História Cold - You yearn for love

Camila havia mentido ao Senhor Jauregui, quando disse que precisava viajar. Fora apenas um pretexto que arranjara para conseguir aproximar-se de Lauren.
            Naquela noite ela tinha ido jantar em casa de sua irmã, com quem conversava, enquanto esperavam Lucas, seu cunhado, que estava custando a chegar.
            – Não sei o que você está esperando – disse Sofia que desejava vê-la casada – para arranjar uma noiva e se casar. Seus negócios vão indo muito bem, você ganha o suficiente para manter uma família, mesmo que arranjasse uma esposa que goste de luxar.
            Sinuhe chegou e ficou olhando satisfeita para as duas filhas
            Morava com a sua filha casada e, com muito tato e inteligência, conseguira a estima de seu genro, a quem também estimava. Eram, portanto, felizes.
            – Sua irmã tem razão, Camila. Você já tem idade bastante para formar um lar. Viver assim sozinha é que não serve. Isso não é vida, meu amor.
            Camila bebeu mais um gole do aperitivo e deu de ombros:
            – Não tenho pressa nenhuma de me casar. O fato de estar ganhando muito dinheiro não quer dizer que eu seja obrigada a ir procurar uma esposa para gastá-lo. Pelo que vejo é essa a ideia de vocês.
            Ambas riram e Sofia disse:
            – Pois é justamente o contrário. Você precisa arranjar uma mulher que a impeça de gastar o dinheiro à toa, em loucuras. Uma companheira sincera que a ame e que cuide de você. Eu nem sei como elas ainda não caíram em cima de você, morando só, naquele apartamento luxuoso. Com certeza já andou alguma pequena por lá, não é?
            – Pois eu me sinto muito bem sozinha, sem mulher nenhuma me amolando. Quando chegar a ocasião, eu me casarei. Uma mulher não deve ter muita pressa em se casar.
            – Os anos passam depressa, Camila. Você não deve esquecer isso – disse Sinuhe.
            Sofia levantou-se rindo.
            – Parece que tudo é inútil, mamãe. Sua filha tem pinta de solteirona. Ela é uma grande espertinha com as mulheres e meninas como ela não gostam de moças decentes. – Camila riu, levantando a mão.
            – Olhe que eu lhe dou uma palmada!
            Sofia deu um pulo correndo para trás da cadeira e os três riram muito.
            Ela vestia uma calça comprida bem justa e era uma moça muito elegante. Parecia uma mocinha solteira, embora a cegonha já estivesse a caminho, não se percebia nada ainda.
            – Boa noite! – soou a voz forte de Lucas – Olá, Camila!
            Sofia correu para os braços do marido e beijaram-se amorosamente.
            – Você não tem inveja disso? – perguntou Sinuhe, baixinho – Você já deve ter tido inúmeras pequenas lindas nos braços, mas nenhuma ainda a beijou com o amor e a sinceridade que sua irmã beija o marido – E num suspiro: – Minha filha, você precisa procurar uma mulher boa e jovem para se casar com ela.
            – Ora, mamãe, não seja insistente, deixe-me em paz – disse rindo. – Parece até mentira que, sendo minha mãe, possa me dar tão maus conselhos. Lucas, venha cá para me ajudar a beber o seu vermute.
            – Sabe o que me disseram? Que a viram umas duas vezes com Lauren Jauregui, e que você encarregou o pai dela na construção do seu novo armazém. Ela é uma garota maravilhosa!   
            – Como todas as outras.
            Estava sendo fingida ao dizer aquilo, pois, para ela, Lauren era diferente de todas. As outras nunca a haviam impressionado e ela estava obcecada por Lauren.
            Lucas e Camila iniciaram uma partida de xadrez enquanto esperavam pelo jantar.
                                                           * – * – * –
            Havia muitas pessoas no clube. Garotas, rapazes e também pessoas de mais idade.
            Alguém preparou o toca-discos e alguns pares saíram para dançar.
            – Vejam, ela não pára de olhar para cá.
            – E parece que sorri de uma maneira irônica.
            – Não tira os olhos daqui.
            – Para qual de nós quatro ela estará olhando?
            – E por que sorri daquele jeito?
            – Não está sorrindo não.
            – Claro que está. Eu vejo perfeitamente.
            Lauren permanecia calada, escutando os comentários de suas amigas. E recordava que Camila a havia abraçado e de que forma a subjugara com os seus beijos. Mas mostrava-se impassível, como se nada ali a interessasse.
            – Não se pode deixar de reconhecer que é um belo tipo de garota– disse Allyson.
            – Uma vendedora – Normani soltou para o ar uma baforada.
            – Não interessa – falou Dinah com um gesto de desprezo.
            Tony e Otávio se aproximaram e sentaram-se junto a elas.
            – Você como vai, senhorita enigmática? – disse Tom fitando Lauren com insistência – Parece que o mundo só consegue aborrecê-la, não é?
            – Talvez – respondeu ela displicentemente.
            – Ou será apenas “pose” para conseguir cartaz – disse Otávio.
            – Talvez – respondeu sem se alterar.
            Camila largou o copo sobre a mesa e veio vindo calmamente. Seus olhos fitaram Lauren como se quisesse adivinhar seus pensamentos e seu sorriso era muito agradável.
            – Olá – cumprimentou de um modo geral.
            – Olá – responderam todos.
            – Vamos dançar, Lauren?
            A jovem hesitou. Se dissesse que “sim”, Camila iria supor que ela estaria pensando nos seus beijos. Se dissesse “não”, não dançaria com ela. Levantou-se dizendo:
            – Vamos.
            Quando sentiu-se em seus braços ficou arrependida. Devia ter recusado.
            – Você está hoje muito bonita.
            Lauren não se deu o trabalho de responder.
            – Você pinta muito os olhos. Não precisa. Suas pestanas são tão grandes e espessas que até parecem artificiais.
            Ela continuou impassível como se não tivesse escutado. Seus olhares se encontraram. Nenhuma das duas desviou os olhos. Camila murmurou:
            – Adorei sua boca. Adorei beijá-la. Senti um prazer imenso em tê-la nos meus braços.
            Sentia-se perturbada pela voz que sussurrava e parecia hipnotizada por aqueles olhos penetrantes e sugestivos.
            – Você parece uma estátua de gelo, mas agora já sei que não é – Camila continuava falando baixinho, com a boca muito próxima da dela – Eu sei que sob esse busto lindo bate um coração apaixonado e ardente.
            – Cale-se.
            – Todo o mundo diz que você parece uma esfinge. Que nada a interessa. Que ninguém a faz vibrar. Que não tem ilusões e é insensível como se tivesse a alma vazia.
            – E tenho mesmo.
            – Mas está desejando enchê-la de amor e de felicidade. Você anseia pelo amor, Lauren. Anseia por carícias, anseia por beijos que a façam vibrar. E você quer esconder tudo isso porque tem medo. Tem medo de si mesmo, de não ter forças para se controlar.
            – Você está muito enganada, Camila. O amor não me interessa absolutamente em nada.