História Cliche - Epílogo

-Então, está pronta pra me falar agora?

É agora ou nunca, pensei.

-Por onde eu começo... -murmurei sozinha, olhando para os pés de Harry. 

-Pelo início é sempre um bom começo. 

-Há-Há, engraçadinho.

-Abby...

-Okay, eu tô chegando lá.

-Você nem falou nada ainda!

-Se você me deixasse eu teria! -rebati, cruzando os braços de novo. 

-Tá bem, vou calar a boca.

-Obrigado.

Harry levantou as sobrancelhas, surpreso pela minha resposta. 

-Enfim, o que eu vim falar, quer dizer, o que eu quero falar, eu sei que não é fácil e eu não sou muito boa nisso, quer dizer, dá pra ser bom nisso? Acho que não, mas a prática leva à perfeição. Não! Quer dizer, não que isso tenha que ser praticado, é horrível fazer isso, não vamos colocar nada em prática, esquece o que eu falei. Já sei! Vou recome-

-Abby, você está tagarelando -Harry me interrompeu, segurando os meus braços e só aí percebi que ele tinha se aproximado. 

-Desculpa -suspirei, deixando meus ombros caírem pro lado.

-Eu vou facilitar as coisas pra você.

-Vai? -ergui o olhar, encontrando o verde dos olhos de Harry.

Eu estava evitando olhar diretamente para ele porque eu sabia que se o fizesse, as chances de eu desistir eram altas, mas quando olhei para Harry naquele momento, eu consegui ver que ele tinha se ligado no que eu estava tentando fazer e não pude ignorar o traço de mágoa que ele me lançava. 

-Eu sei que você gosta de mim, mas eu também sei que você ama outro cara, -abri a boca para começar a perguntar, mas Harry foi mais rápido e balançou a cabeça, continuando- eu ouvi o Bretman falando com a Jenna sobre um Bernard, então eu somei dois mais dois, e você não negou o que eu insinuei quando tinha ido na sua casa, então meio que confirmei. Afinal, por qual motivo você estaria me evitando? Eu sei que eu fui seu "crush" por uns dois meses, mas o que você sentia por mim não passava disso. Gostar. 

-Harry...

-Não, Abby, é verdade. Não tem problema, porque é recíproco. O que eu sinto por você não passou disso, nem tivemos tempo pra nós, quem dirá os sentimentos? 

Harry soltou os meus braços e eu percebi como estava sendo difícil ele fazer aquilo, era como se parte ele estivesse tentando convencer a si mesmo.

-Harry... -tentei de novo, mas ele não me deixava falar. 

Harry andou até a porta e ficou olhando para um ponto acima da minha cabeça, evitando o meu olhar. 

-Então eu vou facilitar pra você -ele repetiu enquanto eu andava até ele- porque eu sei que você tem um coração muito grande pra magoar alguém intencionalmente.

-Harry... -ergui a minha mão para tentar toca-lo, mas ele se esquivou, ainda sem olhar para mim.

-O que quer que estivesse acontecendo entre nós, não está mais. Acabou. 

Tentei argumentar, pensei no que falaria, mas nada saiu da minha boca. Coloquei meus braços ao lado do meu corpo e sai do apartamento.

Quando me virei, eu vi os olhos de Harry estarem cheios de água e foi como se eu tivesse levado uma facada e só naquele momento eu tinha percebido. 

Dei um passo para frente, mas Harry fechou a porta bem no meu rosto.

Essa foi a última vez em que vi Harry. 

-ABIGAIL! ABIGAIL! 

Pisco algumas vezes e percebo que me desliguei. Levanto a cabeça e me deparo com o Bernard na minha frente, tentando chamar a minha atenção. 

-Está tudo bem aí? -ele pergunta me zoando com o dedo apontado para a minha cabeça.

-Sim, mané -bato na sua mão e rio de leve, fechando a caixa de correio- pode ir subindo com as compras, eu vou logo depois.

-Beleza -ele se inclina, dando um selinho em mim.

Espero ele subir as escadas do prédio e sumir da minha vista até olhar para o envelope que estava nas minhas mãos.

Crystal Walls e Harry Styles convida você e um acompanhante para o casamento deles, no dia 24 de Abri de 2025. 

Era o convite de casamento dele.

Quando cheguei alguns momentos atras e abri a caixa de correio que divido com Bernard do nosso apartamento, vi o envelope e fiquei curiosa pela embalagem bonita, mas apenas primeiras palavras foram o suficiente para me fazer lembrar de toda a história que tive com Harry. 

Porra, como assim ele está me convidando para o casamento dele? 

No fundo da minha cabeça eu sabia que isso ia acontecer, mas o fato de eu ter sido notificada e ainda convidada, é mais como se fosse alguém me chacoalhando para acordar e sair da minha bolha onde nada me atinge. 

Harry estava se casando.

Engulo em seco conforme essa informação registra no meu cérebro. 

Fecho a minha mão, amassando o envelope e jogo-o na lixeira mais perto.

Depois de quase dez anos eu não ia deixar Harry entrar na minha vida. Ele estava bem aonde ele está e eu estava ótima aonde eu estou.  

-Eu sabia que você ia fazer isso.

Dou um pulo para trás, ouvindo aquela voz que não escuto há anos. Todos os meus músculos ficam rígidos e eu giro meus calcanhares lentamente. Encostado na porta do prédio, Harry está sorrindo para mim. 

Com o mesmo sorriso sacana e o mesmo olhar que derruba calcinhas. 

-Você está aí por quanto tempo? -pergunto, cruzando os braços.

-Tempo para ver você jogando o meu convite.

Olho para ele por alguns segundos, sem saber o que dizer ou fazer. 

-O que você quer? 

-Eu não sei porque, mas alguma coisa dizia que você ia jogar o convite no lixo, eu só queria garantir -ele da de ombros, desencostando da porta e andando até mim- Por que você jogou fora, mesmo? 
-Porque eu quis.

Uau, bela resposta, Abigail, penso irônica.

-Você não quer ir no meu casamento?

-Você quer que eu vá no seu casamento? -pergunto com voz duvidosa. 

-Não te mandaria o convite se não quisesse.

Fico quieta por alguns segundos.

-Okay, o que realmente está acontecendo aqui? -eu questiono, cansada demais para raciocinar.

-Um amigo mora aqui e esses dias eu vi você, então juntei o útil ao agradável e cá estou -ele sorri satisfeito, se abaixando e pegando as três sacolas que estavam ao meu pé. 

-Não pedi sua ajuda -tento pegar as sacolas de compra dele, mas Harry se move mais rápida e vai para a escada.

-Deixa o orgulho de lado um pouco e converse comigo. 

Reviro os olhos e acabo o seguindo.

O cara está com as minhas compras! Tento me defender miseravelmente para o nada.

-Você está ótima -Harry comenta, olhando para mim de relance- Fez a faculdade de jornalismo que você queria? 

Sou pega de surpresa por Harry lembrar disso, mas confirmo com a cabeça, sem coragem de verbalizar a minha resposta.

-Você também -elogio de volta depois de um tempo.

É, eu moro no quinto andar num prédio antigo onde não tem elevador, então essa conversa vai durar um pouco mais do que gostaria.

-Obrigado, -ele diz- abri uma tatuaria há alguns anos, sabia? 

-Não sabia, mas que legal! -respondo genuinamente feliz por ele.

-Foi lá onde conheci a minha noiva. 

Ah.

-Eu sei que você provavelmente não vai no casamento, Abby, relaxa -Harry comenta, me empurrando de leve pelo ombro- eu só precisava de uma desculpa pra te ver mesmo.

Fico quieta alguns segundos.

-Por que? 

-Por que o quê? -ele pergunta, respirando agora com um pouco de dificuldade- Porra, Abigail, que andar você mora?

-No último, mas não sai do foco. Por que você queria me ver? 

Harry respira fundo e dá de ombros.

-Não sei, curiosidade, talvez? Queria ver como você estava.

Junto as minhas sobrancelhas, não gostando do que ouvi.

Para de subir as escadas e percebo que ainda estamos no terceiro andar. Coloco a mão no peitoral de Harry e faço-o olhar para mim.

-Não.

-Não? -ele questiona.

-É, não! Você não pode decidir que vai entrar na minha vida depois de todos esses, sem notícias, sem falar comigo e principalmente me ignorando pelo resto do ano do colegial. 

-E você queria que eu fizesse o que? -ele retruca, colocando as sacolas no chão- Você não queria nada comigo, achou que depois de tudo o que passamos eu iria querer ser seu amigo? 

-Sim!

-Eu era apaixonado por você e você era por outro cara, onde que isso ia dar certo? 

-Você não saberia, nunca tentou! -grito sem querer, ficando alterada- Você disse que nem gostava de mim direito!

-Acorda, Abigail, para de ser tão ingênua! -Harry devolve no mesmo tom.

-Acorda você, Harry! Você nunca deu uma chance pra nossa amizade.

-Para de ser hipócrita quando você nunca deu uma chance para nós.

-Eu não estou sendo hipócrita, apenas realista. 

-Realista no seu próprio mundo, porque só pode!

Percebo tarde demais que não tenho resposta para retrucar, então faço a única coisa que me vem na cabeça:

-Agh, cala a boca! 

-Bem maturo, Abigail.

-Fala o cara que manda convite de casamento para a ex.

Harry revira os olhos e respira fundo.

-Eu realmente não vim aqui brigar. 

Fico em silêncio por alguns segundos.

-Desculpa por te xingar de filho da puta -peço, coçando o meu braço, desconfortável.

-Você não me xingou.

-Na minha cabeça, sim.

Harry ri.

-Mas o que eu disse antes é verdade -ele diz, se abaixando para pegar as sacolas de novo- Eu só queria ver como você estava. Desculpa ter te ignorado e ter sido basicamente um otário.

-Desculpas aceitas -sorrio, colocando a mão dentro do bolso da minha calça jeans.

Quando chegamos na porta do meu apartamento, pergunto se Harry não quer entrar, mas ele nega, dizendo que precisa ir porque colocou a moto numa parte proibida.

-Ah, então quer dizer que você desistiu daquela coisa que você chamava carro? -pergunto zoando com ele.

-Mais respeito com meu bebê! Ela estava dando muito problema, tive que seguir em frente -ele diz, encontrando meu olhar- certas coisas apenas não são para ser. 

Sinto meu rosto corar e mordo o interior da minha bochecha, sem saber o que responder.

-Eu tenho que ir indo, -Harry diz primeiro, apontando para as escadas- mas... Amigos? -ele estende a mão.

Olho para Harry, vendo como as pequenas mudanças em seu rosto, como a mandíbula mais definida, o cabelo um pouco mais curto que antes e a adição de tatuagens. 

-Amigos -apertei a sua mão, sorrindo.

Por que quem disse que homens não podem ser só amigos de mulheres?