História Clover - Capítulo Onze

ASTA POV

Após ver a Noelle naquele estado, a levei para o quarto para que ela pudesse descansar, ela havia me contado tudo e não posso dizer que estava de algum modo surpreso, até porque, era uma verdade incontestável de que ela era da realeza e eu não era nem de longe, um nobre.

– Garoto. – Ouvi a voz conhecida de Yami me chamar e pensei que já estava fora do horário.

– Me desculpe, eu já estou indo para meu quarto. – Apressei o passo tentando sair daquela situação.

– Não ouviu que estou te chamando? – Ele disse com autoridade e eu me virei para encará-lo. – Me siga, hoje você não vai dormir. – Ele sorriu de lado segurando seu típico cigarro na mão direita.

– O que o senhor pretende? – Seguia o homem que acabara de entrar numa sala desconhecida por mim. – Eu posso me meter em problemas por isso. – Dizia inseguro, ele realmente conseguia dar medo em qualquer um.

– Tem duas opções, vá para seu quarto e durma ou fique e aprenda algo novo. – Ele disse se sentando em uma cadeira e eu não tinha mais dúvidas, eu ficaria. – Decidiu se meter com os Silva? É um moleque de coragem. – Ele dizia enquanto eu olhava para o chão pensando no que ele dissera. – Eles irão te caçar até os confins do mundo e você, sendo um sem magia, não tem chance contra as emboscadas, porém, ainda é um de nós e por fim, tenho que te proteger como superior. – Ele deu de ombros. – Fora que ver eles apanharem de vez em quando, não faz mal a ninguém. – Riu alto e eu o encarava confuso.

– Mas eu não quero bater nos familiares da Noelle. – Neguei com a cabeça.

– Que merda. – Ele cerrou os punhos. – Pensei que veria uma boa luta. – Suspirou por um momento. – Então, pelo menos aprenda para se defender. – Nesse momento assenti com sua fala. – Bom, pelo que percebo, você não consegue sentir a Mana, correto?

– Sim, eu não consigo. – Eu estava atento a cada palavra que ele dizia.

– Prosseguindo. – Ele soltava a fumaça do cigarro que parecia nunca ter fim. – De onde eu venho, existe uma coisa chamada Ki, que nada mais é que a energia desprendida por objetos e pessoas, isso é separado da Mana e por isso, você pode desenvolver essa habilidade para prever movimentos, ataques e se dominar da maneira correta, até mesmo mentiras. – Senti meus olhos brilharem, existe mesmo algo assim? – Cada pessoa possui um Ki diferente e por isso, é possível usá-las a seu favor.

– E você pretende me ensinar isso? – Perguntei animado.

– Sim, afinal, você está em desvantagem, mesmo tendo obtido sucesso em sua pequena missão ou nas aulas, esse é apenas o primeiro semestre e muito ainda está por vir, fora que sendo alvo dos Silva, você corre um risco ainda maior. – Ele tragou novamente o cigarro. – Não quero que um dos meus alunos seja surrado.

– ME ENSINE LOGO ISSO. – Minha empolgação já estava no limite e vi que ele se colocou de pé e desembainhou sua katana e senti meus olhos arregalarem. – O que vai fazer? – Minha voz parecia tremida.

– TE ENSINAR MOLEQUE, PRESTE ATENÇÃO OU EU MESMO VOU TE MATAR. – Sua risada alta me fazia tremer, ele é louco? – Sinta o ambiente e tente prever o meu golpe.

Abri o grimório tirando a minha espada e parando seu movimento, um sorriso tomou conta de meus lábios, isso é muito fácil de dominar...

– Isso é muito fácil de dominar. – Ele disse e eu olhei curioso. – Deve estar pensando isso, não é seu idiota? – Um sorriso ladino brotou em seus lábios. – Isso foi apenas previsível, agora começa o teste e eu não vou me segurar.

Seus movimentos começaram a ficar mais e mais rápidos e eu não conseguia parar todos e sentia alguns pequenos cortes começarem a sangrar em meu corpo.

– Yami, você é louco? – Questionei sentindo meu corpo começar a transpirar.

– Vamos, não desista, se supere aqui e agora. – Os golpes continuavam e foi quando senti como se algo me avisasse que seu golpe viria da direita, obedeci isso e consegui bloquear o golpe que mirava meu pescoço. – Agora sim, começou a entender, não é? – Pisquei diversas vezes e novamente senti um golpe em direção a minha perna esquerda e novamente parei o movimento.

– Acho que sim. – Disse confuso.

– Ótimo. – Ele embainhou sua katana e sentou no chão, ele não parecia cansado, já eu estava ofegante e me deitei no chão, tentando fazer com que a minha respiração voltasse ao normal. – Quero que descanse e que não vá a minha aula, cuide de seus ferimentos e depois, vá treinar o que acabamos de fazer, minha aula regular não irá ajudá-lo em nada.

– Mas... – Eu ia dizer algo.

– ME OBEDEÇA. – Disse imponente e eu assenti. – Volte a minha aula na próxima semana e eu espero por progresso. – Ele disse saindo da sala.

Droga, como vou cuidar desses ferimentos nas minhas costas? Gauche não vai querer me ajudar com essa merda. Quando sai da sala, percebi que já estava de dia e por sorte trombei com a Mimosa.

– MIMOSAAAA. – Sorri sem jeito. – Bom dia! Será que poderia me ajudar? – Levei uma das mãos à cabeça.

– Mas o que... – Ela ia falar algo, mas a puxei para a sala.

– Shiu, ninguém precisa saber.  – Ela assentiu já abrindo seu grimório.

_~*~_

Estava tomando meu café da manhã como se eu não comece há séculos, quando senti um tapa estalado na minha cabeça.

– Mas que porr... – Ia falar quando vi que era Noelle. – O que foi? – Questionei numa leve irritação.

– Porque precisou da ajuda de minha prima? – Ela sorria ironicamente e olhei para a Mimosa que deu de ombros, revirei os olhos.

– Eu posso te explicar depois? – Questionei ao ver que aquilo estava virando uma cena e Yuno segurava o riso, mas que merda era essa? – Por favor... – Pedi e ela assentiu.

– Venha comigo para o campo de treinamento oposto ao da aula. – Disse e ela assentiu.

– Mas e a aula? – Ela parecia curiosa.

– E-eu estou liberado e creio que uma falta não lhe fará mal. – Sorri sem jeito e ela jogou uma mecha dos seus cabelos para trás.

– Sou uma aluna exemplar. – Disse sendo a superior de sempre. – Mas será bom, quero te mostrar uma coisa. – Ela parecia animada e eu sorri.

– Até mais tarde então. – Ela assentiu e saiu depois de me dar um beijo no rosto e olhar para Mimosa com desdém, eu não estava entendendo mais nada.

– Asta, Asta, Asta... – Yuno chegou atrás de mim e me deu dois tapas nos ombros. – Quem diria que a princesinha seria tão possessiva? – Ele soava irônico.

– Você entendeu o que aconteceu aqui? – Questionei curioso e ele gargalhou.

– Claro que sim, você que estava me zoando até pouco tempo, agora tem uma dona bem esquentadinha. – Ele ria irônico e senti meu rosto corar.

– Seu grande desgraçado. – Sorri de lado. – ME DEIXA TOMAR MEU CAFÉ DA MANHÃ EM PAZ. – Gritei sem paciência e ele ergueu as mãos saindo da cadeira ao meu lado.

– Como quiser meu grande amigo. – Ele ria alto e eu queria matá-lo.

_~*~_

Estava me aquecendo quando Noelle chegou atrás de mim, ela parecia querer me assustar, mas aquilo não funcionaria.

– O que foi aquilo mais cedo? – Questionei calmamente.

– É...só...eu... – Ela parecia perdida nas palavras.

– Ciúmes? – Questionei franzindo o cenho.

– Não, não é... – Ela cruzou os braços em irritação. – Não tenho ciúmes de você.

– Está mentindo? – Senti algo me alertar sobre isso, mas será que era sobre o Ki? Não...acho que não...

– N-não estou. – Seu rosto corou. – Só não entendo o motivo de ter procurado ela...

– Eu não procurei ninguém, eu sai e ela estava no caminho e pedi ajuda, só isso. – Dei de ombros.

– Precisou de ajuda? – Ela parecia curiosa.

– É isso que quero lhe falar. – Já não sentia mais o incomodo de antes, só era um mal-entendido. – Yami me chamou ontem para me ensinar algo e por isso ele me liberou da aula hoje, para que eu treinasse o Ki. – Disse empolgado.

– Hm, acho que já ouvi falar disso, mas nunca vi alguém que dominasse, nem sabia que Yami tinha tal habilidade. – Ela coçou a bochecha.

– Quer me ajudar a treinar? – Disse empolgado.

– Acho que será uma boa para que eu aprenda a dominar algo também. – Ela sorriu e eu não entendi. – Lembra que eu queria te mostrar algo? – Ela abriu seu grimório em uma página e me mostrou uma nova escrita.

– WOOOOW, QUANDO CONSEGUIU ISSO? – Questionada empolgado.

– Ontem, depois que cheguei no meu quarto, ele apareceu, deve ter sito por conta de meu irmão. – Ela deu de ombros.

– VAMOS TREINAR JUNTOS. – Eu disse a puxando para o campo de treinamento da aula.

– Mas porque está seguindo para a aula? Yami não te liberou? – Ela soava confusa.

– Mas ele não te liberou e será ótimo ele te ver com isso. – Justifiquei meu ato.

– Talvez. – Ela riu baixo e logo estávamos na aula, todos treinavam em dupla, era uma boa aula.

– Não pegue leve comigo. – Pedi com um largo sorriso.

– Não vou. – Ela disse confiante. – Magia de Criação: Rugido do Dragão do Mar. – Após terminar sua frase, a cabeça de um dragão se formou, sua extensão é feita de água e seu tamanho muda de acordo com a vontade de Noelle, percebi isso, após as 3 tentativas de me atacar, mas consegui me desvencilhar das três.

Noelle parecia irredutível, ela não desistiria e estava animada com sua conquista, eu também estava, afinal ela merecia isso. Seus ataques continuavam incessantemente e logo todos os alunos pararam para observar nossa luta, minha espada, apesar de eficaz, não conseguia cobrir todo meu corpo e por isso, resquícios da magia conseguiam me atingir, mas nada que causassem muito danos.

Nenhum de nós parecia estar cansado e ela começou a se mover cada vez mais rápido, vindo de lugares que deixava cada vez mais difícil me proteger por completo, eu não conseguia acreditar que ia perder para ela.

– NÃO, EU NÃO VOU PERDER AGORA. – Disse irritado comigo mesmo. – EU VOU ME SUPERAR AQUI E AGORA. – Meu coração estava acelerado eu não sabia como, mas não me daria por vencido. – AINDA NÃO CHEGUEI AO MEU LIMITE. – Nesse momento, vi as páginas do meu grimório começarem a se mover e o cabo de uma nova espada aparecer. – Agora sim. – Sorri satisfeito, empunhando as duas de uma vez e me defendendo melhor dos ataques da garota a minha frente.

– PAREM. – Yami disse e Noelle acatou a ordem. – Já chegaram ao máximo dessa luta, Noelle, você esgotaria sua Mana e isso não é permitido em aulas e Asta, suas habilidades melhoram a cada dia, não precisa fazer isso de uma vez. – Ele parecia calmo. – Sumam da minha frente, AGORA. – Acenamos com a cabeça e saímos do campo. – O restante de vocês, de volta para a aula, ninguém sai dela sem antes superar seus limites. – Ouvi ele dizer e senti pena dos demais, ele era um sádico quando queria.

_~*~_

Eu havia deixado Noelle em seu quarto, ela estava exausta no final das contas, eu seguia para meu quarto, queria muito poder descansar também, mas fui chamado por alguém que jamais pensei que fosse ter contato nessa escola.

– Asta, podemos conversar por um minuto? – Me virei para ter certeza de que era mesmo ele parado atrás de mim.

– Diretor Julius. – Disse boquiaberto.

– Apenas uma rápida troca de palavras. – Ele sorria de uma forma gentil e eu assenti. – As férias estão chegando e eu gostaria de pedir para que permanecesse na escola, se não fosse pedir demais. – Ele parecia com medo de passar algum limite.

– Claro, mas qual o motivo? – Questionei curioso.

– Bom, depois das férias, temos um exame muito importante e você, sendo um sem magia, precisa se preparar melhor para isso e eu gostaria que desse uma olhada em alguns livros que não são fornecidos nas aulas, afinal, para passar num exame onde a magia é a base, saber dominar o que tem, é extremamente importante. – Ele disse calmo e eu assenti. – Te enviarei a lista com os nomes dos livros em duas semanas, até lá, aproveite as aulas. – Ele disse já fazendo menção de se retirar. – Ah, talvez tenha alguém que gostaria de ficar por aqui nas férias, a convide, Noelle sempre será bem-vinda. – Após isso, ele saiu do meu campo de visão.

– Por que ele não a convida então? – Dei de ombros e segui novamente meu caminho. – Estudar nas férias...droga.

Dizer que esses eram meus planos era mentira, mas se preciso disso para passar por mais um obstáculo, que seja, eu só não quero ficar para trás de ninguém nesse lugar.