimada. — desdenhou.

 

— Não fale do que você não  sabe, Cora! — disse pausadamente, aproximando  mais o meu rosto do dela.

 

— Por que está defendendo tanto essa tal Emma Swan? O que essa garota tem, Regina? — franziu o cenho, e me olhou desconfiada. Senti um frio na espinha.

 

— Acho uma situação injusta. Só isso! — disfarcei.

 

— Ele é o pai, está preocupado  com o futuro da filha. — tentou amenizar os absurdos que aquele homem havia dito.

 

— Esse homem não conhece a filha que tem.  —  abri os braços, indignada.

 

— E pelo jeito você a conhece muito bem.  — cruzou os braços, e me olhou de cima a baixo.

 

— Conheço Emma o suficiente para saber que esse homem  foi tudo, menos pai dela nos últimos anos. — tentei não me intimidar, mas já estava bastante receosa por imaginar que Cora poderia continuar  a investigar mais sobre a vida de Emma.

 

— Bom, presente, ou não na vida da filha, você terá que aprender a conviver com ele em alguns eventos a partir de agora. — deu um sorriso satisfeito.

 

— O que quer dizer com isso? — fechei levemente os olhos, já sabendo que não iria gostar do que escutaria.

 

— Eu fiz contato com ele, claro que a conversa inicial foi por causa da sua proximidade com a filha dele. No entanto, David mostrou interesse em ser um dos doadores de nosso partido. Parece que ele se interessa  por política. — explicou, e meu nível de irritação aumentou.

 

— Eu não aceito este homem envolvido em minha campanha. — levantei o dedo em riste para ela.

 

— Na sua campanha diretamente, pode até evitar. Mas como um empresário que faz doações ao partido, não. Essa escolha não é sua. — cantou vitória — E  só para te informa, semana que vem teremos um evento em Portland,  será a abertura da Liga Nacional de vôlei feminino. David estará lá, pois a Nolan agora é  uma das marcas patrocinadoras. É  uma boa oportunidade de encontramos o  treinador, Kurt Flyn, e sua aluna querida, Emma Swan,  em algo oficial.  — ótimo! Balancei a cabeça não  acreditado naquilo. Cora deu um jeito de colocar todos em um mesmo ambiente. Essa mulher não tinha limites.

 

— E  é  claro que a ideia de David Nolan patrocinar esse campeonato também não partiu só dele. Afinal ele não gosta do esporte. —  usei um tom irônico, e coloquei as mãos na cintura.

 

— Digamos que dei uma ajudinha para ele ter essa ideia. Regina, não faça drama! O homem só quer se aproximar da filha.  — fez um gesto dando pouca importância àquilo.

 

— Não vou a esse evento, Cora. — Bufei! Eu estava possessa — Eu não vou participar disso!

 

— Você pode até se recusar a ir. Mas pedi para Victoria publicar hoje, em suas redes sociais, a sua agenda de eventos para a próxima semana. — abriu um sorriso satisfeito, ela sabia que depois de divulgado eu não cancelaria — Não  vai passar uma boa impressão agir assim.

 

— Como pôde fazer isso pelas minhas costas? — fechei a mão  em um punho.

 

— Não é nada pessoal. Não poderia imaginar que você ficaria do lado de uma adolescente, e contra o seu pai. Sinceramente até pensei que vocês se dariam bem.  David é  muito galanteador. — senti enjoo pela insinuação.

 

— Não vou me esquecer disso, Cora! — usei um tom ameaçador.

 

Ela  deu um suspiro alto e irônico.

 

— Bom, tenho que voltar à  mesa.  Preciso apagar a má  impressão que você deixou. Talvez hoje já possamos falar  de valores.  Boa noite, filhinha — disse debochada, já se virando.

 

A vi sair estacionamento. Sentia um  ódio que não cabia em mim.

Eu precisava falar com Emma.  


Notas Finais


Spoiler do próximo capítulo no Instagram cinza_das_horas (stories).


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