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História CLOSED EYES - Quatro


Escrita por: luvchimchimm

Notas do Autor


oii gente que tá lendo essa fanfic!
aparecendo aqui nas notas iniciais pela primeira vez pra dar alguns avisos sobre esse capítulo que tá um pouco diferente dos outros.

primeiro: nesse capítulo eu tentei fazer uma linha do tempo um pouco diferente então acho que possa estar meio confuso.
mas acho que dá pra entender, é só prestar atenção que quando o texto estiver em itálico, quer dizer que é um flashback de algo que já aconteceu!!! do mesmo jeito, quando o texto voltar ao normal, estamos de volta ao presente.

enfim, espero que dê pra entender o que eu quis passar.

segundo: esse trecho no começo do capítulo é a música que vai tocar em um momento importante do capítulo, vocês vão saber a hora de começar a escutar quando aparecer uma florzinha rosa.

agora chega já de tanta falação, já avisei tudo que tinha pra avisar.
espero que gostem desse capítulo porque eu gostei muito de escrever ele.

boa leitura 💛

Capítulo 4 - Quatro


Fanfic / Fanfiction CLOSED EYES - Quatro

 

All we are

We're distant stars

Lost in the dark

I know how to part

Searching high

And low for life

A paradise

A light in your eyes

 

I knew it's you

It's true

(Holy Ground - Banners)

 

Tudo o que aconteceu no resto da manhã foi um borrão para Jimin, ele não conseguia pensar em mais nada senão nas palavras da enfermeira. As aulas, os professores perguntando como ele estava, alguns curiosos o encarando,  não notou nada. Não notou, inclusive, o desânimo de Hoseok.

Desde que saíram da enfermaria, o garoto, normalmente animado e falante, estava calado e reflexivo. E isso passou despercebido por Jimin a manhã inteira mas, na hora do almoço, ele reparou.

- Hobi, tá tudo bem? - chamou, mas não obteve resposta - Hobi? Hyung? - falou abanando as mãos na frente do rosto do amigo e só assim ele pareceu sair do transe.

- Oi? O que foi?

Jimin viu no rosto de Hoseok que algo estava errado mesmo sem ele precisar falar algo.

Ele desconfiava do que se tratava e sabia que, se fosse mesmo isso, o amigo faria de tudo para fingir que estava tudo bem. Como sempre fazia.

Justamente por saber de tudo isso, não se surpreendeu quando viu o mais falso dos sorrisos surgir nos lábios de Hoseok. O riso fraco e de boca fechada inflava suas bochechas, mas não chegava até seus olhos que estavam tempestuosos e um pouco marejados.

- Perguntei se você tá bem.

- Eu... Tô.

Hoseok hesitou por milésimos de segundo e seguiu tentando sustentar a expressão de felicidade no rosto. Se precisasse de mais alguma confirmação de que não estava tudo bem - o que não precisava - Jimin havia acabado de recebê-la.

- Hosek, eu te conheço. Você sabe disso né? Eu conheço você. - Jimin falou, tomando a mão de seus amigos nas suas. - Eu sei que não tá tudo bem e você pode admitir isso às vezes.

O outro não respondeu, apenas desviou o olhar e virou o rosto no momento em que seus olhos começaram a ficar avermelhados e ele sentiu o familiar nó na garganta. Tentou esconder de Jimin sua expressão, mas seu aperto se intensificou nas mãos pequenas do mais novo.

- Hobi...

- Não, Jimin. Eu tô bem, sério. - falou, mas foi traído pela voz embargada e pelas lágrimas finas que rolavam pelo rosto bonito.

- Para com isso, Hoseok. Você vive me dando sermão então eu acho que agora você tem que me escutar um pouco.

Jimin olhava nos olhos do mais velho e usava seu tom de voz firme, tentando passar segurança. Segurança essa que nem ele mesmo tinha. Ainda não se sentia bem, sua mente ainda estava girando em torno das palavras que ouviu e da certeza de que não podia mais se esconder do que tanto fugia.

Seus pensamentos se voltaram para mais cedo, quando estava tonto e sentado na cadeira dura da sala fria. Se lembrou do que lhe foi dito.




 

- Mas antes de tudo eu preciso saber, Jimin, você já teve sua primeira Visão?

Nesse momento Jimin sentiu seu estômago se revirar e a bile subir até sua garganta. Ele tentava tanto não pensar nisso. A mera menção à Visão o deixava desesperado.

Ao seu lado, o corpo de Hoseok inteiro se tensionou e ele engoliu em seco, mas Jimin não notou.

Jimin não conseguia pensar em mais nada além da palavra "Visão". Ele sabia que chegaria o dia em que precisaria lidar com isso e, não muito tempo atrás, havia tido a sua primeira no dia do seu aniversário de 18 anos.

Ele se lembra de estar sentado na biblioteca da escola, escrevendo algo sobre a aula de literatura em seu caderno quando, aos poucos, sua visão começou a ficar embaçada e foi se transformando. Nesse momento ele não se desesperou, era o dia do seu aniversário e ele já sabia o que estava acontecendo. 

Os livros dispostos na mesa espaçosa de repente deram lugar à uma janela grande que tinha vista para um jardim simples. Jimin reconheceu o que seria o segundo andar de algum lugar e sabia que alguém estava olhando por essa janela.

Ele viu a grama verde sob o céu limpo e bem azul. Viu a brisa leve movimentar as folhas de algumas árvores e viu a luz do sol de fim de tarde banhar tudo com um brilho dourado.

O dia estava lindo, mas Jimin não tinha percebido até agora.

O olhar então deixou a janela e se voltou para baixo, onde encontrou um caderno de desenho e mãos habilidosas que cobriam a folha com traços delicados, retratando perfeitamente a paisagem que via.

Jimin não deixou de reparar nas mãos que trabalhavam agilmente. Ele, na verdade, ficou hipnotizado por elas.

Mãos fortes com veias saltadas e azuladas. Anéis enfeitavam alguns dos dedos longos e uma pulseira fina caía delicadamente sobre o pulso direito.

Então o olhar se voltou para cima mais uma vez e lá estava o jardim novamente.

A paz que o invadia ao olhar para aquele jardim era inexplicável. Jimin nunca tinha se sentido assim. Fugindo de seu controle, seu coração estava acelerado. Queria olhar aquela imagem pra sempre, mas sabia que seu tempo estava acabando. E sabia que não podia querer essas coisas.

Mesmo assim, começou a reparar em tudo o que os olhos podiam ver. Tentou gravar cada detalhe em sua mente.

E a última coisa que viu antes de voltar à biblioteca foi um pequeno aglomerado de cores no qual não havia reparado antes.

Logo antes de voltar ao seus olhos, Jimin viu flores.

As lembranças de sua primeira Visão, quase um ano atrás, passaram como um flash por seus pensamentos, assim como as outras duas que teve. Nunca teve nenhum indício de quem poderia ser o garoto que visitava nesses momentos e, sinceramente, ele não queria ter.

Em todas as vezes que viu através de seus olhos, Jimin se sentiu bem. Se sentiu em casa. E esse sentimento o assustava. Seu coração se apegava aos pequenos momentos em que conheceu a realidade da sua alma gêmea, mas sua cabeça sabia que não devia. Não podia se apegar a algo que nunca poderia ter.

Não podia confiar na Visão.

Por isso esse sempre foi um assunto deixado de lado para Jimin. Ele nunca quis ter uma Visão, nunca quis fazer parte disso. Nunca acreditou que era real simplesmente porque nunca teve motivos para acreditar.

Seus pais, unidos pela visão, nunca foram felizes.

Então seu pai foi embora e, entre muitas coisas, levou com ele qualquer flagelo de esperança que Jimin ainda mantinha na Visão que selava seu destino.

E ele fugiu. A vida inteira se escondeu disso. Sabia que seu dia iria chegar mas evitou pensar nisso e evitava até hoje.

A voz da enfermeira o chamando suavemente o despertou de seus pensamentos.

- Jimin, você está bem?

- Eu... eu to sim. - falou com dificuldade por conta da garganta seca. - O que você disse? Sobre a Visão...

- Ah, sim. Bom, como eu falei, é algo raro de se acontecer mas eu acho que pode ser o que está acontecendo com você. - ela falava devagar - A Visão se manifesta de maneiras diferentes para cada um e, dependendo da força da ligação entre as duas partes do fio, a configuração de como ela acontece muda bastante.

Sentado do lado de Jimin, ao ouvir essa última parte, Hoseok estremeceu e se remexeu em seu assento. Mas Jimin, novamente, não percebeu.

- E como isso tem relação com o que eu estou sentindo? - Jimin perguntou exacerbado, ansiando por uma resposta e por dar fim a esse assunto.

- Eu já estava chegando nesse ponto. - sorriu de maneira compreensiva - O normal é, como você sabe, que nunca saibamos quando as Visões estão acontecendo. Mas quando a ligação entre as duas almas é muito forte, alguma ou ambas as partes conseguem sentir quando o outro está vendo através de seus olhos. Quando está vendo ou quando está prestes a ver.

Nesse momento Jimin sentiu o pânico tomar conta de si.

- O que você sentiu, todos esses sintomas, sinalizam que sua outra metade ainda não te conhece, mas está prestes a conhecer.

Jimin negava repetidas vezes com o coração acelerado. Milhares de pensamentos passavam pela sua cabeça e ele não conseguia colocá-los em ordem. Estava uma bagunça.

- Considerando que você nunca sentiu isso antes, é provável que hoje seja a primeira vez que sua alma gêmea venha te visitar. - a enfermeira continuava falando com seu sorriso aumentando cada vez mais. Provavelmente achava que isso fazia Jimin feliz, mas cada palavra que saía de sua boca só o fazia ficar mais desesperado. - É algo bem especial.

- E eu... eu vou sentir isso sempre? Todas as vezes? - perguntou, a voz saindo em um fio.

- Provavelmente sim. Talvez algumas vezes você sinta de maneira menos agressiva. Pode mudar ou pode continuar desse jeito. Como eu mencionei, pode ser inconveniente por conta dos sintomas, mas é algo muito especial.

Nada disso é especial, Jimin pensou.

Ele só queria que isso não estivesse acontecendo com ele. Porque logo ele? Logo ele que queria esquecer que essa coisa de Visão sequer existia tinha que ser para sempre lembrado de quando ela estivesse por vir.

Logo ele que não queria ter motivos para criar esperanças.

Logo ele que tanto fugiu de tudo isso. 

 

- Hoseok, - Jimin falou, voltando à realidade - eu sei que esse não é um assunto do qual você gosta de falar. Você sabe que eu, mais do que ninguém, entendo você.

Hoseok não o olhava nos olhos, mas Jimin podia ver as lágrimas rolando pelas bochechas do outro.

- Jimin...

- Não, hobi, eu ainda não terminei. - falou erguendo suavemente a mão no ar, impedindo o mais velho de continuar falando - A minha vida toda eu sempre fugi da Visão, você sabe disso. Falar disso me deixa mal porque eu sempre fugi. Mas eu fugi porque nunca quis isso para mim. Só que você quer, você sempre quis.

Um soluço doído escapou dos lábios de Hoseok, que chorava baixinho, com o rosto voltado para baixo, encarando a mesa do refeitório. Sua respiração estava trêmula e, quando ele voltou seus olhos para Jimin, estes estavam vermelhos e molhados. Banhados de lágrimas e dor.

Falar da Visão sempre o machucava muito.

Ele se lembra de querer isso desde sempre. Queria tanto.

Nunca ansiou por uma grande história de amor como a que via nos filmes que gostava de assistir. Ele só queria a simplicidade, estaria perfeitamente feliz com ela. Queria amar e ser amado, só isso.

Justamente por não ter muitas expectativas, doeu mais ainda quando as poucas que tinha foram quebradas.

Doeu quando aconteceu e não teve nem mesmo o pouco que esperava.




 

Na noite antes de seu aniversário foi dormir com o coração acelerado, bombeando sangue e esperança para todo o seu corpo. Sabia que sua primeira Visão estava por vir.

E ela aconteceu na mesma noite.

Nos seus sonhos, encontrou o mundo através do olhar de outra pessoa.

Diante de si, surgiu um corredor escuro. Ele andava pelo corredor mas não via nada à sua frente. De repente parou de andar, uma luz se acendeu e ele se viu cercado por espelhos.

Quando voltou os olhos para o espelho que estava bem em sua frente se espantou pois a imagem que estava no reflexo não era a sua.

Era a imagem de uma das pessoas mais bonitas que já viu na vida.

Ele não conseguia parar de olhar e tentar perceber cada detalhe daquele rosto que lhe causava fascínio.

Os olhos expressivos e rosto angular encaravam sérios o espelho e Hoseok sentiu seu coração saltar uma batida ao ver a mudança de expressão que aconteceu quando a figura abriu um sorriso quadrado.

Ele quis acordar só para ir encontrá-lo, onde quer que ele estivesse.

Então Hoseok se viu - o viu - erguer uma das mãos e tocar o próprio reflexo. O sorriso não deixou seus lábios mas se tornou mais brando, sem mostrar os dentes . Ainda igualmente lindo.

Hoseok reparou em tudo. Nos dedos longos que tocavam o vidro, no pulso fino e na pequena tatuagem que brotava pelo fim das mangas de sua blusa.

Ele queria conseguir vê-la totalmente.

Mas a camisa cobria parte do antebraço e só uma parte das letras delicadas estava visível. Tudo o que ele via era uma o começo de uma única palavra. Tudo o que ele conseguiu enxergar foi o começo de um nome:

Tae.

Tão rápido quanto entrou nesse sonho, saiu dele. Ele acordou no meio da noite e não conseguiu mais dormir. Guardou as imagens dele em sua cabeça, as imagens de quem só poderia ser a sua alma gêmea.

Passou a noite em claro repassando vez atrás de vez tudo o que viu durante o minuto que vivenciou nesse sonho. Rolando na cama e rindo, ele prometeu para si mesmo lembrar de mais coisas da próxima vez, guardar mais detalhes.

Mas a próxima vez não chegou.

Quando viveu sua Visão pela segunda vez, tudo estava diferente. Meses depois abriu os olhos para enxergar através dos olhos de Tae, mas não foi ele quem encontrou.

O olhar estava voltado para uma mesa farta de jantar, com muita comida e talheres demais postos ao lado dos pratos.

A primeira coisa em que reparou foi na mão que segurava o garfo e mexia distraidamente na comida. A pele branca e de aparência macia contrastava totalmente com a imagem que tinha de uma pele amorenada de quando viu Tae erguer a mão para tocar o espelho.

Os olhos então se voltaram para cima e passearam ao redor da mesa, vendo as poucas pessoas que comiam caladas e com expressões sérias em seus rostos. 

Ele então ouviu uma voz grossa e baixa falar:

- Com licença, preciso ir ao banheiro.

Então se viu levantar e passar por um corredor mal iluminado que parecia interminável. Nas paredes via inúmeros quadros dispostos com fotos de uma família sorridente.

Caminhou por mais um tempo e viu quando o olhar se abaixou para uma maçaneta que abria uma porta, revelando um lavabo espaçoso e com iluminação elegante. Então o destino pareceu lhe pregar uma peça quando, mais uma vez, ele se viu diante de um espelho.

Quando, mais uma vez, o reflexo que viu não era o seu.

O olhando, estava uma figura totalmente diferente da que viu na primeira vez em seus sonhos.

A pele clara contrastava com os cabelos bem pretos e os olhos felinos, que encaravam a imagem refletida, pareciam cansados.

Hoseok viu quando ele abriu a torneira e se abaixou para juntar um pouco de água nas mãos, jogando no rosto logo em seguida. Suspirando, ele pegou uma toalha e começou a se secar. O contato visual que ele mantinha com a própria imagem era tão intenso que fez algo se revirar dentro de Hoseok.

Sem entender o que sentia, o garoto apenas se percebeu com o coração acelerado e com um frio inexplicável na barriga.

O olhar então se voltou para baixo, observando as mãos que apertavam a toalha e se apertavam uma contra a outra. Então Hoseok reparou na tatuagem que cobria o dorso da mão esquerda.

Havia uma lua enorme e muito bem detalhada, desenhado com precisão na pele branca. E no canto da lua, presa ao chão, estava uma bandeira erguida em um mastro. Mas o que chamou sua atenção era o fato de ter algo escrito dentro dela.

Escrito no centro da bandeira estava um número de telefone seguido por um nome:

Min Yoongi.

 

- Eu entendo que tudo isso seja muito confuso pra você, hyung. Entendo você não entender. - Jimin falou, sorrindo suavemente, estendendo as mãos para tocar o rosto de Hoseok e, com os polegares, secar suas lágrimas. - Mas não acho que você deva desistir. Tem alguém aí destinado à você, e essa pessoa é a pessoa mais sortuda desse mundo.

Hoseok negou com a cabeça e respirou fundo, suspirando pesadamente.

- Você sabe que eu não quero desistir, Jimin. Eu sempre quis isso, é verdade. Mas como eu posso ir atrás de algo se isso não faz nenhum sentido para mim? Já foram quatro Visões e elas sempre se dividem entre dois cenários diferentes. Eu não consigo entender. O que tem de errado comigo?

O mais velho não havia parado de chorar e encarava a tatuagem que se destacava na pele de seu braço magro. Se sentia tão triste quando olhava para ela. Ali, marcado em sua pele, o que antes era o símbolo de sua esperança, se tornou um lembrete do seu fracasso.

- Não tem nada de errado com você, Hobi! Nada mesmo. Você ouviu o que a enfermeira falou, a Visão se manifesta de maneiras diferentes. A gente só precisa entender o que tá acontecendo. Por isso que você não pode desistir. Tem alguém que tá te vendo, alguém que tá esperando por você. E vocês vão se encontrar.

- Mas aí que tá o problema, Jimin. - respondeu, fungando - Não é só um alguém. São dois. São sempre dois.

- E o que tem de errado nisso?

- Tudo, Jimin, tudo! Não é pra ser assim. Ninguém tem duas almas gêmeas.

- Que idiotice, Hoseok. Quem disse isso? Onde que tá escrita essa regra? Nem todo mundo é igual. Às vezes você só precisa dar uma chance ao que o destino tem reservado pra você.

Hoseok suspirou e ficou calado, não deixando de reparar a ironia na fala do mais novo que dava conselhos que nem ele mesmo seguia.

- Você não precisa entender tudo agora, Hobi. Provavelmente os outros estão passando pela mesma coisa e estão tão confusos quanto você. Você precisa ficar em paz com isso para encontrar eles. Só assim vocês vão entender isso tudo e vão conseguir se resolver.

- Você acha? Que pode dar certo, eu quero dizer. - perguntou receoso, a voz baixa e manhosa por conta do choro.

- Se vai dar certo eu não sei. Mas o que eu sei é que você é um cara incrível, com um coração enorme. Tenho certeza que aí dentro tem amor suficiente pra dar pra quem for preciso.

Jimin sorriu e afagou os ombros de Hoseok. Podia senti-lo mais calmo, sentia a nuvem de pensamentos confusos se dissipando ao menos um pouco. Sempre era tão cuidado pelo seu hyung que gostava de quando, em raras ocasiões, podia cuidar dele também.

Hoseok retribuiu o sorriso do amigo e afastou as mãos alheias de seus ombros para poder segurá-las. Respirou fundo e falou com cautela, tentando passar ao outro a mesma calma que foi passada para si.

- E você, Jimin? Fiquei tão dentro da minha própria cabeça que nem levei em consideração como você deve tá se sentindo. Me desculpa. Como você tá?

Dessa vez Jimin foi quem desviou o olhar e deixou seus ombros caírem. Seus pensamentos voltando para tudo o que havia descoberto. Ele estremeceu.

- Você sabe que é difícil pra mim. - falou com a voz baixa - Eu não quero isso, não queria pensar nisso. Agora eu vou sempre ser lembrado que tem alguém aí esperando por mim quando eu sei que nunca vou poder aparecer pra ele.

- Jiminie, você deveria escutar seus próprios conselhos às vezes. Devia dar uma chance ao destino. Sei que já falamos disso umas mil vezes e sei o que você pensa a respeito disso tudo. Mas você não pode fugir disso. Não dessa vez.

- Não, Hoseok. Não é tão simples assim pra mim. Nada é. Eu sei que não daria certo. Eu só ia decepcionar ele e-

- E você acha que deixá-lo no escuro, esperando pra sempre por alguém que está, literalmente, fugindo dele vai fazê-lo feliz? - interrompeu a fala do amigo antes que ele pudesse continuar - Isso é pior, Jimin. É injusto com ele, você sabe disso.

- Eu sei. Você não precisa me dizer isso. Você acha que não me sinto mal sempre que penso nele sozinho? Quando penso nele esperando por mim? Eu me odeio por isso. Me odeio por me esconder assim. Mas, porra, pior ainda seria se eu selasse o destino dele o fazendo ficar comigo. Não ia dar certo pra mim, eu sei que não. E isso sim não seria justo com ele. - falou exacerbado. Seu peito subia e descia rapidamente tentando acompanhar o ritmo da respiração descompassada. Os olhos estavam marejados e a pontinha do nariz avermelhada, mas ele se recusava a chorar por isso mais uma vez.

Hoseok sabia que não podia mais fazer nada. Nada do que dissesse seria capaz de mudar a mentalidade de Jimin. E nada o deixava mais triste do que ver que o amigo tinha tanta dificuldade em enxergar o quão incrível ele era.

Jimin teve uma vida difícil, Hoseok sabia disso. Nunca foi apreciado ou amado de verdade até conhecer seus amigos. As poucas amizades que cultivara eram o mais perto que ele tinha de uma família e Hoseok sabia que isso mexia muito com ele.

Mas doía muito ver o amigo sofrer tanto e não poder fazer nada. Doía saber que Jimin queria viver tudo aquilo mas sentia que não merecia.

Então Hoseok não falou mais nada. Pediu desculpas por pressioná-lo e foi respondido com um menear de cabeça que sugeria que estava tudo bem.

Pelo resto do dia que se seguiu não saiu de perto do mais novo, temendo que tudo o que estava acontecendo pudesse ser demais para que ele aguentasse sozinho. Então o observou silenciosamente e o distraiu com assuntos banais.

No fim do dia, foi com Jimin para a casa dele e se ofereceu para fazê-lo companhia.

Estavam juntos na cozinha, preparando algo pra jantar quando Jimin parou abruptamente o que estava fazendo e ficou estático, com a mão que segurava uma faca pairando no ar.

De repente sua tontura voltou, dessa vez mais forte. Sentiu-se nauseado e sua visão ficou escura novamente. Mas, agora, os sintomas foram embora tão repentinamente quanto vieram e ele achou que tudo tinha voltado ao normal.

Mas milésimos de segundo se passaram até ele perceber. Até ele entender.

Ele não entendia como, mas sabia. Sabia que estava acontecendo agora e sabia que precisava encontrar alguma maneira de se esconder.


 

Jungkook estava na porta da escola, esperando por Yoongi e Namjoon, que viriam encontrá-lo depois de suas respectivas aulas.

Estava distraído, de braços cruzados e encostado na parede quando Yoongi chegou do seu lado e tocou seu ombro, o assustando um pouco.

- Credo, hyung, você é muito silencioso. A gente nem te escuta chegar. - disse, colocando a mão no peito para dramatizar uma expressão de choque.

Yoongi riu do mais novo e o deu um soquinho no ombro. Ele tinha mesmo passos leves, mas Jungkook sempre foi de se assustar com facilidade.

- Não tenho culpa se você tem medo até da sua sombra. Assim fica fácil te assustar.

- Ha ha, hyung, muito engraçado! - se virou para olhar pro mais velho estreitando os olhos, com uma expressão de puro deboche no rosto - Me respeita.

- Me respeita você, moleque. Eu sou mais velho. - falou zombeteiro.

- Tem razão. Como pude esquecer disso, vovô?

Yoongi se virava para o mais novo, pronto para rebater sua fala com mais um comentário ácido quando Namjoon apareceu no portão da escola à passos largos, com sua bolsa de carteiro pendurada em um dos ombros.

- Ei, vocês dois. - falou sorrindo e levantando o tom de voz para que os outros o escutassem de onde estavam. Os dois, que antes trocavam farpas, viraram os rostos ao mesmo tempo para olhar na direção da qual vinha a voz familiar. - Vamos logo, tô sem tempo pras briguinhas de vocês. Seokjin tá esperando.

Seokjin, o namorado de Namjoon, era dono da Moondust, uma pequena cafeteria que ficava perto da escola onde o mais novo estudava.

Quando eles começaram a namorar, os amigos de Namjoon acabaram virando amigos de Jin também, então eles costumavam sair juntos frequentemente.

Desde que a cafeteria foi inaugurada, criaram o ritual de se encontrarem lá ao final de toda semana, só para conversar e curtir a companhia uns dos outros.

Jungkook e Yoongi, quase que automaticamente, esqueceram da pequena discussão em que estavam antes e, de braços dados, caminharam em direção à saída.

- Oi, hyung! - Jungkook cumprimentou o mais alto, abraçando-o. - Está bonito hoje.

- Oi, Kook. - falou rindo - Hoje?

- Você entendeu. - respondeu meio envergonhado.

Namjoon gostava de provocar o mais novo mas sabia que Jungkook não poupava esforços para elogiá-lo sempre que podia. Achava que os elogios eram só uma tentativa do amigo de agradá-lo, mas não tinha ideia de que, na verdade, Jungkook tinha nele uma figura na qual se inspirava muito.

Jungkook nunca escondeu a admiração que tem pelos seus hyungs, principalmente por Namjoon, que foi o primeiro que conheceu. Nesta tarde ele achava que o mais velho estava especialmente bonito. As calças jeans escuras contrastando com a camiseta branca e a camisa azul estampada que vestia por cima. Ainda usava um colar de contas vermelhas que o deixava com um ar muito descolado aos olhos do mais novo. Sua expressão estava relaxada e ele irradiava uma aura de felicidade. Talvez por isso estivesse tão bonito.

Depois de se perder no seus devaneios, Jungkook percebeu que estava encarando Namjoon sem falar nada por um tempo, provavelmente, longo demais, voltando à realidade quando Yoongi chacoalhou seus ombros.

- Acorda. - Yoongi falou impaciente. - Cara, às vezes você me assusta com essa obsessão que você tem pelo Nam.

- Ai, hyung, não fica com ciúmes. Eu amo você também, seu lindo. - falou tentando passar o braço pelos ombros magros do mais baixo, que negava a todo custo o abraço, repelindo o toque com cara de nojo. - Tão lindo! Um gato. O homem mais perfeito desse mundo.

- Sai daqui, seu nojento. Me larga. - falava enquanto tentava usar toda a sua força para afastar os braços fortes do mais novo. - Vai voltar a babar pelo Namjoon. Eu odeio você.

- Eu não aguento vocês dois por mais nem um minuto. Eu juro por Deus. - Namjoon falou e saiu negando com a cabeça, deixando-os para trás.

- Namjoon, você é ateu. - Yoongi disse, ainda andando atrás do amigo.

O outro apenas parou de andar e virou lentamente a cabeça para encarar o mais velho com olhos cerrados.

- Vai se foder. - foi tudo o que disse.

Jungkook e Yoongi explodiram em risadas e apressaram os passos para alcançar o amigo que caminhava rápido para longe deles. Não precisaram caminhar muito até chegarem na Moondust, encontrando um Seokjin sorridente e animado conversando com um cliente por detrás do balcão.

Quando avistou os amigos e o namorado chegando, se despediu educadamente do senhor com quem conversava e caminhou até eles com um sorriso no rosto e um avental cor de rosa amarrado na cintura.

- Oi, amor. - disse ao passar o braço pelos ombros de Namjoon e o dar um breve selo nos lábios.

Quando se separaram, Namjoon o olhou e sorriu para ele.

- Oi. - falou simples, as covinhas bem marcadas no rosto, denunciando o quão grande era o seu sorriso.

Yoongi pigarreou e mostrou um sorriso amarelo quando Namjoon olhou para ele de cara feia por interromper o momento que estava tendo. Jungkook só observava tudo com seus olhos grandes e atentos e Seokjin apenas riu da situação toda.

- Oi gente! - Jin falou animadamente, abraçando os outros dois e sorrindo para eles. - Por que demoraram tanto?

- Porque eles dois estavam brigando igual duas crianças. Eu não aguento mais eles, Jin. Não aguento mais! Eu sou muito novo para ter que cuidar de filhos que nem são meus.

Seokjin apenas soltou uma de suas gargalhadas altas e contagiantes e pegou na mão do namorado, guiando o pequeno grupo para a mesa em que sempre costumavam se sentar.

Eles conversaram um pouco e Seokjin se ofereceu para preparar bebidas e algo do balcão para comerem. Depois de alguns minutos e talvez - só talvez - um ou dois desentendimentos de Yoongi e Jungkook, eles decidiram o que queriam. Então Jin se levantou e foi em direção à cozinha.

Voltou pouco tempo depois e a conversa seguiu no mesmo ritmo animado por mais algumas horas. Já perto da hora de ir embora, Jungkook se levantou para escolher uma música para tocar no ambiente que já estava fechado e vazio a não ser pelos quatro amigos.

Foi até o balcão e se agachou pra mexer no aparelho de som que ficava embaixo dele, passando pelas músicas até que encontrasse alguma que quisesse ouvir.

��

Parou de mudar assim que as notas familiares de uma música que gostava começaram a tocar. Estava prestes a se levantar quando sentiu algo formigar por detrás de seus olhos.

Sua visão tornou-se turva e começou a escurecer. Jungkook caiu sentado no chão e ficou imóvel, esperando o que ele sabia que estava por vir.

Os batimentos de seu coração, ele podia jurar, seriam capazes de perfurar o seu peito. As mãos suadas se agarravam aos jeans surrados e sua respiração estava entrecortada.

A música continuava soando mas ia desaparecendo lentamente, no mesmo passo em que o cenário que ele enxergava ia se transformando.

Aos poucos, o canto atrás do balcão da cafeteria se deu lugar à uma cozinha pequena e mal iluminada por uma luz amarelada.

Jungkook não conseguiu captar muito do que acontecia porque o olhar se movia rapidamente, olhando em volta quase que em desespero.

Olhava para todos os lados, parecendo estar em busca de algo. Jungkook estava confuso mas seu coração continuava saltitando eufórico, esperançoso.

Ele escutou uma voz atrás de si falar preocupada. "Você está bem?", ele dizia. "O que aconteceu? Você está tonto de novo?", falava cada vez mais ansioso, sem obter respostas.

Tonto.

Então Jungkook viu por através dos olhos do garoto que nem chegou a se virar na direção da voz que falava consigo. Ele o viu negar com a cabeça e levar um dedo aos lábios, pedindo silêncio.

Então de repente tudo ficou silencioso.

E escuro.

Jungkook não via nada além da escuridão. Ele tentou piscar diversas vezes para tentar voltar à cozinha em que estava antes mas nada acontecia. Sabia que tinha pouco tempo e estava começando a ficar desesperado.

Não era possível que isso estivesse acontecendo com ele.

Havia esperado tanto por esse momento só para que ele acontecesse assim?

Ele não entendia o que estava acontecendo, o que tinha feito de errado para que sua primeira Visão estivesse ocorrendo assim. Não chegou a ver por mais do que 15 segundos antes de tudo escurecer.

Ainda sentado no chão, Jungkook tinha uma das mãos agarradas à camisa, apertando o tecido macio como se estivesse apertando o próprio peito. Ele podia sentir o aperto dentro de si.

Aos poucos sua visão começou clarear e seu coração se encheu de esperança por milésimos de segundo antes de ele ouvir a música ainda tocava pelos alto-falantes da cafeteria e se dar conta de que havia voltado aos seus próprios olhos.

Lentamente, voltou a enxergar o ambiente bem iluminado e as prateleiras que se escondiam embaixo do balcão.

"I knew it's you, it's true" , a voz suave da música que ainda tocava entoava enquanto Jungkook, ainda em choque, tentava recuperar o ritmo de sua respiração.

Mesmo atônito, não deixou de perceber a verdade que aquelas palavras traziam. Jungkook sabia que era ele.

Ele apenas sabia.

Sentiu um toque suave em seu ombro e se espantou sou ver Namjoon ao seu lado.

O mais velho, que estranhou a demora do amigo, foi procurar por ele e se assustou ao encontrá-lo sentado no chão, tremendo e pálido, respirando com dificuldade.

- Jungkook... - chamou com cautela. O mais novo não respondeu, apenas virou seu rosto na direção do amigo, com lábios entreabertos e olhos arregalados e marejados. - Jungkookie, o que foi? O que aconteceu?

Jungkook, novamente, não respondeu. Não conseguia falar.

De repente algo explodiu dentro de si e ele desabou em um choro dolorido.

- O-o que... o que eu fiz de errado, hyung? - falou entre soluços - Por que não deu certo? O que eu fiz?

Namjoon, confuso e nervoso, tentava entender o que estava acontecendo. As palavras desconexas de Jungkook se misturavam ao choro alto enquanto esse tremia e soluçava em seus braços.

- O que foi que eu fiz?

- Kook, por favor, calma. Respira. - Namjoon falou enquanto acarinhava os cabelos longos e castanhos do amigo, tentando acalmá-lo. - O que aconteceu? Porque você tá chorando?

Jungkook demorou algum tempo para responder. Seu corpo, balançando com os solavancos causados pelo choro, era abraçado com força. Ele ainda escutava a música tocar e escutou até que ela chegasse ao final.

Quando a última nota soou e o silêncio se fez presente, o garoto, ainda choroso, tentou encontrar forças pra falar.

- E-eu... A minha... - tentava falar, falhando em conseguir colocar em palavras todos os pensamentos que tinha em sua mente - Minha Visão, hyung. - falou finalmente. - Eu acabei de ter a minha primeira Visão.

Namjoon se espantou com o que ouviu. Pelo estado em que Jungkook estava, sabia que algo tinha acontecido e que não era algo bom. Com cuidado, segurou nos ombros do mais novo e o ergueu de seu peito até que pudesse olhar nos seus olhos vermelhos e inchados.

- E o que você viu, Kook?

- Nada, hyung. Eu não vi nada.

 



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