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História Como Esquecer Alguém - Alguém queimou


Escrita por: GSilva

Capítulo 10 - Alguém queimou


Capítulo 8 – Alguém queimou

 

            Poucas pessoas estavam do outro lado da rua quando atravessamos na faixa de pedestres. Lucas segurava a minha mão a todo tempo e eu me senti como uma criancinha atravessando a rua de mãos dadas. Ele parou do outro lado, se virando para mim com um sorriso. Olhando naquele tom de verde em seus olhos, esqueci Andrew por um instante.

            — Lucas, o que você quer me mostrar? — Perguntei.

            Ele intensificou o aperto em minha mão.

            — Um segredo. Venha. — Respondeu, puxando-me para o lado.

            Começamos a caminhar novamente, algo que eu realmente não pretendia que fosse acontecer. Eu esperava de tudo, desde palavras apaixonantes pela parte dele até beijos acalorados no muro, mas apenas continuamos a andar. Algumas pessoas passavam ao nosso redor e, se não fossem por seus olhares acusatórios na nossa direção, eu quase acreditei que estávamos sendo completamente ignorados.

            Continuamos até chegarmos a uma pequena depressão na calçada, que levava à entrada de um estacionamento abandonado. Uma cerca de metal cobria o perímetro e uma placa de “não entre” praticamente proibia nossa entrada. Eu já tinha ouvido falar daquele lugar: um antigo campo de futebol que não era mais usado. Frequentemente fotos surgiam daquele local, todas as imagens demonstrando um local árido, com a terra seca e poucas árvores. A única coisa que fazia o terreno não parecer tão horrível era uma casinha abandonada que antigamente servia de vestiário para os jogadores.

            — O que é isso? — Perguntei, desconfiado. Lucas olhou para mim e avançou na direção da cerca, levantando os fios levemente com as mãos. Por sorte, não era arame-farpado.

            — É meu esconderijo. — Disse ele. — Vamos.

            Ele passou pela cerca, uma perna de cada vez, depois se abaixando para passar o resto do corpo. Eu fiz o mesmo. Aproximei-me e rapidamente atravessei a cerca. Ninguém do lado de fora parecia prestar atenção na nossa invasão – o que agradeci, internamente, porque não precisava de alguém me acusando de vandalismo.

            — Você sabe que a gente não pode vir aqui, não sabe? — Perguntei. Ele apenas abaixou a cabeça.

            — Eu sempre venho aqui. — Respondeu.

            Sem aviso, ele começou a descer um pequeno monte de terra que levava ao nível inferior do terreno. Eu fiquei parado por uns instantes para observar onde tinha entrado. Eu nunca havia estado ali, nunca tinha visto aquele campo abandonado ou o vestiário depredado. Realmente, as fotos diziam a verdade. Estava tudo vazio, desolado e árido, com poucas árvores e uma mísera vegetação. A casinha ficava ao lado de um retângulo cortado no chão, parecendo tristemente abandonada, e ainda podíamos ver as traves de futebol fincadas na terra.

            — Venha. — Disse ele, elevando a voz. Eu olhei para ele, sorrindo, e desci alguns passos.

 

            Cada vez que eu colocava um pé no chão, o som de folhas secas e gravetos se quebrando fazia-se presente. Parecia que o local realmente não recebia uma visita importante há anos. Eu respirei fundo, olhando em volta. A rua, com seus carros e suas pessoas, tinha ficado para trás, e estávamos tão longe do muro que acabamos ficando invisíveis aos pedestres. As poucas árvores do terreno cercavam-nos como vigias.

            — O que fazemos aqui? — Perguntei.

            — Quero te mostrar meu segredo.

            — Sim, você já disse, mas qual é esse segredo? — Perguntei outra vez. — Já estamos sozinhos, você pode falar.

            — Eu tenho que mostrar. — Ele respondeu, virando-se para trás e sorrindo. Percebi com espanto que aquela estava sendo uma das poucas vezes que andamos juntos, mas de mãos separadas.

            — Ok. — Respondi. — E o que você sabe sobre esse local?

            Ele reduziu o passo, deixando que eu me aproximasse. Começamos a andar mais lentamente agora. Ele estava com as mãos nos bolsos da jaqueta cinza, olhando para cima com uma admiração completamente nova para mim. Era como se aquele local fizesse parte dele, como se aquelas árvores fossem pedaços de sua mente.

            — Eu não sei nada, não mais do que você. Um campo de futebol abandonado. — Lucas respondeu. — Não sei por que gosto de vir aqui, mas gosto. Aquela casinha se tornou meu esconderijo.

            Eu olhei para Lucas enquanto nos aproximávamos da tal “casinha” e fiquei pensando em como ele podia esconder as coisas tão bem. Não fiquei bravo, ou triste, por descobrir que tinha uma matiz dele que era desconhecida. Apenas fiquei curioso. Ele me viu olhando-o e sorriu.

            — Você disse que queria me conhecer... — Disse ele.

            Eu sorri de volta, esticando o braço. Entrelacei meu braço ao dele, sincronizando nossos passos. Era indescritivelmente grandiosa a minha vontade de beijá-lo naquele momento, mas eu me segurei e continuei a andar.

            — Você gosta daqui? — Perguntei.

            — Gosto. — Respondeu ele. — De verdade.

 

            Não fiz mais nenhuma pergunta, meramente continuei a andar com ele em silêncio. Vi a casinha se aproximando ainda mais e absorvi suas características: vidros quebrados, sem portas ou janelas, pichações sobre a tinta das paredes. Vi também algumas garrafas de vidro espalhadas pelo chão e até mesmo uma bicicleta abandonada.

            — O que tem lá dentro? — Perguntei, curioso.

            — Vai descobrir. — Respondeu ele.

            E eu descobri.

            Lentamente, nos aproximamos da casa, e eu percebi que podia estar me metendo numa enrascada. Claro, nunca fui idiota ao ponto de ir para um lugar desconhecido com um garoto semidesconhecido. Mas, alguma coisa no Lucas me fazia querer acreditar naquilo, acreditar que ele não queria me machucar fisicamente ou emocionalmente.

            Subi os degraus da entrada com calma, colocando as mãos no patente da porta para me equilibrar. Senti a presença de Lucas atrás de mim. Lá dentro estava um breu, uma verdadeira escuridão, e eu tive que tatear a parede para achá-la.

            — Suponho que aqui não tem energia elétrica. — Eu disse.

            — Continue andando. — Foi a única coisa que ele disse.

            A maioria das pessoas já teria saído correndo há muito tempo, mas eu, com todo o meu conhecimento de duas semanas de namoro, continuei a andar como se nada estivesse acontecendo. Como ele disse, continuei a andar. E, quase que imediatamente, aquilo se tornou uma tortura.

            Eu não enxergava nem a minha própria mão na frente do rosto e comecei a pensar em como uma casa poderia ser tão escura em pleno meio-dia. Ele devia ter coberto as janelas com alguma coisa. Continuei a andar. A pior parte é que eu sentia a presença de Lucas atrás de mim, sua respiração perto da minha nuca, mas simplesmente não podia parar. Eu não queria parar. De repente, o ar mudou, como se eu tivesse chegado num cômodo maior, mas ainda não conseguia ver nada.

            — Onde estamos, Lucas? — Perguntei, mais seriamente desta vez. Senti a presença dele atrás de mim, porém nenhuma resposta surgiu dele.

            E então houve um “click”, algo como um botão acionando outra coisa, e a sala inteira acendeu em luz. Conforme meus olhos se ajustavam à luminosidade, olhei em volta.

            De fato, tínhamos chegado num cômodo maior, numa espécie de “ex-banheiro”, provavelmente onde os garotos tomavam banho antigamente. As cabines tinham sido destruídas e os estilhaços cobriam o chão, onde um colchão velho repousava. Olhei para as paredes, notando que minha tese estava certa: tábuas cobriam qualquer luminosidade que vinham das janelas. Mas não foram as janelas, ou os estilhaços, ou qualquer outra coisa que me atraiu a atenção. Foi uma das paredes.

            Na parede oposta a mim, havia um desenho pintado, como um grafite ou uma pichação, mas não era vandalismo. Era eu. Literalmente eu. Era um desenho meu, do contorno do meu rosto e dos meus olhos, dos limites da minha boca e das bagunças do meu cabelo. Tudo em tons em degrade: roxo para verde, verde para vermelho.

            — Lucas? — Perguntei, com minha voz soando pelo recinto, parecendo completamente embasbacado. — Lucas?

            — O quê? — Perguntou ele, gentilmente.

            — Lucas, você fez isso? — Perguntei.

            — Sim. — Respondeu ele. — Fiz porque queria te dizer uma coisa.

            Eu me virei para ele, olhando seus olhos acesos e seus lábios sorridentes, e me afastei. Não tinha ficado com medo.

            Ele andou pelo recinto por um tempo, depois parou na frente do desenho gigantesco de mim e me olhou. Havia uma espécie de tristeza nos olhos dele, algo que eu nunca tinha visto, nem em Andrew nem em Larry.

            — Lucas, o que foi? — Perguntei, quebrando nosso silêncio.

            Ele pareceu respirar fundo, prendendo a respiração para poder responder.

            — Eu... Eu fiz isso porque... — Gaguejou ele. — Eu fiz isso porque nunca fui bom com as palavras. Eu disse que nunca dei certo com ninguém, exceto com você. Eu nunca soube o que dizer nas horas que precisava falar algo, exceto com você. Eu nunca fui bom com as palavras, Greg, então usei meu maior dom para te mostrar o quanto eu te amo. E eu te amo muito.

            Ele fez uma pausa, depois continuou:

            — Eu sei que parece falso, porque só namoramos há duas semanas, mas eu te amo. Eu te amo muito, Greg. Você é a pessoa mais importante na minha vida e eu não imagino vivê-la sem você. — Disse ele.

            Eu fiquei em silêncio. Ele parecia uma estátua, me olhando com aqueles olhos verdes, apenas a boca se mexia. Eu não consegui pensar em nada quando ele parou de falar, então continuei em silêncio. Ao contrário dele, eu sempre fui bom com as palavras. Ficar sem elas foi uma tortura. Mas, eu sabia o que queria, e realmente não era falar.

            Rapidamente, me aproximei dele, daquele rosto que pedia por compreensão, e coloquei meus braços em seus ombros, puxando-o para perto. Nossos lábios se encontraram com selvageria, como uma tempestade, e eu senti a pele dele queimando sob meu toque. Senti o perfume dele, cada músculo onde minhas mãos tocavam, e cada respiração.

 

            Lentamente, aquilo foi se intensificando, uma mistura de selvageria com amor, trocas de carícias intensos, até que atingimos a parede onde estava o desenho do meu rosto. Eu o pressionava contra a parede, fazendo-o ficar sem ar, mas ele não parava. Suas mãos passaram do meu rosto para meu pescoço, do meu pescoço para meus braços e meu quadril, e depois... Por algum motivo, ambos caímos em cima do colchão velho que já estava por lá.

            Isso não nos fez parar. Não queríamos parar. Aquilo que quase tinha acontecido na sala de aula, no outro dia, estava prestes a acontecer.

            Minhas mãos passavam por todo seu corpo, numa espécie de desejo de descoberta intensificado. Eu queria descobri-lo, tocar onde nunca havia tocado, sentir a pele dele sob meu toque. Lentamente, sem que nem mesmo me desse conta, minhas mãos entraram por baixo da jaqueta dele, e eu senti cada músculo e cada centímetro queimando.

            Ele parou de me beijar por um instante, arfando, mas suas mãos ainda me seguravam. Lucas parecia prestes a retomar os beijos quando eu o interrompi com uma pergunta.

            — É isso que você realmente quer? — Perguntei. Ele não pensou nem por um segundo.

            — Sim.

            Nossos lábios se encontraram novamente. E então tudo passou rápido demais. Num instante, ele tinha se levantado, retirando a jaqueta e a camiseta que usava por baixo. Eu o amei naquele instante, cada centímetro dele. Lucas não era magro demais, mas também não precisava perder uns quilos. Ele tinha a aparência ideal para mim, pensei (por mais superficial que isso fosse) e eu o amei por isso. Ele ficou me olhando por um tempo, procurando por respostas no meu rosto. Eu sorri de volta e me levantei também, colocando as mãos nas bordas da minha camisa e puxando-a para cima. Não senti o vento gélido sobre a pele, ao contrário. Tudo parecia queimar.

            Ele sorriu. Nossos corpos se chocaram um contra o outro e a partir daquele momento eu pude sentir cada milímetro dele sobre mim. Deitamo-nos novamente, um corpo contra outro, um amante contra outro, e foi nesse momento que percebi que estava amando alguém.

            Queimamos juntos.



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