História Clube dos fracassados - Capítulo único

 

A rua movimentada parecia melancólica aos olhos de Seokjin, que naquele momento se arrastava para o seu apartamento. Ele não sabia se ficava frustrado, triste ou com raiva. Talvez ele estivesse os três juntos de uma vez. A sensação de ter sido traído era grande e bastante real dentro de si, uma amargura lhe tomava por completo. Queria chorar e gritar feito um louco no meio da rua, mas o máximo que fez foi colocar uma digna carranca na face durante todo o caminho para o aconchego do seu lar, onde pretendia se esconder pelo resto da semana que seguiria e chorar sobre o leite derramado. 

Todo seu drama e tristeza tinha um motivo, claro. Não é todo dia que você vai todo pimposo fazer uma surpresa para a namorada querida, aparecendo no campus que ela estuda, levando uma lembrancinha básica para comemorar os dois anos de namoro e dá de cara com a dita cuja aos beijos com sabe-se lá quem, encostados nos armários do corredor. Ele somente esperou o choque passar para dar o pé e fugir como um tremendo covarde. Poderia muito bem ir tirar satisfações e armar o maior barraco ali mesmo com aquele ser que roubava sua amada, mas não, preferiu sair antes de ser notado e correu para bem longe.

Seus pés doíam por tanto ter andado pela cidade, sem rumo até anoitecer, só não doíam tanto quanto o seu pobre coração, era o que ficava repetindo na cabeça até chegar em casa.

De ombros caídos e olhar derrotado foi como ele adentrou a sala do pequeno apartamento, encontrando uma criatura enfurnada no sofá comendo batatinhas e tomando cerveja. Min Yoongi estava jogado e esparramado no estofado, encarando a televisão que passava algum jogo de basquete e gritando com os jogadores com se estes pudessem lhe escutar. Tão concentrado em reclamar do jogo que quase não percebeu Seokjin bufando e suspirando pela casa enquanto guardava umas compras na geladeira. 

Os dois não eram o melhor exemplo para a palavra amigos, a relação que tinham chegava perto de ser apenas colegas, porém nada impedia de eles dividirem um apê perto da universidade. Um precisava morar perto de onde estudava e o outro de alguém para dividir as contas do aluguel, então, no desespero e na condição de ambos terem um teto para morar, Jin chamou um desconhecido para compartilhar o apartamento consigo. E o desconhecido sequer hesitou. 

Os poucos meses morando juntos os fizeram evoluir para colegas que moram no mesmo local e compartilham comida de vez em quando.

Jin conseguiu chamar a atenção do gnomo de sofá quando deixou escapar alguns — talvez vários — palavrões em alto e bom som ao bater o dedo mindinho do pé na perna da mesa. 

Quando você mora com alguém, é possível notar coisas que são da própria pessoa que divide certos metros quadrados consigo, como o jeito dela e suas manias, mesmo que não sejam melhores amigos. Sendo assim, o Min soube logo que algo não estava certo ao ouvir tantas palavras de baixo calão vindas do seu companheiro, uma vez que este só fazia isto estando muito irado com algo. 

— 'Tá tudo bem aí? — Yoongi gritou sem ânimo para o outro, sem sequer desgrudar os olhos da tela.

— Está tudo maravilhoso! — Seokjin respondeu gritando de volta. — O dia já está ótimo e eu ainda bato a porra do dedo na merda dessa mesa. 

Com certeza tem algo errado.

Depois de parar de xingar o pobre móvel indefeso, Jin pegou uma caixa amassada que estava dentro da sua mochila e levou com ele até o sofá, no qual se jogou sem vontade alguma ao lado de Yoongi. Começou a comer os doces da caixa, raivoso, enquanto o outro lhe olhava de lado. O Min notou algo — que não sabia o porquê de ter observado — e achou estranho.

— Minha memória é péssima, mas eu tenho quase certeza que você estava levando isso pra sua namorada. — apontou para os chocolates que o moreno comia.

E essa foi a gota d'água para que Kim Seokjin deixasse o orgulho de lado e começasse a chorar como um bebê com fome. Irônico, pois ele estava com a boca cheia de chocolate, o que apenas deixou a cena mais penosa.

Seria uma mentira dizer que Yoongi sabia o que fazer em momentos assim e que imediatamente começou a confortar seu colegas que chorava as pitangas por motivos ainda desconhecidos. Ele apenas estendeu uma de suas latinhas de cerveja para o Kim, este que mesmo chorando aceitou a bebida e a fez descer goela a baixo. 

— Ela me traiu. — falou ainda entre soluços. — Como ela pôde fazer isso comigo? E eu estava tão feliz por hoje ser nosso aniversário de dois anos. Eu sou muito burro!

Dito isto, Yoongi começou a rir, mas a rir com vontade e com uma pitada de amargura na risada. Qual a probabilidade, pensava ao passo que Seokjin lhe encarava perplexo com a coragem do outro de rir da sua desgraça.

— Do que está rindo? Por acaso acha engraçado a minha situação? — reclamou limpando os resquícios de lágrimas do seu rosto.

— Não. Estou rindo porque eu estou tão na merda quanto você. — deu um gole na sua latinha. — Adorei saber que meu namorado já transou com metade da universidade e estava mentindo pra mim esse tempo todo. 

Dessa vez foi o Kim quem riu como se não houvesse amanhã. Um rindo da desgraça do outro, esta que no fim era a mesma.

— Como você descobriu? — Seokjin perguntou. 

— Pelo visto eu fui o último a saber, já que o campus todo já sabia. Eu ouvi um grupinho comentando sobre ele e uma garota falou que tinha dormido com ele noite passada. — falava olhando para latinha que segurava. — Depois eu fui tirar satisfação com ele e nós dois discutirmos com todo mundo observando. Eu dei um soco nele e saí de lá. — riu fraco.

— Nossa. Queria ter a sua coragem. — Jin comentou. — Eu vi a Sunghee beijando um cara qualquer e simplesmente saí correndo de lá. Eu sou um covarde de merda.

Os dois ficaram bebendo silenciosamente lado a lado, estava passando comerciais no intervalo do jogo. 

— Agora nós podemos dizer que finalmente temos alguma coisa comum. — o Kim riu.

— É. Essa situação toda é uma droga, mas pelo menos estamos juntos nessa. — estendeu sua cerveja para o outro. — Um brinde à nós e aos nossos relacionamentos.

— Um brinde do clube dos fracassados e traídos. — falou e brindaram, bebendo tudo em dois goles. — Amanhã mesmo eu vou terminar tudo de uma vez com ela.

— É o melhor que você pode fazer. Mas, Jin — chamou o companheiro para olhar para si. — Não se culpe pelo o que aconteceu, a culpa não é sua, ela que é uma mau-caráter.

— O seu namorado também. Quer dizer, ex-namorado. — riu de leve. — Vamos apenas beber essa noite e fingir que podemos esquecer disso.

Foi o que fizeram. De repente era possível ver várias latinhas amassadas e farelos de comida espalhados pelo chão da sala enquanto eles assistiam ao fim do jogo na maior empolgação do mundo. Já estavam bêbados com certeza, riam e falavam alto como se estivessem numa festa com o som muito alto, mas era apenas o álcool no seus organismos. Por fim, conseguiram esquecer os desastres pessoais por algumas horas.

 

[...]

 

O sol já raiava fortemente lá fora e a casa continuava no perfeito silêncio. Aos poucos ia despertando, mas Yoongi estava tão confortável, sua cama estava tão aconchegante que ficava difícil querer acordar. Somente abraçou melhor o grande travesseiro que estava agarrado, mas aquilo estava duro demais para ser um travesseiro. 

Travesseiro não se mexe também, pensou. Tem alguma coisa errada. 

Abriu os olhos com dificuldade e se espantou ao ver outro par de olhos do seu lado lhe fitando confuso. E com grande força, um grito uníssono foi soltado. Yoongi estava na mesma cama que seu companheiro de casa.

Os dois, perplexos, se afastaram de uma vez um do outro, o que causou a queda de Seokjin da cama. 

— Que porra aconteceu aqui?! — Seokjin verbalizou primeiro.

— Por que estamos sem roupa e na mesma cama?!

As memórias de ambos vieram à tona, a noite completa deles desde o momento que eles começaram a beber juntos até o momento que eles estavam se pegando loucamente no sofá da sala. No fim, eles transaram e isso era o que lhes atormentava. 

— Merda, merda, merda. Isso não aconteceu, aconteceu? — o Kim ainda se encontrava incrédulo mesmo sabendo que aquilo de fato rolou.

— Pergunta isso para a minha bunda que 'tá doendo! Mas que droga, não precisava ser tão forte assim! — Yoongi fez careta reclamando.

— Foi você que pediu! — rebateu, mas depois ouviu o que ele mesmo disse. — O que eu 'tô falando?! Isso não pode ter acontecido… — se lamentou mais uma vez bagunçando seus cabelos.

— Uma pena, porque aconteceu!

— Mas eu sou hétero!

— Eu pareço uma mulher pra você, Seokjin?! — Yoongi questionou e se estapeou na cara logo em seguida. — 'Tá, isso não importa agora, porque já era. Meu Deus, nós transamos mesmo! — até o Min estava incrédulo com a situação. — Certo, eu nem sei o que pensar direito.

Eles foram interrompidos por batidas na porta. Ambos se assustaram e se olharam, não estavam esperando ninguém. Desesperaram-se mais uma vez, o Kim foi atrás do celular que tinha deixado no silencioso e constatou o que estava imaginando, Sunghee lhe ligou várias vezes naquela manhã e era ela quem estava esperando para entrar no seu apartamento. 

Percebendo que ainda estavam nus, Yoongi enrolou-se ainda mais no lençol e saiu correndo para o banheiro, deixando um Seokjin sem saber o que fazer parado no meio do quarto que não era seu. Recolheu suas roupas no chão e foi para o seu quarto procurando por um roupão qualquer que cobrisse todo seu corpo — e sua vergonha talvez.

Tentando manter a calma e os pensamentos organizados ao máximo, ele rumou à porta, dando de cara com sua namorada e toda a sua irritação. Antes de que ela sequer abrisse a boca para reclamar alguma coisa, ele a beijou, ignorando toda a sensação de traição que sentia no dia anterior. Seokjin estava confuso.

— Por que não atendeu minhas ligações, Jinnie? Desde ontem eu te ligo e mando mensagens, e nada de você dar sinal de vida. — ela falava franzindo as sobrancelhas e já entrando na casa.

— Desculpa, meu bem, eu esqueci o celular no silencioso. 

— Meu deus, o que fizeram aqui? Essa sala está um nojo. — se referia às inúmeras latas de cerveja e salgadinhos jogados pelo sofá e chão da sala.

Seokjin preferia não lembrar o que rolou naquele cômodo de madrugada.

— Já que não me atendia, vim aqui para avisar que nós vamos sair mais tarde. — a garota falou mudando sua expressão de nojo para meiga em segundos.

— Por quê?

— E precisa de motivos para nós dois sairmos juntos? — perguntou cruzando os braços. — Mas se responde a sua pergunta, hoje nós completamos dois anos de namoro, seu esquecidinho.

O Kim segurou a grande vontade de revirar os olhos, porque ele sabia que essa data era no dia anterior, com toda a certeza do mundo.

— Certo, eu te pego na sua casa mais tarde. Agora eu preciso tomar um banho e ajeitar umas coisas. Principalmente a casa. — falou olhando a bagunça.

— Por favor, parece que passou um furacão aqui! — chegou mais perto do Kim para sussurrar. — Você bem que poderia dizer para o seu colega de quarto arrumar, ele tem cara de ser muito preguiçoso e folgado, você que sempre arruma tudo!

— É, ele é, mas eu não me importo, pelo menos me mantenho ocupado. — riu fraco.

— Pois eu já vou indo, meu amor — Sunghee segurou o rosto do namorado e beijou-o. — Até mais tarde.

Quando se virou para ir embora, ela esbarrou em Yoongi, que estava enxugando os cabelos por causa do recém banho, e fez uma careta para o Min, ele apenas a olhou com cara de poucos amigos. O de cabelos platinados seguiu para a cozinha sem olhar para Seokjin e a garota saiu por onde entrou.

O Kim observou seu colega colocando café numa xícara e perguntou-se se aquela era a hora que eles deveriam conversar sobre o que houve, já que estavam novamente à sós. No entanto, toda vez que lembrava da noite passada ele sentia uma vergonha imensa lhe tomar, então desistiu e decidiu fugir por mais um pouco de tempo. Afinal, estava confuso e envergonhado. 

Eles dois não trocaram mais nenhuma palavra durante o resto do dia, um estava fugindo do outro ou pelo menos fingindo que nada aconteceu, uma vez que antes dessa confusão os colegas de casa mal se falavam. 

Então, parecia que tudo estava normal.

 

[...]

 

Seokjin preferiu manter as aparências por um tempo. Ele queria terminar com Sunghee, definitivamente, mas não sabia como. Nessa enrolação, duas semanas passaram e ele continuava sem fazer nada. Não falava com ela e muito menos com Yoongi.

Apesar de nada mudar, tudo parecia diferente. Seokjin passou a reparar as ações da namorada, tudo aparentava muito suspeito há muito tempo, ele que foi lerdo demais para perceber qualquer coisa. Tudo lhe incomodava em relação a ela, pois sempre recordava da cena dela beijando outro homem, mas Jin queria encontrar motivos para fugir de um problema maior, chamado Min Yoongi.

Seokjin sentia a culpa por ter traído Sunghee naquela noite, mesmo que tivesse sido traído primeiro. Mas, depois de tanto pensar, concluiu que não se arrepende e era isso que lhe deixava ainda mais confuso. 

Caramba, ele transou com outro homem e não se arrependia. Ele se lembrava de tudo, principalmente do quão bom aquilo foi. Jin só não queria admitir isso, não admitiria nunca se fosse preciso. Por isso, todo o seu orgulho o fazia continuar um relacionamento que nem existia mais e viver essa mentira.

Entretanto, como para tudo na vida existe um limite, nós precisamos apenas de um estopim para jogar tudo para o alto. O estopim de Seokjin foi quando ele recebeu uma mensagem de um número desconhecido, nela estava uma foto e a legenda era “Covarde!”. Ele abriu a imagem e ficou perplexo que alguém flagrou Sunghee beijando um outro cara, um diferente daquela primeira vez, tirou uma foto e mandou para ele. Aquilo foi o que ele precisava para sair atrás de terminar tudo de uma vez. 

Estava com raiva, mas era de si mesmo por ser tão idiota, por se manter enganado de propósito. 

Atravessou o bairro inteiro apenas para ficar cara a cara com sua futura ex-namorada e lhe dizer umas poucas e boas.

— Foi muita burrice minha ter vindo até aqui, mas eu ainda tive um pouco de decência ao invés de terminar tudo por uma mensagem. — Seokjin falou assim que a garota abriu a porta de sua casa.

— Do que você tá falando, Jinnie? — fez uma cara inocente.

— Não se faça de sonsa, Sunghee. — riu irônico e mostrou a foto para ela. A garota se surpreendeu ao ver aquilo.

— Quem te mandou isso?

— E isso importa?! Nossa, você é inacreditável! — ele desviou o olhar dela e pôs as mãos na cintura tentando conter sua raiva. — Essa não é a primeira vez que eu vejo isso, mas o burro aqui não teve coragem de terminar antes.

— Uau, pois você é um idiota mesmo. — ela falou rindo. — Me ama tanto assim que preferiu aguentar uma traição nas costas do que terminar logo?!

Jin não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Essa era mesmo a mulher que ele namorava? 

— Eu continuei com você por culpa, porque eu te traí com um homem! Na mesma noite do dia do nosso aniversário de dois anos que você sequer lembrou! — o Kim praticamente gritou e só depois se deu conta do que disse. A garota na sua frente estava perplexa.

— É, acho que eu fiz certo, eu preciso de um homem de verdade e não de você. — ela disse acidamente. — Mas, me diga, eu sei quem é ele? — ela sorriu sarcástica.

— Não interessa, Sunghee, acabou. Espero te ver nunca mais.

Então, saiu de lá sem falar mais nada. Passava as mãos no cabelo procurando acalmar os ânimos e organizar seus pensamentos melhor. Um conflito já foi, faltava outro. 

No caminho para casa ele tentou pensar em tudo o que poderia falar e como falar, isso lhe fazia esquecer do seu relacionamento de dois anos, querendo ou não tudo o que passou com Sunghee lhe incomodava no peito e ainda iria lhe incomodar mais pra frente. Só que cada vez menos até esquecer de que aquilo um dia foi importante. 

Era como se um deja vú passasse na sua cabeça no exato momento que pôs os pés dentro do seu apartamento e viu Yoongi jogado no sofá, mas dessa vez ele não estava bebendo ou assistindo, se encontrava deitado encolhido e de costas para Jin. O Kim se aproximou e sentou no pequeno espaço que sobrava no sofá, bem ao lado dos pés dele.

— Eu terminei com ela.

— Agora você fala comigo? — Jin não esperava por essa.

Um silêncio ensurdecedor pairou por toda a sala enquanto Seokjin olhava para o nada, e Yoongi sequer mudou de posição.

— Foi você que me mandou aquela foto, não foi? 

— O que te faz pensar que foi eu?

— Não sei, talvez porque você seja o único que me chamaria de covarde nessa situação. — riu fraco. — Ou não.

— Pelo menos isso te fez criar coragem.

— Podemos conversar? 

— Já estamos.

— Conversar direito, Yoongi. — puxou o outro para se sentar, mas ele parecia pesado demais. — Cara a cara.

O Min demorou a se mexer novamente, mas decidiu levantar e se sentar. Ele não olhava diretamente no rosto do outro, mas Jin percebeu seu nariz um pouco vermelho.

— Você estava chorando?

— Não, não estava. É apenas um resfriado. — esfregou as mãos no rosto e olhou para Jin que lhe encarava com as sobrancelhas arqueadas. — 'Tá bem, eu estava. 

— Por quê?

— Porque eu gostava daquele filho da mãe, 'tá legal?! — aumentou o tom de voz, porém suspirou pesadamente. — Eu estava bem, mas a raiva bateu de repente e quando eu estou com raiva eu choro. — o Min encrava seus dedos que se encontravam no seu colo. — E ainda apareceu outro idiota pra complicar mais as coisas.

— Eu sei como você tá se sentindo. — falou e ouviu uma risada sarcástica do platinado. — É sério, eu só estou… confuso. — dizendo isso conseguiu atrair o olhar do outro para si. — Eu não terminei com ela porque eu estava confuso e com culpa. Quer dizer, por ter traído ela também e não pelo o que nós fizemos! Apesar de isso ser o motivo da minha confusão e isso também foi o que me fez continuar com ela por mais tempo, mesmo sabendo que ela me traía. Enfim! — Jin parou para respirar corretamente, pois estava falando muito rápido. — O que eu quero dizer é que eu gostei e não me arrependo. 

— Você não tinha que tá me explicando nada, Seokjin. — Yoongi falou depois de alguns segundos absorvendo o que ouviu. 

— Eu precisava! Eu não gosto de maus entendidos na minha vida. Eu não quero que você seja um deles.

— Mas você mesmo disse que é hétero, não é? — cruzou os braços e sorriu de lado. — Se queria pedir desculpas por esse tempo todo você ter me ignorado e sequer quis esclarecer nada, tudo bem, está desculpado. — disse se levantando.

— Yoongi, espera! — se levantou também, o Min parou e se virou para ele. — Eu nunca senti atração por nenhum outro homem antes, pelo menos acho que não. Mas eu senti por você, senão não teríamos transado, certo?

— Parabéns! Você é apenas mais um homem com medo de saber que “virou” gay. — fez aspas com os dedos. 

— Eu não estou com medo, eu só quero entender! — o Kim se aproximou do mais baixo. 

E sem esperar mais um segundo, Jin segurou Yoongi pela nuca e o beijou. O Min tentou relutar daquele simples contato, mas não resistiu a movimentar os lábios junto ao outro. Um beijo simples, lento, porém intenso, apenas como se quisesse conhecer a boca um do outro. E para Seokjin era isso mesmo, ele queria conhecer o que sentia. 

Como já dito antes, essas poucas semanas desde que tudo virou de cabeça para baixo serviram para que o Kim notasse melhor as coisas, inclusive Min Yoongi. Ele tinha algo que lhe atraia, só não sabia explicar o que era. Yoongi tinha sua beleza notável, com certeza, sua personalidade forte e ao mesmo tempo desleixada tinha um charme a mais. Entretanto, mesmo assim, Seokjin não o conhecia direito, esse fato lhe deixava curioso e com ânsia em saber mais. 

Se separaram devagar, com as respirações descompassadas, e encostaram suas testas.

— Eu não quero ser algo para testar a sexualidade de alguém. Não quero ser um experimento para você, Jin. — se afastou minimamente para olhar nos olhos do maior.

— Sabe, eu acho que não estou mais confuso. Bem, ok, confuso eu ainda estou porque é algo novo para mim, longe de ser errado ou estranho. Mas eu não estou confuso em relação a você. Não é por você ser homem ou deixar de ser, é por ser você! 'Tá dando para entender?!

— Não mesmo. — riu. — Você é uma bagunça, Kim Seokjin.

— É, talvez eu seja mesmo. — também riu. — E você é como um ímã, me atrai de uma forma que eu nem sei explicar, mas tenho que falar, você é lindo!

— Precisei ficar de quatro para você para que percebesse isso? — gargalhou e Jin o empurrou de leve.

— Obrigado por estragar o clima. — riu escondendo o rosto nas mãos.

— Mas então, o que faremos agora? — perguntou receoso.

— Eu não sei. Podemos ir com calma, nos conhecer melhor primeiro. Caramba, nós já moramos juntos há quase um ano e eu não sei quase nada de você!

— Isso é verdade, eu moro com um desconhecido. — brincou. — Eu só sei que você me irrita com seu jeito todo certinho. Argh, por que mesmo que fui gostar de você?

— Oh, então quer dizer que você gosta de mim? — Jin sorriu de lado levantando as sobrancelhas.

— Falei o que não devia, né? — o Min se afastou subitamente e virou de costas.

— Ah, o que foi? 'Tá com vergonha, é? — o maior provocou.

— Eu não! — disse de braços cruzados.

— Consigo ver suas orelhas vermelhas daqui. — riu de forma escandalosa.

— Ok, eu gostei primeiro, qual o problema?! — afirmou se virando, mas com a cara emburrada ainda. Seokjin levantou os braços em sinal de rendição. — Talvez tenha sido antes mesmo de eu terminar com aquele idiota traidor, mas só talvez. — sussurrava tudo com um bico formado na face.

— Você realmente é uma coisa, Min Yoongi. — falou sorrindo e negando com a cabeça.

— Uma pergunta. Nesse lance de “nos conhecer melhor”, assim, por acaso, podemos nos beijar? Só uma dúvida mesmo. — o platinado falou como quem não quer nada.

— Hm, deixa eu pensar. — Jin segurou a mão de Yoongi e o puxou para si, abraçando sua cintura. — Acho que podemos sim.

— Ótimo.

Os dois iniciaram mais um beijo ali mesmo, em pé no meio da sala. Toda essa história de ir com calma foi por água abaixo e eles nem lembraram disso quando estavam transando mais uma vez no quarto de Yoongi. 

Todos os sons de beijos e gemidos ecoaram pelo quarto até tarde da madrugada, realmente eles tinham muito para conhecer um do outro, pelo visto o corpo estava incluso também. 

Quando pararam, lado a lado na cama, tentando controlar os fôlegos e os espasmos de outro orgasmo, olharam um para o outro e riram, satisfeitos. O Min puxou o maior para perto e este encostou a cabeça no peito dele. Eles ficaram ali, se acariciando por minutos, apenas apreciando a presença de ambos.

— Já que você quer se conhecer melhor também, na próxima podemos tentar ao contrário, eu não me importo de ser flex. — Yoongi falou naturalmente, mas Seokjin corou da cabeça aos pés e escondeu o rosto no pescoço do menor, a fim de esconder sua risada e sua vergonha. Mesmo assim, concordou. 

A vida é assim, uma hora você está terminando algo e na outra está começando. Uma hora você diz para ir com calma e na outra está indo fundo. Literalmente. 

Quando menos se espera, sua vida vira de ponta a cabeça e você se dá conta que está dormindo nos braços do seu colega de casa. Mudanças vêm e vão, e sempre torcemos para ser para melhorar. Dessa vez, apesar de não saber com certeza de tudo o que está acontecendo, Seokjin estava seguindo a mudança que chegou e algo dentro dele indicava que aquilo era o melhor. Yoongi era o melhor.