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História Closer - O que eu quero de você.


Escrita por: HokutoYuuri

Notas do Autor


Olar! Tanto eu quanto Closer estamos vivos! Choradeiras e justificativas nas notas finais, as always, mas desde já me desculpem. Não foi minha intenção sumir por tanto tempo. =/

Esta história passou os 300 favoritos. Eu tô muito chocada e grata, porque WOW! Nossa, nem sei como expressar o que sinto, mas é coisa boa! :O

E no último capítulo de Closer, Otabek ofereceu um celular para Yuri, que acha que não pode aceitar. [Faz tanto tempo que não custa nada lembrar o leitor, né? hahahaha]

Boa leitura e até as notas finais.

Capítulo 12 - O que eu quero de você.


Fanfic / Fanfiction Closer - O que eu quero de você.

Depois da expressão óbvia de mágoa, Yuri via Otabek demonstrou sua confusão com um mero franzir de cenho e um olhar perdido, como um cachorro que acabou de apanhar. Não sabia se o rapaz entenderia suas razões, mas, ao mesmo tempo, estava determinado a impô-las, porque era seu caráter em jogo. Mesmo que estivesse muito ajustado com este ponto, outra parte de si queria entender os motivos do rapaz moreno agachado na sua frente. Ambos não pareciam serem capazes de falar, mas Yuri tomou a frente e tentou:

 

"Quando você saiu para comprar esse telefone celular, Altin?"

 

Otabek deu levemente de ombros, incerto de como responder. Tinha notado que Yuri só lhe chamava de Altin quando estava com raiva do cazaque e ele não conseguia entender o que tinha feito de errado até então. Respondeu, sério:

 

"Eu não saí para comprar. Eu já o tinha. Meus pais me deram como presente de boas-vindas quando me mudei pra essa cidade."

 

"Como assim?" O russo retrucou, confuso.

 

Era um celular top de linha na caixa ainda. Pegou o embrulho e o abriu, vendo que já não estava mais lacrado. Testou o celular e viu que ele realmente já tinha sido usado antes, mas ainda assim era novo. Para além disso, não esperava essa justificativa para ter um celular extra.

 

"Eu convidei meus pais para me visitarem, mas eles disseram, como sempre, que estão ocupados demais para sair de Almaty, então me mandaram esse celular como... Como foi que eles disseram? Presente de boas-vindas e prova de boa vontade ou alguma coisa assim?" O moreno respondeu, coçando o queixo como se isso fosse ajudar a reavivar a memória. "Eu não me adaptei ao modelo e decidi comprar outro, da marca que eu geralmente uso." 

 

"Sinto muito pelos seus pais..." Yuri respondeu, tenso pelo que ouviu. 

 

"Meus pais estarem ocupado é mais comum do que você imagina." Otabek dispensou com um aceno de mão. "Estou acostumado. O caso é: se você não aceitar o celular, ele vai ficar sem uso."

 

Altin olhou para Yuri e observou em seus olhos que ele parecia estar em um conflito interno muito grande. Tinha algo ali que ele não conseguia falar e o cazaque gostaria muito de saber. Talvez precisasse incentivá-lo.

 

"Você não gosta do modelo?" Otabek tentou, recebendo o silêncio confuso como resposta. "Ou é a marca? É a mesma marca do seu antigo aparelho, por isso eu pensei que..."

 

Yuri ouvia o que Otabek dizia, mas não absorvia. Era tudo muito confuso e talvez seu amante nunca o entendesse. Não era a primeira vez que o Altin tentava lhe impressionar usando seu dinheiro, mas até então isso nunca tinha ficado tão evidente quanto estava agora. Mas o olhar de confusão do cazaque mostrava que ele não fazia isso por mal ou mesmo de propósito. 

 

Tentou, então, interpretar a situação isoladamente e se assim fosse, Altin só estava tentando ser gentil.  Mas a gentileza valia 6 meses do aluguel do apartamento minúsculo em que morava, além de ser um superlançamento com plus no nome, o que certamente adicionava algumas centenas  a mais no valor. Gentileza era fazer uma lasanha gostosa, aquele celular, nas palavras de Yuri, seria "um vandalismo fodidamente grande"! E por questões de princípio não poderia aceitar. 

 

"É o modelo que você também não gosta?" Otabek tentou novamente. "Nós podemos comprar outro se você quiser, mas usa esse de improviso."

 

"Comprar?" Yuri respondeu, confuso por pegar a fala anterior em partes.

 

"É. A gente compra um novo pela internet e chega amanhã mesmo e..." Altin respondeu, animando pela perspectiva de voltar a se acertar com Plisetsky. 

 

A compreensão do que Otabek queria dizer bateu na cara de Yuri como um tijolo lançado por um canhão. 

 

"NÃÃÃÃO!" O loiro rebateu com a mesma força, chocando o moreno. "Puta que pariu, Altin, não complica as coisas. Eu não posso aceitar!"

 

Os dois ficaram mudos depois deste diálogo por minutos que pareciam ser intermináveis. O peso do que não era dito confundia o dois de uma tal forma que ambos não sabiam como se comportar. Otabek não entendia a recusa em sua tentativa de ajudar e Yuri pensava, pensava muito, em tanta coisa e ao mesmo tempo, a ponto de não conseguir prestar atenção em nada. A palavra comprar ecoava na sua cabeça, causando um misto de sensações aflitivas e nervosas. 

 

"Eu posso comprar este celular!" Yuri falou para si. 

 

Otabek ouviu aquilo e ficou confuso. Esperou o bailarino concluir seus pensamentos e, na verdade, falar com o moreno. 

 

"PUTA QUE VOS PARE, EU SOU UM GÊNIO!" Yuri gritou, os olhos brilhando e um sorriso que só lhe faltava partir o rosto de tão grande.  "Beka, eu posso comprar o celular de você, já que ele vai ficar inútil e seria um puta desperdício, porque ele é super maneiro e eu normalmente não teria grana para comprar um celular fodidamente bom como este..."

 

Otabek ficou aliviado ao ver que Yuri estava usando seu apelido carinhoso consigo e que até tinha ficado de joelhos, pegado na sua mão e o balançado com entusiasmo. Ainda estava tentando entender a lógica do garoto que não podia aceitar como presente um celular de segunda mão, mas estava muito feliz com a ideia de comprá-lo... Ok, não entendia, definitivamente, mas poderia ceder. Qualquer coisa para manter este sorriso no rosto do seu loirinho.

 

"...e vai ser foda, porque eu vou poder tirar fotos pra caralho numa qualidade do caralho... E Beka, vai ser foto pra porra, porque essa bosta tem 64 fodidos gigas de memória interna. E vai durar pelo menos 3 anos na minha mão, embora eu com certeza não vá dar sorte de achar outra barbada fodidamente boa como esta." Yuri dizia, sinceramente entusiasmado com a perspectiva, enquanto balançava os braços de Otabek e usava seu apelido e palavrões de forma indistinta. "Eu tô tão feliz, Beka... Vamos, faça seu preço!"

 

Altin respirou fundo e pensou. Não fazia ideia de quanto o garoto tinha ou mesmo de quanto o aparelho custava. Parecia custar muito pela forma com que o garoto falava. Podia fazer qualquer preço, desde que o garoto pudesse pagar e ficasse sorrindo daquele jeito que o fazia brilhar.

 

"Hum..."Otabek pensou em voz alta. "50?"

 

A cara de Yuri tornou-se uma expressão de ódio.

 

"Filho da puta, não começa a ficar de merdinha. Está estragando o momento!" O loiro brigou.

 

"100? 150?" O cazaque tentou, confuso.

 

"Caralho, Otabek Altin, não seja um puta babaca." Yuri quase gritou, pegando a caixa. "Esta caralha aqui custa quase 900 paus com direito a um plano de fidelidade que leva até a sua alma junto!" 

 

"Este aparelho é desbloqueado..." O cazaque consertou, sem saber que isso pioraria a situação.

 

"PORRA, É DISSO QUE EU TÔ FALANDO, SEU ZÉ boceta! Isso torna tudo pior e mais caro! Dê um preço justo neste caralho de asas e pare de ficar de merda, seu bosta!"

 

Pressionado e nervoso, Otabek fez tudo o que poderia fazer e esperava acertar dessa vez:

 

"Eu não sei! Faça o seu preço e eu vou aceitar."

 

Yuri o olhou com ainda mais ódio, o que fez Altin acrescentar:

 

"Eu sei que você vai ser justo e vai achar um preço que pode pagar. Eu vou sair no lucro no mesmo jeito, porque não paguei nada nele!"

 

Aquilo fez Yuri sossegar e refletir sobre um preço justo. Seu amante tinha expectativas sobre seu comportamento e ele não queria decepcioná-lo. Calculou seu saldo, seu orçamento, suas despesas e as coisas que teria de deixar de fazer para poder dar conta de tudo e disse, esperançoso:

 

"300 tá bom?" Eram dois meses de seu aluguel ali. E acrescentou rapidamente ao ver que Altin não reagia. "350 é meu máximo."

 

"300 está bom..." Otabek disse, confuso.

 

"350! Vou amanhã cedo procurar um caixa eletrônico pra te dar isso e aí estamos acertados!" Yuri soava ameaçador. 

 

"Trato feito." Altin cedeu, sabendo que não podia contra-argumentar com o mais novo.

 

Aquelas palavras soaram como música aos ouvidos de Yuri, que pegou o celular e o abraçou como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Com o clima mais leve, Yuri começou a restaurar o aparelho para deixá-lo como novo e a fazer sua mudança de celular. 

 

"Yura... Eu vou ganhar um dinheirinho amanhã e queria saber se você estava a fim de jantar comigo..."

 

Plisetsky, com o próprio demônio no couro, apenas levantou o olhar maligno e respondeu:

 

"PEGA ESSA COSQUINHA NO SEU SALDO BANCÁRIO E JOGA PELA JANELA OU ENFIA NO CU, MAS NÃO OUSE USAR ESTA PORRA COMIGO, CARALHO!"

 

Aquilo pareceu magoar genuinamente o cazaque, que se encolheu, visivelmente amuado. Foi quando Yuri finalmente entendeu que havia passado dos limites.

 

"Beka, eu..." O menino disse, preocupado, enquanto largava o celular e engatinhava na direção do anfitrião. "Desculpa... E-eu... Olha pra mim, Beka..."

 

Otabek olhou, parecendo magoado. Sabia que conquistar Yuri não seria fácil e se fosse sincero, esta meta estava na mente dele tanto quanto fotografá-lo para sua exposição, caso contrário teria conduzido tudo de forma diferente, teria pensado em outros temas... Não teria pensado tudo do jeito que pensou. Não assumiria isso para Yuri também, pois não admitiria que seu lado profissional fosse questionado.

 

Mas admitir isso para si mesmo significava dizer que tentava todos os meios conhecidos e mais efetivos para conquistar Yuri. A lanchonete à beira de estrada funcionou melhor que os restaurantes de luxo e mais eficiente que isso, só a lasanha simples e rápida que ele fizera na casa do garoto. Lembrava-se da maleta de maquiagem e como ela quase fora recusada, sendo aceita depois de muita insistência, mas que os poucos detalhes de sua vida pessoal foram muito melhor recebidos, depois de praticamente exigidos pelo mais novo. E como ele estivera desconfortável em ser fotografado no primeiro ensaio e ser tratado como centro das atenções, mas relaxara quando pudera fotografar Altin e tirar fotos com ele. 

 

Era quase como se Yuri não aceitasse ser o centro das atenções sem retribuir, talvez? Ou ser olhado sem olhar de volta? Não sabia explicar direito, mas era como se seu russo... Não, definitivamente não conseguia explicar como as coisas funcionavam com Yuri, mas sabia o suficiente para ter previsto que dar um celular para ele, por mais que fosse usado, não funcionaria. Mas ainda queria usar seu dinheiro para fazer seu gatinho feliz... E franziu o nariz ao pensar em Yuri como um gato, mas fazia todo sentido porque ele, tal qual um felino, arranhou-lhe com as palavras duras que usara como modo de defesa, mas agora lambia suas feridas.

 

GATOS! Por que não pensara nisso antes? Ele não aceitaria nada que fosse usado para mimá-lo, mas talvez fosse possível fazê-lo sorrir de outro modo e ainda ajudar as pessoas...? Com isto em mente, Altin apenas disse, com a voz pequena, porque ainda estava magoado:

 

"Vai me impedir de doar este dinheiro para o abrigo de gatos abandonados que tem na outra quadra?" 

 

Aquilo pegou Yuri completamente desarmado e desprevenido. Ninguém nunca insistira tanto para agradá-lo e pensara fora da caixa para isso Ele não sabia quantificar o tanto de ração e tratamento em que isso se converteria para gatinhos de rua que ficariam prontos para adoção como a Tepa, sua gata himalaia que ele conseguira por sorte em um abrigo depois que uma senhora idosa e sem família morrera... Outros e outras Tepas teriam uma chance de ter um lar... Otabek não sabia o tanto que aquele ato significava para si, mas certamente estava pensando em Yuri quando mencionou ajudar o abrigo de gatos... E aquilo significava mais para si do que um celular novo. Mas ainda não estava 100% convicto de suas intenções.

 

"Está falando sério? Quantas vezes já foi lá?" Yuri perguntou, tentando achar brechas no plano de Altin.

 

"Eu nunca fui lá, sendo bem sincero." O moreno disse.

 

Yuri levantou a sobrancelha em escárnio e sorriu vitorioso.

 

"Eu não tenho certeza se teria coragem de sair de lá sem pelo menos um gato em cada bolso da calça. Mas faço doações regulares para o abrigo e cuido das mídias sociais deles." O mais velho confessou, tímido e corado. "Quero dizer, há outros meios de ajudar, não há? "

 

Yuri imaginou Otabek com um filhote de gato em cada bolso de suas calças e da jaqueta, um gato grande em cada mão, outro filhote de felino se equilibrando nos cabelos negros dele e uma cara séria de quem não estava fazendo nada demais e seu coração se derreteu por isso. Era por essas e outras que ele se apaixonava mais e mais por Otabek Altin. Sem saber como expressar o sentimento que era tão grande e tão forte que parecia lhe afogar, Yuri fechou os olhos e beijou a ponta do nariz cazaque, sorrindo-lhe com carinho e o abraçando. 

 

"Há sim, Beka." 

 

Otabek beijou o topo da cabeça de Plisetsky. As coisas pareciam mais acertadas, mas ainda não se sentia seguro de ter feito o correto. Ainda tinha muito a aprender sobre o russo, mas não desistiria tão fácil. Não queria ser novamente um péssimo namorado. Não podia errar de novo. Não com Yuri. 

 

"Mas não pense que vai me dobrar com gatinhos pra sempre, seu zé boceta."

 

Otabek riu de nervoso pela forma com que Yuri lhe chamou, mas entendeu o recado sutilmente ameaçador que tinha sido passado.

 

"Sua habilidade com palavrões é impressionante, Yura." Altin tentou trocar de assunto falando uma verdade de forma suave.

 

"Beka, não precisa puxar meu saco. Estamos de boas, ok?" Yuri disse, divertido, depois olhando para o celular. "Agora vamos colocar meu chip e cartão de memória..."

 

A verdade é que Yuri até poderia estar de boas com Otabek, mas a recíproca não era verdadeira e resolver isso seria um problema.

 

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

 

Deitado no confortável sofá de couro sintético da sala de estar, Yuri mexia no celular e se adaptava a ele. O aparelho era da mesma marca que o seu, mas a interface do sistema operacional era diferente. Estava tentando achar as fotos do seu cartão de memória na galeria e achou algumas que não tinha tirado. 

 

Grafites nas paredes, crianças brincando em um parque cheio de natureza, um casal de idosos sentado em um banco de praça, os prédios da metrópole em que moravam atrás de árvores em um belo dia de sol, a foto da beleza da cidade em movimento em um dia caoticamente comum de negócios tirada do alto... Conhecia aquela rua, era perto do local em que trabalhava. Um casal adolescente namorando debaixo da chuva em uma esquina qualquer, os pingos do temporal acumulados em um guarda-chuva transparente com os arranha-céus borrados no fundo. Conhecia aquele olhar capaz de embelezar as cenas cotidianas no verão. 

 

Sabia que era verão porque as fotos gritavam essa estação para ele. Olhou as datas e viu que eram de antes de conhecer Otabek, mas que haviam sido tiradas naquele mesmo ano. Explorou a galeria e foi achando fotos organizadas por pastas e foi quando notou que estava na pasta que tinha o nome "Verão 2016" e se sentiu idiota. Para aplacar a sensação de lerdeza, seguiu olhando as pastas e notou que não tinha nada da primavera, o que denunciava não só a idade do celular, mas também do provável tempo que Otabek tinha se mudado para aquela cidade.

 

Vasculhando ainda mais, viu uma pasta que não tinha nome. Sem hesitar, abriu e achou selfies de Otabek Altin. Olhou-as com a atenção e decidiu que, para um fotógrafo genial como era o cazaque, ele era, no mínimo, mediano em selfies. Talvez fosse falta de prática, já que todas saiam com poses muito parecidas na frente de um espelho como se fosse uma daquelas blogueiras de moda batendo foto de look do dia. Até as expressões contidas nas fotos eram iguais. Se tivesse que nomear aquela pasta, usaria o termo desconforto à moda de Altin. Era o mais apropriado possível. 

 

Curioso, buscou na internet outras fotos de Otabek e teve dificuldades de achar o homem por trás das lentes. Ocorreu-lhe a ideia de procurar pela noite que ele ganhou o Pulitzer e as fotos que achou em uma galeria eram interessantes. Todos os ganhadores pareciam felizes, emocionados, alguns até choravam. Apenas Otabek Altin aparentava ser o retrato fiel do desconforto, apesar de estar lindo em seu terno verde-escuro. Conhecia aquela expressão, era a mesma que ele carregava quando o chamara de zé boceta mais cedo, quando teoricamente estavam bem. Yuri não se deteria em exame minucioso de sua conduta, mas qualquer um que visse de fora diria que ele fora um babaca, por mais que ele tivesse sua parcela de razão.

 

Não que ele fosse ceder, é claro, afinal ele tinha mesmo sua parcela de razão na discussão e aquilo era importante. Mexendo no celular, achou no cartão externo as últimas fotos que batera no finado companheiro tecnológico e viu Altin de collant, jaqueta de couro, coturno de cano alto, o bendito sorriso de canto e o olhar divertido e sexy que ele lhe dirigia. Admirou a foto que batera quando ele rira do uso da palavra mentecapto. Ali estavam as fotografias tiradas pelo celular de Otabek no dia do parque e como ele sorrira por trás da câmera, além do sorriso dele na primeira selfie que bateram juntas. 

 

Tudo aquilo só fazia a expressão de desconforto de mais cedo parecer pior. 

 

"Merda!" Yuri grunhiu para si em tom agudo, tentando expressar toda sua agonia pela culpa que fazia seu estômago revirar. 

 

"Yuri?"

 

O bailarino respirou fundo e sentou no sofá, largando o celular e olhando para os olhos de Otabek, vendo o mesmo desconforto do Pulitzer. Parecia que o sentimento era contagioso, porque ele também se sentiu mal com o tom e a ausência de seu apelido nos lábios do outro.

 

"Me perdoa?" Otabek falou, sentando-se no sofá mas sem se aproximar de Yuri, com um tom incerto de voz contrastando com o olhar firme e focado no loiro.

 

"Por quê?" O russo questionou, tentando soar o mais neutro possível.

 

"Eu não sei exatamente o que eu fiz de errado mais cedo no escritório, mas sei que fiz algo que você não gostou e você disse que eu não posso usar gatos para sempre para me desculpar, então..."

 

Yuri não sabia se explodia com o amor que sentia e pela forma com que Altin falava ou se o fazia por culpa por ver o cazaque vir falar consigo de uma tão forma mansa, como se estivesse ferido, ou pior, como se fosse culpa do moreno o fato do russo ter agido como um babaca. 

 

"Beka, me desculpa. Eu fui um puta babaca. Você só estava tentando ajudar." O bailarino disse, aproximando-se do moreno para tocá-lo, mas, como estava sem coragem para o ato que tinha em mente, optou por abraçar as próprias pernas enquanto olhava para o outro com expectativa, esperando que Altin não estivesse desconfortável com a proximidade, afinal das contas seus corpos eram capazes de sentir o calor um do outro e qualquer pequeno movimento poderia gerar um toque entre eles.

 

Nenhum dos dois falou qualquer coisa depois disso e o silêncio que se seguiu era torturante para Yuri, pois pesava no ar, tornando o ato de respirar mais difícil.

 

"Por que está se desculpando?" Yuri perguntou, ciente de que Otabek já tinha dito não saber exatamente o motivo. "Ou por queê você resolveu que era uma boa ideia me dar um celular que custa uns mil paus assim, do nada?"

 

"Eu quebrei seu celular." Altin respondeu, seco e direto. O olhar confuso do russo o obrigou a se explicar. "Naquela hora em que eu queria muito te beijar no estacionamento, deixei Tepa no banco da frente e o celular em cima da bolsa. A gata ficou com medo, se mexeu, a bolsa caiu, o celular foi junto e quebrou no processo. Se eu tivesse tomado um pouco mais de cuidado, nada disso teria acontecido."

 

Yuri corou com a explicação. Era um adulto que se orgulhava por não ter problemas com sua sexualidade ou com os desejos que sentia, mas a forma com que Otabek tratava suas vontades e sentimentos por Plisetsky tão diretamente era desconcertante para o bailarino. 

 

"Eu deveria ter cuidado das coisas também, mas queria muito ser beijado por você." Plisetsky respondeu, suprimindo com dificuldade um sorriso quando viu o cazaque corar com a declaração. "Mas o fato é que meu celular era velho. Uma hora ele ia quebrar..."

 

"E duas quedas consecutivas e algumas quicadas ajudaram. Eu tinha esse celular sobrando, então pensei que não custava nada ajudar." O moreno respondeu, levantando os ombros ligeiramente, como se o modelo oferecido fosse um celular velho e qualquer de segunda mão ao invés de um lançamento de ponta que mal havia sido usado. "Qual é o problema em te dar presentes e querer te fazer feliz?"

 

'Merda!' Yuri pensou, desesperado.

 

Quando ele botava as coisas dessa forma parecia muito pior, mas tinha algo nisso tudo que o incomodava.

 

"Por que você acha que precisa me dar presentes para aplacar sua culpa?" Yuri perguntou de forma impulsiva.

 

O cazaque olhou para o bailarino de um modo que lhe partiu o coração. Não tinha outro termo para descrever a não ser culpa, o que fez Plisetsky pensar que ele tinha acertado em cheio no julgamento que fizera sobre o hábito do cazaque de presentear as pessoas. 

 

"Não é culpa. Eu preciso consertar a situação que eu criei. E qual é o seu problema em aceitar presentes? Você aceitou a maleta de maquiagens e ficou feliz com ela." Otabek retrucou, conseguindo que a fala não soasse como uma acusação.

 

"Quando eu aceitei, não achei que seria uma prática recorrente. Eu tava tão feliz que você tinha pensado em mim fora dos estúdios e do nosso lado profissional que aceitei, mas não devia ter feito isso..." Yuri pensou em voz alta.

 

"O jeito que você me olhou e o sorriso que me deu fizeram meu dia melhor." O moreno respondeu, a voz tentando soar neutra, mas parecendo triste, baixando a cabeça. "Eu gosto do seu sorriso, embora ele seja meio raro."

 

Lembrou-se de mais cedo, quando Otabek lhe entregara o celular e parecera achar que estava fazendo a coisa certa ao lhe dar a boa notícia. E também quando parecera mais do que determinado a lhe dar outrao celular caso o aparelho que ele tinha oferecido não o agradasse. Era como se estivesse acostumado a ser economicamente explorado, mas seria estranho pensar assim... Respirando fundo, Yuri tocou o rosto de Otabek com as mãos e fez com que o mais velho o olhasse com os olhos cheios de remorso. 

 

"Por que você acha que precisa me dar presentes pra me fazer feliz, Beka?"

 

Altin nada respondeu e aquilo incomodou o garoto, que se sentiu obrigado a apelar:

 

"Eu te odeio porque eu vou dizer o que estou prestes a dizer, porque eu normalmente não faço isso, mas vamos imaginar um mundo em que você tenha tantos zeros na sua conta corrente quanto eu." Yuri começou. "E só para constar, eu realmente tenho uma conta corrente com quatro zeros e uma vírgula no meio, porque guardo tudo na poupança, que é mais barato mesmo."

 

Otabek piscou e seu olhar para o loiro agora continha interesse e curiosidade, pois parecia estar querendo saber onde ele iria chegar com aquilo.

 

"Digamos também que você não tenha feito aquela abordagem super esquisita, mas que funcionou porque você é bem gato, misterioso e seu sotaque é fofo e talvez eu tenha ficado atraído por você e com ciúmes por achar que você tava falando com a Mila e não comigo..." O loirinho seguiu, nervoso e justamente por isso falando demais.

 

Altin não dizia nada, apenas ficava mais e mais vermelho ao ouvir aquilo.

 

"Digamos que, ao invés de me oferecer um emprego, você estivesse genuinamente me paquerando e quisesse conversar comigo. O que você faria?" Yuri perguntou, passando a bola para Otabek para parar de se autossabotar. "Lembre-se do seu saldo bancário comprometido."

 

O moreno coçou a cabeça e refletiu:

 

"A gente provavelmente ia comer em algum carrinho de rua ou eu te levaria no McDonalds, mesmo não gostando de comer lá, talvez?" 

 

"Seria maneiro. E eu provavelmente estaria vestido mais adequadamente para isso." Yuri riu, levantando os ombros em sinal de divertimento. 

 

"Mas você tava bonito aquele dia." Otabek retornou, franzindo o cenho com confusão. "Sua bota com detalhe de animal print era legal e aquela roupa destacava o seu corpo esguio. Quero dizer, você tem pernas bonitas."

 

Incapaz de expressar o choque de outra forma, Yuri corou, baixando o rosto e deixando que os cabelos escondessem sua timidez por ter sido elogiado de forma tão franca e direta.

 

"Obrigado. Mas estar bonito não é estar adequado para um restaurante granfino de um bando de metidos à besta." O bailarino retrucou, nervoso.

 

"Hum..." Otabek refletiu, enquanto prendia os cabelos louros atrás da orelha ruborizada, buscando o olhar de Yuri, enquanto o virava de frente para si naquele sofá. "Está me dizendo que teria levado a sério minha proposta de trabalho se eu tivesse te levado para o McDonalds ou para comer em pé em um food truck qualquer no meio da rua?"

 

Yuri não respondeu de primeira, porque seria uma derrota assumir que Otabek estava certo e que ele nunca teria acreditado no moreno se ele não tivesse mostrado com aquele bendito restaurante que era capaz de bancar financeiramente tudo o que tinha exposto durante a conversa de negócios.

 

"Beka, estamos falando de um primeiro encontro em que você esteja flertando comigo abertamente ao invés de me oferecer o emprego que pagou meus alugueis atrasados. Foque em flertar comigo e tentar me conhecer melhor, ok?" Plisetsky explicou, desviando do assunto, adoravelmente corado.

 

"Certo, vou focar em flertar abertamente com você, mas eu devo avisar que não sou bom nisso." Otabek respondeu, pegando as mãos de Yuri e as acariciando distraidamente. "Você teria que me ajudar."

 

"Eu provavelmente perguntaria sobre você. Tipo, o que você faz da vida?" O bailarino retornou, tentando ajudar.

 

"E eu ainda poderia ser eu ou tem mais alguma coisa que te desagrada em mim e você gostaria de mudar nessa situação hipotética?" Altin perguntou sem maldade, apenas curioso.

 

Aquela fala incomodou Yuri. Ele não se desagradava com o fato de Altin ter dinheiro, mas sim com a forma que ele usava para lhe tratar feito um... Um sugar baby que precisasse ser sustentado e mimado. 

 

"Você ainda seria você, com direito a tudo em sua personalidade que me agrada em você, mas com muito menos putos furados no bolso." O russo respondeu, sério.

 

"Eu provavelmente sacaria meu celular do bolso e te mostraria as fotos que eu bato. Diria que sou fotógrafo e que gosto de mostrar o mundo para as pessoas com as minhas lentes." O cazaque respondeu, relaxando por estar na sua zona de conforto.

 

"Isso seria maneiro. Eu gosto das suas fotos." Yuri disse, olhando nas íris negras como o café forte e concentrado que o amante sempre bebia. "Seus olhos são profundos e bonitos. Gosto deles."

 

O fotógrafo corou, arregalando os olhos com a surpresa de ter recebido uma cantada tão efetiva e encantadora.

 

"Digo, gosto do seu olhar para as coisas." Yuri se consertou, tímido.

 

"Não gosta dos meus olhos?" Altin perguntou, parecendo se importar e muito com a resposta.

 

"Gosto." O loiro segredou baixinho e de forma controlada, com medo de revelar demais sobre o que gostava no amante. "Eu provavelmente teria passado o encontro inteiro te perguntando as coisas e falando pelos cotovelos."

 

"E eu adoraria te ouvir. Gosto das coisas que você fala." Otabek confessou, a voz soando quente e terna. "Na hora de ir para casa, eu provavelmente tentaria te levar de qualquer jeito, mesmo pegando ônibus e metrô. Eu iria querer saber se você chegou em segurança."

 

"E eu provavelmente recusaria que você fizesse isso, porque eu tinha acabado de te conhecer e por mais atraído que eu estivesse por você, eu ainda prezaria pela minha segurança." Plisetsky disse, soando muito seguro de si.

 

"É prudente e inteligente." Altin respondeu, incerto de como proceder depois disso.

 

"Mas eu pediria seu número, aí eu poderia te dizer se cheguei bem ou não em casa enquanto rezava para você arranjar desculpas para me responder e nós continuarmos conversando casualmente." Yuri disse, levantando sutilmente os ombros como quem não quer nada e falasse algo banal.

 

"Parece bom para mim." Otabek respondeu, pronunciando ligeiramente o lábio inferior em um biquinho conformado. "E você teria me beijado nesse encontro?" 

 

"Provavelmente não. Mas com certeza tentaria no segundo, porque estaria tentando descobrir se um homem gostoso como você me abordou apenas para ser meu amigo ou tentar algo a mais..."

 

"Eu ficaria feliz se você me beijasse..." Foi tudo o que Altin conseguiu responder, incapaz de mencionar com mais clareza que gostaria de ser beijado naquele instante.

 

Mas Yuri parecia ler sua mente, e isso se provou real quando o bailarino encostou levemente os lábios pequenos e cheios nos carnudos do cazaque. Otabek correspondeu, aprofundando o beijo e expressando sua alegria ao saber que Yuri ficaria com ele mesmo que o contexto fosse outro.

 

"Mas não foi assim que as coisas aconteceram." Altin disse depois do beijo, consciente de que falavam do dinheiro que ele não deixara de ter de uma hora para outra.

 

"Quer que eu liste algumas vezes que você me fez feliz e não envolveu você me dando presentes caros, então?" Yuri perguntou, sério e sem dar tempo para resposta, prosseguiu: "Você gosta da Tepa e cuida dela."

 

Altin corou, mas achava que aquilo era o mínimo que poderia fazer, por isso respondeu:

 

"Eu gosto dela, achei que seria o certo a se fazer." 

 

"Você dançou comigo mesmo estando inseguro." O bailarino disse, determinado a fazer Otabek entender as coisas. "E você me falou sobre seu passado, mesmo quando isto é obviamente desconfortável para você."

 

Otabek se sentia desnudo e encurralado, incapaz de dizer para o rapaz que tinha os olhos verde-azulados cheios de expectativas que gostava dele, porque isso implicaria em assumir responsabilidades emocionais e inexoravelmente magoar Yuri. Assumir que gostava de Yuri ainda lhe custava muito, porque admitir o que sentia o obrigaria a tomar uma atitude, e a única possível seria tentar ficar junto do bailarino. E se ficasse com Yuri, magoá-lo era fatal, inevitável, tão certo quanto o amanhecer e o anoitecer, porque ele sabia que era um péssimo namorado...

 

"Você não desistiu de mim depois de Intoxicated, quando eu achei que você nunca mais ia querer olhar na minha cara. E isso me deixou mais feliz do que você pode imaginar." Plisetsky confessou, corando. "Vai dizer que fez isso tudo porque gosta da Tepa?"

 

Yuri dizia essas coisas com toda a paixão que sentia. Queria que Otabek confessasse que gostava dele tanto quanto ele gostava do fotógrafo. Queria ficar junto dele, ter um relacionamento firme, poder botar todas as cartas na mesa sem medo e ser amado como amava Altin. Mas o temor que via nos olhos do cazaque era tão grande que se forçou a recuar e respeitar o tempo do outro, perguntando-se porque o as coisas tinham que ser assim se eles tinham sentimentos um pelo outro.

 

"Você não precisa me dar presentes para me fazer feliz, Beka. Eu já sou feliz com você." Yuri confessou, numa voz tão baixinha que o outro quase não ouviu. "Mas se você quer tanto... Como dizer? Fazer algo por mim, faça."

 

"Fazer o quê, por exemplo?" Otabek perguntou, ansioso por alguma dica. 

 

"Eu não sei. Você vai pensar em alguma coisa. Você é criativo, Beka, sempre tem algo na manga." Yuri respondeu, bocejando. "Vou deitar. Boa noite."

 

O beijo suave que Yuri lhe deu o distraiu momentaneamente da ansiedade que se abatia sobre Otabek. O que diabos aquele russo queria dele? Aquela era a receita certa do fracasso e ele deixaria de ser um péssimo namorado para ser um péssimo o-que-quer-que-Otabek-fosse-para-Yuri.

 

"Eu adoraria poder lhe dar uma dica, Beka. Mas eu confio em você." O loiro disse ao longe, quase saindo da sala. "Apenas não me trate como seu sugar baby ou um gigolô qualquer me enchendo de tralhas sem sentido, porque o que quero de você é outra coisa. Se eu quisesse um sugar daddy ou mesmo um pai, eu não procuraria isso em você, porque você me dá muito mais que isso, se é que me entende."

 

Antes de ficar mortificado e ansioso pela confiança que recebia, Otabek sentiu o corpo se arrepiar de prazer e contentamento com a piscadinha charmosa que Yuri lhe deu. Aquele russo ia acabar com ele. 

 

Mas afinal, o que poderia fazer por Yuri Plisetsky? Ele amava gatos, dançar e as câmeras o adoravam... Era isso! Claro que era isso!

 

Repreendendo-se por ser mais lento que uma tartaruga, Otabek Altin levantou do sofá e correu para o escritório. Seu plano era incerto, mas devia tentar e contar com a ajuda do universo para conseguir o que queria.


Notas Finais


Eu nem sei por onde começar, mas acho que não tenho muito a dizer. Só pedir desculpas pela demora.
Foi um misto de vira real, vida adulta, ansiedade, depressão e todos esses fatores bloquearam o processo de escrita. Simplesmente não dava pra forçar nada, porque não saía nem escrita e nem revisão. E aí eu descobri que eu preciso estar com a saúde mental minimamente em dia pro processo criativo funcionar. Mas saiu, é o que importa.

Closer ganhou capinhas de capítulo! <3 Gratidão por isso, @Ameko.

305 favoritos. MANO DOS CÉUS, EU NÃO TENHO PALAVRAS PRA DESCREVER ISSO. Acho que eu sempre digo isso, mas é que eu sempre me surpreendo, sempre me sinto grata, sempre penso que isso é mais do que eu jamais tive e aceito mais e mais. Isso significa muito pra mim e eu tô meio ruim de palavras, mas tudo se resume a gratidão a cada leitor que está aqui comigo nesse processo. <3

No mais, o de sempre: a caixa de comentários é serventia da casa e está aberta ao que seu coração mandar para escrever pra mim. Sugestões, dicas, feedback, críticas (construtivas, se possível), gritarias e o que mais vier a sua cabeça.

Gratidão por tudo e até a próxima. <3


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