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História Com Você - Razões e Emoções


Escrita por: MannuRodrigues

Notas do Autor


Quero saber a opinião de vocês sobre esse babado 😁😁
Vamos acompanhar.😸😸

Capítulo 27 - Razões e Emoções


Fanfic / Fanfiction Com Você - Razões e Emoções

São cento e cinquenta e oito passos entre o ponto de ônibus até a minha antiga casa. Poderia acrescentar mais alguns levando em consideração que Mel estava comigo.  

Eu poderia muito bem ir naquela direção, bater na porta e ser recebida por alguém de lá. Talvez Tomas ou meu avô e na pior das hipóteses um dos meus pais.  

Ignorei os instintos de ir até lá e cortei caminho passando pelo pequeno parque que havia ali perto, costumava vir com Tomas aqui, quando Treena não podia e agora quem poderia imaginar que estaria trazendo a minha filha.  

Assim que cheguei, me acomodei no balanço enquanto observava Mel soprando bolinhas de sabão pro alto. Era divertido vê-la tentar soprar e no fim rir quando conseguia fazer uma bolha enorme de sabão.   

Seu vestido vermelho realçava o tom da sua pele em contraste com o cabelo e eu estava igualzinha. Encomendei sob medida para nós duas. Tal mãe, tal filha. Foi isso que Will disse assim que viu os vestidos e desistiu da ideia quando quis fazer algo parecido para ele e Mel.  

Olhei para meus próprios pés, observando como tudo havia mudado. As botas engraçadas deram lugar aos sapatos de salto, as roupas escandalosas que ninguém compreendia deram lugar a vestimentas de uma mulher séria, sofisticada e dona de si mesma. Isso. Eu era dona de mim mesma.  

─ Mamãe, as bolinhas não me obedecem. ─ Mel resmungou, fazendo um biquinho lindo que quase me derreteu. ─ Eu sopro, sopro e elas saem pequenas agora.  

─ Deixa eu ver. ─ ela me entregou. ─ Está acabando o sabão, por isso estão ficando menores.  

─ Olha! ─ disse animada, olhei na direção em que seu dedinho apontava e vi o sorveteiro. Ela correu até lá e eu a segui da maneira que podia, eu realmente precisava me exercitar mais. ─ Mamãe, posso?  

─ De qual você quer? ─ ela pareceu pensar por alguns instantes.  

─ De morango. ─ assim que paguei o sorvete a guiei até um banco e a ajudei para que não sujasse o vestido. 

Algum tempo depois, ela retornou a brincar com uma bola que eu havia trazido para ela. Apesar de estar me divertindo, minha mente de vez em quando me traia e me levava de volta a minha antiga casa, da qual eu já não sou mais tão bem-vinda assim.  

Pude observar Mel correr em direção a alguém e meus instintos apitaram. Não era ninguém da família Traynor, eu podia afirmar. Mas ela conhecia, visto que correu até onde aquelas pessoas estavam. 

─ Tom! ─ ouvi sua vozinha suave chamar alto e ela gargalhar esmagando o pescoço do primo. ─ Viemos ver minha vovó. ─ dava para ouvir a conversa deles, fui me aproximando lentamente e a figura que se revelou a minha frente foi o motivo de diversos pesadelos durantes esses quatro anos.  

Josie Clark estava parada na minha frente, com sacolas de supermercado penduradas nos braços, parecia pesada, mas eu não me importei com isso. Sua roupa caseira mostrava que a pouco acabara de fazer o serviço de casa e que aquele provavelmente seria o almoço deles. Eu ainda conhecia a rotina daquela casa, apesar de ser totalmente distinta da que possuo hoje.  

Certas coisas, nunca se esquece.  

─ Olã, tia Lou. ─ Tom me cumprimentou e me abaixei para conseguir beijar seu rosto, não fazia muito tempo que nos vimos, ele sempre ia pra casa quando podia. ─ Não sabia que iam vir.  

─ Decidimos de última hora, Tom.  

Minha mãe continuava calada e eu ainda não havia levantado, era patético até.  

Patético de um jeito que só eu conseguia ser.  

Cinco anos depois e olhar para ela ainda me dá medo. Eu sonhei muito com esse encontro, mas de uma forma totalmente diferente e agora eu não tinha perspectiva sobre o que esperar daquele momento, era só levantar e esperar para ver o que iria acontecer.   

Eu tentei, juro que tentei afastar as mágoas de quando ela me expulsou de casa, limpar minha mente e meu coração de coisas ruins e só pensar que ela era uma pessoa comum com a qual ocasionalmente se encontra na rua e se cumprimenta sem causar qualquer desconforto, mas eu não sou tão boa assim.  

Talvez um dia eu tenha realmente sido alguém, com quem valesse a pena trocar nem que se fosse meias palavras, só que nesse momento, eu me sinto a pior pessoa do mundo.  

Sai de meus devaneios e me coloquei de pé, eu precisava mostrar certa superioridade. Não em relação a ela, mas em relação a mim.  

Eu fiquei perdida, totalmente sozinha quando ela me expulsou de casa, tive que me quebrar, me refazer e quebrar novamente, quantas vezes fosse necessário, para que conseguisse amadurecer e dar a Mel uma estrutura que ela ia precisar quando estivesse maior.  

Eu vivi sozinha e consegui me superar.  

E era exatamente isso que eu tinha a obrigação de mostrar a ela. Mostrar não, esfregar na cara dela.  

─ Como vai, Josie? ─ encarei seus olhos, que desde que foram colocados em mim, não se desgrudaram.   

─ Louisa... ─ sua voz me fazia lembrar de todas aquelas palavras, ditas enquanto eu ainda estava deitada, em uma cama de hospital e as lembranças traíram minhas ações. ─ Não esperava vê-la por aqui. ─ ela sorriu, um riso sem jeito.  

Aquela situação era desconfortável para nós duas.  

A única coisa que consegui fazer, foi sorrir de volta e esperar que algo me tirasse de lá, ao contrário disso as coisas ficaram ainda piores.  

─ Mamãe. ─ Mel puxou a barra do eu vestido e a olhei. ─ Essa é a sua mãe?  

Eu poderia negar laços de parentesco, mesmo querendo?  

Poderia dizer que não? Que Josie não era minha mãe? Que não passava de uma desconhecida? Apesar de tudo, não tinha esse direito. Isso poderia confundir Mel ainda mais. Eu não costumo dizer a ela sobre minha família, tanto que a única com a qual ela tem contato, considera e respeita são a família de Will, com exceção de Treena que sempre esteve com ela.  

Eu não podia negar que Josie tinha me dado a vida, mas podia negar qualquer outra coisa.  

─ Sim, essa é minha mãe. Precisamos ir Mel, dê um abraço em Tomas. ─ ela o abraçou rapidamente.  

─ Não vai me apresentar, Lou? ─ engoli em seco para não responder mal, ela não tinha esse direito de querer se aproximar de alguém que rejeitou.   

Tudo bem que se fosse levar por esse lado tão radical, Will também não teria, mas estamos falando de algo totalmente diferente. Ele, apesar de tudo, deu a cara a tapa e cuidou da filha e, diga-se de passagem, cuidou muito bem.  

Ao contrário dela que não se dignou a aceitar, nem ao menos visitar Mel uma vez na vida, desde que nasceu. E sua covardia era tanta, que mandava recados por Treena, que eu sempre busquei ignorar.  

─ Essa é minha filha, Mellany. ─ respondi seca. ─ Agora vamos, querida? Seu pai deve estar preocupado. ─ ela assentiu e beijei o rosto de Tomas. ─ Diga a sua mãe para ir me ver, ok?  

─ Tudo bem tia Lou, quando entrar de férias vou ficar uns dias na sua casa, posso?  

─ Será mais que bem-vindo, Will comprou um vídeo game novo pra vocês brincarem quando for lá, é muito legal. ─ ele sorriu e retribuiu  

─ Não precisa fugir de mim, Louisa. ─ a voz me fez congelar. Eu não queria tocar no assunto, mas ela fazia questão de me provocar. ─ No mínimo, Mel deveria me pedir a benção, não?  

Ela estendeu a mão para Mel e ficou esperando. Minha filha era amorosa, ia com todo mundo, se dava bem com todos. Não é à toa que é tão linda e cativante. Mas esse direito Josie não tinha.  

Como era possível ela querer se passar por avó, depois de tudo?  

Ela não tira o direito de pedir nada a mim, nada a minha filha.  

Mel ficou alguns segundos indecisa e esticou a mão levemente, erguendo seu bracinho direito em direção a mão dela e o sorriso de Josie abriu e se fechou quase que instantaneamente, quando segurei o braço de Mel o puxando de volta.  

─ Você pode ter me dado a vida. E eu ter te considerado por muitos anos a minha mãe. ─ eu conseguia ver a surpresa em sua face e ela com toda a certeza, enxergava o ódio em meus olhos. ─ Mas esse direito, você não tem. ─ neguei com o rosto. ─ Mel tem somente uma avó, o nome dela é Camilla Traynor e somente ela tem esse direito de pedir a benção, de corrigir, de ensinar a minha filha. Não você.  

─ Louisa, eu sou sua mãe. ─ ri sem humor, controlando as lágrimas que insistiam em querer cair, eu tinha que ser forte, eu precisava disso.  

Ela continuou, falando determinada. 

─ Tenho esse direito de querer chegar perto da minha neta. ─ olhou de mim para Mel e sorriu, Mel se agarrou ao meu vestido, assustada com a maneira que falei. Ela nunca tinha presenciado essa postura da minha parte, nem mesmo quando Will e eu nos desentendíamos, nós nunca deixamos transparecer. ─ Ela não se parece em nada com você.  

─ Isso é mais uma prova de quem é a família dela de verdade.  

─ Você tem todo o direito de ficar com raiva. ─ admitiu. ─ Mas não tem o direito de privar sua filha de ter uma família grande, de conhecer os avós. Eu quero levá-la até minha casa, mostrar ela a seu pai e isso você não pode negar.   

Agora ela quer dar ordens?  

─ Eu posso e vou. ─ disse decidida, aquilo já havia passado dos limites do aceitável. ─ Não venha me dizer como educar a minha filha, porque eu a educo da maneira que me é conveniente. Eu não quero que ela se aproxime de gente como vocês, que ela aprenda a ser como você. A minha filha está sobre a minha proteção. Dela cuido eu, então não me venha com sentimentalismo, me dizer o que é melhor para ela porque você não sabe. Nunca esteve com ela e se depender de mim, nunca vai estar. Ouviu bem, Josie? Nunca!  

Respirei fundo puxando o ar, peguei Mel no colo e saí dali sem me importar com nada. Nem de Tomas tomei qualquer cuidado. Eu me descontrolei.  

A raiva parecia fazer meu sangue borbulhar dentro do corpo e cada passo que dava ela parecia aumentar mais.  

Cheguei a casa de Camilla sem fôlego, a respiração entrecortada revelava meu cansaço, mas outra coisa era difícil de segurar: minhas lágrimas.  

Eu não queria ter que chorar na frente da minha filha, mostrar a ela que eu era fraca também só que foi impossível. Chorei em silêncio deixando as lágrimas transpassarem meu rosto. 

A coloquei no chão e pedi que fosse até o quarto onde estava hospedada e saí de dentro da casa, caminhei por entre as flores, deixando a brisa suave bater no meu rosto e levar as lágrimas. Minha cabeça estava um turbilhão e eu não podia negar o quanto doeu em mim ter encontrado com ela.  

Eu pensei em diversas hipóteses, de como isso poderia ter acontecido, de outras formas... só que vamos encarar: ela não espera que depois de todos esses anos, eu simplesmente permita que ela seja como era antes.  

Eu sinto falta da minha família, uma falta que não cabe no peito, mas não é assim que as coisas são. Eu pedi perdão a ela, chorei como uma louca pra ela tentar compreender a situação e me deixar em casa, mas ela não quis ouvir.  

O que a sociedade pensa, é mais valioso pra ela, do que qualquer outra coisa.  

Sentei no banco daquela enorme área de lazer. Eu não saia daqui quando cuidava de Will, quando comecei a trabalhar nessa casa e me sentia perdida, com medo de não me sair bem no emprego ou quando as coisas estavam difíceis. 

Era meu esconderijo preferido.  

Encostei a cabeça no banco e cruzei as pernas observando a paisagem. O castelo não estava longe e Will estava lá. E agora, mais do que nunca, eu precisava dele.   



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