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História Como (Não) Ser Um Cafajeste - Às Vezes... Todo Mundo Precisa De Um Pamonha.


Escrita por: vanelope-stars

Notas do Autor


Olá, trevos de quatro folhas! 🍀💚
Aqui está uma att um pouco menor comparadas às outras, mas sem dúvidas muito importante. Um belo nó é dado aqui.
E...VIRAM A CAPA NOVA??? A @flarke QUE FEZ E EU ESTOU APAIXONADA MEU DEEEEEEEUS GENTEEEEEEEEEEEEE AAAAAAAAAAAAAAA (choro infinito) os círculos com Love stage😭😭
Enfim... aproveitem 💌💕

Capítulo 14 - Às Vezes... Todo Mundo Precisa De Um Pamonha.


Conversei com mamãe e disse a ela que poderia voltar a trabalhar, pois eu ficaria bem em casa. Ela aceitou por ora, contanto que eu a mantivesse atualizada. Assim sendo, meus dias de repouso seriam solitários.

Eu havia deixado o alarme programado para às nove da manhã, pois não havia necessidade de acordar cedo junto de meus amigos e namorado se eu não iria à escola nem teria muitos afazeres. E sem alarme… a chance de eu nem acordar e dormir dias seguidos existia. Assim sendo, acordei às nove da manhã com o doce toque do despertador ㅡ "Touch my body", Sistar.

Me mexi e fiquei um pouco deprimido por não ter podido me despedir direito de Jimin. Sentei, bocejei, calcei minhas pantufas e andei até o banheiro. Mais um dia de cóccix machucado começava.

Enquanto tomava banho, escovava os dentes, arrumava a cama ou dava comida para Cheetas e Catapora, eu pensava em Jimin. Eu pensava em nós na noite passada e em todas as coisas que havia escutado, descoberto, comprovado. Em todos os medos novos que haviam nascido no meu coração e em alguns velhos que morreram.

As coisas eram complicadas, meu poder era limitado. Eu queria ser algo para Jimin, mas nem sequer sabia se já havia sido algo para alguém. É muito fácil dizer que você é importante quando sua família te trata de acordo e te convence disso, porém família é família. São pessoas que, tecnicamente, são obrigadas a te amar ㅡ ainda que muitas vezes não amem, ou amem e estraguem isso.

É diferente com pessoas de fora. Pessoas que você escolhe ou que escolhem você. Pessoas que você encontrou e escolheu seguir, não pessoas que te mostraram a direção porque era dever delas e você não sabia qual lado era o norte. Essas relações por escolha são ainda mais íntimas, já que se você escolheu alguém é porque essa pessoa está de acordo com as suas necessidades e gostos. Isso não ocorre em família. Seus pais e irmãos podem ser pessoas que você jamais escolheria como amigas.

Ao mesmo tempo em que essa escolha demonstra muita segurança também te expõe ao outro lado: você escolheu, você recebeu, você não detém isso por nascimento, embora, talvez, possa deter até a morte. As pessoas que escolhem ficar também escolhem ir. Você precisa ficar e também precisa ir.

Jimin me escolheu porque precisava ficar e eu estava de acordo com seus gostos e necessidades. Eu escolhi ficar porque ele me fazia feliz e apaixonado. Existia um sentimento que eu nunca tinha dito em voz alta e que nem por isso se tornava menos real ou renegado. Ele me preocupava:

Eu escolhi Jimin, também, porque ele precisava disso. Eu o amei naturalmente, sem intenção ou porém. Mas decidi ficar ao lado dele porque senti que ninguém mais faria isso. Eu desejei ser o namorado dele, desejei ser seu apoio. Eu escolhi ajudar Park Jimin e não sabia se era apto.

Temia dizer a ele e fazê-lo pensar que estava ao seu lado por pena quando jamais se assemelharia a isso. Era mais profundo, na realidade, porque eu nunca escolhi ser algo para alguém. Com Taehyung eu me vi incumbido de ser algo porque ele foi algo pra mim e tomou grande espaço na minha vida. Espaço demais pra que eu não tivesse promessas com ele.

Mesmo tentando ser alguém de relevância, eu não sabia se era. Ele não precisava de mim. Eu me sentia um pouco inútil.

Hoseok… ah, um caso que me deu dor de cabeça. Eu me apaixonei, ele pareceu corresponder, todavia logo depois ficou claro que ele correspondia meu amigo, e não eu. Jung Hoseok chorando enquanto me dizia que não podíamos namorar porque ele gostava de Taehyung foi um dos momentos mais dolorosos e importantes da minha vida. Kim Taehyung dizendo que jamais abraçaria Hoseok se eu fosse contra, também.

Eu me lembrava tão bem.

"Não olharei pra ele se você não quiser.", "Não é isso que importa. Você gosta dele também?". Ele ficou em silêncio, espremeu os lábios e seus olhos lacrimejaram. O abracei. "Vá atrás dele, então. Vocês se gostam. Ver meu amigo feliz com quem ele ama é mais importante pra mim. Ele não me ama, eu não tenho nada a perder. Seria capricho ou mágoa. Não tenho nada disso por vocês. Fiquem juntos. Fiquem juntos e fiquem comigo. Se os dois ficarem ao meu lado, eu ficarei bem".

Taehyung e Hoseok se amavam, combinavam, eram felizes. Eu não tiraria isso deles. Aquele período foi de muitas inseguranças da minha parte e o que mais me surpreendeu foi ambos aparecendo frequentemente em minha casa com comida e jogos, para ver filmes e ler revistas, contar fofocas. O que mais me surpreendeu foi ver que ambos me consideravam importante.

Hoseok não escolheu Taehyung porque o achava mais interessante que eu. Hoseok se apaixonou por Taehyung. Ponto. Só. Jamais me tratou diferente, jamais deixou de me abraçar e tentar consolar. Eu fingia que não, mas… eu amava Jung Hoseok pra caralho. Ele era meu melhor amigo também, mesmo que eu dissesse que não. E eu sabia que era o dele.

Ele me entendia e sabia que eu costumava pender para o lado de Taehyung por conhecê-lo há mais tempo e porque Taehyung tinha uma "técnica" para dialogar comigo. Hoseok oferecia conselhos de dois modos: ou era distração ou era incisão.

Era muito… doloroso. Pra mim era doloroso. Era doloroso quando ele me aconselhava corretamente e com sabedoria porque ele acertava em cheio, arrancava partes de mim e me forçava a vê-las. Eu não suportava me sentir tão ridículo diante dele, então evitava desabafar em sua presença. Acontecia, entretanto. Ocorria às vezes e eu era grato.

Eu não me recordava, mas tinha quase certeza que nunca disse em voz alta que admirava e temia Jung Hoseok. Me sentia inferior. E me sentir assim enquanto ele vinha sorrindo e oferecendo comida, falando de gatinhos!, me fazia sentir pior, ainda mais bobo. Ele sabia, eu achava. Ele e Taehyung sabiam. Eles sempre sabiam. Eu não tinha que dizer. 

Eles eram mais confiantes e fortes que eu, menos dramáticos e medrosos. Eu sentia que sumia não diante deles como casal, mas deles como pessoas. Isso era mais doloroso. Eles não precisavam de mim, eu sentia. Mas eu precisava deles.

Precisar. Sim. Foi exatamente isso. Jimin virou a mesa: agora era eu quem sabia da verdade sem que ela precisasse ser dita, era eu que compreendia sentimentos sem que precisassem ser explicados. Agora era eu que escolhia ficar com alguém, sem precisar. Alguém precisava de mim.

Alguém me achava sábio. Alguém me achava maduro. Alguém buscava por mim. Alguém queria meus conselhos.

Minha mente explodiu, tudo que eu sabia foi pelos ares. Eu senti que era minha chance de me mostrar capaz de ser valioso para alguém e fazer diferença! Eu queria me tornar alguém capaz disso! E jamais ser pequeno novamente, e jamais ser o covarde, e jamais ser complexo… Eu tinha que fazer aquilo. Deixar Jimin na mão não era opção. Eu estava disposto a ser importante pra ele por merecer.

Talvez assim eu também me tornasse maduro ou só forte o bastante para encarar meus dois melhores amigos e nunca mais temer ser só um peso ou acessório para eles.

ㅡ Catapora, não! Não, cachorro mau! ㅡ reclamei, andando vagarosamente atrás do cachorro que corria em velocidade sobre-canina. ㅡ Cataporaaa! Papai machucou o ossinho, não seja assim! Catapora!

Meu amado cão havia, em um momento meu de distração em que levantei do sofá para pegar meu celular, roubado meu assento especial e agora corria com ele pela casa. Eu, sem poder fazer movimentos muito bruscos ou sequer arriscar uma queda, o persegui como um idoso enquanto ele corria, babava e rolava no chão. Ficava parado, somente com o rabo pintado balançando, e então desatava a correr escada acima ou até a lavanderia, esperando que eu o perseguisse. 

De todas as coisas que pensei que passaria por ter ferido o cóccix, sofrer bullying por parte do meu cachorro não estava na lista. Tantas pessoas podiam tirar sarro com a minha cara… e foi logo ele… a quem tanto amei e me dediquei… Reitero: a pior parte da traição é que ela sempre vem de quem confiamos.

ㅡ Catapora, sério, devolve pro papai. Vem, devolve! ㅡ pedi, parado no primeiro degrau da escada. O cachorro se abaixou, moveu o rabo freneticamente e latiu. ㅡ Como assim "não"? Você tem a minha idade, por acaso? Sabe a dor que sinto? Desça já daí e me devolva minha almofadinha ortopédica! ㅡ Latidos, três passos pra trás, latido e novamente corpo abaixado. ㅡ Não adianta discutir, Min Catapora! Desça já daí! ㅡ Ele deixou apenas o traseiro levantado. Inicialmente achei que fosse uma piada de mau gosto em relação à minha danificada retaguarda, porém logo compreendi. E era pior que uma piada. ㅡ Catapora, não… Por favor, não.

Mas ele não me ouviu. Eu sabia bem o que aquela posição significava e o esperado aconteceu:

Ele pulou em cima de mim. Um cachorro enorme, pesado e usando boa parte de sua força corporal se jogou em cima de mim. Não teve jeito: caí. Enquanto eu gemia de dor e pensava em que erro cometi, ele lambia meu rosto. Pegou com a boca a minha almofadinha, que havia caído ao nosso lado durante o salto, e colocou sobre o meu peito.

ㅡ É seu pedido de desculpas, é? Pois saiba que se tentou me manipular ㅡ ri e tirei um pelo da minha língua que deve ter caído enquanto recebia lambidas ㅡ, conseguiu. Deixe o papai levantar. Por enquanto, eu só posso jogar a bolinha.

A queda foi dolorosa e ficar de pé também foi. Meu assento estava intacto a não ser pela saliva de cachorro. Limpei com lencinhos e voltei para o sofá. Deitei com a almofadinha bem escondida atrás das minhas costas para não haver mais furto e passei a jogar a bolinha na cozinha para brincar. Catapora trazia e eu jogava de novo. Era tudo o que teríamos. Até que ele cansou e decidiu que o melhor a se fazer era deitar em cima da minha barriga e tirar um cochilo. Ele parecia viver para se aproveitar de mim. 

Entediado e sem nada para fazer… na verdade, eu podia estudar, mas eu não iria. Não tinha chance alguma. Sonhar alto demais. Rejeitei meus deveres e preferi ficar entediado a ter que abrir um livro da escola. 

Retornando, sem nada para realizar, permaneci deitado assistindo anime. Cheetas chegou um tempo depois e deitou no meu pescoço. Assim se foi a manhã.

Porém… eu ainda passaria o restante do dia sozinho e minha mãe não gostaria nada de saber que eu passei o dia inteiro consumindo conteúdo nipônico sem sequer fazer uma pausa para beber água. Eu tinha que resolver aquilo. A solução óbvia não era mentir, pois ela nunca acreditava, a solução era ter um cúmplice.

ㅡ Pai, vem pra casa rapidinho? É importante.

Correram alguns minutos e meu pai chegou, preocupado, perguntando se eu estava bem. Quase senti culpa. Quase.

ㅡ Eu só quero que você veja um pouco de anime comigo pra que mamãe transfira sua raiva de mim pra você.

ㅡ Que coisa horrível! Não acredito que me tirou do trabalho pra isso!

ㅡ Pai, qual é? Eu tô doente, não posso levar broncas! Isso leva ao estresse e o estresse atrapalha a recuperação! ㅡ exclamei, com as costas da mão na testa. Meu pai negou com a cabeça, me julgando.

ㅡ Que decepção, Min Yoongi. Te criei uma vida toda com tanta dedicação pra você crescer e se tornar um… Calma, é o episódio sete da segunda temporada? ㅡ perguntou, sentando no outro sofá.

ㅡ Aham. 

ㅡ Nossa, esse é tão bom.

ㅡ Aham.

ㅡ Vou ver só esse e aí você vai ficar de castigo.


{...}


Meu pai, infelizmente, havia aprendido muito com minha mãe e após aquele episódio me mandou ir para o quarto fazer algo produtivo. Fui. Voltei minutos depois porque percebi que ele estava acabando aquela temporada sem mim.

ㅡ Pai, é o seguinte: ou seremos os dois responsáveis, ou seremos os dois vagabundos. Um ou outro ㅡ falei, no topo da escada. Ele suspirou e desligou a tv.

ㅡ Tá, vou voltar pro trabalho. Vou dizer que você estava péssimo, suando de dor. Então mande alguns áudios chorando pra eu mostrar pra minha chefe.

ㅡ Tá.

ㅡ E se cuide! Sério, fique bem. Me chame se precisar, eu venho na hora. Te amo, pequeno Victor.

ㅡ Pai!

ㅡ Tá, tá! Até de noite, Yoongi.

ㅡ Até, pai. Vamos acabar de assistir amanhã.

Ele foi. Eu fiquei na escada por alguns segundos encarando a porta fechada. Mamãe e papai viajavam às vezes para cuidar dos meus avós ou para trabalhar. Eu sabia ficar sozinho. Por que então parecia mais difícil?

Eu acabei não quebrando a quarta parede no capítulo anterior, não é? Não foi preciso. Agora é. Voltamos à programação normal ㅡ ou quase.

Eu não queria ficar sozinho naquele dia. Eu não entendia por que desejava tanto companhia. Descobri um tempo depois, o problema não foi esse.

O problema foi a péssima escolha que fiz para passar o tempo e não ter que refletir.

Tudo já estava um cocô, mas dedicado como eu era, tive que colocar a bosta no sol e esperar secar.

Parabéns a mim mesmo por foder com o que já estava bem fodido.

Depois de entrar no meu quarto e ver meus cadernos fiquei tão depressivo por imaginar estudar que virei o rosto e me defendi das forças do mal.

ㅡ Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, vem a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O direito de ser vagabundo de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos pelas matérias acumuladas, assim como nós perdoamos a quem nos negou cola em provas passadas, não nos deixei cair em tentação e ver anime mas livrai-nos do mal da escola. Amém. ㅡ Olhei para o teto e fiz o sinal da cruz. ㅡ Hm… ㅡ Olhei ao redor. Hm. ㅡ Hmm…

"Onde isso vai dar?", você deve estar pensando. Pois é, eu também estava. E teria sido melhor saber onde acabava, assim eu não teria nem começado.

ㅡ Onde isso vai dar? Não tem nada pra fazer aqui. ㅡ Cocei o saco e suspirei. ㅡ Vou molhar as plantas. E por que eu tô falando em voz alta? Eu tô sozinho. Louco.

Desci as escadas e molhei as plantinhas na janela da cozinha. Acabei vendo meu vizinho discutindo com a esposa e passei longos minutos espiando. Até que ele me viu e eu tive que parar. Droga, eu quase estava compreendendo a discussão. Faltava tão pouco. 

Andei pra lá e pra cá, acabei novamente no quarto. Pensei: O que será que os outros vizinhos estão fazendo? 

Lá vem. Lamentável. Cômico se não fosse trágico.

Eu não conseguia enxergar o que a vizinha da frente fazia e procurei por minha casa algo que facilitasse o ato de enxerir. Não tinha binóculo, telescópio ou óculos, no entanto tinha uma lupa velha do meu pai. Eu fiz o que pude.

Espiei a vizinha com a lupa. Ainda parecia um pouco longe e tentei usar um copo também, contudo o copo deixava a imagem borrada. Lutei com a lupa. Nos primeiros minutos foi bem chato, porém aquela história se tornou bastante atraente quando vi a mulher idosa começar a apontar uma cruz para seu passarinho enquanto gritava algo que não entendi.

Fiquei curioso. Fiz pipoca. Sentei ao lado da janela e fiquei comendo enquanto observava. Após a sessão de seja-lá-o-que-ela-fez-com-o-pássaro, a senhora passou algum tempo lendo. De repente, sumiu do andar de cima e sentou na varanda. Recebeu uma ligação e ficou furiosa com ela. Após minutos, um carro estacionou e ela não abriu a porta nem a janela para atender a visita. Talvez fosse a pessoa que ligou antes? Hmm… O carro se foi e voltou mais tarde, buzinou e novamente não foi atendido. A dona da casa sumiu da minha vista.

ㅡ Vamos, velhinha, vamos, alimenta a curiosidade do papai aqui… ㅡ murmurei, sedento por fofoca. Bufei. ㅡ Ok, eu vou fazer um cocô e já volto, não faça nada interessante na minha ausência.

Me dirigi ao banheiro e fiz minha pacata necessidade física que pela posição me causava uma dorzinha desgraçada. Voltei ao quarto mascando um chiclete, sentei na poltrona reclinável ㅡ do meu pai, que tirei do quarto dele e trouxe para o meu para poder observar sem machucar meu ossinho ㅡ e voltei a espiar. Gritei.

ㅡ Não! Não! Não acredito! Um homem não pode nem mais fazer um cocô em paz? ㅡ Comecei a chorar, batendo o punho na poltrona. ㅡ Por que, meu Deus? Por que me castiga assim?!

A polícia estava em frente à casa da senhora e eu não sabia o motivo porque a confusão toda começou enquanto eu mandava um fax. Fiquei desolado. Horas de dedicação àquela fofoca para simplesmente perder o grande ato. Eu desejei morrer.

Eu só não esperava que a vizinha fizesse contato visual comigo enquanto eu chorava e que, minutos depois, a polícia fosse bater na minha porta.

ㅡ A senhora Son fez uma reclamação. Disse que você a espiou pela janela várias vezes hoje ㅡ disse o policial bem maior que eu.

Ha. Ha. Ha.

Há uma cena em "Mean Girls" onde a Cady sente que foi pega no flagra e pensa "Comece a chorar e pedir desculpas", mas logo em seguida decide que é melhor fingir que não sabe de nada. Eu me senti como ela, porém não tomei a mesma decisão.

ㅡ Me desculpa, senhor policial! ㅡ Caí de joelhos e comecei a chorar desesperadamente. ㅡ É que eu estava entediado e quis me envolver na vida alheia, mas eu não sou perigoso! Juro! É tipo aquele filme, sabe? Em que o garoto fica obcecado por espiar o vizinho? ㅡ O homem levantou as sobrancelhas e notei que falei merda, pra variar. ㅡ Não! Não! Eu não estou obcecado nem nada! Na verdade, o departamento de polícia deve lembrar de mim! Já fui preso uma vez!

ㅡ Tem histórico, então?

ㅡ Sim! Não! Não assim! ㅡ Solucei e limpei o nariz na manga da camisa. Mal enxergava o homem de farda que me encarava como se eu fosse uma decepção. ㅡ Eu fui preso porque a vizinha da frente achou que eu fosse um ladrão!

ㅡ Da frente? ㅡ Olhou pela porta e apontou com o polegar. ㅡ Então essa não é a primeira denúncia da Sra. Son a seu respeito?

ㅡ Não! Mas não foi assim! Foi só um mal entendido daquela vez e dessa também! Veja bem ㅡ fiquei em pé e gemi de dor ㅡ, eu machuquei o cóccix e estou de repouso, não posso ir à escola nem nada. Só fiquei sem nada pra fazer e quis me meter na vida da vizinhança, mas não sou nenhum stalker nem nada assim! Eu só estava entediado! 

ㅡ É contra a lei perseguir e espionar pessoas.

ㅡ Eu sei! Juro que só fiz isso porque fiquei solitário e meu pai não quis ver anime comigo! ㅡ E soluço, soluço, soluço. ㅡ Eu não posso ser preso de novo, policial! O meu namorado é fi… 

Quase falei que namorava o filho do prefeito. A polícia sem dúvidas conhecia o pai de Jimin. Quase fodi tudo.

ㅡ O meu namorado vai ficar muito preocupado se eu for preso! Veja, eu estou machucado! Quer ver meus exames? Eu mostro! Eu me machuquei! Olha, olha aqui! ㅡ Abaixei um pouco a calça e apontei para meu cóccix. O homem arregalou os olhos. ㅡ Não, não! Não estou tentando te assediar nem fazer nada errado! É que fica bem aqui o ossinho que eu machuquei! Aqui! Quer tocar? Juro que machuquei! Eu pego os exames!

ㅡ Garoto, pelo seu bem, é melhor calar a boca. A Sra. Son só ficou incomodada por você ter espiado. Não te achamos perigoso, por enquanto. Então, só pare de espionar sua vizinhança antes que seja preso, entendeu?

ㅡ Sim! Sim! Sim, senhor! Sabe, eu sei como é ser alguém que vive para proteger e ajudar! Eu mesmo me machuquei para ajudar um amigo a roubar um boné! ㅡ Arregalei os olhos e abracei a porta, querendo me matar. ㅡ Mas eu não sou ladrão, senhor! Ele que é um pouquinho… mas não é nada grave! Acho que ele tem cleptomania ou sei lá. Ai, eu tô só usando o seu tempo. O senhor deve ter bandidos pra prender, né? Eu vou indo. Quer um café?

ㅡ Qual seu nome e sobrenome?

ㅡ Min Yoongi.

ㅡ Quem mais mora aqui? Me dê os nomes.

ㅡ Minha mãe, Min Sukja, meu pai, Min Jungkook, meu cachorro, Min Catapora e minha ga…

ㅡ Do cachorro não precisa ㅡ interrompeu, sem paciência.

ㅡ Ah, certo! Da gata também não?

ㅡ Não! ㅡ Bufou e olhou ao redor. Eu ainda soluçava. ㅡ Seus pais devem comparecer ao departamento de polícia.

ㅡ Tá bom, senhor…

ㅡ Pare de espiar vizinhas e… tenha amigos melhores, se parte do que você disse é verdade.

ㅡ Sim, sim. Não quer mesmo o café? Tem um bolinho ótimo na geladeira e eu posso até…

ㅡ Tenha uma boa tarde, menino.

E ele saiu. Lhe desejei o mesmo e mandei beijos, mas logo me arrependi e parei. Subi até o quarto e chorei enquanto abraçava um urso de pelúcia. Liguei para minha mãe.

Oi, meu bem. Está se sentindo mal? Algum problema?

ㅡ Mãe ㅡ minha voz soou tão patética devido ao choro ㅡ, você tem que ir ao departamento de polícia de no-novo! ㅡ Breve silêncio. Solucei alto. ㅡ Foi tudo culpa do papai que não quis ver anime comigo! E o Catapora roubou meu assento e aí o vizinho de trás brigou com a esposa e a vizinha da frente gritou com o pássaro! Não fui eu! Eu só comi pipoca enquanto ela fazia suas coisas de velha e quando eu fui fazer cocô a polícia apareceu na casa dela! ㅡ Silêncio. ㅡ Mas eu não fiz nada!

Eu vou passar no departamento de polícia. Você tem sorte por ter machucado o cóccix, pois a surra que eu ia te dar não pode nem ser descrita, Min Yoongi. 

Chorei. Chorei. Solucei.

ㅡ Eu não sou criminoso, mãe!

Chego no horário de sempre. Não faça nada. Entendeu? Nada. Não se mova, não pense, não deseje, não respire até eu ou seu pai chegarmos.

ㅡ Tá bom, mãe, tá bom… ㅡ Choro. ㅡ Desculpa…

Ela desligou. Chorei na solidão do quarto. Catapora lambeu minha cara, e isso me fez chorar ainda mais porque segundos antes ele estava lambendo seus genitais. Fiquei desamparado.

Acho que não preciso dizer nada sobre isso.


{...}


ㅡ Dentre todas as coisas que você podia fazer, você escolheu espiar a vizinha. A vizinha. É incrível como você escolhe as piores e mais ridículas coisas pra fazer! É incrível! Eu fico sem palavras, Yoongi, sem palavras. E quando eu pergunto por que fez isso, o que você diz? ㅡ Tentei responder mas só chorei. Mamãe juntou as mãos. ㅡ Exatamente. Você chora. E vai chorar até quando? Até amanhã? Não há como alguém ficar te vigiando, então acho bom, acho ótimo, acho necessário e também o mínimo que você se ausente de atividades potencialmente criminais. Tá bom? ㅡ Assenti com a cabeça. Sequei o rosto com as mãos. ㅡ Ótimo. Agora levante. ㅡ Obedeci. Ela me abraçou. Chorei mais ainda. ㅡ Passou, passou… ㅡ Acariciou minha nuca como se não estivesse me repreendendo há cinco segundos. ㅡ Passou, meu bem, passou. Vá tomar água na cozinha. Jimin, fique com ele.

Saí dos braços de mamãe e corri para Jimin que me segurou com carinho e passou a mão nas minhas costas. Meus amigos não tinham voltado com ele, então seríamos só nós. Eu até me senti bem por não ter que dar várias explicações, contudo também fiquei chateado porque imaginei que eles poderiam me ajudar. Confiei em Jimin, entretanto.

ㅡ Já passou, hyung. Foi só um susto. Vem comer e beber água, tá?

ㅡ Eu já comi, tô sem fome…

ㅡ Eu trouxe pão de alho pra você.

ㅡ Onde? Cadê?


{...}


ㅡ Dá pra acreditar que eu namoro um cara tão gato? ㅡ perguntei retoricamente ao ver Jimin sem camisa após o banho, vestindo o pijama. Ele sorriu e ficou vermelho. 

ㅡ Penso o mesmo sobre você todos os dias.

ㅡ Duvido. É impossível ser mais apaixonado por alguém do que eu sou por você.

ㅡ Você se surpreenderia com o quanto te amo, hyung. ㅡ Colocou a camisa e apagou a luz, deitou ao meu lado na cama e me abraçou. ㅡ Te amo realmente demais.

ㅡ Pare. Me recuso a ter um namoro meloso. ㅡ O abracei bem forte. Ele beijou minha cabeça.

ㅡ Você está bem carente hoje, hyung. Foi por causa da polícia? ㅡ Concordei com a cabeça. ㅡ Está com medo?

ㅡ Não. Só estou deprimido. Me sinto um fracasso. Quero chorar, mas já chorei muito. Quero ficar com você. Quero te abraçar. Só isso.

ㅡ Você não é um fracasso, hyung. Acredito fielmente que suas desventuras são consequência da sua originalidade.

ㅡ Eu preferia ser comum, então.

ㅡ Não. Você é perfeito assim. Te amo.

É justamente essa devoção que me assustava. Jimin precisava de amparo, de um chão seguro. Eu era um dominó que jamais parava de cair. 


{...}


Acho importante dizer que as coisas estão bem ruins e sei que a tendência parece ser piorar… porque é. Vai piorar. 

Mas já aviso uma coisa: às vezes quando piora, melhora.

Às vezes… todo mundo precisa de um pamonha.

Segundo dia sozinho em casa. Minha mãe escondeu copos, lupa, lanterna, taças, garrafas e qualquer coisa que pudesse ser associada à espionagem. Deixou comida pronta para cinco refeições para que eu não tivesse que ficar tempo demais na cozinha para cozinhar e acabasse por ver algum vizinho. Me proibiu de abrir as cortinas. Me proibiu de sair no quintal. Nas palavras dela: Passe o dia inteiro vendo hentai se quiser, mas não olhe pra fora.

Eu não estava com tanta disposição pra ver anime ou filmes. Eu senti a necessidade de compensar o dia anterior, contudo eu não podia me mover muito.

Me senti culpado, ruim, um problema. Não quis incomodar mais ninguém e dormi o dia todo. Me recusei a sair da cama. Dormi todas as vezes em que acordei. Não fazer nada parecia a melhor opção.

Assim o dia passou rápido e logo já estava todo mundo de volta. A mãe de Jimin exigiu que ele voltasse para casa pelo menos por uma noite, pois o pai dele não estava aprovando sua ausência.

Jimin chegou após a escola com uma feição de raiva que vi pouquíssimas vezes. Como a que ele dirigiu ao garoto que me marcou no jogo de basquete, só que pior. Ele deixou alguns cadernos e livros comigo e disse que eu só tinha que copiar as últimas folhas, pois ele já havia respondido tudo de importante. Me deu também alguns papéis impressos e disse:

ㅡ Trabalho de história. Fiz ontem de madrugada. É seu. Vou fazer o meu hoje. Só leia e memorize um pouco para que o professor não desconfie que fui eu quem fiz. Terá prova de física semana que vem, não sei se você já vai ter voltado à escola. Caso não, provavelmente vão dar um jeito de te avaliar, talvez online, ou só quando você retornar mesmo. Vou fazer pra você um guia das prováveis questões e fórmulas. Te mando até amanhã. Vou mandar link de alguns vídeos explicativos para o caso de você ter dificuldade em entender. Você tem uma redação pra entregar amanhã, mas vi que você esqueceu. Fiz pra você no tempo livre, está embaixo do trabalho de história. Só reescreva que eu passo aqui de manhã e levo. Talvez tenha alguns erros de gramática porque fiz às pressas, mas uma boa leitura resolve. Teremos que fazer uma pesquisa para a aula de sociologia e eu disse que você era a minha dupla, espero que não ligue. Amanhã ou depois eu apareço aqui e fazemos juntos, ou eu faço em casa e te mando. Vou te mandar mensagens com um rascunho do que pensei. O time de basquete sente sua falta, então fique bom logo. Eu sinto sua falta. Vou hoje, mas volto o mais breve possível. Hoseok virá mais tarde pra te ajudar com algumas coisas, já que Taehyung pegou uma gripe de Seokjin, como já deve saber. Te aviso se ocorrer algo importante. Te amo, hyung.

Ele me beijou. Foi tão bom que minhas mãos tremeram. Seu aperto em minha cintura me deixou sem ar e quando sua palma desceu e apertou minha bunda eu me perdi do corpo.

ㅡ Estou indo, hyung. Fique bem.

Jimin saiu do meu quarto e me deixou sozinho com todas aquelas folhas. Um nó estava bem apertado na minha garganta e só ficou mais cingido conforme eu lia todas aquelas páginas.

As anotações dele. Nas últimas folhas de seu caderno havia papéis soltos. Eram anotações. Anotações dele para mim. "Escreva essa parte diferente, senão vai ficar muito parecido", "Eu usei de base o texto da página 54 do livro, então use outra. Recomendo a 57, é simples e bem embasada", "Essa questão é falsa, hyung, uma armadilha. Copie a minha resposta e mude alguns sinônimos e ordem de frases pra que não seja igual, mas responda exatamente isso", "Pode pular esse parágrafo todo. Não vai fazer falta".

Muito mais. Muito, muito mais. Quando Hoseok chegou eu ainda estava lendo na cama. Ele notou que eu estava ocupado e começou a fazer alguns deveres enquanto eu não acabava. 

As folhas impressas continham palavras que eu costumava usar. As opiniões pareciam minhas. Era meu, como ele disse. Os links, os vídeos, os rascunhos… 

Jimin estudou por mim enquanto eu dormia. Jimin fez meus trabalhos enquanto eu passava o dia deitado. Jimin. Jimin.

Deixei tudo que ele me trouxe em cima da escrivaninha e deitei em silêncio. Incapaz de dizer qualquer coisa.

ㅡ Dissemos que podíamos ajudar ㅡ Hoseok falou ㅡ e dividir as tarefas. Ele não quis. Disse que a gente podia, mas que faria o que conseguisse fazer. Ele não fica mais distraído nem ri. Ele só pensa em você.

ㅡ Não me torture, Hoseok ㅡ minha voz saiu rouca e baixa ㅡ, eu já estou péssimo o bastante.

ㅡ Eu vim pra cuidar de você.

ㅡ Já pedi pra não me torturar.

ㅡ Yoongi…

ㅡ Não. Não me dê conselhos. Não faça nada. Aja como se eu não existisse. Não… não seja meu amigo hoje. Não seja nada, assim como eu. Só uma vez, nos deixe no mesmo nível.

ㅡ Não.

Virei de lado para não ter que vê-lo. Respirei fundo e torci para dormir rápido. Odiei Hoseok. Odiei. Odiei. Odiei que ele me amasse tanto e odiei amá-lo também quando ele saiu da cama, acendeu as luzes e ficou em pé ao meu lado. O vi de baixo. Sempre via, não é? Encarei seus olhos escuros e feição neutra.

ㅡ Não acredito que justo hoje você vai fazer isso. Não acredito mesmo.

ㅡ Você está afastando as pessoas, Yoongi.

ㅡ Não, não, não, não. ㅡ Tapei os ouvidos. Ele sentou ao meu lado e segurou minhas mãos. ㅡ Não, Hoseok.

ㅡ Você está pensando em terminar com ele.

Engoli em seco, meu coração disparou e lágrimas quentes e pesadas desceram pelo meu rosto até o travesseiro. Ele não tinha o direito de dizer aquelas palavras.

ㅡ Está pensando em terminar com ele e se disser vai matá-lo. Você quer matar Jimin? Quer vê-lo em pedaços? É esse o tempo que o seu "para sempre" dura?

Nenhuma mudança de expressão. Nada. Rosto neutro, mãos bonitas segurando as minhas e respiração plena enquanto, do lado oposto, eu queimava em meu próprio fogo.

ㅡ Hoseok, não, por favor, não faça isso…

ㅡ Nunca vi Jimin tão bravo quanto hoje quando recebeu a ligação da mãe. Ele prefere abandonar os pais a te abandonar e você acha que tem o direito de ir embora sempre que falha. É assim que você demonstra o que sente?

Eu não conseguia fazer nada, apenas chorava e chorava, já sem desejo de que ele parasse. Talvez que prosseguisse. Me destruísse. Me fizesse arder até que as cinzas não pesassem.

ㅡ Taehyung ficou doente e chateado por ter que ficar de cama hoje e não vir te ver. Ele está inquieto porque você está ficando deprimido. Você acha que seus pais estão dormindo? Você acha que estão descansando? Não vão fechar os olhos enquanto aqui houver barulho e não vão relaxar os ouvidos mesmo se dormirem. Você acha que tem o direito de tapar os seus? Ninguém aqui está chorando porque não quer afetar você. Você acha que pode chorar desse jeito? Estamos todos vivendo e nos dedicando a você. Acha mesmo que pode desejar morrer? Você realmente conhece alguém ou fica tão ocupado se machucando que nem repara no que acontece? Vire para o outro lado, seque o rosto e pare de chorar. Vamos conversar.

Obedeci, já não havia como refutar. Não é como se eu estivesse no controle da situação. Hoseok sentou do outro lado da cama e me deu a garrafa d'água que estava no quarto. Bebi alguns goles e respirei fundo.

ㅡ Por que está fazendo isso, Yoongi?

ㅡ Porque tudo está uma merda, Hoseok. Porque eu faço tudo virar uma merda. Eu não faço a menor ideia do que fazer e estava "tudo bem" quando se tratava de você e Taehyung porque vocês podem se virar e sabem o que fazer e não fazer. Mas agora Jimin está aqui. Jimin me ama. Sei por que e também não sei às vezes, mas é fato. E ele precisa de amparo, ele precisa de segurança e de alguém paciente pra ficar à vontade com quem é e ter a própria vida. Isso é difícil, é muito valioso e ele está esperando isso de mim. Eu nunca fui nada pra ninguém e… ter esse peso nos ombros, essa responsabilidade pelo estado de uma pessoa, me mata de medo. Se eu disser a coisa errada, se fizer a coisa errada… vai doer demais nele. Eu me sinto uma merda, Hoseok, você sabe disso. Eu me sinto uma merda e Jimin está trabalhando por mim. Isso não ajuda. 

ㅡ Você acha que Jimin é idiota?

ㅡ Não. Não é isso que estou falando!

ㅡ Não, não assim. Foi uma pergunta séria. Você o acha bobo? Digo, como eu? Todo mundo me acha idiota porque eu fico confuso com malícia e gosto de abraçar. Você acha Jimin bobo? Do tipo que não sabe ser seletivo?

ㅡ Jimin? Ah… ㅡ Franzi a testa e pensei na pergunta. Parecia tão incoerente. ㅡ Não. Tipo, Jimin comanda um time de basquete, ajuda Jungkook com a família e enfrenta os próprios problemas sozinho.

ㅡ Então você sabe que ele não vai morrer se você cometer um erro, não é? Não foi você que disse a ele que não tinha pecado em falhar? Por que ele cobraria de você algo que não gosta que cobrem dele?

ㅡ É diferente. Estou dizendo que se ele confiar demais em mim…

ㅡ Eu entendi ㅡ interrompeu. ㅡ Quanto mais ele confiar em você, mais doloroso serão seus erros. Mas isso é normal. Ele sabe disso. Você sabe disso. E se você não o acha bobo, sabe que ele não confia em você por nada. Ele deu a você pedaços dele porque você cuidou bem de todos.

ㅡ Mas eu não… ㅡ Hoseok espremeu minhas bochechas, me impedindo de falar. Suspirou e deu seu típico sorriso doce.

ㅡ Yoongi, eu e Taehyung não somos idiotas e seus pais também não. Todas essas pessoas amam você por uma razão e se dedicam a você por uma razão: você merece e retribui. É essa a base de uma relação. Você está pensando na coisa errada. Está agindo como se suas habilidades interferissem no amor e apoio que pode dar. Não há um problema em como você trata as pessoas, há um problema em como você se classifica. Você acredita que não merece o que tem. Usa coisas tipo "Jimin é mais inteligente", "Namjoon é mais forte", "Taehyung é mais confiante" pra dizer que não tem essas qualidades e é inferior a essas pessoas. Mas a questão é que Taehyung é péssimo jogador de basquete, obcecado demais com o próprio desempenho e muito rancoroso às vezes. Namjoon se frustra com frequência e já disse uma vez que desiste facilmente. Jimin não sabe se expressar e acaba ignorando os próprios sentimentos. Todo mundo é ruim em alguma coisa.

Não disse nada, somente murmurei. Parte do nó se desfez e eu senti que podia respirar. Ele prosseguiu.

ㅡ Você joga basquete melhor que Taehyung e lida bem com as dificuldades da escola. Você diz que se irrita fácil e geralmente desiste de seus planos, mas só quando não se importa de verdade. Você é paciente com quem gosta e não se importa em sofrer por essas pessoas. Você sabe se expressar, sofre, mas não ignora o que sente e sempre supera depois. Você tem o que eles não têm e eles têm o que você não tem, e tá tudo certo. Você pega leve demais com os defeitos dos outros, Yoon! Como se todo mundo tivesse nascido perfeito nos próprios erros e você tivesse que batalhar para ter um só acerto. Não é porque você passa um dia vendo anime que você não merece a ajuda de Jimin. Você libertou ele e acha que não merece recompensa. O que de fato você quer? Qual reconhecimento? ㅡ Soltou minhas bochechas para que eu pudesse responder.

ㅡ Eu… eu não sei. Eu só… queria ser importante pra quem eu amo. Mas todo mundo que eu amo não precisa de mim. Jimin precisa um pouco e isso me dá medo.

ㅡ Você acha que a única forma de ser importante é ser o ar de uma pessoa? Mas quando ela puder respirar sozinha você fará o quê? Ou você espera que alguém seja sempre dependente de você? 

Eu amava Jung Hoseok pra caralho.

ㅡ Eu te amo, Hoseok.

ㅡ Eu sei. Mas responde a pergunta.

ㅡ É… eu… acho que sim. Acho que imagino alguém que constantemente precisa de mim.

ㅡ Deve ser porque você se vê assim. Você acha que precisa constantemente de quem você ama e que é isso que torna essas pessoas valiosas: elas são seu ar. Mas não são, Yoon. Não somos. Você acha que nós somos o ar e quer também ser o ar. Mas ninguém é. Somos… somos todos Jimin's: precisamos um pouco ou muito hoje ou amanhã. E depois não mais. É isso que é ter uma relação, Yoongi: ajudar alguém a viver melhor, não ser a vida. 

ㅡ Você acha que eu faço isso? Que eu ajudo as pessoas?

ㅡ Você me fez sentir bem quando eu contei que gostava do Tae. Você fez eu me sentir normal quando me senti culpado. Você nunca culpa ninguém. Eu admirei isso em você naquele dia. Taehyung não queria ficar comigo pra não te magoar e você o convenceu de que ele tinha o direito de amar, independente de você. Você assumiu o papel que acha que nós temos, você disse que ele podia fazer o que queria, pois não era seu direito decidir. Ele queria o ar, e você, ao invés de lhe dar um sopro, o deixou ir para o mundo buscar com os próprios pulmões o oxigênio. Você mostrou que não era a vida dele, mas que estava ao lado dele. Liberdade. Foi o que você nos deu.

Lembrei das palavras de Jimin.

"Eu pude me tornar uma pessoa mais livre e feliz que sente que tudo é possível. Porque é isso que você faz, hyung. Você liberta as pessoas. É o seu dom."

ㅡ Jimin… Jimin disse isso uma vez. Disse que eu libertava as pessoas.

ㅡ E liberta. Todo mundo entra em relações já sabendo que haverá amarras, limites. E você não dá nenhum. Você não prende as pessoas a você, e as deixa ficar por escolha. Você permite que ao seu lado fique quem queira ficar! E… ㅡ fungou, passei a mão em sua bochecha ㅡ quando eu não quis, você não me culpou por isso. Você me deixou ir e voltar no lugar onde eu podia estar. Deixou Taehyung escolher também! Você liberta as pessoas, então… por que quer tanto ficar preso a uma delas?

Pamonha maldito.

ㅡ Pamonha desgraçado… Eu… ah… eu sei lá! As pessoas não são assim? Tipo, nos filmes? Livros? Não sei! Se uma pessoa não estiver presa a mim, ela vai poder ir embora sempre. Como Kwan, por exemplo.

ㅡ Se uma pessoa estiver presa a você ela vai ficar mesmo quando não quiser mais. É o que você quer? Uma pessoa que não pode te deixar, mesmo que não te queira mais?

ㅡ Eu… Não.

ㅡ Sabe qual a coisa que você devia lembrar, Yoongi? Quando as pessoas estão livres fazem o que querem. Sabe o que isso significa?

ㅡ Não.

Hoseok riu e beijou meu nariz, segurou minhas mãos e balançou.

ㅡ Significa que todo mundo que cuida de você quer mesmo fazer isso. Significa que todas essas pessoas que dizem que te amam, amam mesmo e querem genuinamente a sua companhia. Elas se atraem por você e querem ficar. Você, Yoongi, faz um monte de gente te seguir não porque precisa respirar, mas porque quer dividir todo esse ar com você. Em outras palavras: elas te tornam importante por escolha. Eu, Tae, Jimin, seus pais, escolhemos ficar porque você é importante pra nós. Não vamos embora. A gente quer ficar. E você? Quer ficar também, ou ir embora pelo medo dessa solidão necessária que vem com a liberdade?


Notas Finais


Hoseok apagado tava me dando nos nervoooos! Até que enfim se revelou.
Então... não espiem vizinhos, tá?
Até!!! 💌💕


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