História Com Amor, Jeongguk - Conflitos

"O amor é uma mentira. É tudo que ele é. Machuca, agoniza, e fere cada centímetro do seu corpo até não sobrar mais nada."  — e então bateu a porta do quarto, trancando-se lá novamente, mas dessa vez, sem mim.

Vigésimo nono dia.

Tenho dormido mais, porém, comido menos. Já estava comendo pouco alguns dias atrás, mas agora, é quase nada. É algum tipo de brincadeira? Eu melhoro em um lado e pioro de outro. Talvez a vida tenha que ser assim mesmo: uma brincadeira, uma piada. E ela ri da sua cara o tempo inteiro. 

Continuo passando os dias fazendo e sentindo as mesmas coisas, mas acho que passei de fase. Antes, só havia dor e raiva. O vazio que eu sentia ainda podia ser preenchido pelo meu próprio sofrimento, mas agora, não resta mais nada que possa preenchê-lo.

Sem choros, sem socos na parede. Só eu e ele.

Logo eu, que sempre achei que sentir que era o problema, mal sabia que pior do que sentir muito, é não sentir nada. Essa é a pior dor que alguém pode ter: a que já te fez sofrer tanto a ponto de você não notá-la mais.

E como você deve estar agora, Taehyung? Dormindo, talvez? Você sempre dormia demais, pois estava o tempo inteiro cansado, e eu nunca entendi de onde uma pessoa tão nova tirava tanto sono. Talvez aquela fosse a sua forma de fugir das coisas, aquela sua forma indireta e discreta de se desligar de todos sem que ninguém notasse nada de estranho. Mas, ah, eu notava. Notava até o seu jeito de dormir. Você abraçava o travesseiro – mas as vezes, eu quem era o travesseiro – e dormia sempre de lado, nunca reto ou de bruços. Sua boca ficava um pouco aberta, e uma mecha de seu cabelo ficava caída no rosto. Nunca se deitava com cobertor, mas no meio da noite sentia frio e me pedia para cobrir você.

Me lembro que quando você dormia abraçado comigo, você ficava de frente para mim, com os lábios encostados nos meus, tão próximos que eu sentia a sua respiração e você sentia a minha. E, provavelmente, esse é o maior motivo da minha insônia desde que você se foi: o fato de eu não ouvir você respirando perto de mim.

Hoje eu vou registrar nossa primeira briga. Não a nossa primeira discussão ou nosso primeiro debate sobre nossa relação, mas sim, nossa primeira briga realmente séria.

Nós sempre estávamos brigando, mas nunca passava de alguns minutos. Mas teve essa em específico, e foi a mais triste, ao mesmo tempo que foi quando você realmente explodiu comigo. Você é, de fato, explosivo, mas você se segurava para não piorar as coisas, nem causar grandes problemas entre nós, e até hoje me pergunto o quanto eu devo ter te irritado naquele dia para que você tenha ficado tão estressado.

Bom, na verdade, você disse que eu não tinha nada a ver com o seu stress, mas ainda assim, meses depois e ainda acho que eu tive.

Assim que você acordou e me viu, você não falou comigo, nem mesmo um "bom dia" ou qualquer coisa do tipo. Estava com a cara fechada e os punhos cerrados, como se estivesse preparado para socar a primeira coisa que aparecesse na sua frente, e essa coisa fui eu. Você não me socou, mas disse coisas que eu nunca esqueci. Me disse que o amor só iria te ferir até não sobrar mais nada, que não sabia mais se eu valia a pena. Disse outras coisas também, mas a que mais doeu foi você dizer que não se importava comigo. Foi a pior. Com certeza, foi a pior de todas.

Ouvir que a pessoa que você ama não se importa com você – palavras da mesma, inclusive – deve ser uma das coisas mais difíceis de se escutar em uma discussão.

Depois daquela frase, eu gelei. Não conseguia falar ou responder nada, tampouco queria te afetar com palavras. Só queria que você me abraçasse forte e me dissesse que não quis dizer aquilo, que só estava com raiva. Mas você não fez isso. Você apenas foi para o quarto e se trancou, sem mim. Sem ter me pedido desculpas, sem ter dito que foi sem querer, que ia passar. Sem ter me abraçado. E o que eu fiz? Só fiquei ali, chorando, me perguntando no que eu havia errado, no porquê de eu sempre estragar tudo. Por que eu sempre fodi tudo com você, Tae? Eu acho que a verdade é que eu nunca fui bom o suficiente 'pra você.

Algumas horas depois você saiu – finalmente – do quarto e veio falar comigo na sala. Eu estava deitado, ainda com os olhos vermelhos e inchados, e você parecia mais calmo, e de acordo com o seu rosto inchado, eu acho que tinha chorado também. Se tudo que eu queria era um abraço, eu ganhei muito mais do que isso. Você me pediu desculpas, me disse tudo que eu queria ouvir (mesmo não sabendo que eu queria) e mais um pouco.

— Jeongguk — chamou Taehyung, sentando-se no chão de frente para mim.

— Você sabe que odeio quando você me chama desse jeito. — eu ainda estava com raiva, confesso.

— Desculpe. Kookie, me perdoe. Eu me importo com você, você vale a pena. Você deve ser a única coisa que eu nunca me enjoei, você sabe. Você sabe que é especial pra mim. Você é meu amor. É tudo que você é: meu namorado, a pessoa mais importante da minha vida depois da minha mãe, mas você gosta dela, então tudo bem — riu. Aquele filho da puta tinha que rir e mostrar aquele sorriso desgraçado que ele tem logo em um momento desses. Eu queria continuar com raiva. Queria dizer que ele me magoou. Mas aquela risada quebrou todo o sentimento ruim que havia em mim.

— Por que você falou aquelas coisas, Taehyung? Não precisava daquilo... 

— Eu estava estressado, mal. Não queria te deixar assim, mas quando você veio eu acabei jogando toda a raiva em você, e eu me arrependi cinco minutos depois que entrei no quarto, mas fui orgulhoso demais para descer e vir falar com você. Tive que esperar um pouco, mas estou aqui agora. Estou aqui com você. 

— E sobre o que você disse?

Suspirou. — Você é o ferimento que vai me destruir, mas também é a cura para todas as minhas dores. – deu um breve sorriso e um beijo em minha testa. – Eu te amo muito, Jeongguk, mesmo que você odeie quando te chamo assim.

Te ouvi dizendo que me amava inúmeras vezes, mas aquela foi incrível. Foi o jeito que você disse, a forma como usou cada palavrinha e as transformou em coisas enormes. Ah, Taehyung, você sempre faz coisas pequenas se tornarem maiores do que são. Você com certeza foi a pessoa mais interessante que eu já conheci. 

Como eu disse, nós brigávamos muito, mas eram brigas pequenas. 

Eu sempre estava em conflito comigo mesmo, mas mesmo durante as discussões você acalmava meus nervos. E a melhor parte das nossas brigas, era que quando nos resolvíamos, você me dava um beijo na testa. 

Uma vez, te perguntei: "por que você sempre me dá beijo na testa depois de brigar comigo, Tae?" e você me respondeu: "esse é o seu prêmio por conseguir me aturar em uma discussão, meu amor" – se era brincadeira ou não, eu não sei. Mas eu adorava.

Com amor, Jeongguk