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História Cinza das Horas - Na guerra a pessoa é morta uma vez, na política várias vezes


Escrita por: Pri__

Notas do Autor


Oie, gatas... Boa leitura!

Capítulo 65 - Na guerra a pessoa é morta uma vez, na política várias vezes


Fanfic / Fanfiction Cinza das Horas - Na guerra a pessoa é morta uma vez, na política várias vezes

Mills

 

Senti meu corpo petrificado ainda por alguns instantes.  Não podia ser verdade! Mais de dez anos trabalhando juntas na política para agora ela fazer um discurso fervoroso contra mim? Denegrindo a minha imagem por completo?

 

Sorri de nervoso. Os aplausos cessaram. Alguns membros se levantaram, foram em sua direção. Ela passou a apertar a mão de todos. Sorridente, agia como se eu não estivesse mais ali.  O ódio pulsava em cada uma das minhas veias.

 

— ENTÃO É ISSO? — Falei alto, chamei a atenção da maioria — VAI USAR UM ERRO MEU COMO TRAMPOLIM PARA IMPULSIONAR A SUA CANDIDATURA? ACHA QUE VAI CONSEGUIR SER ELEITA DESSA FORMA?

 

— Regina, você teve tempo para vir aqui prestar esclarecimentos, mas não fez isso.  —  David Nolan a interrompeu.

 

— NÃO TEM O QUE ESCLARECER! ­— Gritou nervoso — VOCÊ SE APROVEITOU DA SUA POSIÇÃO PARA SEDUZIR A MINHA FILHA.

 

Contei até três mentalmente para não mandá-lo à merda.

 

— David, Emma e eu já explicamos isso a você. — Cora entrou em sua frente, retomou a fala.

 

 — Você deixou de lado todos os seus colegas que confiaram em você. Escondeu-se feito uma criança, enquanto todos nós estávamos aqui, tendo que aguentar a pressão da imprensa. Vendo você manchar a imagem de um partido íntegro.  Uma imagem que todos aqui trabalham diariamente para zelar.

 

—  Não me venha com essa, Cora! Ninguém aqui é um poço de virtudes. —  Praticamente cuspi as palavras.

 

— E acha que colocar em dúvida a virtude de todos os seus ex-colegas de partido é uma atitude inteligente? — Usou um tom calmo, visivelmente falso.

— Ex? — Franzi o cenho.

 

— Isso mesmo! Você não deu a sua versão dos fatos, por isso além da sua pré-candidatura ser cancelada, o seu desligamento foi compulsório. Já não é membro deste partido!

 

Abri mais os olhos completamente indignada. Minha mãe continuou.

 

— E não queremos mais escândalos aqui, precisamos resolver muitos detalhes ainda. Senhores, por favor... — Dirigiu-se aos seguranças que estavam na lateral do auditório — Acompanhem a minha filha até o hall.

 

Senti meu rosto pegar fogo.

 

— ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM... — Comecei a falar, mas Gold deu um passo à frente.

 

— Regina, não faça isso. — Falou de maneira educada — Preserve a sua imagem.

 

Engoli as palavras. Respirei fundo. O pior é que ele tinha razão.

 

Dois seguranças aproximaram-se de mim, levantei a mão para eles.

 

— Eu sei o caminho. — Reparei o sorriso de escárnio de Isaac.  Fiz esforço para ignorar. Fixei os olhos em minha mãe uma última vez. Ela conseguia me fazer odiá-la mais a cada dia.

 

Virei.

 

Sob os olhares dos homens e mulheres de bem, fui expulsa do auditório onde muitas vezes eles mesmos me ovacionaram.

 

Nenhum deles tentou impedir.

 

 

***

 

— DESGRAÇADOS! DESGRAÇADOS! — Gritei descontrolada, dei dois socos no volante — CORJA!

 

— Você já ia sair de qualquer jeito, sis. — Zelena tentou simplificar as coisas.

 

— SAIR É UMA COISA, ZELENA. SER ESCURRAÇADA, É OUTRA! DEI A VIDA POR ESSA DROGA DE PARTIDO POR DEZ ANOS! — Mais um soco. Fiz careta pela dor.

 

— Eu sei, mas quebrar a mão logo agora que a Cora oficialmente tirou você do armário, não é muito inteligente. A Emma vai sentir falta. — Debochou.

 

Revirei os olhos.

 

— CALA A BOCA, ZELENA! — Como ela conseguia fazer piadas em uma hora dessas? Nem me dei ao trabalho de responder essa idiota.

 

Bufei. Passei as mãos pelo rosto, fiz esforço para me acalmar e parar de tremer.

 

— Então Cora não mandou sabotar o carro da Emma?

 

— Eu não sei, Zelena.  — Gesticulei — Não tive oportunidade de falar sobre isso.

 

— Entendi. — Mexeu-se no banco — Pula pra cá, eu dirijo na volta. — Franzi o cenho.

 

— Não vamos embora agora.— Minha irmã  fez cara de dúvida. Continuei — Se Cora pensa que terminou, está enganada!

 

Zelena achou graça.

 

— Tá  vendo aqueles bonitos ali. — Apontou para os seguranças que tinham me acompanhado até o hall, e ainda estavam na frente do prédio — Depois das ordens da Cora, não vão deixar você voltar lá pra dentro.

 

— Não é por aqui que vou entrar! — Liguei o carro rápido — Zelena segurou no banco, seu corpo inclinou para o lado, resultado da curva brusca que fiz.

 

— Deveriam caçar a sua licença! — Cantei pneu. Pelo retrovisor, vi os seguranças acompanharem meu carro com o olhar.

 

Parei nos fundos do prédio. Mais precisamente em uma saída que usávamos para evitar a imprensa.

 

— Fique aqui! — Falei séria.  Abri a porta do carro.

 

— Eu sei. — Zelena respondeu a contragosto.

 

Olhei para os lados, não havia ninguém. Passei pela pequena porta de ferro sem dificuldades. Ela ficava sempre aberta, justamente para a passagem ser rápida por ali. Apenas os políticos de maior destaque no partido sabiam da sua existência, pois o assédio, nesses casos, era maior.

 

Ao invés de seguir para o saguão principal, peguei o elevador de funcionários. Agradeci internamente por ele estar vazio.

 

Segui pelo corredor que dava acesso à sala de Gold. Olhei para o lado oposto quando passei rapidamente por alguns membros que conversavam naquele espaço. Respirei aliviada ao ter certeza de que não fora notada.

 

Acelerei o passo. Alcancei a maçaneta da porta da sala de Gold. Entrei sem bater.

 

Cora fez cara de enfado. Mas ainda assim, tomou um gole da sua taça de champanhe.  Gold me olhou surpreso.

 

Dei duas palmas secas.

 

— Comemorando o seu ato torpe? — Falei irônica, dei alguns passos em direção a eles, parei bem em frente à minha mãe, observei a taça em sua mão — Tem sabor de traição? — Me referi ao champanhe.

 

— Não seja dramática, Regina! — Deu um passo para trás — Você sabe muito bem que na política nós temos que tomar decisões difíceis. Você quis nadar contra a corrente, eu precisava me agarrar a algo para sobreviver.

 

Ri ironicamente.

 

— Você fez questão de me afogar, Cora! — Falei e não consegui disfarçar todo o rancor que sentia naquele momento — Para quem não queria que ninguém tivesse certeza do meu envolvimento com Emma, tomou uma atitude muito estranha, não acha?

 

— Eu usei o que tinha em mãos a meu favor. Aliás, como eu faço sempre, não deveria estar surpresa. Mas você acompanhou apenas o final do meu discurso. Perdeu a parte na qual eu apresentei a pastora Angie Harmon como uma das minhas apoiadoras. — Franzi o cenho, puxei na memória e me lembrei de ter visto realmente uma mulher alta e morena no palanque.

 

— Pastora? — Perguntei ainda sem entender aonde ela pretendia chegar. Cora nunca foi ligada à religiosidade.

 

— Exatamente! Ela pertencia a um partido insignificante, mas ganhou visibilidade nas últimas semanas por causa da cura gay em sua igreja.

 

— Não pode estar acreditando nisso. — Falei inconformada.

 

— É claro que não! Nunca me deixaria alienar por religião alguma! Mas o eleitor acredita. E eu não perderia essa oportunidade por nada! Essas pessoas estão implorando para que alguém as engane. Estou fazendo um favor, e assim, ambos os lados têm o que quer!

 

— Inacreditável! — Neguei com a cabeça.

 

— E a culpa por eu ter que chamar essa mulher é sua. — Apontou com a taça para mim.

 

— Minha? — Ela só podia estar de brincadeira!

 

— Sim! O eleitor precisar saber que eu ofereci ajuda a você com esse tratamento. É uma maneira de mostrar para eles que, como qualquer mãe, zelo pela minha filha.

 

— Não pense que vai contar essa mentira descarada e ainda usar o meu nome. — Disse em um tom ainda mais sério.

 

— E você, não pense que agora terá o caminho livre para ficar para cima e para baixo com aquela garota. Eu mantenho o que disse ontem, esse romance não terá futuro! — E lá estava o seu tom de ameaça mais uma vez.

 

— Senhoras, vou deixar que conversem às sós.  — Gold, que até então apenas nos observava, colocou sua taça sobre a escrivaninha — Pelo visto, é uma conversa pessoal. — Fez menção de ir até à porta.

 

— Não, você fica! — Respondi alto, usando um tom autoritário, Cora abriu mais os olhos ­— Precisamos ter uma conversa de família. — Minha mãe retesou o corpo.

 

Gold deu um sorriso amarelo.

 

— Eu realmente vi você crescer.  — Franziu o cenho ­— Mas não entendi o que quer dizer.

 

— Regina, não diga nada que possa vir a arrepender-se depois.  — Fingiu normalidade, mas percebi a força com a qual ela segurava a sua taça naquele momento.

 

E era ótimo vê-la insegura.

 

— O que eu quero dizer, Gold, é que a futura candidata ao Senado, aqui... — Apontei ironicamente para a minha mãe — Tem um segredinho de juventude.

 

— Regina, cale a boca! — Seu rosto ficou completamente vermelho.

 

Cheguei mais perto dela.

 

— Deveria ter pensado nisso antes de mandar sabotar o carro de Emma.  — Falei entredentes. Cora afastou-se, em um movimento brusco colocou a taça sobre a mesa.

 

— Eu não sei do que você está falando.  — Teve a coragem de negar.

 

— O que aconteceu com a minha filha não foi um acidente? — Escutamos a voz de David Nolan na porta do escritório.  Viramos.

 

Ele entrava na companhia de Isaac.

 

— Cheguei a ligar, mas como de costume, Emma não me atendeu. — Ele continuou a falar — Precisei entrar em contato com o hospital para conseguir informações, só assim tive certeza de que ela estava bem.

 

David parou perto de mim.

 

— Sabotaram o fusca da Emma? — Repetiu a pergunta em um tom meio desacreditado.

 

Virei para minha mãe.

 

— Por que não responde a ele, Cora?

 

— David, não dê ouvidos. — Forçou um sorriso, tentou disfarçar o descontrole — Regina está ressentida por ter saído do partido da maneira como foi. — Lançou-me um olhar cortante ­— Praticamente pela porta dos fundos!

 

— É claro que estou furiosa com a maneira vil como todos aqui agiram. Viraram-me as costas depois de anos de dedicação. Eu fiz de tudo por esse lugar, mesmo não concordando com alguns pontos ideológicos. Mas a questão não é essa, David.  — Virei toda para ele­ — Cora esperou que Emma ficasse sozinha em minha casa ontem, e teve uma conversa extremamente hostil com ela. Fez acusações. Saiu fazendo ameaças. E então, o carro dela perde o freio.

 

David desviou o olhar para Cora. Minha mãe fez cara de pouco caso.

 

— É simples! —  Sentou-se na escrivaninha de Gold — O que o laudo da polícia disse?

 

Foi a minha vez de rir. Era muito cinismo!

 

— Como você consegue? — Perguntei indignada — Falsificou o resultado da perícia!

 

— Regina, você realmente não está bem! — E o seu sarcasmo era palpável.  Se ela não fosse a minha mãe, voaria no pescoço dela no mesmo instante.

 

David alternou o olhar entre nós duas ainda em dúvida.

 

— Quem não está bem é você, Cora! — Dei um passo à frente — Talvez seja a idade. — Ela forçou um sorriso para não ficar por baixo, mas me olhou cheia de cólera — Esqueceu que deixou comigo o exame antidoping que mandou forjar no nome de Emma?

 

O riso no canto de seus lábios morreu.

 

— Isso deixa mais do que claro a sua facilidade de forjar documentos! — Conclui.

 

— O QUÊ — David falou alto — VOCÊ FALSIFICOU O EXAME DA MINHA FILHA? — Falou já alterado.

 

Dei um sorriso satisfeito. David era previsível. Quando se tratava de Emma explodia fácil.

 

— Ora, David, e você queria eu fizesse o quê? — Levantou-se da mesa, gesticulou nervosa — Que deixasse elas saírem por aí de mãos dadas como se isso fosse algo normal?

 

Vi o rosto de David ficar vermelho pouco a pouco. Minha mãe continuou.

 

— Fiz o que era preciso! — Apontou o dedo para ele — Você é muito mole como pai, essa menina faz o que quer. Não é à toa que perdeu o controle sobre ela.

 

­— Como ousa... — Começou, mas minha mãe o interrompeu.

 

— Deveria me agradecer, se essa história do exame antidoping tivesse vindo à tona, a sua filha finalmente deixaria de lado esse capricho de ser atleta e até poderia interessar-se pela Nolan.

 

— Eu nunca faria algo tão baixo com a minha própria filha, Cora. Eu não quero que ela me odeie.

 

Minha mãe riu alto.

 

— Então fracassou nisso também, porque pelo que parece, ela não fala mais com você. — Debochou.

 

David ficou completamente vermelho. Fez menção em responder, mas Gold segurou em seu ombro.

 

— Vamos acalmar os ânimos! Este era para ser um dia de celebração. ­— Tentou usar um tom ameno, mas amenidades não caberiam para aquele momento. Não se dependesse de mim.

 

Olhei para Isaac, notava-se um contentamento em seu rosto ao assistir a troca de farpas, além das marcas de unha grosseiramente escondidas com maquiagem.

 

— Você está certo! — Voltei-me novamente para Gold — Este é um ótimo momento para celebrar! Tenho uma notícia surpreendente para dar a você!

 

O semblante da minha mãe fechou-se por completo. Toda aquela postura altiva ao discutir com David se desfez.

 

— Você deve lembrar das suas aventuras amorosas com minha mãe na juventude.  — Voltei ao meu melhor tom de ironia.

 

Gold deu um sorriso sem graça.

 

— Isso foi há muito tempo.

 

— Eu sei! Meu pai me contou. — Cora analisava em silêncio a minha expressão, de certo, na cabeça dela, eu não teria coragem de continuar — E sabe o que ele me contou também?

 

— Regina, não se atreva! — Cora veio rápido em minha direção, percebeu que eu não estava blefando. Ficou entre mim e Gold.

 

— Que Zelena é sua filha biológica!  — Falei rápido antes que ela chegasse até mim.

 

Minha mãe estacou. Apertou os olhos como se tivesse recebido um forte golpe.  E eu não tive dó.

 

— O quê?  — Gold ficou pálido.

 

Isaac perdeu o ar divertido que tinha no rosto.

 

— Isso mesmo! — Continuei com satisfação — A filha que você passou a vida inteira querendo ter, mas não podia mais, sempre existiu! Estava embaixo do seu nariz o tempo todo! — Percebi minha mãe respirar fundo ainda de olhos fechados — Você também a viu crescer, mas o amor de pai que tanto desejou, foi dado a outro. Hoje, Zelena rejeita qualquer possibilidade de proximidade com você. Para ela, Henry Mills foi o único pai que conheceu. — Apontei para minha mãe, que permanecia do mesmo jeito — E agradeça a Cora por isso! A candidata que você passou a apoiar fervorosamente ao Senado! — Saboreei pronunciar cada palavra.

 

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Gold, ele não se importou em secá-la.

 

—  Por que não me contou? — Falou para Cora, sua voz saiu embargada.

 

— Você sabe o porquê. — Minha mãe respondeu baixo, ainda de costas para ele. Abriu os olhos e eles estavam marejados. Eu nunca a tinha visto assim. Talvez esse fosse o único assunto que realmente mexesse com ela. — Você fez o que queria. ­— Dirigiu-se a mim — Acho que já pode ir embora.

 

— Tem mais uma coisa. —  Aproximei-me de Gold — Zelena tentou ajudar Victoria e agora está com o olho roxo, porque o seu colega de partido. — Olhei para Isaac — A agrediu.

 

Isaac deu um passo para trás.

 

— Eu não sabia da sua ligação com ela. — Levantou as mãos em sinal de rendição.

 

— A MINHA FILHA, SEU BOSTA! — Gold pegou Isaac pelo colarinho. Mofino ele não esboçou reação.

 

Vergonhoso!  Só era valente com as mulheres.

 

— CHEGA! — Cora entrou no meio dos dois.  Fez força para separá-los. Gold deu um passo para trás, socou a própria mesa.

 

Cora lançou um olhar cortante para Isaac.

 

— Mas sabia que é minha filha! — Franzi o cenho olhando-a por alguns segundos. Há quantos anos eu não a via referir-se à Zelena assim?

 

Cora estava esboçando um ato de defesa à minha irmã? Ao perceber o meu olhar de análise direcionado a ela, interrompeu aquele momento.

 

— Não estão vendo que é exatamente isso que ela quer? —  Falou agora já com a sua postura altiva de sempre — Causar intrigas entre nós para atrapalhar a campanha que acabamos de anunciar.

 

— É isso sim! — Falei de maneira desafiadora — Mas ao contrário de você, não preciso inventar mentiras, ou armadilhas. É só falar a verdade! — Andei até Gold novamente, seus olhos estavam completamente vermelhos. Eu via muito ressentimento ali — Apenas queria mostrar o que a candidata de vocês é capaz de fazer. — Arqueei uma sobrancelha — Só tome cuidado com o que mais ela pode esconder de você. — Virei para David — Ou de você! — David fechou mais a sua expressão. Olhei para Isaac. Fiz questão de me aproximar. — Já com você... — Observei de cima a baixo — Seja o que for que ela fizer, ainda é pouco! — Isaac engoliu seco. Desviou o olhar para a minha mãe, ela não olhou para ele com um ar simpático.

 

— Eu vou sair daqui! — Gold disse possesso. Pegou a garrafa de Champanhe sobre a mesa — E Você! — Apontou para Cora — Não pense em ir atrás de mim.

 

Acompanhamos seus passos com o olhar. Cora voltou a me encarar.

 

— Satisfeita? — Falou cheia de ira.

 

— Ainda não! Você poderia ter matado o meu filho nesse acidente. Então não! Ainda não estou satisfeita.

 

— Filho?  Aquele garoto não é meu neto. — Falou entredentes — Ele não tem o meu sangue!

 

Ela conseguia me deixar enojada a cada vez que abria a boca.

 

— Tem razão! Por sorte, Henry não tem o seu sangue.

 

Escutamos estilhaços de vidro. Viramos.

 

David tinha acabado de jogar no chão o quadro com o emblema da Nolan como uma das empresas amigas do partido.

 

— A Nolan não vai dar dinheiro para a sua campanha! — Virei rápido para a minha mãe, a sua expressão era de completo espanto.

 

— Não pode acreditar nessa maluquice de sabotagem de carro. — Falou indignada, andou até ele.

 

— Não! — Disse com o seu jeito explosivo de sempre — Isso é pelo exame antidoping! — Apontou o dedo no rosto dela — Agora se eu descobrir que essa história do carro é verdade, aí você fez um inimigo para o resto da vida! — Cora abriu um pouco os lábios, ainda sem acreditar.

 

David saiu sem esperar por resposta.

 

Dei um sorriso vitorioso. Isaac observou tudo em silêncio.

 

— Aproveite o champanhe. — Apontei para a taça que havia ficado sobre a mesa — Agora sim ele tem gosto de vingança!

 

Saí.

 

— VOCÊ ME PAGA! —  Ainda escutei Cora jogando a taça na parede.

 

Dei alguns passos rápidos pelo corredor, consegui entrar no elevador com David. De costas, ele não me viu, tinha as duas mãos fechadas encostadas na parede de vidro. A cabeça baixa.

 

Apertei o botão do térreo. Assim que a porta do elevador fechou, ele bateu com foça no vidro.  Dei um passo para o lado.

 

— Ainda bem que é um vidro resistente. —  David bufou.

 

Virou-se. Olhou para mim com um ar insatisfeito.

 

Não falou nada, apenas apertou o botão para descer no próximo andar.  

 

Apertei os lábios. Ele não me deu escolha!

 

Puxei o lacre de segurança. Ativei o interruptor de desligamento por dentro. O elevador foi perdendo velocidade.

 

Parou por completo.

 

David ficou ainda mais irritado.

 

— Por que veio atrás de mim? — Franziu o cenho.

 

— Quero pedir que proteja a Emma. — Ele me encarou fixamente. Continuei — Não tenho provas, mas sei que Cora mandou alguém mexer no carro dela. Emma precisa de uma pessoa forte ao seu lado, para colocar Cora em seu lugar, caso isso seja necessário.

 

— E você? — Deu um sorriso irônico — Não tente negar, eu sei que ainda está com ela.

 

Desviei o olhar.

 

— Eu vou me afastar. — E repetir essa frase doeu em cada parte de mim.

 

— Por que só agora?

 

— Eu não posso arriscar. — Voltei a olhá-lo — Não enquanto Cora ainda tiver meios de fazer mal a ela.

 

— E por que acha que Emma deixaria eu me aproximar? Ela sempre me repeliu.

 

Olhei no fundo dos seus olhos.

 

— Vi como a defendeu lá em cima. Você a ama! Só precisa aprender a ser pai. — Fui direta sobre as minhas impressões.

 

David mexeu-se incomodado. Coçou o pescoço. É claro que não gostou de escutar a última frase.

 

— Promete que vai procurá-la? — Perguntei esperançosa, cheguei a dar um passo à frente — Eu passo a você o novo endereço.

 

— Eu sei onde é. — Respondeu meio sem jeito — Todas as transações envolvendo o nome Nolan chegam até mim.

 

Meneei a cabeça em entendimento. Ele olhou para o chão.

 

— Não é uma casa grande. — Falou baixo.

 

— Não. — Concordei — Mas tem um jardim. — Escutei um riso sair dos seus lábios.

 

— É claro que tem. — Respondeu ainda sem me olhar — E a Emma!  — Acabei rindo também.

 

— É a Emma! — Repeti e aquela frase não precisava de continuação. Nós dois sabíamos o que ela queria dizer.

 

David voltou a me olhar, seus olhos lacrimejavam, estava estampado em seu rosto a falta que ele sentia dela.

 

— Prometo que vou falar com ela. — Sua voz falhou um pouco — E mesmo se Emma não me quiser por perto, farei o que estiver ao meu alcance para mantê-la segura.

 

— Obrigada! — Disse baixo, soltei o ar aliviada, tentei não começar a chorar.

 

— Não tem que agradecer, Emma é minha filha! — Fez menção de falar algo mais, mas parou.

 

 Olhou-me em silêncio por alguns segundos.

 

 — Você também a ama, não é? — Finalmente perguntou o que estava preso em sua garganta.

 

Dei um sorriso triste.

 

 

— Está tão nítido assim?

 

Ele apenas fez que sim com a cabeça.

 

— Amo com todas as minhas forças! — Fui sincera. Não cabiam mais disfarces. Não nesta situação. Sequei uma lágrima que saiu sem querer.

 

David não falou mais nada.

 

Endireitou a postura. Apertou o botão, fez o elevador voltar a descer.

 

Fitei a vista panorâmica ainda com lágrimas nos olhos.

 

Em alguns segundos chegamos ao térreo.

 

Andamos pelo corredor em silêncio. Assim que chegamos ao final dele, os mesmos seguranças que me acompanharam da primeira vez, vieram em minha direção.

 

— Já estou de saída! — Falei séria, mesmo assim, um deles fez menção de segurar em meu braço.

 

— Coloque as mãos nela, e não trabalha mais aqui! — David falou alto. O homem parou no mesmo instante.

 

Virei para ele, surpresa com aquela atitude. Os seguranças voltaram para seus lugares.

 

Andamos mais alguns metros. As pessoas nos observavam.

 

— Eu vou por aqui. — Falei quando já era possível ver o hall.

 

— Não deveria sair pela porta dos fundos.

 

 

 

— Esse horário a impressa em peso está aí em frente. Todos já sabem que a reunião semanal acabou, e que houve mudanças na pré-campanha. Vou por aqui. — Apontei com o queixo — Hoje é o mais inteligente a fazer.

 

— Como preferir! — Fez um aceno cordial.  Foi em direção ao Hall.

 

Respirei fundo. Fui para a saída da parte de trás.

 

Agora precisava contar à Zelena que Gold sabia de toda a verdade.

 

 

***

 

— Foi tão ruim assim? — Zelena perguntou ao analisar a minha expressão depois que entrei no carro.

 

Deu partida.

 

Coloquei o cinto de segurança.

 

— Não queria que as coisas chegassem a esse ponto.  —  Ajeitei alguns fios de cabelo para trás  da orelha. Realmente não estava orgulhosa do que tinha feito.

 

— Qual ponto exatamente? — Parou em um farol — Especifique!

 

— Contei alguns podres da Cora para dois dos seus principais aliados.

 

— Isso é bom! — Deu de ombros.

 

— Isso inclui Gold! — Zelena arregalou os olhos.

 

Abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não saiu palavra alguma.

 

— O semáforo, Zelena! ­— Bati em seu ombro ao escutar a buzina do veículo atrás de nós.

 

Ela voltou a dirigir de maneira automática.

 

— Disse que não usaria essa informação. — Falou depois de alguns segundos.

 

— Eu sei! — Gesticulei nervosa — Não planejei isso.  Eu... eu... — Hesitei — Me desculpe! — Passei a mão no rosto, olhei para ela me sentindo culpada.

 

Zelena apertou o volante.

 

— Quer saber...  — Chegou a soltar as duas mãos da direção. E ainda fala de mim dirigindo — Eu não ligo! Não ligo! Tanto faz Gold saber, ou não. Isso não muda o fato de eu não querer contato nenhum.

 

— Ele chorou. — Disse baixo. Zelena desviou o olhar da rua — Digamos que não escolhia as melhores palavras pra contar isso a ele.  — Bati a mão em minha própria perna — Zelena, você me conhece! Quando estou com raiva, não sou delicada.

 

— Você nunca é delicada! — Bufei.

 

— Tá! — Não dei importância — Que seja! Pelo menos eu consegui o que queria, abalar as relações políticas entre Cora e ele.

 

— Algo positivo nessa merda de história.

 

— Ah, houve um abalo com Isaac também.  — Essa parte tive satisfação em contar — Gold o pegou pelo colarinho depois que contei sobre a agressão.

 

Zelena deu um longo suspiro de deboche.

 

— Como se eu precisasse da proteção dele.  Mas vamos ao que interessa. — Mudou o foco da conversa — E sobre o acidente? Cora disse o quê?

 

— Negou.

 

— Ah, claro!

 

— Mas eu sei que foi ela. Eu sinto! David Nolan também não se convenceu por completo, retirou o patrocínio da Nolan depois que contei sobre o exame antidoping. Ele também desconfia.

 

— Então, você realmente conseguiu semear a discórdia. Muito bom, irmãzinha!

 

— Ainda tem a história de Isaac. — Apoiei na janela do carro — Se pelo menos, a denúncia contra ele fizesse algum alarde na mídia, seria ótimo!

 

Decidi não contar sobre o aparente descontentamento de Cora ao saber da agressão a ela, não sabia o que essa reação da minha mãe significava ao certo.  Continuei o raciocínio em voz alta.

 

— Isaac estava ao lado de Cora quando a campanha foi anunciada. Sendo assim, a imagem dela automaticamente seria associada à uma denúncia de violência doméstica. Isso colocaria em xeque toda essa figura de pessoa de bem que ela tenta passar. — Apertei os lábios — Mas se a polícia está demorando tanto para agir, é sinal de que Isaac tem alguém grande ao lado dele.

 

— E enquanto isso, Victoria sofre isolada de tudo e de todos. — Falou descontente.

 

— Pois é... — Não era uma situação justa.

 

— Sabe que o contra-ataque da Cora será forte, né? — Zelena olhou para mim com um ar receoso.

 

Soltei o ar pesadamente.

 

— Eu sei. — Falei conformada — Por isso pedi para David Nolan proteger a Emma.

 

Zelena riu desacreditada.

 

— Não esqueceu essa ideia idiota de se afastar dela?

 

— Eu não posso, Zelena. — Ela negou com a cabeça.

 

— Só espero que esteja fazendo a coisa certa. — Disse desapontada.

 

Soltei todo o peso do corpo no banco. Observei a rua pela janela do carro. Estava começando a chover.

 

— Eu também espero. — Respondi sem olhar para ela.

 

 

***

 

Swan

 

Acordei com o barulho do vento na janela. Procurei ao redor, Regina não estava ali.  Levantei com certa dificuldade, meu corpo ainda doía bastante. Fui ao banheiro, depois desci. Já era noite, Regina deveria estar fazendo o jantar.

 

­— Não deve fazer esforço. —  Levei um susto ao escutar a voz de um homem.  Olhei rapidamente, Robin estava parado ao final da escada.

 

Sorri meio sem graça, não esperava por ele ali.

 

— Estou dolorida, mas cansada de ficar deitada. — Ele me estendeu a mão, ajudou-me a descer os últimos degraus.

 

— Imagino! — Deu um­ sorriso simpático.

 

­— E a Regina?  — Passei os olhos pela sala — O Henry?

 

­— Henry ainda está dormindo. — Andamos até o sofá — E Regina foi a Portland com Zelena.

 

— Portland hoje? —  Não escondi a surpresa.

 

Ele fez uma expressão insatisfeita.

 

— Também achei desnecessário. Elas passaram a noite no hospital, estão cansadas. Regina poderia ir outro dia até lá. — Coçou o pescoço — Mas você sabe como ela é, não consegue deixar nada para depois.

 

— Sempre irredutível.  — Ele concordou com a cabeça. Desviei o olhar para a tv, Robin assistia uma série.

 

— Já fizeram a perícia em seu carro.  — Mudou de assunto — Foi uma falha mecânica, por isso perdeu o freio. Agora ele está no pátio da delegacia, já pode mandar retirá-lo. O estrago foi considerável, mas ainda tem jeito. — Soltei o ar, desanimada.

 

— Eu não sei se quero.

 

— Sofrer dois acidentes de carro não deve ser fácil. — Usou um tom compreensivo.

 

— Não. Não é! — Ele fez um ar pensativo. Ficou em silêncio por alguns segundos.

 

— Vamos fazer o seguinte. — Ajeitou o corpo no sofá — Podemos retirá-lo do pátio, e mandá-lo para um mecânico de minha confiança. Regina o conhece, ele faz a manutenção dos meus carros há anos, ela mesma já levou o carro dela lá. E então nesse meio tempo você decide se vai ficar com ele, ou se prefere vender.

 

Desviei o olhar por um instante.

 

— Tudo bem! — Falei depois de analisar a situação — Podemos fazer isso.

 

Ele sorriu.

 

— Ótimo!

 

— Papai! — Henry falou do topo da escada, sua carinha ainda era de sono. Passou a descer os degraus. Robin foi ao seu encontro — Cadê a minha mãe?

 

— Ei, rapaz! — O abraçou da maneira que pode, evitando encostar em seu braço — Sua mãe precisou sair, mas já deve estar voltando.

 

Henry veio até mim.

 

— Oi, Emma! — Nos abraçamos. Beijei o seu rosto.

 

— Tá sentindo dor? — Henry sentou-se ao meu lado.

 

— Não mais.  — Falou triste.

 

Franzi o cenho, olhei para Robin sem entender.

 

— Então por que essa cara, garoto? — Toquei em sua perna.

 

— Agora que entrei para o time, quebrei o braço. — Falou emburrado.  Observei Robin mais uma vez antes de dizer algo.

 

— Eu sei como é frustrante, também não vou treinar por alguns dias.

 

— Mas o médico disse que vou precisar fazer fisioterapia. — Segurou o choro — Vai demorar!

 

— A fisioterapia vai te ajudar a voltar a jogar. Você não vê... — Apontei para o meu joelho — Eu faço fisioterapia até hoje.

 

— Dói? — Perguntou com receio.

 

— Garoto, quando você escolhe ser um atleta profissional, tem que ter em mente que a dor é uma companhia constante. As lesões podem acontecer com frequência e precisa estar preparado, disposto, a superar tudo.

 

— Eu não sei se consigo.  

 

— Claro que consegue! — Tentei passar a ele confiança.

 

— Você é meu jogador preferido. — Robin falou em tom brincalhão — Vai ter que conseguir!

 

— Você não entende nada de vôlei, pai! —  Nós três rimos.

 

— Vou entender um dia. Mas agora... — Chegou mais perto de Henry — Vamos pedir algo para comer. Sua mãe está demorando muito. — Mudou de assunto, visivelmente para entreter Henry.  Mostrou em seu celular alguns pratos que estava pesquisando.

 

— Eu prefiro pizza. — Robin lançou a ele um olhar contrariado.

 

— Sua mãe não vai gostar. — Respondeu sério.

 

— Mas eu tô doente.  — Apontou para o braço imobilizado sobre o colo.  Segurei o riso. Nunca vi uma criança tão boa em chantagem emocional.

 

— Senhorita Swan? — Robin dirigiu-se a mim.

 

— Emma! — Não era preciso tanta formalidade.

 

— Emma, o que prefere?

 

— Também estou doente! — Entrei na onda de Henry. Robin deu uma risada alta.

 

— Que bela dupla de atletas! — Levantou-se — Vou ligar e pedir pizza.  — Respondeu vencido.

 

— Isso! — Henry comemorou.

 

Encostei mais relaxada no sofá.

 

E Regina que não chegava?

 

Conversamos mais durante algum tempo. A pizza chegou. Comemos em meio a risadas. Robin tinha um jeito especial de lidar com Henry. Engraçado e carinhoso. Era bonito ver.

 

Por vezes me peguei pensando como seria ter isso durante a infância.

 

Deixamos o que restou de pizza sobre a mesa de centro. Fomos jogar videogame. Sentei-me no chão ao lado de Henry para ajudá-lo com o controle, já que só poderia usar uma das mãos. Demorou um pouco, mas nos adaptamos.

 

— GOL! — Robin comemorou depois de alguns minutos de partida.  Henry e eu bufamos.

 

— Você não tá com a mão machucada! — Robin fez carata. Achei graça.

 

— Um jantar muito saudável para quem está em recuperação. — Henry retesou o corpo. Regina parou ao lado da mesa de centro com um semblante sério.

 

— Eu falei que ela não iria gostar. — Robin disse, soltou o controle no sofá.

 

— Falou, mas não impediu! —  Regina arqueou uma sobrancelha. Aproximou-se dele e deu um beijo em seu rosto.

 

— Você conhece ele. — Tentou justificar.

 

— Ah, mamãe só hoje! — Regina revirou os olhos, beijou a testa de Henry.

 

— Está melhor? — Fez um carinho em seus cabelos.

 

Henry apenas afirmou que sim com a cabeça. Regina deu um pequeno sorriso.

 

— E você? — Chegou perto de mim, beijou meus lábios carinhosamente. Fez um afago em minha bochecha.

 

— Pronta pra outra, morena! — Ela fez uma expressão indignada.

 

— Não diga bobagens, Emm!  — E aquela voz rouca que só ela tinha, chegou a me dar arrepios — Vou subir para um banho.

 

— Não vai comer?  — Apontei para a pizza.

 

— Não. Zelena nos fez parar para jantar no caminho.

 

— E onde ela está?

 

— Foi para a casa dela.

 

— É seguro? — Franzi o cenho.

 

— Não! Mas cansei de discutir.  — Meneei a cabeça em entendimento.

 

— Vou subir com você. — Ela me ajudou a levantar.

 

— Ganho de você depois! — Falei para Robin ao passar por ele no sofá.

 

— Isso nunca vai acontecer!  — Provocou. Sorri, mas na verdade estava preocupada.

 

Eu sabia que Regina tinha ido à sede do partido. E a sua expressão não era tranquila.

 

Subimos em silêncio. Ela foi direto para o banheiro, parecia bem cansada. Também pudera, passou a noite em claro, ainda foi à cidade vizinha e voltou no mesmo dia.

 

Deitei-me na cama, mandei uma mensagem para Ruby, perguntei sobre a minha cachorrinha. Chegou uma notificação de Kurt. Abri. Ele pedia para eu ir ao ginásio assim que possível. O pessoal da fisioterapia precisava fazer alguns exames específicos, queriam verificar se não houvera nenhum dano mais severo em meu joelho. Lembrei que Picci já deveria ter participado da tal reunião misteriosa. Mas ela não havia mandado nada além de um pequeno texto desejando melhoras. Agradeci e resolvi não perguntar nada, pelo menos não por mensagem.

 

Deixei o celular de lado. Esperei por mais alguns minutos até que Regina finalmente saiu do banheiro. Usava um pijama de seda azul, fazia frio aquela noite.

 

— Quer conversar? — Perguntei analisando cada detalhe de seu rosto.

 

— Não. — Caminhou até a cama — Hoje não.

 

Abri os braços, ela veio até mim. Deitou com a cabeça em meu peito. Gemi porque ainda estava dolorida. Ela aliviou um pouco a intensidade do abraço.

 

 

— Desculpa. — Sorri.

 

— Tudo bem.  — Fiz um carinho em seus cabelos, deixei um beijo ali.

 

— Emm, foi horrível.  — Falou baixo, com a boca perto do meu pescoço — Cora apoiou a minha expulsão, não pude nem me desligar de maneira digna. — E dava para perceber a mágoa em seu tom de voz — Minha mãe usou o nosso envolvimento como palanque para a candidatura dela mesma ao Senado no ano que vem.

 

— O quê? — Virei para olhar em seu rosto, ela continuou.

 

— Sim, eu sei. Inacreditável! — Gesticulou — Eu discuti com ela, com os outros membros.  Joguei algumas verdades a esmo. Os seguranças me acompanharam até a saída. Um show de horrores que nunca pensei que faria parte em minha vida.

 

— Então você não tem mais ligação com o partido?

 

— Não. Eu só não queria que tivesse acontecido da maneira como foi. —  Disse cheia de decepção.

 

— Vem aqui! — A puxei para um abraço.

 

Passei a acarinhar suas costas. Ficamos em silêncio. Senti uma lágrima molhar a camiseta que eu usava.  Sabia que algo mais a incomodava.  Ela amava a carreira política, assim como a pedagógica, mas havia uma tristeza nela que nunca tinha sentido antes. E isso me assustava.

 

Apertei mais o seu corpo junto ao meu, mesmo com a dor.  Queria que ela soubesse que eu estava ali por ela. Sempre estaria! Pelo menos, até quando ela me deixasse estar. E eu queria que fosse para sempre.

 

 

***

 

 

Cheguei em casa cedo. Fui direto para o quarto para colocar meu uniforme de treino, para a fisioterapia, era melhor uma roupa confortável.

 

Regina estava calada e distante no café da manhã. Ofereceu-se para me trazer até em casa, mas recusei. Ela não estava bem e ainda poderíamos encontrar alguém da imprensa, preferi chamar um carro pelo aplicativo.

 

— Um furacão chamado Ava! — Ruby entrou falando alto. Terminei de colocar a camiseta.

 

— Eí, garota! — Peguei minha cachorrinha, ela mexeu-se elétrica em minhas mãos.  Tentei evitar, mas ela lambeu o meu rosto. Sorri.

 

— Tá melhor, Emm? — Soltei Ava na cama, ela passou a fazer bagunça com as minhas meias.

 

— Um pouco dolorida. — Coloquei a mão na lombar — Mas melhor. — Minha amiga me deu um beijo no rosto.

 

— Que susto, sua filha da mãe! — Falou em tom brincalhão. Empurrou de leve o meu braço — Outro desses, eu não aguento! ­— Sentou-se na cama.

 

— Eu também não! — Acompanhei o riso, sentei ao seu lado.

 

Fiquei séria no instante seguinte, fixei o olhar na parede, passei as mãos no rosto.

 

— Ah, o que foi dessa vez? —Ruby perguntou ao perceber o meu desanimo.

 

Virei para ela.

 

— Eu não sei, Ruby... — Hesitei sem saber como explicar — Regina tá estranha.

 

— Claro! — Abriu os braços — A mulher exonerou o cargo na escola que amava. O filho e a namorada sofrem um acidente de carro. E ela ainda é expulsa do partido do qual fazia parte. Eu também estaria estranha.

 

— Como sabe que ela foi expulsa?  — Franzi o cenho.

 

 

— Emm, o Maine inteiro sabe. Tem vídeos da mãe dela criticando o envolvimento de vocês passando em todos os noticiários desde ontem. Está na capa de todos os jornais impressos de hoje também. Inclusive... — Apontou o dedo para mim — O seu pai estava lá apoiando a mãe da Regina. —  Abri a boca, surpresa. Ok! Por essa eu não esperava.

 

Desviei o olhar analisando a situação.

 

— Será que é esse o assunto que Regina está evitando? — Falei comigo mesma.

 

— Como assim? — Voltei a olhar para a minha amiga.

 

— Ruby, sinto que tem algo a mais preocupando a Regina. Alguma coisa que ela quer me contar, mas recua.

 

— Pode ser...  — Ruby pareceu pensar — Todo mundo já sabia que seu pai é um babaca. — Não questionei, é verdade — Mas essa de apoiar a candidatura da mãe da Regina, foi surpreendente. Fora que a mulher entregou tudo de vez. Mesmo vocês não dando declaração alguma, ela meio que assumiu que é verdade. Tá certo que ela veio com a história de cura gay depois. Mas assumir, assumiu!

 

— Cura gay? — Procurei entender.

 

— Uma pastora da mesma igreja do pai da Belle também é uma apoiadora da sua sogra. Parece que é a nova moda no Maine. A CURA GAY! — Falou como se tivesse lendo em uma faixa. Fiz careta.

 

— Sogra? Que sogra, Ruby? Eu pensei que a mulher fosse me bater. —  Senti arrepio só de lembrar.

 

— Ela é tão brava quanto parece na televisão?

 

— É pior!

 

— Credo!

 

— Precisava ver como ela reagiu quando a Regina deu a entender que assumiria o nosso relacionamento.

 

Ruby arregalou os olhos.

 

— Regina fez isso? — Mexeu-se animada na cama. Bateu em minha perna. Fiz cara de dúvida.

 

— Não entendi. — Passei a mão onde ela deu o tapa.

 

— Se Regina disse isso, é porque vai te pedir em namoro. — Senti um frio na barriga — Quer dizer, né... Oficialmente, porque vocês já fazem isso.

 

— Eu não sei. — Respondi insegura.

 

— Mas você pode surpreendê-la, já comprou os anéis. E eles são lindos! — Sorri ao lembrar deles. Tinha escolhido com tanto carinho.

 

— São mesmo.

 

— E então? — Apertou minha mão, esperou pela resposta.

 

Desviei o olhar. Ponderei um pouco.

 

— Eu iria esperar até o mês que vem, quando acabam as aulas, mas agora ela não é mais minha professora. E todo mundo já sabe mesmo! — Parei para analisar tudo o que nos impedia de ficarmos juntas publicamente — Também não tem mais o partido. Aí, eu não sei, Ruby! — Levantei dei alguns passos pelo quarto. — A mãe dela vai fazer um inferno!

 

— Não vai ser a primeira mãe a não concordar com quem a sua filha se relaciona. — Deu de ombros — Tá aí o pai da Belle como exemplo. E nós vamos enfrentar essa barra. Você e Regina também conseguem!

 

Deu um sorriso confiante. Também sorri. Minha amiga fazia tudo parecer simples.

 

— Tudo bem! ­ — Falei decidida — Vou pedir Regina em namoro!

 

— Isso! — Ruby pulou em meu pescoço — Precisa fazer algo especial.  Um jantar romântico como foi em Nova Iorque.

 

— Tá maluca! Nós não podemos ir a nenhum restaurante. Vai ter repórteres.

 

Ruby apertou os lábios.

 

— Verdade! — Olhou ao redor, abriu os braços — Você pode fazer algo aqui!

 

Dei um sorriso debochado.

 

— Isso nunca daria certo! Eu não sei cozinhar.

 

— Emm, não é bem um jantar. — Segurou em minhas mãos — Escolhemos um ótimo vinho. Compramos morangos, uvas, velas. Passamos no restaurante do porto, e pegamos pra viagem alguns canapés com creme de cogumelos, esse tipo de coisa que rico gosta. — Gesticulou — Mas tudo isso são apenas detalhes, porque o prato principal será você!  — Deu um sorriso safado.

 

Não consegui segurar, também ri.

 

— É uma ótima ideia! — Fui obrigada a concordar.

 

— Então vamos logo para o ginásio, quando sairmos de lá, compramos tudo. — Deu alguns passos rápidos até à porta — Convida a Regina, vê se ela pode vir mais tarde. — Ava a seguiu. Minha amiga continuou a falar, mas eu já não escutava mais.

 

Calcei o tênis. Peguei o meu celular e a mochila.

 

Deixei Ava na lavanderia com água e comida.

 

Do carro que Ruby chamou, mandei mensagem perguntando se Regina estava livre à noite. Ela visualizou e não respondeu, provavelmente estava ocupada. Travei o celular e guardei na mochila. Em poucos minutos, chegamos ao ginásio.

 

A sessão de fisioterapia demorou mais do que imaginava. Senti muita dor. Derek exigiu um exame físico completo para avaliar a minha mobilidade muscular. Por sorte, nada de mais sério tinha acontecido, as minhas dores eram normais por causa do impacto do acidente. Em alguns dias sumiriam por completo.

 

— Já está liberada, Emm? — Ruby perguntou ao entrar na sala de fisioterapia acompanhada de Picci.

 

— Sim, estava esperando você. — Sentei na maca, onde eu estava deitada descansando.

 

— A musculação hoje foi pesada. — Ruby falou, ajeitou os cabelos molhados para trás da orelha.

 

— É bom ver que está bem. — Picci me abraçou. Retribui.

 

— Obrigada! Foi só o susto! — Nos separamos.

 

— E então, vamos às compras? — Ruby perguntou. Estava mais animada do que eu.

 

— Compras? — Picci a olhou com ar de riso.

 

— É! Emma vai pedir Regina em namoro. — Minha amiga começou a contar eufórica. Picci ficou séria. Começava a me questionar se fazia sentido quando Regina dizia que Kathryn sentia algo além do sentimento de amizade por mim — Vamos preparar a casa para um encontro romântico.

 

— Isso... — Hesitou — Isso é legal, bela. — Olhou para mim — Espero que dê certo. — Forçou um sorriso, mas ele já não tinha o mesmo brilho — Bom, eu preciso ir! — Ajeitou alça da bolsa no ombro —    Quando puder me responda no WhatsApp, vou mandar uma coisa. — E pela sua expressão, percebi que era algo relacionado à negociação para o seu retorno à Itália.

 

— Tudo bem. — Respondi. Ela deu um sorriso para Ruby, saiu rápido.

 

— Picci anda misteriosa. — Minha amiga falou, a observamos sair da sala.

 

—  Ruby, acho melhor irmos pra casa. —  Mudei de assunto — Regina ainda não me respondeu. —  Quando terminei a frase, meu celular vibrou. Olhei para a tela.  Era ela.

 

— Chego as vinte horas. — Li em voz alta.

 

Ruby abriu um sorriso enorme.

 

— Pronto!  —  Puxou minha mão — Resolvido! — Desci da maca toda desajeitada — Vamos comprar tudo!

 

Peguei minhas coisas. Segui seus passos sem a certeza se era o certo a fazer. Regina pareceu meio fria na mensagem.

 

Andei até a saída do ginásio com a voz de Ruby ecoando em minha mente, mas sem realmente absorver nada.

 

Eu nunca tinha pedido alguém em namoro, e estava ficando apavorada com a ideia.

 

 

***

 

Rodamos a tarde inteira. Compramos velas, morangos, e o melhor vinho tinto que havia na adega de Storybrook. Já o champanhe era de uma das marcas mais tradicionais.  Mudei de ideia sobre comprar os canapés que Ruby havia sugerido. O vinho me deu a ideia de uma boa massa. Passamos em um restaurante italiano. Depois de ver e rever o cardápio, escolhi um fettuccine ao creme de limão siciliano, pedi para viagem.  Minha amiga ainda nos fez passar em uma floricultura. Escolhi o maior buque de rosas vermelhas que eles tinham.  Compramos muitas pétalas também, a ideia era espalhar em todo o quarto.

 

 — Eu te amo? — Minha amiga leu em voz alta a frase que estava escrita na pequena almofada vermelha que eu observava — Você não vai levar isso, vai? — Fez careta.

 

— Eu preciso de alguma coisa para colocar a caixinha dos anéis.

 

— Deixa eu ver com as mãos? — Franzi o cenho. Entreguei a pequena almofada a ela.

 

Ruby jogou a almofada para além do corredor em que estávamos. Ela caiu junto aos ursinhos de pelúcia que havia mais adiante.

 

 

 

— Sempre brega, Emma Swan! — Puxou a minha mão. Revirei os olhos. Fomos em direção ao caixa.

 

Pegamos um taxi já era quase cinco da tarde. Verifiquei o celular, Regina não havia falado mais nada.

 

Assim que chegamos, soltei Ava no jardim. Minha cachorrinha estava muito tempo trancada. Ela saiu animada pelo gramado.

 

Coloquei os pedidos do restaurante sobre o balcão da cozinha. Apenas as sobremesas, duas taças de mousse de chocolate com base e cobertura de suspiros, pus na geladeira.

 

— Precisamos arrumar a mesa. — Caminhei até o grande armário lateral que tinha ali. Abri.

 

Ruby olhou fascinada.

 

— Até uns dias atrás, quando Liam estava aqui, tivemos que tomar refrigerante em copos descartáveis. O que aconteceu? — Falou ao analisar a louça fina que estava diante dos seus olhos.

 

— Quando contei a tia Ingrid que tinha escolhido uma casa, mas que ainda não havia comprado nenhum item de cozinha, ela mais que depressa pediu para a irmã dela, que cuida da casa de Nova Iorque, mandar a louça que estava lá. — Apontei — Minha mãe tinha bom gosto!

 

— Realmente tinha! — Concordou e pegou uma taça para olhar de perto — Tem louça aqui para um jantar de casamento.

 

— Ela costumava dar vários jantares, sempre gostou da casa cheia. — Senti meus olhos levemente marejados.  Pisquei algumas vezes para controlar a emoção. Hoje não era dia para isso — Vamos lá? — Voltei ao foco. Ruby concordou.

 

Escolhi uma toalha de mesa branca. Coloquei dois sousplats vermelhos e os pratos de porcelana que mais me agradaram por cima. Ajeitei os prendedores nos guardanapos, que assim como os talheres, eram de prata. Sorri ao lembrar de minha mãe me ensinando a sequência de cada item na mesa.

 

Ruby trouxe as taças para o vinho, depois as de água.  Eu mesma peguei as que serviriam para o champanhe.  O cristal fazia um barulho único quando manuseado.  Posicionei o balde de gelo e o suporte para o vinho milimétricamente nas extremidades da mesa.

 

Os dois castiçais ao centro, deram um charme ainda maior.  Encaixei uma vela branca em cada um deles.

 

— As pétalas! — Minha amiga lembrou sobressaltada. Correu para a sala de estar, voltou em segundos.

 

Espalhamos algumas pétalas sobre a mesa. Combinava com o vermelho dos sousplats, e ganhavam todo um destaque com o muito branco do tecido da toalha.

 

Olhamos o resultado. O cristal das taças também chamava atenção de longe.

 

— Digno de uma princesa! — Ruby falou orgulhosa.

 

— Digno de uma rainha! — Reformulei a frase.  Minha amiga sorriu ainda mais. Também sorri.

 

Coloquei o enorme buque de rosas na parte livre da mesa, seria a primeira coisa que entregaria a Regina naquela noite.

 

Pegamos o que restou das pétalas e as sacolas com as velas decorativas. Subimos para o quarto.

 

Escolhi uma roupa de cama branca. Troquei tudo que estava em uso. Ajeitei a cama com capricho. Senti a maciez do tecido de seda na ponta dos dedos.

 

Ruby passou a colocar as velas ao redor da cama.  Depois seguiu com um caminho de velas até a porta do quarto.  Fiz o mesmo processo com as pétalas. Joguei algumas sobre a cama também. Assim como na mesa, o contraste entre o branco e o vermelho ficou perfeito.

 

Sorrimos mais uma vez contentes com o resultado.

 

— Já sabe o que vai usar?  — Perguntou curiosa.

 

— Tenho ideia! — Apertei um pouco os olhos, imaginando a combinação de vestido e sapatos.

 

Fui até o closet, Ruby seguiu meus passos.

 

Procurei por alguns instantes, passei por diversos cabides até encontrar o que queria.  Retirei um vestido branco dali, virei para mostrar a minha amiga.

 

Ele era um pouco longo na parte posterior. Mas na frente, batia na altura das minhas coxas. Não ficaria muito colado ao corpo, mas marcaria a curvas necessárias.  Alças finas, decote provocante.

 

Vi o sorriso safado brotar no canto dos lábios de Ruby.

 

— É PERFEITO! — Passou as mãos pelo tecido.

 

Depois disso, fui tomar banho.  Ruby desceu para ver onde Ava estava. Minha cachorrinha quando ficava muito quieta, era porque aprontava algo.

 

Demorei o máximo que pude no chuveiro. A água morna aliviava um pouco a dor no corpo.

 

Fiz uma maquiagem leve. Preferi usar um brilho labial. Passei o perfume que Regina adorava. Coloquei o vestido. Escolhi uma sandália creme, com o salto bem alto. Sorri ao lembrar de um detalhe muito importante. Fui até a minha caixinha de joias, passei os dedos pelo colar de estrela que Regina havia me dado, o apanhei.  Voltei para diante do espelho. Pus em torno do pescoço, o pingente de ouro delicado brilhou timidamente. Soltei os cabelos em seguida, os cachos deslizaram por meus ombros. Analisei com calma. Gostei do que vi.

 

Olhei em meu celular, faltava meia hora para Regina chegar. Peguei o isqueiro que Ruby havia deixado ali. Passei a acender todas as velas aromáticas.  A vendedora explicou como esse tipo de vela funcionava. Elas duravam até vinte horas e por serem acessas dentro de vidros não traziam riscos. O cheiro de rosas espalhou-se pelo quarto.  

 

Abaixei a luz artificial. A iluminação ficou perfeita para a ocasião.

 

Fui até a minha mesa de cabeceira, peguei a caixinha que estava secretamente guardada ali. Abri. Os pequenos diamantes cravados nos anéis brilhavam até mesmo com a luz baixa. Regina iria adorar! Fechei a caixinha. Desci atrás de Ruby.

 

— Ela estava aprontando? — Perguntei ao entrar na sala de jantar. Ruby terminava de ajeitar a comida nos pratos.  Ava estava sentada ao lado da mesa esperando que algo caísse para ela comer.

 

— Não. Só comendo terra! — Deu risada.

 

— Preciso levá-la ao veterinário. — Só então minha amiga levantou a cabeça para me olhar.

 

Abriu a boca e ficou parada por alguns instantes.

 

— Você tá muito gata, patinho! — Sorri pelo elogio. Ruby endireitou a postura, ainda me olhou de cima a baixo.

 

— Obrigada! — Dei uma viradinha para ela ver o look completo.

 

— Regina vai pular para o prato principal! Não vai resistir. — Riu alto. Também acabei rindo, mas a minhas mãos já estavam suando pelo nervosismo.

 

Vi Ruby arrumar a última raspadinha de limão em cima do molho. Colocou o protetor de prato redondo por cima.

 

— Pronto! — Falou satisfeita.

 

Deixei o isqueiro sobre a mesa, as velas ali só poderiam ser acessas depois.  E escondi a caixinha com os anéis atrás do balde de gelo.

 

— Tem uma última coisa! — Ruby me olhou curiosa.

 

Peguei uma caneta que estava na mesa de canto, fui até as flores, retirei do envelope o pequeno cartão que estava ali ainda em branco. Curvei-me sobre a mesa, comecei a escrever.


“Entre todas as estrelas, é a mais linda,
a mais encantadora
Mesmo sabendo que ela não brilha pra mim”

PS.: Eu só sei brilhar por você!
Emm

 

Minha amiga leu o cartão por trás de mim.

 

— Por que riscou o último verso? — Procurou entender.

 

— Regina recitou essa estrofe pra mim na noite em que fomos à praia. Ela vai saber o que significa. —  Ruby apenas deu um sorriso como resposta.

 

Coloquei o cartão de volta no buque, ajeitei com cuidado mais uma vez.  Estava tudo perfeito!

 

Andamos até a sala, Ava nos seguiu.

 

— Boa sorte! — Ruby falou, parou ao lado da porta — Vai dar tudo certo! — Puxou-me para um abraço.

 

— Espero que sim! — Respondi insegura.

 

— Claro que vai dar! Regina é louca por você! —  Nos separamos. Ela abaixou e pegou Ava no colo — Ainda vou ser madrinha!

 

Achei graça. Era uma palhaça mesmo! Fiz um carinho me despedindo de Ava. Elas saíram. Fechei a porta.

 

Fui até a sala. Verifiquei a hora novamente. Faltavam dez minutos.

 

Ajeitei o vestido, mesmo não tendo nada de errado com ele. Dei alguns passos incertos pela sala.  Comecei a pensar em quais palavras usar. Como iria começar. Bufei! Ao perceber que nada parecia bom.

 

 — Ótimo dia para não conseguir formular uma frase, Emma! — Reclamei comigo mesma.  — Passei a mão pela testa. Acho que agora meu corpo inteiro suava frio.

 

Sete e cinquenta e oito. A campainha tocou.

 

Respirei fundo.

 

Regina havia chegado.

 


Notas Finais


Spoiler do próximo capítulo no Instagram cinza_das_horas.

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