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História Clocks - E agora?


Escrita por: versoacabado

Notas do Autor


Nossa... Olá?
Feliz Natal? Feliz Ano Novo? Eu nem sei com que cara eu apareço aqui... :(
Esse capítulo é outro que simplesmente não queria sair... Me perdi na vida, entre trabalhos e coisas pessoais, só fui terminar ele agora.. Não sei nem o que falar, e sei que tô devendo um milhão de respostas ;_; Me perdoem?
Prometo que vou ficar em dia com tudo, sejam pacientes comigo... </3

Obrigada a todos que comentaram os últimos capítulos, ao pessoal que andou favoritando ultimamente! Mesmo com a fic bem parada ainda ganhei favoritos, vocês são uns lindos ;_; Me desculpem mesmo por essas atualizações demoradas... Espero que estejam gostando e continuem acompanhando!

Beijo pra @kalythia que tá aqui do lado na observância me visitando nesse momento e eu deixei de molho uns segundinhos pra vir postar esse capítulo novo <3
E denunciando a @thamiires que tinha perdido a fé em mim e achou que eu ia desistir da fic, parece que o jogo virou não é mesmo? u_u Obrigada por ter achado um tempinho pra ler e me dar pitacos mesmo viajando <3 Num desiste de mim não :(


Mas sem mais delongas porque já delonguei (!) demais, finalmente um capítulo novo! Boa leitura uwu

Capítulo 23 - E agora?


[Ruki’s PoV]

Dizer que eu estava estupidamente feliz talvez fosse a maior redundância já verbalizada em todo o universo. Mas era assim que eu estava, e naquele momento era como se eu estivesse numa bolha protegida da realidade do mundo lá fora e tudo o que existia era aquele sentimento bom e quente que começava em meu peito e se espalhava por todo o meu corpo.

Eu mal conseguia acreditar ainda em tudo o que havia acontecido, em tudo o que estava acontecendo... Era tão estranho e diferente sentir todas essas coisas! Eu que sempre tive tantas barreiras, tantos receios, perceber-me assim tão entregue era tão novo e um tanto quanto assustador. Parecia que eu estava vivendo um sonho que há muito eu havia escondido dentro de mim mesmo e que agora tentava se libertar de alguma forma, e com isso vinha um medo muito grande de que isso fosse apenas um sonho.

Porém, quando eu me concentrava no aqui e agora, nas mãos quentes ao redor de minha cintura, nas pernas entrelaçadas com as minhas e nos lábios percorrendo a pele suada de meu rosto eu sentia o quanto aquilo era real.

Reita estava ali comigo e não iria a lugar algum...

E eu podia me dar ao direito de ser o maior bobo apaixonado da face da terra se eu quisesse.

- Taka, Taka... – Reita repetiu o apelido várias vezes enquanto distribuía beijos por todo o meu rosto, a ponta do nariz roçando minha pele em uma carícia gostosa e delicada que me fez fechar os olhos e suspirar, me entregando completamente àquele momento.

Eu definitivamente me sentia um bobo de tão feliz, e só conseguia rir baixinho e percorrer as mãos devagar pelas costas ainda suadas dele enquanto me deixava aproveitar aquele momento tão doce.

Ouvi-lo me chamar pelo meu apelido de infância que já há tanto tempo havia se perdido me dava uma sensação de nostalgia e ao mesmo tempo soava tão novo e tão certo. Fazia anos que eu havia deixado aquele nome de lado e “criado” outro para mim mesmo, sob o pretexto de ser um nome artístico, e até mesmo meus pais haviam entrado na brincadeira e hoje em dia só me chamavam por Ruki também.

Mas a verdade era que...

Desde pequeno eu nunca havia gostado dos contadores, dessa história de destino e tudo mais. Não poder escolher por quem me apaixonar e deixar que algo tão importante da minha vida fosse controlado por uma força maior e inexplicável não me parecia certo, e ainda mais o fato de só existir uma única chance não soava nem um pouco justo. Mas seria mentira dizer que eu nunca desejei alguém para mim como qualquer outra pessoa normal. E entre aceitar os contadores ou virar algo considerado como um pária na sociedade, é claro que eu preferiria a primeira opção, se na época eu tivesse essa escolha. Mas a minha realidade foi bem diferente...

Após o incidente com meu contador, após eu me tornar um Zero e ficar cada vez mais desacreditado nessa história de almas gêmeas e encontros predestinados, eu queria de qualquer jeito deixar para trás esse meu lado que um dia havia acreditado nesse tipo de coisa, esquecer que um dia eu havia esperado que para mim as coisas fossem como para todos os outros. Quando fui percebendo que talvez realmente não tivesse um lugar no mundo para um Zero como eu... Eu queria esquecer que eu um dia havia acreditado no amor romântico como algo que eu também merecia, e foi quando eu decidi que faria as coisas do meu jeito e seria uma nova pessoa.

Foi mais ou menos na mesma época em que eu decidi que queria ser designer, que queria ter a minha própria marca, e juntando as duas coisas nasceu Ruki. É claro que eu havia guardado apenas para mim o real significado disso, mas agora, depois de tantos anos...

Parecia certo que Reita me chamasse por aquele apelido que remetia aos tempos que eu havia fechado em mim por terem se tornado lembranças dolorosas de algo que eu tinha plena certeza de que nunca iria viver... mas que agora aos poucos pareciam retornar sob uma perspectiva completamente nova.   

Me perguntei o que ele pensaria se soubesse disso, se me acharia bobo... Eu imaginava que não, mas por enquanto quis guardar aquilo comigo mais um pouquinho e me concentrar apenas em aproveitar aquele momento doce e descontraído e a nova intimidade que se formava entre nós.

Puxei-o para um beijo quando os lábios dele tocaram brevemente os meus ao distribuir beijos pelo meu rosto, e ele riu surpreso ao ter os lábios capturados sem qualquer aviso, mas logo retribuiu e suspirou enquanto eu ditava o ritmo lento daquele beijo.

Quando partimos o beijo, mantive minha testa junto à dele, e ficamos assim por um tempo apenas apreciando a presença um do outro, nossos peitos colados enquanto nossos corpos ainda estavam unidos.

- Não tá te machucando? – Reita disse depois de um tempo, alisando lentamente os dedos em meus cabelos. Eu demorei para entender do que ele estava falando, mas quando percebi chacoalhei a cabeça negativamente.

- Não... Tá tão bom...  – Deixei outro beijo nos lábios dele, sorrindo. Na verdade estava doendo, mas não era uma dor que eu achava ruim, e eu não queria quebrar aquele contato ainda. Era tão bom senti-lo daquela forma...

- Mesmo? – Ele não parecia convencido, e quando abri os olhos ele tinha uma expressão preocupada, mas seus olhos brilhavam, como se ele achasse aquilo estranho mas ao mesmo tempo estivesse encantado. – Eu não quero te machucar...

- Dói só um pouquinho... – Fiz a minha melhor cara de inocente, mas a expressão dele mudou para mais preocupada no mesmo instante.

- Taka...! – Reita insistiu, me olhando nada convencido, e eu só consegui sorrir mais ainda pelo uso do apelido.

- É normal! E assim eu vou me acostumando logo... – Expliquei enquanto descia minhas mãos até as costas dele outra vez e o prendia contra meu corpo. – Você é bem grande sabe, preciso de prática!

- D-desculpa... – Ele riu sem graça, desviando os olhos dos meus, e eu o apertei ainda mais, querendo morder a bochecha dele. Céus, como ele podia ser assim? Depois de tudo o que havia feito comigo, ainda conseguia se sentir envergonhado?

- Você definitivamente não precisa pedir desculpas por isso! – Retruquei logo e arranhei as unhas nas costas dele, satisfeito pelo arrepio que consegui provocar.

- Mas se eu te machucar não vamos poder... praticar... – Eu ri da ênfase sugestiva que ele colocou na palavra e deixei um beijo no rosto dele.

- Você tem razão, isso seria um problema. Tem muitas coisas que eu quero praticar com você ainda...

- Eu também... muitas... – Observei-o morder os lábios, só então voltar a me olhar nos olhos, um brilho de expectativa gêmeo ao meu, e eu sorri, puxando-o novamente para que me beijasse.

Para a minha tristeza, depois de alguns momentos Reita começou a se retirar lentamente de dentro de mim, e apesar do alívio físico por sentir a dor diminuindo, aquele contato tão íntimo entre nós era tão bom que eu não teria me importado se ele ficasse assim por mais tempo.

Mas imaginei que devia estar desconfortável para ele, então não insisti e apenas observei quando ele se distanciou para descartar a camisinha usada no pequeno cesto de lixo ao lado da minha cama. E então, sem nenhum receio estendi os braços na direção dele e fiz um bico com os lábios, descaradamente manhoso como que pedindo para que ele voltasse logo para mim, e foi o que ele fez.

Com um sorriso enorme nos lábios ele se apressou e retornou para junto de mim, aceitando prontamente quando eu contornei o pescoço dele outra vez com os braços, puxando-o para ainda mais perto.

- Porque esse bico? – Ele murmurou, alisando o nariz dele no meu depois de deixar um selinho rápido em meus lábios.

- É que ficou gelado sem você pertinho de mim... – A manha era proposital, mas não deixava de ser verdade que estava gelado. Quando Reita se distanciou eu me dei conta de como o ar-condicionado estava forte, ainda mais agora que não estávamos mais fazendo certas atividades e as cobertas estavam abandonadas em algum lugar do chão.

- Então vamos corrigir isso já!

Reita se afastou de mim outra vez e por um momento fiquei confuso, sem entender como isso ajudaria a resolver meu problema de frio, mas quando percebi o que ele fazia eu sorri. Ele pegou um cobertor que estava metade caído no chão e metade no pé da cama e puxou-o para cima, trazendo-o para perto de onde eu estava deitado observando. E então sem nem me dar qualquer aviso prévio, ele soltou uma das mãos com que segurava o cobertor e levou-a à minha cintura. Com uma demonstração de força e habilidade que me deixou sem ar de tão maravilhoso, Reita me puxou para cima do próprio corpo, fazendo-me deitar sobre ele, e com a outra mão trouxe o cobertor para que cobrisse nós dois.

- Assim tá melhor?

- Beeeem melhor! – Eu sorri bobamente, logo me aninhando contra o peito de Reita, quase ronronando de felicidade quando seus braços contornaram minha cintura por baixo da coberta e ele me acomodou melhor sobre si, nossas pernas entrelaçadas.

Eu enterrei a cabeça na curva do pescoço dele e respirei fundo, absorvendo o cheiro da pele ainda quente e um pouquinho suada, e não resisti a deixar um beijinho e uma mordiscada ali, o que provocou um riso gostoso que me fez sorrir ainda mais e repetir o gesto, adorando observar aquelas reações que eu causava nele.

Ficamos assim por um tempo, apenas apreciando a companhia um do outro, nossas respirações ainda um pouco descompassadas começando juntas a se regularizar novamente. Meus lábios continuaram grudados à pele do pescoço de Reita onde eu deixava beijos inocentes de tempos em tempos, os olhos fechados apreciando o carinho que seus dedos faziam em minhas costas e cintura. Ele permaneceu com o rosto enterrado em meus cabelos, vez ou outra descendo por minha testa onde ele também deixava beijos distraídos, e eu podia ouvi-lo suspirar de vez em quando, me provocando pequenos arrepios na nuca.

Ambos estávamos perdidos nos próprios pensamentos, para alguns dos quais eu não queria dar atenção por enquanto, querendo apenas curtir aquele momento longe de preocupações e problemas. Aquele momento protegido entre os braços quentes, com a voz calma que ainda ressoava em minha mente me dizendo palavras doces...

- É tão bom ficar assim com você... – Reita murmurou após deixar outro beijo no topo da minha cabeça, como se adivinhasse o que eu estava pensando, e eu sorri, retribuindo o carinho com outro beijo no pescoço dele. – Não dá vontade de levantar daqui nunca mais!

- Quem disse que você precisa levantar? – Eu me ajeitei sobre Reita, ficando deitado com o peito colocado no dele, meus braços cruzados apoiados no peitoral dele para que eu ficasse um pouco inclinado e pudesse observá-lo de cima. – É domingo... a gente podia passar o dia todo assim...

- Eu não tenho nada contra isso... – Ele alisou minhas costas de cima a baixo e riu quando eu me abaixei para deixar um beijo no queixo dele, que eu também mordisquei em seguida só porque eu podia. Era tão bom poder tocá-lo da forma que eu queria sem qualquer restrição, e ver refletido nos olhos dele esse mesmo encanto, sentir seus dedos curiosos e agora nada receosos passearem por minha pele. A forma como ele me olhava, tão apaixonado, tão maravilhado... céus, eu poderia explodir só com o olhar dele!

Incapaz de resistir, me inclinei sobre ele, segurei o queixo dele com uma das mãos e uni nossos lábios outra vez, iniciando outro beijo. Pude sentir o sorriso dele contra o meu quando entreabriu os lábios para que eu pudesse aprofundar o contato, e suspirei quando senti uma das mãos dele subindo pelas minhas costas até chegar ao pescoço, onde encontrou meus cabelos. Reita enroscou os dedos nos meus fios bagunçados e pôs-se a alisá-los enquanto sua outra mão ainda descrevia carinhos por minhas costas.

O beijo foi ficando cada vez mais profundo, mais quente, e se continuássemos por esse caminho certamente o que eu havia dito a ele sobre passar o dia todo assim não estaria longe da verdade. Prendi o lábio inferior dele entre os dentes e mordisquei-o divertido, sugando-o em seguida, e sorri comigo mesmo ao ouvir o grunhido que escapou pela garganta dele, uma demonstração clara do quanto estava gostando daquilo.

Mas foi então que um som me distraiu completamente, fazendo com que eu quebrasse o beijo, surpreso. Um som semelhante a um ronco baixinho, que vinha bem da região da barriga de Reita... um inconfundível estômago reclamando de fome!

Oh, céus, que vergonha! Eu não fazia ideia de que horas eram, mas já estávamos acordados há bastante tempo, havíamos acabado de fazer certas coisas que requeriam energia sem nem ter comido alguma coisinha para enganar o estômago... é claro que ele devia estar com fome! Ainda mais Reita, que gostava tanto de comer.

- Hm, bem... – Reita começou a dizer, parecendo bem sem graça com aquilo, até mesmo desviando o olhar brevemente. Mas longe de mim ficar bravo ou irritado com ele por isso, eu estava querendo é me matar por ter esquecido completamente de oferecer comida. Que espécie de anfitrião eu era? Trazer as pessoas para casa e nem oferecer comida, não foi assim que sua mãe te ensinou, Takanori!

- Ai, meu deus, me desculpa! – Eu o interrompi, apressado. - Você deve estar com tanta fome e eu nem te ofereci café até agora!

- Ei, calma! – Ele me segurou pela cintura, me mantendo no lugar quando eu ameacei me levantar. – Eu nem tinha me lembrado que comida é uma coisa que existe, estava ocupado com coisas bem mais interessantes!

Reita continuou alisando minhas costas de forma despreocupada, segurando-me no lugar, mas mesmo assim eu ainda estava agoniado, não conseguia parar de pensar no quão faminto ele devia estar, e eu ali enrolando.

- Que espécie de pessoa sou eu que deixa o namorado passando fome? – Murmurei apressado, tentando me lembrar o que tinha na cozinha para que eu pudesse preparar algo rápido. Eu nem me dei conta do que eu estava falando até que percebi o sorriso enorme nos lábios de Reita substituir a expressão meio envergonhada de antes.

Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele segurou firme em minha cintura e se ergueu comigo em seus braços, me virando na cama e fazendo-me cair de costas no colchão, invertendo então nossas posições e ficando sobre mim.

- Acho que é uma espécie de namorado tão incrível que me faz esquecer até de comer! – Reita se inclinou para deixar um beijo estalado em meu rosto, e mais uma vez naquela manhã eu arregalei meus olhos em surpresa, nem percebendo que eu tinha dito aquilo.

Namorado! Céus, eu tinha usado mesmo essa palavra? Mas saiu de forma tão natural que eu nem mesmo pensei antes de falar... Céus, que vergonha! Nós nem éramos namorados de fato ainda... Eu acho?

Reita havia dito que iria me pedir em namoro decentemente e tudo o mais, mas... Será que depois do que havia acontecido naquela manhã, isso ainda valia? Ai céus, lá estava eu me apressando e quebrando tudo o que ele estava tentando fazer! Mas o que nós éramos a partir de então? E agora? Eu não sabia nem oferecer um café da manhã, imagina dar nomes aos bois em nosso relacionamento tão complicado!

Eu queria enterrar minha cabeça em um travesseiro, mas Reita não deixou que isso acontecesse e continuou a me encher de beijos enquanto ria, o que acabou me fazendo rir também, e logo estávamos os dois rindo feito bobos enquanto rolávamos na cama em uma espécie de lutinha bem infantil para ver quem ficava por cima.

Quando enfim paramos quase sem ar, Reita conseguiu vencer e continuar sobre mim enquanto segurava minhas mãos acima da minha cabeça e me impedia de tentar empurrá-lo outra vez. E tudo o que restava de mim era um sorriso incrivelmente idiota, a respiração acelerada, e os olhos presos aos de Reita, que me olhava com ternura.

Bem... acho que isso significava que ele não tinha achado aquilo ruim, certo?

- Namorado! – Ele disse enfim, me olhando admirado e depois deixando um beijo rápido em meus lábios. Eu o olhava com igual admiração, meu coração batendo rápido no peito não só pela brincadeira que havíamos feito e que me cansou, mas por todo o sentimento novo que despontava em meu peito. Como era possível sentir tanta felicidade de uma vez só e não explodir?

- Foi um erro, eu só podia dizer isso depois que recebesse um pedido adequado... – Respondi fazendo um falso bico que o fez rir e me beijar de novo até que meus lábios se separassem e eu esquecesse até mesmo porque eu estava fazendo um bico, para começo de conversa.

Quando Reita quebrou o contato, a missão de desfazer meu bico devidamente cumprida, ele se debruçou sobre mim novamente e voltou a me olhar nos olhos, dessa vez de forma mais séria.

- Namora comigo?

- Assim não vale, isso não é um pedido adequado! – Resmunguei, mas o sorriso idiota em meus lábios me entregava completamente.

- Verdade, você nem me deu um café da manhã antes, melhor eu repensar essa ideia e...

- Ei! – Nós dois rimos, e eu me agarrei ao pescoço dele, aceitando os beijos que ele voltou a distribuir pelo meu rosto. – Vai me pedir em namoro mais 30 vezes depois do café que eu vou preparar, espere pra ver!

- Eu vou pedir quantas vezes forem necessárias, com ou sem café... – Reita tornou a dizer, o rosto tão junto do meu que a ponta do nariz dele tocava o meu, e se antes já estava impossível tirar o sorriso idiota da minha, agora eu tinha certeza de que ele era mais definitivo do que qualquer tatuagem. 

- Seu bobo... – Murmurei, fechando os olhos e roçando meu nariz no dele em uma carícia terna e inocente. E então, com um friozinho gostoso se formando em minha barriga, eu tornei a falar: - Você só precisa pedir uma vez... É claro que eu aceito...

Não precisou de mais nada para que os lábios dele avançassem nos meus, ávidos, e eu o prendi contra o meu corpo com braços e pernas dessa vez, querendo sentir o máximo dele quanto eu pudesse naquele momento. Não faço ideia de quanto tempo ficamos ali trocando beijos, carícias e toques cheios de ternura e promessas.

Eu podia sentir o coração dele batendo rápido contra o meu igualmente acelerado, a respiração quente contra minha pele quando partíamos o beijo para recuperar o fôlego apenas para recomeçarmos tudo de novo logo em seguida.

Foi bem difícil querer levantar daquela cama depois daquele momento tão doce, mas o estômago de Reita voltou a roncar, e de alguma forma conseguimos nos separar para tentar dar algum rumo na vida – mesmo que esse rumo fosse só tomar um banho e colocar um robe, uma demonstração clara do quanto eu não planejava me mover daquele apartamento pelo resto do dia.

Eu tomei banho primeiro com a intenção de ir adiantar o café enquanto Reita tomava o banho dele. Teria sido bem mais interessante se tivéssemos tomado banho juntos, mas... totalmente contra produtivo, já que isso com certeza teria atrasado ainda mais o andamento da refeição. Que por sinal já estava mais do que atrasada, uma vez que passava das 11h quando eu saí do banheiro devidamente vestido com meu robe de seda favorito, de estampa de oncinha.

Robe este que claramente foi aprovado por Reita, que nem tentou disfarçar o olhar indiscreto quando eu voltei ao quarto para entregar uma toalha e um robe para ele. Confesso que a escolha daquele robe específico não foi apenas por se tratar do meu favorito, mas também porque era o mais curto que eu tinha, deixando um bom pedaço das minhas coxas à mostra. Depois dos acontecimentos da manhã eu desconfiava que Reita tinha alguma fixação por aquela parte do meu corpo - o que eu não achava nada ruim - e estava mais do que ansioso para testar se era verdade ou não.

E ele caiu direitinho na minha isca, fitando minhas pernas sem o menor pudor quando eu me aproximei dele para entregar a toalha e um robe preto – que era o maior que eu tinha, batia abaixo dos joelhos em mim, então deveria ficar um tamanho relativamente decente em Reita. Não que eu tivesse algum problema com indecências envolvendo Reita...

Para minha tristeza ele havia colocado de volta os shorts enquanto eu estava no banho e agora me privava da vista maravilhosa que era seu corpo inteiro nu. Mas talvez aquilo fosse até bom porque ao menos eu não perderia o foco novamente e talvez conseguisse chegar em paz na cozinha e começar de uma vez a preparar o café da manhã.

Talvez. Porque eu mal terminei de falar que ele podia ficar à vontade e usar o que quisesse no banheiro e ele estava me prensando contra a parede, as mãos firmes e fortes em minha cintura, e eu acabei derrubando os itens que segurava no chão.

- Rei-chan! – Exclamei, sorrindo, minhas mãos logo encontrando apoio no peitoral desnudo dele. – Assim a gente não vai tomar café nunca!

- Como você quer que eu me comporte com você aparecendo assim na minha frente? – Reita manteve uma mão na curva da minha cintura enquanto a outra descia lentamente pelo meu quadril por cima do tecido fino, me fazendo estremecer.

- Assim como? – Perguntei em tom falsamente inocente, meus dedos passeando pela pele do peitoral dele, subindo para o pescoço sem nenhum receio.

- Com essas pernas de fora... – Minha respiração falhou quando a mão dele parou sobre a minha coxa e a apertou, não tão forte para deixar marcas, mas o suficiente para me deixar bastante interessado em uma segunda demonstração.

- E o que tem minhas pernas de fora? – Continuei a provocação, meus dedos agora achando lugar nos cabelos da nuca dele, que eu puxei para que ele aproximasse o rosto do meu e eu pudesse deixar um beijo no queixo dele.

- Elas me deixam louco! – Reita apertou minha coxa novamente, agora um pouco mais forte, e eu só pude me desfazer em seus braços, gostando até demais do rumo que as coisas estavam tomando.

Pelo visto eu não era o único que estava adorando aquela quebra de barreiras entre nós. Até o dia anterior estávamos cheios de dedos, receosos de ultrapassar os limites invisíveis que havíamos imposto pelas tantas complicações de nosso relacionamento, mas agora... Era impossível que eu não me entregasse completamente a tudo o que eu estava sentindo, que me deixasse apreciar a forma tão sincera com que ele me desejava, e como ele parecia tão igualmente fascinado por essa nova liberdade de demonstrar todas essas coisas.

E era estranho e ao mesmo tempo tão bom me sentir tão desejado daquela forma, desejado em todos os sentidos. Eu estava adorando poder me entregar daquela forma sem receios, poder conhecer mais daquele lado de Reita, e não via a hora de conhecer mais e mais... e também de colocar tudo em prática! O que pelo visto, se dependesse dele, não demoraria muito a ocorrer novamente.

Reita continuou a demonstrar exatamente o quanto apreciava minhas coxas, pois não satisfeito em apertar apenas uma, logo sua outra mão desceu para a outra coxa. Tentei me conter, mas um gemido baixinho escapou por meus lábios e ele sorriu satisfeito com minha reação, logo repetindo o gesto, agora um pouco mais forte. Se continuássemos naquele ritmo, de fato não conseguiríamos sair daquele quarto nem tão cedo!

- Você tá tão safadinho, Rei-chan! – Brinquei, dando uma mordiscada de leve no queixo dele que lhe provocou um arrepio.

Porém, para minha surpresa, o que eu disse teve o efeito contrário do que eu pretendia. Imaginei que ele riria e responderia com algum outro toque provocativo, mas o que aconteceu foi que as mãos dele em minhas coxas travaram, e quando me afastei um pouco para que pudesse olhá-lo no rosto, ele parecia envergonhado.

- Desculpa, eu... – Reita começou, sem jeito, e eu levei a mão ao rosto dele, puxando-o para que me fitasse, minhas sobrancelhas franzidas em sinal de confusão. – Eu tô indo muito rápido, né? Desculpa...

- Reita, céus. Você...! – Eu não me aguentei e deixei um beijo estalado nos lábios dele, os meus logo se curvando em um sorriso bobo. – Você jamais precisa me pedir desculpas por isso, meu Deus! Tudo o que aconteceu aqui, tudo o que você tá fazendo... é perfeito.

- Taka... – Reita ergueu o olhar, parecendo mais confiante, e eu acariciei o rosto dele, encorajando-o a continuar. – É que é tão bom finalmente poder ficar assim com você, eu não consigo me controlar!

- E eu não quero que você se controle...

- Você... não acha ruim mesmo?

- É claro que não... muito pelo contrário... eu quero isso.... – Deslizei os dedos pelo rosto dele, sorrindo admirado com a capacidade dele de ser adorável mesmo em momentos com aquele.

E então Reita aproximou mais o rosto do meu e quando voltou a falar, os lábios roçavam nos meus e a respiração quente dele batia contra a minha pele, me provocando arrepios.

- Quanto mais eu te toco, mais parece que eu preciso tocar... acho que estou viciado...

Minha respiração até falhou ao ouvir aquilo, e eu senti meu corpo inteiro amolecer, as borboletas dançando em meu estômago. E lá vinha ele outra vez mudando de fofo a sedutor em menos de 2 segundos! Céus, como ele ousava falar aquelas coisas sem nem um aviso prévio? E será que um dia eu conseguiria não derreter inteiro ao ouvi-lo falar aquele tipo de coisas?

- Você quer acabar comigo? – Eu respondi, rindo enquanto meus dedos se enrolavam nos fios de cabelo da nuca dele, e agradeci imensamente pelas minhas costas estarem apoiadas na parede, impedindo que minhas pernas cedessem. Eu era incapaz de manter minha dignidade diante daquele homem, céus, minhas pernas chegavam até a amolecer apenas com ele falando!

- Só se isso significar uma coisa boa... – Reita riu também e juntou nossos lábios brevemente, em seguida beijando o canto da minha boca de uma forma tão carinhosa que me fez suspirar. Era incrível como ele conseguia me fazer estremecer com toques sensuais, e no instante seguinte me fazer derreter com sua voz doce e beijos ternos...

- Significa coisas ótimas... – Respondi, descendo minhas mãos pelos braços dele. Não sei de onde consegui tirar força de vontade para quebrar aquele momento, mas de algum modo consegui continuar a falar, em tom meio sério e meio de brincadeira. – Mas primeiro vamos nos ajeitar pra tomar café... e depois podemos falar mais a fundo sobre todas essas coisas ótimas!

- E podemos colocá-las em prática?

- O quanto a gente quiser... – Sorrimos um para o outro, os olhares ansiosos e cheios de promessas para aquele dia juntos, e enfim conseguimos nos separar.

Bem, pelo menos por alguns minutos.

Reita pegou a toalha e o robe caídos no chão e eu o acompanhei até o banheiro e indiquei que ficasse à vontade para usar qualquer coisa que quisesse, e depois segui para a cozinha, um sorriso enorme no meu rosto quando eu lembrava quem estava agora mesmo em meu banheiro.

Eu estava me sentindo tão bobamente feliz que mal conseguia me reconhecer. Eu tinha até me esquecido de Koron e seu passeio matinal, e agora o cãozinho estava se escondendo de mim debaixo da mesa de centro da sala como vingança pela atenção que eu havia negado a ele desde a noite anterior.

Nada que um pouco de maçã não resolvesse, então tratei de picar logo alguns pedaços e colocar perto do potinho de ração dele. Alguma hora ele viria atrás, e não era como se eu estivesse muito preocupado com isso no momento. Koron já era mimado por mim todos os dias, ele não ia morrer se eu dedicasse meus mimos a outro por um dia.

Coloquei logo a cafeteira para trabalhar, e em seguida fui investigar a geladeira, constatando que havia o suficiente para eu não passar vergonha e fazer um bom café da manhã. Separei uma toalha bonitinha para cobrir a mesa, e então comecei a levar os itens para dispor sobre ela: pão de forma, torradas, alguns frios, geleia e suco de laranja, para o caso de Reita preferir suco em vez de café, e os devidos talheres e utensílios.

Depois de organizar tudo adequadamente, voltei para a cozinha para preparar o que faltava: panquecas doces! Fiquei imaginando se Reita iria gostar... E se ele nem gostasse de panquecas? Será que ele não preferia um café da manhã mais tradicional? Eu imaginava que não, do jeito que ele gostava de comer bobeiras, panquecas pareciam o ideal para agradá-lo. Mesmo assim eu estava tão ansioso que quase esmaguei o ovo que segurava em minha mão, mas percebi a tempo de evitar uma desgraça, e quebrei-o corretamente dentro do liquidificador.

Eu estava mesmo completamente perdido, até cozinhar alguma coisa estava se provando uma tarefa difícil de tão desconcentrado que eu estava por todas aquelas coisas que eu estava sentindo.

Eu jamais imaginei que eu poderia me sentir dessa forma... eu que sempre havia construído aquele escudo de cinismo e ironia para me proteger das desilusões, ver-me assim tão entregue, tão transparente, era inteiramente novo e eu mesmo estava me estranhando. Mas quando eu pensava em me policiar, não baixar a minha guarda de forma assim tão completa, bastava um sorriso dele, um toque carinhoso, e eu estava ali, um perfeito idiota pronto para fazer o que ele quisesse...

Conforme as coisas entre nós progrediam, eu conhecia mais de Reita, mas também conhecia um lado meu inteiramente novo.

E isso me dava um medo imenso, será que eu merecia mesmo isso tudo? Será que eu podia mesmo me entregar daquela forma, me deixar aceitar o que ele me oferecia? Era tão estranho e assustador, e ainda assim... céus, como eu queria estar com ele, como eu queria que desse certo. Era inevitável... eu estava tão, tão perdido.

Eu já havia terminado de preparar a mistura das panquecas, que eu fritaria depois que Reita saísse do banho para que pudéssemos comê-las ainda quentinhas, e estava tão compenetrado em meus próprios pensamentos enquanto picava um pêssego que nem percebi que o barulho discreto da água caindo do chuveiro havia cessado.

E muito menos percebi uma aproximação sorrateira, até que mãos firmes tocassem minha cintura e uma voz sussurrada soasse tão próxima ao meu ouvido que o hálito quente tocava minha pele, me fazendo estremecer.

- No que você tanto pensa? - Eu quase dei um pulinho surpreso, mas Reita me manteve no lugar, prensando-me contra a pia. Eu derrubei a faca e o pêssego no susto, e ele pareceu achar graça naquilo, pois pude sentir os lábios dele curvados em um sorriso contra a pele do meu pescoço, onde ele aproveitou meu momento de desarme para depositar um beijo casto.

- Não ouvi você chegar, que susto!

- É a arte milenar dos ninjas, você mal pode ver meus movimentos!

Eu ri e virei a cabeça para que pudesse deixar um beijo no rosto dele, achando graça na piadinha boba e fascinado em como ele conseguia ser assim tão adorável. Mais uma vez meu coração batia rápido contra o peito, e não só pelo susto que havia acabado de levar, mas porque aquele parecia ser o estado normal do meu coração com qualquer coisa que envolvia Reita.

- Então além de ser de uma família de magos você também é ninja? Você não cansa de me surpreender!

- Tenho muitos talentos ocultos! – Ele permaneceu atrás de mim, os braços me enlaçando pela cintura e o queixo apoiado em meu ombro. Eu podia sentir o cheiro suave de sabonete e shampoo que exalavam dele, e saber que eram os produtos do meu banheiro só aumentava o sorriso idiota em meu rosto. - Mas desculpa, não quis te assustar.

- Tudo bem, eu só estava concentrado...

- Estava pensativo... – Reita retomou aquele assunto, me surpreendendo outra vez com sua capacidade de observação quando se tratava de mim, e isso nunca falhava em me deixar com um friozinho bom no estômago. – Coisas boas?

- Também... – Eu queria conversar sobre certas coisas com ele ainda, mas não enquanto eu cortava frutas e terminava de preparar o café da manhã, então tratei de mudar logo de assunto. – Você gosta de pêssego?

- Uhum! – Ele murmurou, parecendo confuso como se ainda quisesse dizer alguma coisa, mas não insistiu.

- E kiwi?

- Também!

- Ufa! - Respirei aliviado e tornei a pegar a faca abandonada sobre o mármore da pia.

- O que você tá aprontando? – Ele perguntou genuinamente curioso, espiando por cima do meu ombro enquanto eu continuava a cortar o pêssego.

- Panquecas! Com frutas e calda de chocolate. Você gosta?

- Panquecas doces? Eu amo, apesar de fazer muitos anos que não como! Mas nunca comi com frutas, só com porcarias... – Senti-o apertar um pouco mais as mãos em minha cintura, animado, quase me impossibilitando de me mexer. Sorri para mim mesmo, feliz por ter acertado que um café da manhã com bobeiras era a escolha ideal.

- Quer sem as frutas, então?

- Não, tudo bem. Tudo que você cozinha é uma delícia, pode fazer do seu jeito!

- Hmm, mas como você pode saber isso? Você só comeu minha lasanha até hoje...

- Que estava maravilhosa, então eu sei que estou certo!

- Assim você me deixa convencido...

- Só estou falando a verdade! - Percebendo que eu não ia mais rebater, Reita riu satisfeito consigo mesmo, como se tivesse “ganhado” a discussão, e depois disso ficou quietinho atrás de mim, me observando cortar os pêssegos e em seguida os kiwis.

E da mesma forma como ele havia ficado quando me viu tirar a maquiagem na noite anterior, era surreal como ele parecia plenamente contente apenas com isso, só ficar ali junto de mim enquanto eu fazia uma coisa tão banal e corriqueira quanto cortar frutas.

O que demorou bastante tempo, já que eu não parava de perder a concentração com seus toques leves em meu corpo, com seu peito colado em minhas costas e os beijos carinhosos que ele não parava de distribuir pelo meu pescoço e ombros. Só aquilo já era o bastante para me fazer perder a sanidade, sua respiração quentinha contra a minha pele, suas mãos firmes e carinhosas... E então, quando ele resolveu enfim voltar a falar, foi apenas para mais uma vez acabar completamente com a minha dignidade.

Reita havia levado uma das mãos ao meu pescoço, onde carinhosamente afastou os cabelos e o robe que cobriam aquela região, de forma a deixar minha nuca exposta. Eu já fiquei arrepiado por antecipação, esperando o toque de seus lábios ousados, mas foi então que ele exclamou, surpreso:

- Oh! – Eu tentei virar o rosto, confuso com aquela exclamação repentina, mas Reita se mexeu junto comigo, para que pudesse continuar olhando minha nuca, os dedos ainda mantendo meus cabelos afastados. – Espera, espera!

- O que foi? Caiu um bicho em mim? Ai meu deus, tira! – Tentei me mexer, nervoso, mas como ele estava rindo, tentei me acalmar um pouco, já que não devia ser uma coisa ruim.

- Calma, Taka, não é nenhum bicho! – Suspirei aliviado, enfim relaxando um pouco, e ele percorreu os dedos pela minha nuca, me fazendo estremecer.

- O que foi então? Que susto você me deu!

- Desculpa... É que tem uma pintinha aqui!

- Aí também? – Soltei um muxoxo contrariado. Por um lado eu estava agoniado, quer dizer que eu tinha mais dessas coisas se espalhando pelo meu corpo sem meu consentimento? Mas por outro lado... Lá vinha ele de novo com o amor pelas minhas pintinhas e aquilo era tão absurdamente fofo que o sorriso idiota já estava surgindo outra vez em meus lábios. E eu só queria gritar “Céus, Reita, saia da minha vida!”.

- Você não sabia dessa?

- Não...

- Isso significa que eu que descobri ela? – Foi impossível eu não sorrir com aquilo. Como ele podia ficar tão feliz por causa de uma marca esquisita no meu corpo? Reita era tão adorável que eu não conseguia aguentar. Só podia me amar de verdade mesmo, para achar até isso em mim bonito e reagir dessa forma tão feliz com uma “descoberta” dessas...

- Acredito que sim? – Respondi, sem graça, mais uma vez perdendo minha compostura e não sabendo muito bem como devia reagir com ele.

- Então essa pintinha é minha! – Ele riu orgulhoso, os dedos alisando minha pele, e ele estava quase conseguindo me fazer corar.

- Mas eu te disse... – Comecei, apertando a faca em minha mão de forma nervosa. Eu estava para dizer algo ridiculamente brega mas eu não conseguia me controlar, era mais forte que eu. – Eu te disse que elas são suas... todas suas...

- Mas essa é mais minha do que todas porque fui eu que descobri! – Reita exclamou animado, deixando um beijo em minha nuca e depois em minha cabeça, e eu estava me sentindo tão feliz e tão sem graça que não sabia nem o que dizer.

- Vai patentear a pintinha?

- Depois que eu descobrir outras, vou lá e dou entrada nos direitos autorais! – Ele brincou, me fazendo rir, e então levou a mão que repousava em minha cintura até o meu braço e indicou que eu soltasse a faca, que na verdade eu nem estava usando mais, só segurava como desculpa para não ter que encará-lo porque meu rosto devia estar vermelho e agora não tinha nem para onde eu fugir e esconder isso. – Você tá corando?

- Você é mestre em me deixar sem-graça, sabia? – Ainda tentei me esquivar, mas ele me fez largar a faca de uma vez por todas e girou-me no lugar, fazendo-me ficar de frente para ele com tanta facilidade que eu não tive nem chance de uma luta justa. – Ei, minhas mãos estão melecadas de fruta, vou sujar todo o seu robe!

Tentei disfarçar o assunto e não olhar direto no rosto dele naquele momento, com medo que meu rosto me traísse e eu corasse ainda mais, mas era impossível. Como raios eu estava ficando desse jeito, totalmente sem controle das minhas reações? Nem parecia eu mesmo!

- Você não gosta que eu te veja envergonhado? Isso é ruim? – E foi impossível não ceder àquele olhar genuinamente interessado e preocupado, então decidi que era melhor falar de uma vez por todas.

- É que eu... não estou acostumado com isso.

- Com isso o que?

- Estar... apaixonado. - Falei, depois de um longo suspiro. – Eu estou me sentindo um bobo, não sei como reagir e qualquer coisa me faz sorrir desse jeito! Nem parece que sou eu!

- Então é isso que está te preocupando?

- Sim... eu fico com medo que você me ache ridículo ou algo assim. Que eu esteja sendo grudento ou forçado, mas é que... Isso tudo é tão novo pra mim! Eu nunca senti isso antes... – Levei minha mão ao peito e segurei firme um punhado do tecido do meu robe, nem me importando com a mão cheia de kiwi que ia melecar tudo. – Parece que meu coração vai explodir quando eu estou com você. Como se tivesse um monstro brega querendo sair de dentro de mim pra falar um monte de coisas românticas!

- Taka, isso não tem nada a ver! Para mim é o total oposto de ridículo... – Para aumentar meu desconcerto, ele sorria de forma tão amável que fazia meu coração acelerar ainda mais. – O que foi que você me disse hoje mesmo, quando eu estava com medo de estar indo rápido demais?

- Que eu não queria que você se controlasse...

- Então. Eu não quero que você se controle também... Eu estou amando conhecer esse seu lado, e todos os seus outros que você ainda tem pra me mostrar. Eu quero conhecer tudo sobre você... – As mãos de Reita me seguravam firme, prensando-me contra a pia e contra seu corpo, e seu olhar fascinado me deixava quase sem ar. – E fico feliz que se sinta assim... Porque é como eu me sinto também. Isso é novo pra você, da mesma forma que é pra mim.

- Você também... se sente assim?

- Me sinto um idiota incapaz de tirar o sorriso da cara, e quando eu não estou tocando você, parece que falta alguma coisa em mim! E acho que estamos com o mesmo medo, de não saber reagir com essas coisas que estamos sentindo e que isso desagrade o outro... – Ele também não parecia ligar muito para a sujeira que minhas mãos cheias de frutas poderiam fazer, pois buscou ambas as minhas mãos com as suas e segurou-as firmemente, entrelaçando nossos dedos. - Mas eu me sinto da mesma forma, tem um monstrão aqui dentro de mim também que está doido pra rasgar meu coração e ir conhecer o seu!

- Você... você é mais ridículo que eu! – Eu ri bobamente e retribuí ao aperto dos dedos quentes nos meus.

- E eu não me importo nem um pouco! – Reita se inclinou o suficiente para me deixar um beijo carinhoso na bochecha e eu só pude suspirar e fechar os olhos, me entregando ao toque dele. – Você me deixa nas nuvens, e eu quero mostrar isso de todas as formas que eu puder!

- Hmm, fala isso mas não queria ir pra cama comigo... mentiroso! – Provoquei em falso tom de manha. É claro que era apenas uma provocação boba, eu entendia perfeitamente os motivos dele para tentar adiar as coisas, ir com calma. E se tudo havia ido contra os planos dele, a culpa era toda minha e da pressão que eu havia feito... mas era inevitável, e eu não me arrependia nem por um instante.

- Eu seria louco se não quisesse ir pra cama com você! Mas eu queria ir com calma, você não é só sexo para mim... – Não era a primeira vez que ele dizia aquilo, e eu sabia muito bem que era a mais pura verdade, mas mesmo assim ainda sentia um friozinho no estômago ao ouvir aquelas palavras. – Queria te mostrar o quão sério isso é pra mim...

- Eu sei... – Suspirei longamente mais uma vez, minhas mãos brincando perdidas no tecido do robe que Reita vestia. – Eu sei... e fiquei muito feliz com isso, mas eu só quero você comigo... se já era difícil ter paciência antes, depois de você me dizer aquilo eu não podia mais me controlar!

- Eu também acho difícil me controlar, mas eu quero fazer as coisas certas pra você ver que isso não é qualquer coisa pra mim... e que eu só quero te fazer feliz...

- E eu estou... muito!

- Me desculpa por todos esses problemas...

- Não precisa pedir desculpas de novo, eu entendo a situação... mas também quero aproveitar nosso tempo juntos...

- E vamos ter muito tempo ainda!

- Mas eu sou egoísta e eu quero todo o tempo que você puder me dar... – Puxei-o para junto de mim pela gola do robe que eu ainda segurava em minhas mãos, e ele se inclinou sem qualquer objeção, deixando que nossos rostos se aproximassem com facilidade.

- Eu amo seu lado egoísta...

- Já que você gosta, então eu quero todo o tempo que você puder me dar e o que não puder também! – Completei, brincando, e o sorriso dele não poderia ser maior naquele momento.

- O que você quiser... – Reita respondeu e juntou nossos lábios em um beijo lento e apaixonado, e por fim meu coração estava plenamente tranquilo e em paz.

Mais uma vez voltamos facilmente para aquele clima leve e gostoso de antes, e entre beijos e quase queimaduras – porque Reita não me soltava de jeito nenhum e era um pouco complicado cozinhar com um corpo grudado nas minhas costas – consegui de uma vez por todas fritar as benditas das panquecas. Com calda de chocolate caseira feita por mim porque eu não brinco em serviço, e as frutas por cima.

Era uma coisa de outro mundo ter Reita sentado à minha mesa para o café da manhã, vestindo um robe meu e ao mesmo tempo sentir como se aquilo fosse a coisa mais normal de se acontecer, de tão à vontade que estávamos na presença um do outro. No fim das contas, Reita tinha o estômago de uma criança de 12 anos e quis tomar leite em vez de café ou suco, e eu adicionei aquilo à lista de coisas adoráveis sobre Reita que eu estava gostando de descobrir.

Da mesma forma como da vez em que ele provou minha lasanha, eu fiquei olhando ansioso quando ele foi dar a primeira garfada nas panquecas em seu prato, depois de entupi-las de calda de chocolate, e sem nem perceber eu mordia os lábios em antecipação.

- Meu deus! – Reita exclamou depois de um tempo mastigando as panquecas de olhos fechados. - Posso comer essas panquecas pro resto da minha vida?

- Está bom?

- Bom nem começa a descrever! – Animado, ele continuou a comer a panqueca, quase melecando a cara nesse processo, e eu só conseguia olhá-lo com um sorriso idiota na minha cara. – Prova isso, está maravilhoso!

E para minha surpresa, ele fatiou mais um pedaço da panqueca, mas em vez de levar à própria boca, ele estendeu o garfo na minha direção, indicando que eu comesse, e aquilo realmente me pegou desprevenido.

- Mas eu já sei o gosto da minha panqueca! – Eu disse rindo, porém ele continuou insistente, o garfo quase encostando na minha cara.

- Não sabe o dessa de agora, nem comeu pra poder opinar! Prova, prova! – Eu cedi e abri a boca, deixando que ele aproximasse o garfo ainda mais, e comi o pedaço de panqueca que ele oferecia. Estava boa, como eu esperava da minha panqueca, mas aquele sorriso extasiado e orgulhoso nos lábios de Reita era melhor do que qualquer panqueca ou calda de chocolate que eu pudesse preparar.

- Acho que precisa de mais fruta na sua panqueca!

- Mas eu estou valorizando a sua culinária na minha panqueca, veja só, dei preferência para a calda!

- Valorizando nada, isso é só porque você tem aversão à saúde! – Retruquei, só então começando a cortar a panqueca em meu prato, enquanto Reita já praticamente acabava a sua sopa de calda de chocolate com uma panqueca no meio. – Eu cortei as frutas com tanto carinho e você ignorando elas...

- Nem estou, veja! – Ele apontou para o último pedaço de panqueca, onde havia uma minúscula e solitária fatia de pêssego, e eu ergui a sobrancelha em sinal de desafio e descrença.

- Fala a verdade... você não gosta de pêssego, né?

- Na verdade eu nunca comi... Só doces artificiais de pêssego! Esses são bons!

- Isso não conta! Você tá aí rejeitando sem nem ter comido, deixe de ser bobo! – E dizendo isso, eu mesmo coloquei meu garfo dentro do prato dele e espetei o último pedaço da panqueca com pêssego e tudo, e então estendi na direção dele da mesma forma que ele havia feito momentos atrás comigo.

Mas ao invés de tentar se esquivar e fugir do garfo, Reita apenas suspirou resignado, e quando seus olhos encontraram os meus, eles brilhavam e Reita sorria bobamente.

- Assim não vale, como eu seria capaz de recusar você dando comida na minha boca?

- Ah, isso quer dizer que se eu te der berinjela na boca você vai comer? Alface e tomate também?

- Não precisa usar as suas habilidades para o mal! – Eu nem respondi, me concentrei em observá-lo aceitar a panqueca com pêssego que eu estendia, me sentindo a pessoa mais ridícula e ao mesmo tempo sortuda do mundo naquele momento, por uma coisa tão corriqueira como tomar café da manhã... – Nossa! Caramba, isso aqui é bom!

- Viu? Tem que provar as coisas antes de falar que não gosta!

- Posso pegar mais?

Eu chacoalhei a cabeça, meu sorriso se alargando ainda mais, e foi dessa forma que Reita acabou comendo 12 panquecas – e só uma torrada com manteiga para não dizer que ignorou as outras coisas que eu tinha colocado na mesa – e nosso café da manhã seguiu daquela forma descontraída e incrivelmente doce. Não só por conta do chocolate!

Pois não perdíamos uma oportunidade de tocar o outro, como se fôssemos mesmo incapazes de manter uma distância física entre nós. Fossem nossas mãos se encontrando, ou os pés que não cansavam de se alisar por baixo da mesa discretamente, de alguma forma meu corpo estava em constante contato com o dele, mantendo sempre aquele friozinho gostoso em minha barriga e o sorriso em meus lábios.

- Esse realmente... foi o melhor café da manhã da minha vida. – Reita disse quando estávamos terminando e eu pensei em me levantar para lavar os pratos. Aquilo me fez sorrir, mas ao mesmo tempo estranhei o súbito tom sério na voz dele, que nada tinha a ver com o tom da conversa boba que estávamos tendo momentos atrás, sobre o jogo de futebol que Reita queria assistir e me obrigar a ver com ele, já que eu até tinha a camisa (embora eu só a tivesse comprado para usar de pijama e não soubesse absolutamente nada sobre o time...).

- Não precisa encher a minha bola, isso foi só um improviso! Ainda posso fazer melhor!

- Mas não foi apenas nesse sentido que eu quis dizer... É que... – Ergui uma sobrancelha e sustentei o olhar dele, indicando que continuasse. – Isso é algo que eu nunca tive antes, um café da manhã desse jeito. Feito com tanta dedicação para mim, pela pessoa que eu gosto e partilhar desse momento juntos...

Meu primeiro instinto foi querer falar “E a sua alma-gêmea? Vocês nunca tomaram café juntos? Ela nunca cozinhou pra você assim?”, mas acabei não falando isso, me segurando no último instante.

Foi só nesse momento que eu me dei conta de como apenas eu havia falado sobre meu passado até então, e não havia dado a oportunidade de Reita fazer o mesmo. Eu havia contado sobre ser um Zero, sobre quando isso havia acontecido, sobre aquela noite confusa e tudo o que eu sentia, e não tinha deixado que ele falasse sobre sua alma-gêmea e sobre o que ele estava sentindo. O que eu sabia sobre Reita e a situação dele, além de meias palavras que ele havia me dito num momento de discussão?

Eu estava sendo injusto... Embora aquilo fosse algo que eu preferisse ignorar, não querendo saber detalhes para me proteger de eventuais tristezas, Reita devia estar com coisas entaladas que ele queria me dizer, para que pudéssemos fazer isso dar certo. Então eu devia isso a ele, essa oportunidade de se abrir da mesma forma que eu havia feito.

E foi pensando nisso que eu busquei a mão dele por cima da mesa e, após entrelaçar os dedos dele nos meus e soltar um longo suspiro, eu perguntei:

- Você... nunca se apaixonou mesmo por ela?

- Acho que “eu me acostumei com ela” é uma forma mais exata de falar...

- Se você quiser falar sobre isso....

- Tudo bem pra você? – Senti seus dedos alisando os meus, o olhar observador sobre mim, e não pude deixar de me sentir grato por aquela preocupação tão palpável que ele tinha para com os meus sentimentos. Era impossível que eu não me sentisse triste pela situação que estávamos em nosso relacionamento, e pelo que havia acontecido pela nossa falha de comunicação, mas era visível o quanto ele se preocupava comigo e isso me tranquilizava.

Eu assenti positivamente com a cabeça, retribuindo ao toque leve de seus dedos e foi a vez dele de suspirar antes de tornar a falar.

- Sakie e eu nos encontramos pela primeira vez quando eu tinha 18 anos. – Reita iniciou, mantendo o tom sério de antes. – E nunca tivemos esse momento emocionante que todos dizem sentir quando encontram suas almas gêmeas, do tempo parecer parar e nada mais existir... Nosso relacionamento no começo era muito estranho, demoramos anos pra realmente nos conhecermos.

- Anos?

- Sim... É que Sakie é uma pessoa muito voltada para a carreira dela. Logo que nos conhecemos isso ficou bem claro pra mim, essa era a grande paixão dela. Hoje ela é uma tradutora e intérprete de prestígio, por isso está sempre viajando e mal para em casa. Mas quando nos conhecemos, ela ainda estava no caminho para conquistar esse sonho, e pra isso ela foi fazer um intercâmbio de dois anos na China.

- Espera... vocês tinham acabado de se conhecer e ela foi ficar 2 anos fora? – Interrompi a história, um tanto confuso quanto à ordem dos acontecimentos.

- Sim. Acho que uns 4 meses depois que nos encontramos?

- Nossa... 2 anos fora...! E vocês se encontravam durante esse tempo?

- Ela veio passar as férias de verão no Japão em um dos anos, mas fora isso não.

- Só isso?

- Sim... Mas bem, era o sonho dela, eu não podia pedir pra ela desistir disso por mim, seria egoísta da minha parte.

- Eu sei, eu não estou julgando nem nada do tipo. É só que sei lá, é estranho... se fosse eu... se no momento me dissessem pra ficar longe de você por dois anos assim, eu não sei se conseguiria. – Reita ergueu os olhos e me fitou, parecendo surpreso ao me ouvir dizer isso, e eu desviei o olhar um tanto quanto sem graça antes de completar apressado. – Não que eu esteja dizendo que a gente tem que ficar grudado o tempo todo ou algo assim! Mas ia ser muito difícil pra mim, eu...

- Eu entendo o que você quis dizer, porque eu me sinto da mesma forma. Eu não conseguiria ficar esse tempo todo longe de você! Os poucos dias que ficamos separados depois daquela confusão foram muito difíceis pra mim, eu nunca senti nada assim.

- Reita... – Senti-o apertar um pouco mais nossas mãos, e retribui colocando minha mão livre sobre a dele e acariciando-a.

- Se poucos dias me doeram tanto, eu não consigo nem imaginar anos longe de você! E é isso que me faz ter mais certeza ainda de como eu e ela nunca nos apaixonamos... Não foi difícil aceitar que ela ia ficar longe, não foi doloroso me separar dela por esse tempo. Mas se fosse você... eu daria um jeito pra que não tivéssemos que ficar longe assim tanto tempo, nem que eu tivesse que ir junto!

- E eu daria um jeito de levar você comigo, e se isso não fosse possível então eu não iria.

- Mas eu e Sakie nunca fomos desse jeito, e todo mundo achava isso estranho... Nós mesmos achávamos isso estranho, mesmo que... mesmo que gostássemos um do outro, nunca fomos uma prioridade para o outro, sabe? Sempre pareceu que outras coisas eram mais importantes do que nosso relacionamento.

- Eu entendo porque isso... Isso é meio que uma descrição exata do que foram os poucos relacionamentos mais sérios que eu tive. – Afirmei, e Reita me encarou surpreso. – Mas eu sou um Zero... e é assim quando Zeros ficam juntos. Não é como se não gostássemos uns do outros, mas também não amamos, é como se... faltasse alguma coisa. E aí alguma hora resolvemos cada um seguir seu caminho e é isso.

- É exatamente assim comigo e Sakie. Não é como se eu não gostasse dela, e ela não gostasse de mim... Mas sempre faltou alguma coisa, eu sempre senti isso e ela também, e nunca escondemos um do outro que nos sentíamos assim.

- Mas vocês são almas-gêmeas, como pode isso?

- Eu não sei...

- E vocês estão há tanto tempo juntos, como você pode ficar tanto tempo assim com uma pessoa que você não ama?

- Não sei, talvez achássemos que uma hora isso iria acontecer, que iríamos mesmo nos apaixonar, já que nossos contadores nos uniram.

- É como se estivessem juntos só por causa dessa decisão arbitrária, e não porque é o que realmente queriam...

Suspirei, ficando um pouco pensativo. Eu não entendia porque alguém poderia insistir tanto em um relacionamento que não funcionava, mas ao mesmo tempo... Eu sabia que eu pensava assim por ser um Zero, e isso mudava demais a perspectiva das coisas. Na situação de Reita, se eu tivesse uma alma-gêmea, provavelmente eu também teria tentado lutar e fazer isso funcionar de alguma forma. Porque almas-gêmeas sempre ficam juntas, então o normal seria lutar por isso... Mas então algo inesperado aconteceu. E esse algo inesperado era eu.

- Bem, é meio que isso mesmo... E eu achei que sempre seria assim.

- Mas então... – Comecei, mas Reita apertou um pouco mais minha mão, me olhando com um sorriso pequeno se formando nos lábios.

- Mas então eu conheci você... E você mudou tudo, você virou meu coração de cabeça pra baixo! E agora eu não consigo mais nem pensar em estar com outra pessoa que não seja você.

- Eu acharia isso a coisa mais absurda se eu não me sentisse da mesma forma... Até outro dia eu era um Zero e nunca consegui sentir nada por ninguém, mas agora... – Ambas as minhas mãos apertavam as de Reita, e um sorriso involuntário gêmeo ao dele se formava em meus lábios. – Você acendeu algo em mim que eu nem sabia que eu podia ter! Eu nunca achei que podia me sentir bobo dessa forma só com o fato de tomar café da manhã com alguém...

- E foi isso que quis dizer quando te disse que esse foi o melhor café da manhã da minha vida. É o fato de estar com você que muda tudo, a coisa mais corriqueira do mundo se torna a mais interessante só por ser você... – Ele então soltou uma de minhas mãos e eu acompanhei com o olhar quando ele a esticou para tocar meu rosto por cima da mesa. – Eu podia te assistir cortando frutas o dia inteiro e não ia me cansar...

- Então nunca foi assim com ela...?

- Nunca. – Fechei os olhos, cedendo ao carinho dos dedos quentes de Reita em minha bochecha. – Se depois de tantos anos isso não mudou, agora é que não vai mudar, muito menos agora que te encontrei...

- Não vai ser difícil se separar dela assim? Vocês estão juntos há tanto tempo... E se ela não aceitar? – Fiz enfim a pergunta que estava presa em minha garganta.

- Fácil não vai ser mas... eu não posso mais continuar vivendo um relacionamento de fachada como esse, não depois de enfim encontrar o que eu realmente quero. Eu não queria ter de magoá-la, mas não há outra saída. Eu não vou abrir mão de você.

- Reita... – Inclinei um pouco o rosto, de forma que meus lábios tocassem a palma da mão dele, e deixei um beijo na pele macia.

- Provavelmente vai ser estressante, mas é o que eu quero... Vai valer a pena, se é pra estar com você. A partir de amanhã eu já vou começar a olhar apartamentos...

- Olhar apartamentos? Como assim? – Perguntei, mesmo já sabendo qual seria a resposta. Então era como eu havia imaginado, eles moravam juntos... Era praticamente um casamento que eu estava acabando ali, e pensar isso me fez sentir todo o café da manhã querendo sumir do meu estômago.

- Bem, eu... eu e ela moramos juntos. – Eu desviei o olhar nesse momento, mas a mão de Reita que ainda segurava a minha apertou-a de forma um pouco mais firme. – Eu sei o que você deve estar pensando, e por favor, não pense dessa forma. Isso não é algo que vá me fazer mudar de decisão...

- Há quanto tempo vocês moram juntos? – Perguntei, ainda sem conseguir olhá-lo. - Vocês... compraram juntos?

- Acho que 3 anos? E sim... Mas isso não faz diferença, o fato é que eu não vou ficar mais lá. Se ela for ficar com o apartamento ou se formos vendê-lo, de uma forma ou de outra eu preciso começar a procurar um lugar novo e...

- Fica aqui. – Eu disse baixo, sem realmente pensar, e foi só com o olhar surpreso de Reita me encarando que eu percebi o que eu tinha acabado de dizer. “Ir com calma” pelo visto estava passando bem longe do meu dicionário naquela manhã.

- Taka... eu.... – Reita me olhava admirado, os olhos brilhantes, e parecia incapaz de continuar a falar, e por isso eu que emendei logo aquela besteira que eu havia acabado de dizer.

- Desculpa, eu acho que exagerei, eu...

- Não, não é isso! – Ele me interrompeu, soltando a minha mão e então levando ambas as mãos ao meu rosto, que ele segurou de forma carinhosa. – Eu só estou surpreso com o quão fácil seria dizer que sim. Simplesmente pegar minhas coisas e vir pra cá e ficar com você, não tem... não tem nada que me faria mais feliz do que isso.

- Mas... isso seria ir um pouco rápido demais, né? – Me prontifiquei a dizer, segurando as mãos dele em meu rosto e acariciando-as delicadamente. – Me desculpa, eu não quis te pressionar...

- Não me pressionou, não tem porque pedir desculpas... Mas parece que eu é que estou te colocando contra a parede aqui, e eu não quero... estragar as coisas indo rápido demais. Não é justo com você, esse é um passo que precisamos tomar naturalmente, juntos, e não assim apressados. Embora isso seja algo que eu queira muito, poder ficar assim com você todos os dias... - Eu sorri com aquele cuidado todo que ele tinha comigo, e era incapaz até pensar em me chatear vendo toda aquela preocupação dele.

- Eu gostaria muito disso também, mas eu entendo onde quer chegar... Obrigado por se preocupar... Vamos fazer isso ao nosso tempo. – E sem conseguir me conter mais, levantei-me da cadeira em que estava sentado de frente para Reita, e cortando a distância entre nós, sentei-me sem cerimônias em seu colo, lançando os braços ao redor do pescoço dele. – Só não vai se mudar pra muito longe... – Resmunguei, quase em tom de manha, e logo as mãos de Reita estavam uma em minhas costas e a outra sobre uma de minhas coxas, tentando me ajudar a achar uma posição boa sobre suas pernas.

- Claro que não, eu seria incapaz... – Senti a mão atrevida dele deslizar por minha coxa por baixo do tecido leve do robe, me provocando um arrepio gostoso na espinha, e eu sorri, meus dedos encontrando lugar entre seus cabelos ainda úmidos e com o cheiro do meu shampoo.

- Mas você pode ficar aqui enquanto não acha um lugar. Isso deve demorar um pouco, não? Até lá ela já vai ter voltado...

- Talvez... – Reita alisou minhas contas, ponderando. – Eu nunca sei quanto tempo ela vai ficar fora, às vezes é 4 dias, às vezes 4 semanas.

- Quanto tempo! – Exclamei, surpreso. Está bem que pelo visto o trabalho dela era algo que exigia viagens constantes, mas... Considerando a dinâmica estranha do relacionamento deles, mesmo sabendo pouco sobre isso, a impressão que eu tinha era de que essas viagens eram uma forma de escape. E eu não me surpreenderia se esse tempo todo ela estivesse mantendo outras relações... Porém guardei aquele pensamento para mim naquele momento.

- Bem, é o trabalho dela. Eu meio que me acostumei com isso, é mais importante que qualquer coisa... – O rancor era claro na voz séria de Reita, e eu rapidamente me lembrei do telefonema entre ele e a tal Sakie mais cedo, e como ele parecia irritado com o fato de ela menosprezar a importância do trabalho dele. Foram trocadas poucas palavras, mas foi o bastante para perceber que isso era um problema grande e mal resolvido entre eles. Obviamente era um assunto delicado, e eu decidi que era melhor não entrarmos tão profundamente nessa questão naquele momento.

Ele já tinha tantas preocupações na cabeça, o término de seu namoro de 8 anos, a perspectiva de ter que mudar tantas coisas em sua rotina, o início de algo novo e desconhecido que nenhum de nós sabia ao menos começar a explicar... Reita estava determinado e apostando tudo em mim e no que estávamos criando ali, e no que dependesse de mim eu queria fazer com que tudo fosse o menos estressante possível. Já havíamos tido stress o bastante, afinal...

- Não é mais importante do que você. – Eu disse firme, olhando-o diretamente nos olhos, que brilhavam daquela forma intensa e apaixonada que fazia minhas pernas fraquejarem. E eu soube que havia dito a coisa certa pois no instante seguinte tive meu corpo envolvido em um abraço exigente e meus lábios tomados em um beijo intenso e quente.

E eu tive mais certeza ainda de que não havia lugar em que eu quisesse estar mais do que naqueles braços quentes que me envolviam daquela forma tão carinhosa, tão protetora.

- Eu te amo tanto... – Reita sussurrou ao partir o beijo, com os lábios ainda tocando os meus e nossas testas unidas roçando uma contra a outra.

E talvez eu nunca me acostumasse a ouvir aquelas palavras, ainda parecia uma situação irreal, algo de outro mundo. Eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, meus olhos se encherem de lágrimas e meu coração querer saltar para fora do peito com a simples menção daquelas pequenas palavras que para mim significavam o mundo ao serem proferidas por aquele que me segurava em seus braços.

Segurei o rosto dele com ambas as mãos e o mantive junto ao meu, tocando o nariz dele com a ponta do meu em uma carícia delicada e gentil, vez ou outra deixando selinhos nos lábios avermelhados pelo beijo que havíamos acabado de trocar.

- E eu amo você... – Eu disse enfim, suspirando contra o rosto dele enquanto suas mãos descreviam carinhos distraídos em minhas costas. – E minha proposta é séria, enquanto a situação não se resolve e se você quiser, você pode ficar aqui o tempo que precisar...

- Eu não quero te incomodar ou te pressionar...

- Eu sei que não está me pressionando. Digo isso porque eu sou só um aproveitador egoísta, e assim é mais fácil eu te beijar desse jeito sempre que eu quiser. – E dizendo isso foi minha vez de tomar os lábios de Reita com os meus.

Eu ditei o ritmo lento daquele beijo e ele deixou que minha língua calmamente explorasse cada canto de sua boca, de seus lábios inchados, sua língua obediente retribuindo aos meus toques na mesma intensidade lenta e envolvente. Eu podia sentir a respiração quente começar a acelerar contra minha pele, e de forma provocativa desci uma das mãos que segurava o rosto dele pela extensão de seu pescoço, lentamente arrastando as unhas pela pele macia até o peitoral. Sem qualquer pudor, coloquei a mão por dentro do robe dele, da mesma forma que ele havia feito momentos atrás e deslizei os dedos pela pele quentinha, adorando testar as reações dele, a forma como seu corpo estremecia a cada toque mais atrevido de meus dedos...

Sua língua antes paciente passou a exigir mais da minha e logo era eu quem cedia e deixava que Reita fizesse o que bem entendesse com os meus lábios, seus dedos pressionando a minha pele de minhas coxas cada vez mais forte por cima do tecido do robe.

E foi impossível não perceber um certo volume começando a se formar e roçando diretamente contra minha coxa, deixando pouco espaço para imaginação, uma vez que eu estava sentado bem no colo dele... E não que minha situação fosse muito diferente, aquele beijo, aqueles toques provocativos já estavam me tirando completamente o controle.

Não que quiséssemos manter algum tipo de controle. Qualquer pensamento sobre coisas desagradáveis foi mandado para bem longe com aquele beijo, e não foi preciso de muito mais para que nossas mãos estivessem em todos os lugares do corpo do outro, explorando, provocando.

Apesar do medo claro de Reita de me machucar ao me tocar novamente de forma íntima assim tão rápido, estávamos na mesma sintonia, envolvidos completamente no calor um do outro... E foi daquele jeito, buscando conhecer ainda mais um do outro, que passamos o resto daquele domingo sem pressa, esquecendo-nos de tudo que existia ao nosso redor.

E mesmo com toda aquela euforia e felicidade por tudo o que havia acontecido e mudado em minha vida nessas últimas horas, no fundo da minha mente uma outra sensação começava a se formar, pequena porém intensa.

Uma sensação muito forte e incômoda de que eu estava deixando algo passar, de que tinha alguma coisa muito óbvia que eu não estava vendo... E de que ainda teria muita coisa pela frente e que momentos complicados ainda viriam. Mas enquanto esses momentos não chegavam, eu iria aproveitar essas novas sensações com tudo que eu podia.

O aqui e agora, um passo de cada vez.


Notas Finais


Eu diria que esse é um capítulo meio que de transição?
Por favor não me matem, certas coisas importantes foram colocadas em perspectiva, e outras... Bem, tem que continuar lendo pra saber. Hehe!


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