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História Com você - Hiatus - Floquinho de neve


Escrita por: Dandania

Notas do Autor


Olá
Boa leitura!!

Capítulo 5 - Floquinho de neve


Fanfic / Fanfiction Com você - Hiatus - Floquinho de neve

-Quarta-feira. 9h12, a.m-

 

-Lucas. - Chamou Nícolas, indo até o amigo que estava visivelmente irrita com ele.

-Fala. - O respondeu seco.

-Cara, desculpa por ontem. - Pediu Nick. -Não foi minha intenção te irritar.

-Esquece. - Respondo ele que, olhava fixamente para a direção de Sofia em outra mesa.

Nick seguiu seu olhar e se depara com a morena abraçada com um garoto de óculos.

-Parece que ela já tá em outra. - Comenta Lucas. Nick concorda e aperta suavemente o ombro do amigo.

Lucas não está com ciúme, e muito menos, incomodado, mas se surpreendeu ao vê-la com outro, logo depois de ter dito que o amava.

( . . . )

Yuri havia acabado de chegar na escola. E como de costume, esperava por Lucas.

O garoto se encantou pela voz do moreno, parecia surreal o efeito que um simples "oi" causava no menino. Mesmo fazendo apenas 24h que o conheceu, Yuri já sente um certo efeito.

“Será muito cedo?” se perguntava, apertando as alças da mochila. Cedo para gostar de alguém que nem conhece, um garoto que não o tratou bem, e mesmo assim, Yuri quer tê-lo por perto.

-Yuri. - Lucas o chamou, com sua voz rouca, que estava falha pela manhã.

Seu coração pulou, como se ficasse feliz pela aparição do moreno.

-E aí? Como é que tá? -Lucas o encarou e logo notou a vermelhidão das bochechas do ruivo. -Por que você tá vermelho? - Pergunta com um meio sorriso.

-P-Por nada. - Desejou ser invisível para que, Lucas não visse seu rosto rubro e, como suas mãos tremiam apenas por senti sua presença.

Yuri se sente um idiota por gaguejar e corar sempre quando fala com Lucas, parece que perde a voz, os sentidos e a noção, o ar falha em seus pequenos pulmões. Ele não se sentia assim nem quando gostava de Bernardo, Yuri sabe que com Lucas é diferente, é mais forte.

-Vamos. - Diz Lucas, oferecendo seu braço que, logo é segurado pela mão tremula do menino corado.

( . . . )

Yuri e Lia estavam sentados debaixo de um Pau-brasil no gramado da parte de trás da escola, onde havia muito verde. Fazia um sol fraquinho pela manhã, as nuvens estavam acinzentadas e carregadas.

Lia tinha sua cabeça repousada no ombro dele. Yuri gosta da presença dela.

-Lia? S-Somos amigos? - Perguntou ele, baixinho, brincando com os dedos, parecendo receoso. A garota quase não ouviu. Lia apenas levantou os olhos para fitá-lo.

-Claro que somos, Yuri. - Responde ela, entrelaçando a cintura dele com seus braços. Ele sorriu satisfatório. -E como prova disso, vou te dar um presente de amizade.

Yuri franziu o cenho, ele nunca ganhou nada, nenhum presente de sua mãe, em seus aniversários. O garoto mesmo estando confuso, balançou sua cabeça negando o presente.

-Não Lia, não gaste dinheiro comigo. - Falou ele em um sussurro.

-Sim eu vou, você merece. - Lia segurou o rosto dele, e o virou para ficar de frente a ela. Lia olhou fundo nos orbes azuis e sem luz de Yuri, e por um segundo, os olhos dele encontraram os dela. -Você é especial, Yuri. sinto isso apenas te olhando, você tem uma energia contagiosa, e pura. Parece com um floquinho.

Yuri esbouçou um sorriso tímido no canto dos lábios, era novidade para ele ser tratado assim.

Lia é um anjo da guarda, que cuida dele como ninguém nunca cuidou.

Yuri sabe que, o único lugar que ele se sente bem, é na escola, um lugar onde mesmo tendo apenas uma amiga é melhor do que em sua casa. O garoto quando chega em casa conta cada segundo, minuto e hora para o horário de aula começar, só para poder encontrar Lia e, ouvir aquela voz rouco novamente.

-Floquinho? - Indagou o menino franzindo o seu nariz.

-É Yuri, Floquinho. - Disse ela soltando o rosto dele.

-Por quê? - O menor estava extremamente curioso para saber o porquê de Lia tê-lo chamado assim.

Ela riu cobrindo o rosto como se Yuri estivesse vendo-a enrubescer. Lia subiu as mãos pelo rosto passando pelos cabelos até a nuca.

-Bem... não ache idiota tá? – Pediu sentindo o rosto queimar. -É que, quando te vi pela primeira vez, a imagem de um floquinho de neve pequeninho veio em meus pensamentos.

Ele crispa os lábios para não rir e chatear Lia.

-Se você rir eu vou te morder. - Ela o ameaçou em tom de brincadeira.

Isso bastou para ele deixar uma gargalhada escapar, e logo cobriu a boca abafando o riso.

-YURI!!!!!

Yuri contagiou Lia, que já ria junto a ele. Lia secando as lágrimas, olhou para o corredor vendo Lucas com uma garota, a beijando, ela afagava os cabelos castanhos dele. Lia revirou os olhos e suspirou chamando a atenção de Yuri.

-O que foi, Lia? - Perguntou.

-Nada não. - Lia jogou a cabeça para trás.

-Lia? - Yuri parecia preocupado com os suspiros da garota.

-É só o Lucas. Ou seja, nada. - Cruzou os braços encarando a cena ao longe. Não é que ela não goste dele é que, Lia não suporta garotos do tipo de Lucas.

-O que tem ele? - Seu cenho se franziu.

-Yuri, eu não sei explicar, mas não fui com a cara desse Lucas, e eu odeio garotos como ele. - O ruivo franziu a testa tentando compreender o que Lia dizia. -Sei que isso não é problema meu, mas ele tá quase se comendo com aquela menina. Cadê a inspetora nessas horas?

-A-Ah é? - Sua voz soou trêmula. O ruivo agora entendeu. Lia percebeu que Yuri ficou cabisbaixo de repente, ela se aproximou mais dele, e segurou seus ombros. Yuri então, por algum motivo inexplicável caiu na realidade e soube naquele exato momento que gostava de verdade de Lucas, não como amigo, mas sim, como algo mais e mais forte.

Yuri se levantou num sobressalto, Lia o seguiu levantando-se também.

-Yuri o que foi? - Os punhos do menino estavam serrados.

-Só... - Engoliu em seco, parecia que um bolo de arrame farpado descia por sua garganta o cortando por dentro e machucando-o. -Me tira daqui? - Pediu. Seus olhos arderam, e seu coração ficou minúsculo, Yuri tentou segurar o máximo que pôde para não chorar.

-Tá, vamos. - Lia o segurou com gentileza e, o guiou para dentro do prédio da escola, passaram longe de Lucas.

Ela o sentou num banco e deitou a cabeça dele em seu ombro. Lia o abraçava sem entender por que Yuri estava daquele jeito. A cada soluço do menino, o coração dela se rasgava, sem poder fazer nada. Mesmo Lia perguntando, ele não diria, Yuri prefere guarda seus sentimentos dentro de uma caixinha trancada à sete chaves.

Lia viu a inspetora se aproximando deles, a mulher passou a mão na cabeça de Yuri e perguntou: -O que houve?

-Eu não sei. - Disse a garota franzindo as sobrancelhas de preocupação.

-É melhor levá-lo a enfermaria. - Sugeriu a mulher. Yuri sussurrou um “Não” bem rouco e assustado. Lia já sabendo que Yuri surta na enfermaria, preferiu não o levar.

-Não, ele não gosta daquele lugar. - Lia beijou a cabeça dele. A inspetora insistiu, mas a garota insistiu que não o levaria. E por fim a mulher os deixou em paz.

Depois que ela conseguiu acalmá-lo; tentou saber o porquê desse choro repentino.

-Me conta o que houve. - Fala acariciando os cabelos dele. Yuri negava com a cabeça, ele não queria falar por que tem medo de Lia não gostar mais dele. Medo de repudiá-lo. O rejeitar. -Yuri, tudo bem, não precisa ter vergonha.

Lia começou a ligar os pontos, ela foi percebendo que, ele só ficou assim porque falará de Lucas com a...

-Tudo bem. Eu passo mais tarde na sua casa, aí a gente conversa. – Fala e, Yuri queria dizer não, mas achou que ela poderia ficar magoada, então deu um simples aceno de cabeça.

Com carinho ela enxugou as lágrimas no rosto dele, logo deixando um beijinho na bochecha corada.

O sinal tocou e, eles tiveram que voltar para a sala.

( . . . )

-14h23, p.m-

 

Lia estava parada na frente da porta da casa de Yuri, ela fitava sem pisca a madeira a sua frente. Chacoalhou a cabeça; seu cabelo estava preso em um coque volumoso e roxo. Então ela apertou a campainha, Rosana a atendeu segundos depois.

-Oi, eu sou amiga do floqui…Yuri. - Diz com as mãos para trás do corpo. Lia segurava um ursinho de pelúcia bege escuro e, com um lacinho vermelho no pescoço.

Uma garoa começou à suas costas.

-E? - Diz Rosana, arqueando uma sobrancelha.

-Eu quero falar com ele, posso? - Lia cruzou os dedos para a mulher dizer “sim” e balançava seu corpo com impaciência.

-Claro. - Falou abrindo mais a porta e dando o caminho para Lia passar. -Segunda porta a esquerda.

Lia assentiu, pedindo licença e subiu a escada.

No corredor, ela avistou a porta do quarto dele, e a cada passo ficava mais nervosa. Lia parou de frente a porta e deu duas batidas e, uma vozinha mansa e doce a mandou entrar. Yuri estava sentado na cama com suas pernas cruzadas, com um travesseiro em seu colo, ele usava uma blusa de frio moletom azul de touca, a calça da mesma cor. Ele virou sua cabeça em direção à porta.

-Oi, Yuri. - Disse a garota, adentrando o cômodo. Com um sorriso meigo da parte do menino, Lia se senta na beirada da cama, fitando-o.

-Minha mãe deixou você entrar?! - exclamou com surpresa na voz.

-Sim. - Lia se aproximou mais dele. Yuri sentiu a cama ao seu lado afundar. -Comprei pra você.

A garota colocou o ursinho sobre o travessei e Yuri o tocou, ele logo percebeu o que era. Yuri pegou o urso, feliz, ele o tocava, analisando com carinho. O menor o abraçou como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Gratidão era o que pensava, nunca ninguém tinha dado um presente a ele.

Lia fez um bico e soltou um: “fofo!”. Yuri sorriu para ela que estava derretida por ele.

-Obrigado, Lia. Não precisava. - Yuri passava a mão na cabeça do ursinho.

-De nada, floquinho. - Ambos riram com o apelido. -Quer dizer, posso te chamar assim, né?

Ele assentiu com o ursinho nos braços. Lia queria perguntar para Yuri se ele é gay? Mas não sabe como.

-Yuri, queria te perguntar uma coisa. - A garota falou num tom de voz mais sério.

Ela o fitou esperando-o responder.

-Sim.

Lia acariciou a mão dele. Yuri sentiu a palma dela gelada, e pensou que boa coisa não era, Lia está nervosa.

-Yuri, se eu te contar um segredo que ninguém sabe sobre mim. - diz. -Você conta o seu?

O menor franziu o cenho, engolindo em seco. Ele só tem dois segredos, e não quer contar nenhum para ela. Yuri tem medo; medo de Lia não gostar mais dele, ou de sua mãe ficar sabendo que ele contou sobre as agressões, e as surras piorarem. Mas lá no fundo, ele quer contar para ela, que acabar com isso, com as dores.

-Não sei, Lia. – Ele fala apertando o ursinho contra seu peito.

-Yuri, eu gosto muito de você, continuarei gostando, não importa o que me dirá. - Lia dizia pegando a mão dele.

Mesmo a conhecendo a pouquíssimo tempo, o ruivo sente um apego e segurança muito grande com Lia. Então por que não contar? A cabeça dele girava, Yuri ficou nervoso com a ideia de contar para alguém que gosta de garotos. Ele tem medo das pessoas o rejeitarem por isso.

-Sim, eu conto, mas você primeiro. - Yuri disse e, seu estômago revirou.

Lia subiu na cama e se sentou ao lado dele, se escorando na cabeceira. Yuri se recostou nela, ele não desgrudava do ursinho.

-Lá vou eu. - Começou a garota. -Bem, quando eu tinha treze anos, eu... bem, eu meio que…beijei uma menina. - Lia diz corando e, Yuri se virou para ela, o garoto estava surpreso com a revelação.

-Quê? Mas você é...? - Yuri não conseguia formular a frase.

Lia riu com a reação dele, Yuri coçou sua nuca, esperando-a concluir.

-Yuri, eu gosto de pinto, isso foi só uma curiosidade que eu tinha. - Lia diz deixando uma risada marota escapar, Yuri ficou rubro.

-Então era só curiosidade? - Yuri perguntou. Ele brincava com os bracinhos do urso. Lia o abraçou lhe dando um beijo na bochecha.

-Sim. - Ela cutucou ele, e Yuri ri se encolhendo. -Sua vez, floquinho.

Yuri teve seu corpo invadido por uma quentura e arrepios, ele não sabia como contar para ela. O garoto pegou o ursinho em seu colo e afundou seu rosto nele. E pensou “É agora ou nunca” Colocou o urso de lado e, ficou de cabeça baixa. Respirava fundo contando até dez, e quando chegasse no dez ele falaria de uma vez, sem medo, porque Lia já demonstrou gostar dele.

-E-Eu... nunca tive coragem de falar isso para ninguém. - Sua fala saiu num sussurro que, Lia era a única pessoa que conseguia ouvi-lo.

-Tudo bem, não precisa ter vergonha. - A cacheada afagava os cabelos dele, lhe passando segurança. Yuri tomou coragem e levantou sua cabeça, com o urso já em mãos, ele apertava tanto a pelúcia que parecia que ia rascá-lo de nervosismo.

-E-Eu gosto... d-de meninos. - Sua respiração deu uma pequena falha, Yuri queria cavar um buraco e se enfiar lá dentro de tanta vergonha que estava por ter dito isso.

Lia já desconfiava, e a única coisa que fez foi dar um beijo bem demorado na bochecha rubra de Yuri. Os ombros dele relaxaram, Yuri soube que não precisava ter medo, porque Lia é diferente das outras pessoas, ela e especial.

-Você é muito fofo, sabia? - falou ela afastando a franja dele para o lado, fazendo sua testa ficar amostra. Yuri riu sem graça. -Sabe, você deveria pentear seu cabelo para trás, ou para o lado. Assim dar para ver seu rosto todo.

-Tá. - Yuri ainda está se sentindo envergonhado.

-Seu rosto é bonito e, com essa franja não dá para vê-lo direito. - Lia falava penteando o cabelo dele com os seus dedos, para trás. -Tcharam! Yuri tem uma testa agora!

O ruivo riu das bobeiras de Lia, ela sempre faz ele rir, até quando Yuri está triste. Lia acha um jeito de animá-lo e levantar seu astral. Parece que ela caiu de paraquedas quando ele mais precisava de alguém igual a ela, uma amiga, parceira e confidente.

-Dê zero a dez, quanto você gostou do urso? - Pergunta se sentando na frente dele.

-Onze! - respondeu animado e levantando o urso na sua frente, balançando os bracinhos para Lia, que riu.

-Agora me diz, você gosta do Lucas, não é? - Ela viu Yuri ruborizar de um jeito que, a garota nunca tinha visto antes.

-N-Não…- Ele tentava disfarçar a vermelhidão colocando o ursinho na frente do seu rosto. Lia pegou o urso das mãos dele, ouvindo o menor reclamar.

-Fala, se não, eu vou o urso de volta pra loja. - Lia quase o devolveu quando viu Yuri fazer um bico e cruzar os braços. -Yuri, fala, senão eu vou te encher de cócegas até você ficar da cor do meu cabelo. - Ela tentava deixar a voz firme, mas Yuri balançava a cabeça em negação.

-Ah é? - Lia colocou o urso de lado e, foi para cima dele, começou a fazer cócegas na barriga do menino. Yuri se contorcia de rir embaixo dela, ele tentava afastar as mãos dela, mas Lia não desistia das investidas. Ele tossia e gargalhava alto, seu rosto já estava vermelho.

-Confessa, senão eu não paro. - Ela dizia, não se aguentando de rir dele.

-Para, por favor, eu falo. - Yuri tossia e, dava leves risadas. Lia parou o ataque e se sentou ao lado dele. Yuri abraçava a barriga dolorida de tanto rir.

-Então? - A cacheada se ajeitou olhando pra ele deitado, abraçado ao corpo parecendo uma bola.

Yuri se sentou e ajeitou a postura.

-Talvez eu goste. - Encolheu os ombros.

-Você quer outro ataque? - Lia ameaçou encostando as pontas dos dedos na barriga dele.

-Não, não por favor. - Yuri sacudia a cabeça. -Não conta pra ninguém, tá?

Lia o responde com um “Sim”.

-S-sim, eu gosto d-dele. - Yuri mordeu seu lábio e, sorriu meigo pensando no que disse.

-Floquinho, floquinho. Eu não quero te ver sofrendo por causa dele, o Lucas além de ser hétero também não vale nada. - Lia dizia afagando os cabelos ruivos dele. -Por favor, não crie expectativas.

Yuri sabe, ele sabe que as chances de Lucas ficar com ele, ou até mesmo, de gostar dele, são 0000000, 0%. Mas seu coração acreditar 1% e, 1% para ele é muito.

O menor assentiu tristonho para Lia, que se arrependeu de ter dito isso. Ela pegou o ursinho e entregou para Yuri.

-Desculpa, anjo. Não queria ter dito essas coisas e te deixar tristinho. - Lia dá um beijinho no ombro dele.

-Tudo bem, Lia. Você tem razão em tudo. - Falou com um biquinho. Yuri abraçou o ursinho, sentindo o coração quebrado.

-Yuri, sempre quando você ficar triste, abrace esse ursinho e lembre-se que, eu gosto muito de você, tá?

-Tá. - Ele já estava fazendo o que ela pediu, porque se sentiu triste de pensar que, Lucas não sente o mesmo e nunca vai gostar dele.

Ainda era cedo, Lia já estava na casa de Yuri á um bom tempo e, ela não pretendia sair de perto dele tão cedo. Então a garota teve uma ideia, ela notou que Yuri não parecia sair muito de casa, talvez porque sua mãe não permitia que ele saísse sozinho. Para uma pessoa com deficiência visual como Yuri que, não sai sozinho de casa, é perigoso sair, as ruas são mal asfaltadas, e as calçadas cheias de buracos e com deformações, ele pode se perder. As chances de Yuri se machucar é grande.

-Yuri, vamos dar uma volta na praça? - Sugeriu ela saltitando na cama, fazendo-a balançar e Yuri rir.

-Se minha mãe deixar. - Deu de ombros cabisbaixo.

-Eu peço. - Lia falou se levantando. -Já volto, amor.

Ficar sozinho para o ruivo sempre foi desagradável, o silêncio a sua volta deixa-o apreensivo. Enquanto ela não voltava, ele ficou brincando com o ursinho. E decidiu batizá-lo de Lucas 2°, ele sorriu ladino com a ideia, pareceu meio boba, mas amou.

-Voltei amor da minha vida! - Dizia Lia invadindo o quanto e dando um susto em Yuri. Ele estava distraindo com seu presente.

A cacheada ria se jogando em cima dele, enquanto Yuri fazia uma careta.

-Para, não teve graça. – Um bico grande se formou.

-Sua mãe deixou. - Yuri congelou no mesmo instante, não acreditando.

-Não tem graça, Lia. - Falou franzindo o cenho.

-É sério, vamos! - Lia se levantou da cama e, o puxou.

-Tenho que me trocar. - diz. Lia revirou os olhos e disse:

-Assim tá bom. – Disse arrumando o moletom dele.- Calça só o tênis.

Yuri assentiu e saiu pelo quarto procurando seu allstar laranja já surrado devido ao uso frequente. Ele o achou e se sentou na cama para calçá-lo, Lia foi ajudá-lo. Ela se agachou na frente dele e, pegou um par, logo colocando no pé dele, fazendo o mesmo com o outro.

-Vamos? - Perguntou ajudando-o a se levantar.

-Sim! – Exclamou animado.

( . . . )

Passaram em uma sorveteria e, foram se sentar em banco de madeira. A tarde começava a esfriar, Lia estava com uma camisa xadrez amarrada na cintura e a retirou para cobrir o amigo que estremeceu após um sopro gélido de vento lhe acertar.

Próximo a eles tinha alguns garotos em uma pista de skate.

-Yuri, tem um garoto lindo ali andando de skate, pena que ele não faz o meu tipo. – Suspirou e, deu uma lambida no sorvete. – Me conta, qual é o seu tipo de garoto?

-Hmm, e-eu não sei. – O vento parecia gostar de brincar com os seus cabelos.

Um barulho de skate parou à sua frente. Yuri não demorou para saber quem é, seu cheiro cítrico, mas parecido com tangerina, inundou as narinas sensíveis do garoto, lhe causando uma onda refrescante.

-Yuri? – Seu timbre rouco e forte, fez os pelinhos quase inexistentes da nuca do ruivo eriçarem e suas mãos suarem instantaneamente.

E esse efeito estranho lhe fez deixar cair o pote de seu sorvete, ficando apenas a colherzinha em sua mão.

-Que porra, baixinho. – Seu tom era divertido. Essa foi a primeira vez que Lucas chamou Yuri de “Baixinho”.

Lia olhou para o moreno com sangue nos olhos.

-Pera aí, vou comprar outro pra você.

-N-Não pre-precisa. – Gaguejou.

Por dentro Yuri fica irritado com ele mesmo, pensando porque sempre quando está perto de Lucas, gagueja. Se sente bobo por isso, e Lucas deve achá-lo também.

-Tá de boa. – Declarou sorrindo ao fitar o rosto ruborizado do alaranjado. -Em partes a culpa foi minha, então te devo outro, quer do mesmo sabor?

Yuri ainda com as bochechas da cor escarlate gritante, assentiu timidamente.

-Já volto. – E deu uma piscadinha em direção a Lia, e saiu surfando em cima do skate.

-Yuri, se controla, tá escrito na sua testa que você gosta dele. - Lia comenta, fazendo-o tocar a pele quente da bochecha, logo passando a mão nos cabelos para ajeitá-los.

 

Minutos depois Lucas retornou com o sorvete de chocolate, ele entregou para Yuri com cuidado para ele não o deixar cair novamente. Yuri agradeceu, Lucas os deixou dizendo que, retornaria para a pista onde os amigos o esperavam,

-Lucas sendo legal é estranho. – Lia alega terminando o seu sorvete.

-Ele sempre foi. – A cacheada o encara e diz:

-Você diz isso porque gosta dele. – O menino quase cuspiu o sorvete fora, e fez uma carranca se virando pro lado da amiga, que gargalhou apertando sua bochecha.

( . . . )

Foram caminhar um pouco. Yuri não conseguia parar de rir das piadas que a amiga contava. Se o ruivo fosse escolher o melhor dia que já teve na vida, esse momento seria o escolhido, nunca se divertiu tanto em seus quinze anos, e isso é graças a Lia, que se afeiçoou a ele a partir do primeiro olhar.

Passaram perto da pista de skate. Lia parou para ficar olhando os garotos e algumas garotas. Avistou Lucas e, sussurrou para Yuri: “-ele é bom!” Os cantos de sua boca se ergueram em um sorriso tímido. 

-Já vão? – Era a voz de Lucas se aproximando.

-Sim, tá ficando tarde, e o Yuri tá sem casaco.

-Tá cedo ainda e, ele tá usando esse xadrez aí. – Apontou para o menino, quando notou que Lia ia retrucá-lo ele disse: -Yuri, quer dar uma volta de skate?

Não pensou duas vezes, e assentiu. O mais alto segurou no pulso do ruivo e o trouxe para mais perto de si, causando ondas de calor no corpo do menino.

-Se ele se machucar eu te mato! – Lia proferiu cruzando seus braços.

-Tá bom. - Lucas diz rindo.

Lucas segurou o braço de Yuri e o levou para a pista. Uma adrenalina consumiu o corpo de Yuri, quando Lucas o segurou pela cintura para ele subir no skate. Yuri apoiou as mãos nos ombros do moreno, Lucas firmou as suas na cintura do ruivo.

Yuri conseguiu se equilibrar e abriu um sorriso.

-Já é um começo. - falou Lucas. Por incrível que pareça, mesmo em cima do skate Yuri ainda ficava menor que Lucas, seus rostos ficaram numa distância perigosa, um do outro.

Lucas começou a andar levanto Yuri junto, o skate deu um tranco para frente; Yuri se agarrou a ele abraçando-o, Lucas por reflexo, fez o mesmo. Yuri gelou e sentiu uma eletricidade percorrer seu corpo, ele estava com o rosto colado no de Lucas, podia sentir seu cheiro cítrico mais de perto, e Yuri gostou, ele inspirou para apreciá-lo mais.

-Yuri, pode me soltar, eu não vou deixar você cair. - diz Lucas, afastando-o; o menor corou se afastando dele. Yuri ficou com muita vergonha de estar tão próximo dele desse jeito.

-D-Desculpa. - disse envergonhado e tentando se equilibrar. Lucas deu de ombros e retornou a empurrá-lo, dessa vez com cuidado.

Ficaram mais de vinte minutos, andando por toda a pista. Yuri estava adorando a sensação de adrenalina em seu corpo, e de sentir Lucas tão próximo a ele. Quando suas mãos se tocavam sem querer, Yuri só faltava ofegar de nervosismo.

-E aí gostou? - Perguntou Lucas para ele, Yuri descia do skate sorridente.

-S-Sim. – Exclamou alegremente, com sua face iluminada e corada.

-Você até que foi bem, baixinho. - Lucas bagunça os cabelos de Yuri.

O mais novo não esperava por isso e arfou baixinho. Mesmo com um gesto simples de tocar por segundos os cabelos de fogo do menino, Lucas sentiu seu coração bater com mais força.

Yuri pegou a mão de Lucas e a segurou com suavidade. O moreno gelou fitando suas mãos coladas, a palma dá do ruivo estava quentinha, Lucas sentiu a necessidade de colocá-la em sua face para sentir a macies. Pensamentos os quais foram cortados quando Yuri a soltou e, o moreno observou o que o garoto fazia, Yuri tocou seus cabelos e isso fez com que Lucas mordesse o lábio inferior.

-Sin-sinto muito. – Sua voz deixa sua boca com rouquidão.

-É-É melhor eu te levar de volta pra Lia. – Fala gaguejando e sacudindo a cabeça. Yuri assentiu.

( . . . )

Lia e Yuri estavam sentados na escada da varanda do ruivo, o crepúsculo já dava o ar de sua graça. Sua destra estava entrelaçada a de Lia e, a outra apoiada em sua coxa. Uma brisa forte os pegou, o menino não queria que o dia terminasse, queria congelar o tempo e ficar na escada conversando com sua amiga, que aparentava se conhecerem há anos, a conexão de ambos foi imediata, nem o alaranjando e nem Lia conseguem explicar isso.

-Lia? – Sua fala mansa, fez os olhos esverdeados da garota fitá-lo.

-Sim? – Suas mãos se grudaram mais ainda.

-E-eu... abracei e-ele. – Seu lábio foi mordido levemente, sua face ficou avermelhada com o que dirá.

-Iti... você é muito fofo! – E apertou a bochecha dele, que se encolhe afastando a mão dela. -Pode parecer muito cedo, mas eu te amo demais, Floquinho.

O menino arregalou os olhos, não acreditando no que acabara de ouvir. Yuri nunca soube o que é carinho, afeto, ou como é ser amado por alguém, sua vida foi somente desprezo, odeio e agressões frequentes, então quando Lia disse que o ama, ele não conseguiu se segurar e, lágrimas rolaram por seu rosto, encharcando seus olhos claros.

Ele se debruçou sobre o colo dela, Lia teve seu coração partido, ela o abraçou, o aconchegando em seus braços, afagando seus cabelos.

-Eu disse alguma bobagem? Por que tá chorando, Yuri? – ela o ergueu de seu colo e segurou o rosto dele com ambas as mãos, limpando uma lagrima com o polegar. – Me conta?

-Des.... Desculpa, Lia, é que... – ele fungou e, mais lágrimas caíram. -Ninguém nunca me disse i-isso.  

-Que te ama? – Ele assentiu fazendo um bico de choro. Lia o abraçou forte, acariciando suas costas. -Então irei dizer todos os dias que eu te amo muito.

-Eu também amo você. – E colou seu rosto no vão do pescoço dela, fungando baixinho, e se sentindo acolhido pela amiga.

E essa foi a primeira vez em quinze anos que Yuri ouviu um “Eu te amo”.


Notas Finais


Espero que tenham gostado.

Beijocas...


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