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História Colors - Azul.


Escrita por: lycorisrose

Notas do Autor


Sim, eu escrevi o capítulo ouvindo Badlands. Inclusive dele sai o nome da fic. Deem uma chance para a Halsey, ela é incrível.

Trigger Warning: violência, sangue, suicídio.

Sim, chegamos ao ponto.
Boa leitura.

Capítulo 12 - Azul.


 

 

A noite era fria, quase atingindo seus 10° graus de temperatura na pequena sala dos Estúdios Kong. Um jovem 2-D apertava as teclas de uma melódica verde, assoprando diante das melodias arrastadas que faziam semblante ao seu estado. Uma garrafa de cerveja vazia estava ao seu lado, e, no meio de seu rosto, uma marca horrenda de um soco. 

Até ele tentava controlar o choro copioso, acatando ao seu silêncio diante do abusador que dormia confortável no estacionamento, provavelmente fodendo alguma prostituta com força depois de ter despejado toda a sua raiva em si. 

2-D estava bêbado, sequer sabia o que estava fazendo direito, apenas tinha seus pensamentos ruins se alastrando dentro de si, pensando na vida que poderia ter diante de um emprego normal, família normal, e qualquer coisa normal. 

Parou para ver a altura que era daquele andar até o chão. Havia um longo caminho do piso em que estava ate o chão do cemitério que era o 'jardim' do estúdio. Sentiu o vento com força, bagunçando os fios azuis e fazendo seu rosto gelar. Era uma sensação boa, quase igual a da liberdade. Del costumava dizer que flutuar era quase como voar, só que fazia uma grande falta pisar no chão depois, mas mesmo assim era tão bom quanto. 

A sensação de voar, mesmo que fosse momentânea, era tão boa assim? 

 

– O pior erro da minha vida foi ter acertado aquela maldita loja de teclados. – Murdoc disse, frio como o branco que pintava as paredes da sala. 

– Já tivemos essa conversa antes, não tivemos? 

– Dents, deixa eu terminar... 

– Não! – 2-D berrou. – Está vendo? Ele sempre é o dono da razão! Eu lembro do dia em que depomos na delegacia depois d'eu melhorar do meu estado vegetativo, ele falava tudo e apenas me chacoalhava como um boneco de ventríloquo! Eu sempre fui a porra da marionete enquanto ele me controlava, sequer perguntava se eu estava bem, era só a minha voz que importava! 

– Stuart, você está se alterando... 

– Eu estou alterado! Toda vez que eu tento seguir com a minha vida, esse traste aparece e arruína tudo! 

2-D bufou, tremendo e arranhando os braços com força. Em apenas 20 minutos a sessão se semelhava a um exorcismo, aonde os demônios internos dentro de si arrancavam as últimas esperanças que ele tinha de se manter bem. Nenhum pensamento positivo conseguia se sobressair diante da amargura que apenas contribuía para a explosão de seus pensamentos negativos. 

Estava sendo um fracasso, assim como todas as suas outras tentativas de se levantar diante de alguma situação ruim. A ruína dos últimos pilares que havia sido erguidos com bastante dificuldade dois dias antes. 

"– Eu só queria que você ficasse melhor... Ok? Apenas fica melhor."

Parecia tão fácil, tão fácil quanto dar um telefonema e tentar seguir com a vida. Mas não, ele sabia que era uma má ideia, sabia que tudo aquilo apenas serviria para machucar a sua já instável mente. Ele queria muito ver eles felizes, ou ao menos poder ver a reflexão de sua felicidade ao redor deles, dela. Ele queria muito, mas era impossível naquele momento. 

– Eu posso ter sido meio pesado, mas pelo menos eu não me sinto tão mal assim. – Niccals disse, esticando as pernas e estalando os braços. – Mas eu ainda não entendo como depois de tudo isso ele ainda esteja assim. 

– ...Você não sabe de merda nenhuma, Murdoc. 

2-D estava com o rosto enterrado em suas mãos, tanto que a fala abafada fizeram os dois restantes na sala o encararem confusos. Ele não queria que vissem seu estado atual depois de diversos bate-bocas que apenas serviram para fragmentar o seu estado. 

Não sabia se havia começado a chorar antes ou depois de ter começado a falar. Sua mente girava e a única coisa que batia dentro de si era o arrependimento de ter entrado por naquela porta, sequer iria conseguir falar algo para se explicar que não envolvesse um drama emocional ou um ataque de raiva. O cinza de seu passado conturbado havia voltado, e se fossem mais fundo naquela sessão, um deles cairia morto naquela noite. 

– Dullard? – Murdoc arregalou os olhos, espantado diante daquela crise súbita. Estava tão distraído falando sobre seus próprios dilemas depois da explosão de 2-D que sequer o percebeu na posição curvada de choro. Parecia muito com o que havia sido dito por Russel, algo que o deixou em um estado de pânico desesperador. Murdoc não sabia lidar com aquilo, ele sequer sabia lidar com 2-D normalmente. 

– Dullard? – Ele tocou sua unha na ponta do braço direito de Pot, mas não teve resposta. – Ei, o que houve? 

Um soluço veio. Seguido de outro, e outro, e muitos outros. Antes que pudesse falar algo mais uma vez, 2-D lentamente levantou o rosto e o encarou, deixando visível apenas a testa e uma parte dos olhos. 

– Um vez você havia dito que éramos insubstituíveis, mas quando aquelas tragédias aconteceram, você substituiu todos, inclusive eu. – 2-D disse, ignorando ambos. Sua voz estava áspera, vazia, fora de seu rouco habitual, que parecia ser a de sua melodiosa voz cantante. Coberto pelas lágrimas, ele apenas se resumia a encarar as mãos, sentindo o olho que fora acertado por aqueles homens latejar com força por estar sendo forçado diversas vezes, o sangue circulando rápido entre suas veias, apenas intensificando aquela dor. 

Seu corpo doía, sua alma doía. 

– Apenas acaba com essa dor... 

– Dullard! – Murdoc atravessou a distância que havia entre eles pelo sofá, agarrando o homem pelos braços com força, ignorando o grito de dor que ele soltou na hora. Encarou a face derrotada de 2-D, apenas com aqueles olhos fraturados molhados brilhando diante de si, completando uma expressão mórbida e chorosa diante de si. – Eu passei por muita merda pra chegar até aqui e a única coisa que eu queria era ficar bem com você! 

– ...E me usar de novo? – 2-D fungou com força, quase engasgando entre os soluços que dava. 

– É claro que não! – O verde bateu um dos punhos no sofá. – Eu posso estar sendo ameaçado de morte para fazer um novo álbum, mas eu queria que fosse algo juntos, como a nossa família! 

– Família?... Família?! 

2-D empurrou Murdoc com uma força que nem ele sabia que tinha, o fazendo cair em cima da mesa de madeira no centro, quebrando-a. O satanista voltou-se para 2-D e apenas sentiu o mundo girando diante da expressão de ódio vinda daquele anjo de cabelo azul, que mais parecia um demônio ascendendo do inferno para um corpo humano. 

2-D explodiu diante da palavra. 

– Não existe nenhuma família entre você e eu. Nunca fomos, nunca vamos ser. O primeiro foi por causa daquela idolatria fodida que eu tinha por você, o segundo por causa de Noodle que é uma das únicas coisas que me mantinham bem naquele maldito estúdio e isso não muda até hoje, –2-D pensou na promessa que fizera a Noodle, uma promessa que ele queria muito cumprir, mas agora parecia impossível. – , e o terceiro foi porquê por pena! Pena! Isso é família pra você?! 

– É a única família que eu tenho, imbecil! – Murdoc se levantou e pegou 2-D pelo colarinho, apertando com força o redor do seu pescoço. A essa altura Martha estava desmaiada. – Viva em uma família formada por idiotas bêbados e saiba bem como é ter uma família ruim. O que a gente teve foi uma relação familiar. Eu errei pra caralho, mas isso não quer dizer que você tenha o direito de vir até mim e falar essas porras! Até parece que tu não tem valor com a própria vida! 

– E se eu não tiver?! 

 

'Era apenas algo momentâneo, mas que valia por uma vida inteira? Ele gostaria de sentir isso. A liberdade daquele lugar, nem que fosse por apenas alguns segundos. 

Colocou as duas mãos entre a estrutura de ferro da janela, agarrando com força o metal congelante e se içando para fora. A camisa batia com tanta força em sua pele que chegava a doer, mas era bom. Quando finalmente colocou os dois pés na mármore e ficou de joelhos naquele pequeno espaço, todos os seus sentidos o entorpeciam para que aquela sensação fosse mais prazerosa do que poderia ser quando sóbrio. 

Esticou os braços, olhando para baixo e vendo o breu que ficava abaixo da entrada dos estúdios, onde a única luz antes do desfiladeiro ficava. Era apenas fazer um pequeno impulso que conseguiria ficar longe daquela entrada.'

 

– Stuart, tu veio aqui bêbado? – Murdoc pergunto quase que incrédulo. – Que porra é essa de não se importar com a própria vida, hã?! Se explica agora! 

Qual era a necessidade de explicar? Uma das coisas que ele mais havia tentado fazer naquela vida era tentar conversar com Murdoc de uma forma pacífica, tentando torná-lo mais compreensível diante de seus problemas, e só agora ele vem e pergunta sobre seu bem-estar? 

A respiração de 2-D se acelerou, como se estivesse correndo em algum jogo mental. soluçou, mas dessa vez teve a diferença de segurar os punhos verdes visíveis do outro, em seguida o empurrando novamente, pondo as duas mãos na própria cabeça em seguida.  

Encarou o baixista mais uma vez, vendo ao ponto em que havia chegado naquela situação. Aquele lugar estava lhe deixando com náuseas, não aguentava mais ficar no mesmo espaço que aquele homem egoísta. 

Murdoc tentou se aproximar mais uma vez, dessa vez lento, mas foi respondido com um tapa na mão, e 2-D saiu daquela sala o mais rápido que conseguiu. Direto, passou pela porta, batendo ela com força e assustando quem estava no corredor. Alguém lhe veio perguntar se estava tudo bem, mas ele ignorou. 

Saiu do grande prédio e seu estado era apenas resumido ao choro baixo e intenso, andando em passos apressados em uma moderada caminhada até a porta de sua casa. Ali, pegou as chaves com as mãos extremamente trêmulas e abriu a porta com dificuldade extrema, soluçando e praticamente implorando para que tudo aquilo acabasse. Apenas o pequeno visor da luz do corredor já lhe trouxe um certo alívio. Mas foi quando bateu a porta por trás de si que sentiu a batida na cabeça, tão forte que poderia ter sido de um soco. Uma horrenda dor de cabeça. 

Forte, o desestabilizou de onde estava em pé e o fez cair de joelhos no chão, soltando um berro alto de dor, chorando grossas lágrimas de puro sofrimento, sequer sentindo a dor extra que era causada pelos dedos que puxavam com força tufos inteiros de cabelo. 

Arfando, cambaleou – ou se arrastou – do chão aonde estava até o banheiro em longos minutos de pura dor. O cabelo colado a pele pelo suor frio, os gritos que soltava durante o percurso. Vez ou outra tinha a miragem de ver seus pulsos cobertos por sangue alastrado por todo o redor, e isso apenas o fazia rezar para que aquilo tudo acabasse. 

Sim, era o que ele queria. 

Ao chegar, conseguiu se levantar com a ajuda do vaso sanitário, nem perdendo o tempo e já abrindo o espelho, vendo os vários frascos de remédio. Apenas um era para sua enxaqueca, mas isso sequer passou por sua mente deteriorada no momento. Um a um, esvaziou os vidros, tomando várias pílulas a seco com um olhar desesperador no rosto, sem medir as consequências. 

Para quem está desesperado, a saída mais rápida é a mais viável. Se ela não tiver a ajuda necessária, ela pode acabar seguindo esse caminho. 

Tudo que ele precisava era de alguém para ouvir ele, para tentar entendê-lo, mas não funcionou. Pelo menos agora ele teria um pouco de paz, pois até conseguia sentir a dor diminuindo. 

Ao tomar as pílulas azuis do frasco laranja, acabou. 2-D se entorpeceu, apenas sentindo o resultado, como se tivesse usado algum alucinógeno, e isso o fez sorrir, se sentindo feliz, pois a dor parecia ter sumido. 

Isso até ele sentir algo passando de baixo para cima em sua garganta, deixando um líquido branco escapar em uma tosse azeda. Sentiu o estômago doer de uma maneira terrível, ao ponto de não conseguir mais distinguir os objetos ao seu redor. Revirou o corpo de uma maneira não humana, batendo a cabeça no espelho como resultado, abrindo a testa e fazendo o sangue começar a jorrar pela pia até o chão. 

Sem o tato e com a visão fosca, escorregou em seu próprio sangue, e antes que pudesse gritar acabou batendo a ponta da cabeça no vaso sanitário e caindo quase desacordado no chão. Ainda ficou por mais algum tempo se contorcendo até ficar imóvel. Sua dificuldade para respirar era intensa e se não fosse por suas alucinações poderia jurar que tinha ouvido alguém lhe chamando. 

As drogas estavam circulando pelo seu corpo, destruindo o seu sistema em corrosão, como o resultado de uma ação imprudente, a overdose. O sangue se espalhava ainda mais rápido pelo chão, o que deixava a pele cada vez mais clara, como um morto, o que ele estava se tornando no momento. 

Queria que chamassem, dissessem que estava acabado, mas apenas o pequeno deslumbre de uma sombra o fez ceder a dor e cair na inconsciência da desesperança por completo. 

Estava preto, como a morte. 

 

 

E tudo girava ao seu redor como um carrossel interminável.

 


Notas Finais


E finalmente, o verdadeiro enredo vai começar.

Queria agradecer a todos que leram até essa parte, e aos comentários também. Nunca achei que fosse começar tão bem em uma categoria que eu era praticamente uma novata. Dos favoritos até os leitores fantasmas, obrigada.
Mas calma, eu não vou acabar a fic aqui. Eu realmente só queria agradecer mesmo depois das minhas demoras absurdas para postar. Eu não mereço vocês ;-;

Obrigada por lerem, e também fico feliz pelos retornos!
Nos vemos no próximo capítulo.


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