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História Como a vida de Pip foi para o saco - O ensaio


Escrita por: CatyBolton

Notas do Autor


sim, eu to viciada na minha própria historia

aproveitem a leitura!

Capítulo 3 - O ensaio


Eram em torno das três da tarde e, até agora, Phillip não tinha visto ninguém realmente ensaiando. Christophe estava batucando a bateria dele, mas parecia ser mais por tédio do que qualquer outra coisa, Damien dedilhava a guitarra sentado preguiçosamente no sofá e Estella e Gregory eram os únicos de pé, discutindo no meio da garagem sobre a próxima apresentação que eles fariam.

Honestamente, não tinha entendido tudo desde o começo, havia pegue o baixo da loira para tentar se acostumar com a diferença da quantidade de cordas e não sentia que não seria assim tão difícil se pudesse ter tempo de aprender. Mas Estella apareceu falando que no próximo fim de semana eles teriam mais um show e Gregory ficou chateado por algum motivo e disse que ela deveria ter perguntado a ele primeiro antes de decidir.

— Você quer ganhar dinheiro ou não? — A mulher questionou acusadoramente, com os braços cruzados e encarando o outro de um jeito frio, mas soava tranquila. Ela estava usando as roupas de menina rica, aquele vestido verde de mangas compridas. — O pessoal daquela merda de barzinho gostou da nossa música, se tu tivesse um pouco de cérebro aproveitaria isso.

Ele fechou os olhos e massageou as têmporas por alguns instantes, de um jeito excessivamente dramático que fez Estella rir:

— Se o filhinho do papai estiver muito ocupado, — Ela deixou um sorriso venenoso escapar quando o loiro murmurou “olha só quem está falando…”. — eu posso muito bem ficar no vocal dessa vez.

— Olha, Estella, não me leve a mal. — Assim que Gregory começou, parecendo falar sério, ela fechou a cara novamente. — Eu sei que mulheres conseguem fazer várias coisas ao mesmo, mas você está aqui e certamente não deve ser sem motivo, então eu duvido disso…

— Onde você quer chegar, seu pedaço de merda?

— Quem vai ficar com contrabaixo se você for cantar? Porque Damien vai continuar na guitarra e eu não estarei lá para-

— Eu posso cantar e tocar.

Gregory balançou a cabeça de um jeito que só poderia ser descrito como esnobe e Phillip teve a impressão real de que Estella avançaria no pescoço dele a qualquer momento, mas esse não foi o caso:

— Como eu disse, acho muito difícil que você consiga.

— Se você está “preocupado” com isso — Ela fez aspas com os dedos e logo depois estendeu uma mão na direção de Pip, mas sem realmente olhá-lo. — Pip pode muito bem tocar também.

Seria uma mentira se Phillip falasse que não ficou imediatamente ansioso, mas ansioso do jeito ruim. Do pior jeito possível. Claro que quando foi praticamente obrigado pro Estella a entrar naquela banda, imaginou que certamente participaria de alguns shows no futuro… Mas não agora, não tão imediatamente.

De repente estavam todos olhando na sua direção, esperando uma resposta que Phillip não tinha certeza se estava pronto para dar.

— Eu n-não sei se é uma boa ideia — Gaguejou pateticamente. — Quero dizer, eu ainda estou aprendendo-

— Tem tempo mais que o suficiente para ensaiar, é só no sábado. — A loira interrompeu. — E você praticamente já sabe, para de drama.

Subitamente Gregory suspirou de um jeito exagerado e bem característico dele, encarando Phillip como se estivesse lhe julgando completamente e por coisas que o loiro nem mesmo sabia quais eram. No fim, ele acabou cedendo:

— Tudo bem, Pip, você pode tocar. Só tenta aprender tudo.

Estava pronto para dizer que não, essa não era uma boa ideia por muitos motivos, mas nem mesmo teve a chance de realmente expressar sua insatisfação. Damien chamou a atenção de todo mundo com um pigarreio e quando virou o rosto naquela direção, viu que ele já estava olhando na sua:

— Eu posso ajudar ele a ensaiar.

Não falou nada imediatamente por não esperar uma sugestão como essa e nem foi o único a ser pego de surpresa. Estella olhou nada mais que desconfiada para o moreno durante alguns significativos segundos, querendo decifrar o que tinha por trás daquelas palavras, mas sem conseguir pensar em nada específico:

Isso é diferente

— Se vocês já resolveram essa porra de drama — Christophe falou pela primeira vez em muito tempo, não se importando de interromper e mudar completamente o assunto. — eu tô morrendo de fome. A gente ainda tem dinheiro pelo menos pra comprar uma pizza?

— Na verdade, sim. 

Estella rapidamente mudou o foco para o francês, ao mesmo tempo que a menção sobre pizza faz Phillip perceber o quanto, primeiro, estava com fome, e, segundo, já era tão tarde. Logo anoiteceria e todos estavam há horas sem realmente comer alguma coisa. 

Depois disso teve outra pequena discussão sobre quem iria ir comprar a pizza, na qual eles apenas ignoraram Phillip e Damien não pareceu preocupado em dizer nada. Estella, Gregory e Christophe acabaram saindo, todos os três, apenas para comprar uma pizza e nem mesmo fizeram questão de lhe perguntar se queria ir também.

Agora lá estava Pip, sozinho com aquele cara esquisito e estranhamente atraente que era Damien Thorn, em um clima que só poderia ser descrito como estranho. Olhou de canto de olho para o outro homem, que ainda estava sentado tranquilamente ao seu lado a uma distância considerável e não aparentava que iniciaria uma conversa, ao invés trocou a guitarra pelo contrabaixo, que antes estava apoiado no braço do sofá.

Aquele silêncio continuava desconfortável de uma maneira que o loiro se sentiu obrigado a falar alguma coisa:

— Então, Damien — Chamou por ele e se arrependeu um segundo depois que Damien olhou na sua direção, mas continuou mesmo assim. — eu preciso confessar que estou curioso sobre algumas coisas…

Encarou o moreno de volta, mas ele continuou quieto lhe esperando continuar, com uma expressão séria e neutra no rosto que não ajudou Phillip a ser capaz de supor nada:

— Como todos vocês conheceram Estella?

— Ah, isso. — O outro homem abriu um sorriso pequeno e debochado. — Acho que foi há alguns anos, ela tava desfilando por aí com aquele uniforme de colégio particular de gente rica, acho que tava matando aula? — Certo, isso era algo que conseguia imaginar Estella fazendo e o loiro sabia bem disso. — Eu tava com o Gregory e o Toupeira e a gente achou que era uma boa ideia colocar medo na menina rica. Mas, Pip, tu acredita que essa vadia conseguiu me derrubar no chão e ainda me ameaçou com um canivete?

Há alguns dias, diria que não, pois não imaginava esse tipo de agressividade vindo de Estella. Mas, depois de presenciar aquela cena no bar protagonizada por sua amiga de infância, não poderia duvidar mais de nada.

— Os caras morreram de rir da minha cara e ela também ameaçou eles. — Damien riu com aquela lembrança. — Depois, a gente só começou a andar junto?

— Que diferente… — Phillip murmurou. Mas, para ser sincero, aquilo parecia exatamente o tipo de coisas que eles faziam para ter amizades. Ser deliberadamente grosseiro e agressivo.

— Pois é, e eu não consegui ficar zangado com ela. — Ele de repente entregou aquele baixo para o loiro, que segurou meio incerto do que fazer agora. Em vez de lhe falar alguma coisa, Damien apenas continuou com a conversa. — Mas e você? Estella disse uma coisa ou outra sobre você e eu ainda não entendi essa história de noivado.

Phillip segurou o instrumento musical e olhou para ele por alguns instantes, pensando bem em como contar a história que tinha com Estella. Não era tão complicada assim, mas ele nunca falou sobre ela para ninguém e pensar em como explicar algo pela primeira vez não estava sendo exatamente uma tarefa simples

Olhou novamente para Damien pouco antes de começar:

— Bem, nós conhecemos no colégio, creio que com uns doze anos de idade? — Falou incerto, era difícil lembrar dos detalhes. — Ela me viu em uma situação comprometedora com um outro colega e prometeu que guardaria segredo, mas apenas se eu concordasse em fingir que estávamos juntos? Eu fiquei um pouco assustado na época, tenho que admitir… E acabei concordando por medo. As coisas escalaram bastante com o tempo e ela sempre tomou as rédeas da situação, eu só concordava. Algum tempo depois, descobri que eu e Estella temos questões bem parecidas para esconder-

— Que “questões”?

Ele realmente não tinha entendido, ou estava propositalmente tentando fazer Phillip se sentir desconfortável com o assunto? Olhou para o contrabaixo no seu colo e dedilhou as cordas por um instante, tentando pensar em como explicar aquilo:

— Tem algo de errado comigo, entende? Eu não gosto de mulheres da forma que deveria.

— Você é viado?

Exatamente.

Phillip riu sem graça, mais desconfortável do que gostaria por falar sobre isso. Às vezes o loiro desejava que pudesse ser normal como todo mundo, as coisas seriam muito mais fáceis assim e não era como se ele não tivesse tentado e falhado miseravelmente.

Se assumir para as pessoas nunca era uma experiência exatamente muito agradável:

Acho que nós podemos colocar dessa forma

— Entendi. — Ainda conseguia sentir o olhar de Damien, só não foi capaz de encontrar coragem para encarar ele de volta. No momento que achou a conversa tinha finalmente acabado, ele continuou. — Mas, de boas, eu não tenho problema com isso.

Levantou o queixo e olhou para o mais alto, com certa curiosidade. Já suspeitava que ele não era como os seus pais e nem como a maioria das outras pessoas que passaram pela sua vida, mas escutar assim, saindo da boca dele, tornava tudo muito mais significativo. Nem mesmo Estella, que sempre lhe tratou normalmente e até bem, abriu a boca alguma vez na vida dela para falar que não tinha problema ser gay.

— Na verdade — Damien falou de repente e dessa vez com um sorriso que deixou Phillip mais nervoso do que gostaria de admitir. — é até bom saber…

Mais uma vez Phillip se pegou feliz sem saber exatamente qual era o motivo, enquanto seu peito se encheu de algumas expectativas que não pode compreender imediatamente, mas, no fundo, sabia bem do que se tratava.

Só que não eram coisas que ele queria pensar no momento, então apenas mudou rapidamente de assunto:

— Eu acho que realmente preciso de ajuda com isso — Falou um pouco rápido demais e deixando aquele nervosismo insistente transparecer, mas não se importando o suficiente com isso. Só queria mudar de assunto, rápido. — não tenho certeza se consigo aprender toda a música até o show.

— Ah, você consegue sim. — Ele respondeu muito tranquilamente. — Toca o que tu sabe aí.

Havia essa pequena caixa de som na garagem, perto do sofá, que Damien conectou o contrabaixo antes de sentar no sofá novamente e olhar para Pip, apenas esperando. Hesitantemente olhou para o instrumento musical e segurou com mais firmeza, logo depois dedilhou algumas notas em um som que não teve um ritmo real e tentou lembrar das outras vezes que acompanhou aqueles caras nos ensaios, mesmo sem tocar com eles.

Foram apenas alguns segundos depois de realmente começar que a quantidade de cordas, mais uma vez, lhe confundiu e Damien percebeu isso imediatamente:

— Vai lá, Pip, nem é tão difícil. Tu só tem que se acostumar, deixa eu te mostrar.

Estava pronto para entregar o instrumento de volta para o moreno, mas travou no lugar quando ele chegou perto. Perto até demais, invadiu o espaço pessoal de Phillip de todas as formas diferentes quando passou os braços ao redor do seu corpo e segurou as suas duas mãos para guiar de jeito que não conseguia mais prestar atenção nem se quisesse.

A vergonha lhe fez travar e esquecer subitamente tudo que sabia sobre música, enquanto sentia o corpo de Damien perto demais do seu e um cheiro vago de alguma bebida barata. Provavelmente cerveja. O seu rosto esquentou mais quando ele lhe puxou para perto, sem saber o que fazer, como agir e nem o que falar.

A sensação piorou mais ainda quando, de repente, Gregory, Christophe e Estella se aproximaram da porta da garagem e Damien não deu o menor sinal de que iria lhe soltar. Eles acabaram vendo aquela cena e nenhum deles pareceu particularmente surpreso, mas Estella chegou perto e colocou a caixa da pizza na mesa de centro antes de abrir e pegar uma fatia para ela mesma. Era de queijo, provavelmente, Phillip não havia prestado muita atenção e também tinha perdido a fome.

Nem mesmo ali Damien lhe soltou e Pip estava quase desistindo, talvez ele apenas não tivesse reparado que estava tudo estranho demais? Era uma opção, mas, pelo riso baixo dele, deveria ser a resposta errada.

Quem ficou olhando por um segundo a mais, antes de revirar os olhos e ir fazer as próprias coisas, foi o Toupeira:

— Mas é viado demais, puta que pariu.



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