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História Como (Não) Viver Com Park Jimin - EXTRA: Com Ele, Eu Aprendi A Viver.


Escrita por: vanelope-stars

Notas do Autor


Oi!!!
Aqui temos o extra de que eu tanto falei KSKSKSKS não tenho muito a dizer.
O Jimin dirá tudo pra vocês, então saibam ler e interpretar.
💕

Capítulo 27 - EXTRA: Com Ele, Eu Aprendi A Viver.


Eu nunca quis ser pessimista, tampouco niilista. Na verdade, eu até sonhava em ser otimista e tentava. Tentei. Acho que parei por volta dos treze anos.

ㅡ Isso está sujo.

ㅡ Mas eu já limpei, mãe.

ㅡ Eu não te perguntei. ㅡ Me encarou e cruzou os braços. ㅡ Disse que está sujo, então está. O que você fez o dia todo para não ter tempo de limpar um armário direito?

ㅡ Mas eu limpei…

ㅡ Com tanto empenho quanto todo o resto. ㅡ Bufou. Meus olhos não desviavam dos dela. ㅡ E a parte de cima?

ㅡ Eu não alcanço, mãe.

ㅡ Há várias cadeiras nesta casa. Você pode subir em qualquer uma delas e limpar o armário de um jeito decente.

Não respondi. Estava com fome e Hoseok só viria à noite para fazer o jantar. Os sanduíches que eu fazia pela manhã e tarde já não bastavam para manter meu corpo de sete anos ativo.

ㅡ Por que está com essa cara? Por que não responde?

ㅡ Eu não sei o que responder, mãe. Vou pegar uma cadeira da próxima vez e limpar melhor a parte de baixo.

ㅡ Assim espero. E o banheiro?

ㅡ Ainda não limpei.

ㅡ Pelo amor de Deus, Jimin, o que você faz? Fica dormindo pela casa?

ㅡ Fiz os deveres da escola.

ㅡ Você tem a noite para isso. As aulas não começam tão cedo pra você ter que estar na cama às 20:00. Aprenda a ser responsável.

ㅡ Tá bom, mãe.

ㅡ Só isso? Não tem nada mais a dizer? 

Seu cabelo estava comprido e tive vontade de dizer a ela que estava linda, porém ela nunca aceitava meus elogios. Os classificava como tentativa falha de desconversar. Seus lábios eram iguais aos meus, eu havia reparado semanas antes. Eu não sabia se me parecia com meu pai, suspeitava que as dissonâncias entre eu e ela fossem as semelhanças entre mim e ele. Ela tinha 1,66, cabelo escuro e liso, olhos pequenos e castanhos, nariz fininho e lábios grossos, mãos longas e magras. Seu corpo todo era magro, como Hoseok ㅡ ela constantemente apontava meu peso como prova de que eu era preguiçoso e inútil.

Ela se parecia um pouco comigo, mas eu sabia que ela não gostava disso. Eu passava bastante tempo a olhando de longe, observando seus atos. Desenhava seu corpo. Era como um vício. Sabia que ela não me amava, entretanto era justamente seu desamor que me fazia tão fixado nela. Eu não a entendia, não sabia se a amava também, porém achava que sim. Não tinha nada contra ela. Tinha entendido que aquela era nossa realidade: ela era responsável por mim porque eu nasci, e eu não podia ir embora porque não tinha idade, então tínhamos que conviver. Fazíamos isso. Eu a desenhava quando sozinho e tentava desvendar seus segredos no papel.

O que aquela expressão significava? O que aquela posição dizia? O que exatamente ela desejava? 

Tinha certeza que amá-la me faria ainda mais fixado. Eu amava Hoseok. Sim, eu tinha certeza disso. Eu amava Hoseok acima de tudo e o desenhava constantemente. Aprendi com ele a cozinhar, aprendi com ele a amarrar os cadarços, aprendi com ele o que era família. Eu amava Hoseok. Amava meu hyung. Desde meus seis anos, eu sabia que morreria por ele.

Então se eu amava Hoseok, eu não amava minha mãe. O que eu sentia por ele em nada se assemelhava ao que eu sentia por ela. Talvez eu não a amasse, talvez eu…

ㅡ Me responda quando eu falar com você! ㅡ gritou, estapeou meu rosto. Pisquei algumas vezes, retornando à realidade.

ㅡ Desculpe. Me desculpe por ter esquecido de me desculpar antes também.

ㅡ Vou ficar na cozinha. Não quero te ver, entendeu? Termine de limpar a casa e aí faça suas porcarias.

A vi andando até a cozinha. Suas pernas eram finas, embora suas nádegas tivessem certo relevo. Eu não compreendia bem porque meu pai a teria deixado. Era bonita. Talvez fosse sua personalidade que o tivesse afastado.

Talvez eu não a amasse, talvez eu só… estivesse curioso sobre ela.


{...}


ㅡ Você tinha medo de se parecer com ela?

ㅡ Não, não exatamente. Eu me tornei muito controlador e obcecado com o tempo. Acho que eu… acreditei tanto nela que não conseguia abandonar suas regras. Sujeira era doença e eu seria punido se não limpasse. Eu estava ali porque ela não tinha escolha e devia só fazer meu trabalho, assim não teríamos problemas. Isso formou raiz e virou um: devo proteger quem eu amo, pois o mundo é sujo e perigoso e eu sou sortudo por ser amado. Essas pessoas estão sendo boas comigo. Devo cuidar delas para que não fiquem doentes e para que não se cansem de mim como ela se cansava. Eu queria prender Jungkook no meu domo. Temia por ele. O amava demais para vê-lo sumir.

Deitado na poltrona, encarava o teto branco. Não estava descascando nem havia teias de aranha. Foram as primeiras coisas que reparei na primeira consulta. Tive receio de me deitar também. Tudo parecia perigoso.

ㅡ Mas no início, ele não gostava de você? Pelo menos, foi o que você disse numa das primeiras consultas. Agora a aliança no seu dedo conta uma história diferente. ㅡ Riu, ajeitando os óculos. Sorri, concordando.

ㅡ Sim. Mas ele era adorável, entende? Eu o via como uma coisa preciosa e teimosa. Ele não gostava de mim e reclamava constantemente, mas quando a raiva sumia, ele assistia televisão e ria, andava sem roupa pela casa procurando os óculos, me oferecia Doritos. Jungkook não me odiava, Jungkook não me entendia.

ㅡ Como você com a sua mãe?

Parei de girar a aliança no dedo. Meu sangue gelou, meu coração disparou. Fechei os olhos.

ㅡ Acho que sim. No início, ele me via como eu via minha mãe. Não me amava, achava que me odiava, mas na verdade só não me entendia. Acho que isso fez tudo ficar mais complicado. Eu não queria ser a minha mãe, mas também temia estar tão… condenado a ponto de não ter escolha. No dia em que o busquei na festa, não me senti como se fosse minha mãe, pois ela jamais me buscaria. Me senti como Hoseok e gostei disso. No dia em que o proibi de sair do apartamento, chorei enquanto ele não estava vendo. Me senti como ela, o impedindo de ser feliz. Tentei compensar com uma festa na sala. Eu estava sempre tentando compensar. Não queria machucá-lo. Eu o amava. Morreria por ele. Não importava se ele não me amava de volta. Meu maior problema era a dúvida: eu era minha mãe ou era Hoseok? Ele algum dia me entenderia ou iria embora antes de descobrir que não me odiava, e sim estava curioso?

ㅡ Você se importava muito com as pessoas. Vejo que ainda é assim. Seu amor próprio, sua luta para se reconhecer, como essas três pessoas a afetam?

ㅡ Hoseok sempre me amou. Hoseok foi tudo pra mim. Ainda é. É metade do meu tudo. Acho que 40%. 40% dele, 40% do Jungkook e 20% do Taehyung. ㅡ Dei risada ao lembrar que seria Taehyung a me buscar de carro naquele dia. ㅡ Hoseok sempre cuidou de mim porque sabia que eu não faria. Ele sabia que eu estava doente e também sabia que não podia me curar. Jungkook… Jungkook me elogia, ressalta minhas qualidades e me diz para procurar ajuda desde sempre. Ele sabia que eu estava doente, sabia que não podia me curar e por isso me indicava quem podia. Minha mãe… me fez doente, acredito que por vingança, já que tirei dela tempo e vida. Me fez doente e por muito tempo pôde me curar, mas não curou. Só ela podia. Depois dela, ninguém mais.

ㅡ Sente raiva dela?

ㅡ Sinto o mesmo que sentia há mais de vinte anos atrás. ㅡ Olhei a doutora, sorri. ㅡ Só estou curioso.


{...}


Minha mãe me apresentou a indiferença e a mágoa, Hoseok me apresentou o amor e a esperança.

ㅡ Você tem que aprender a curativar, dongsaeng. Quando fico na casa da tia, não posso cuidar de você.

ㅡ Não existe a palavra "curativar", Hoseok hyung. O certo é "fazer o curativo" ou só "cuidar de você".

Hoseok deixou de enfaixar meu dedo indicador e me encarou, de bochechas infladas e rosto quente.

ㅡ Pare de usar o que sabe sobre palavrão contra mim! Estou cuidando de você! Sou seu irmão! Sou mais velho! Me respeita! ㅡ Deu um soquinho na minha cabeça. Ri e passei os dedos no local dolorido.

ㅡ "Palavrão" são palavras ruins, hyung. 

ㅡ Aish! Cale a boca! Cale!

ㅡ Posso dizer um palavrão pra você aprender. Escute: pu…

ㅡ Não! ㅡ gritou fino e tapou minha boca. Explodi em gargalhadas. ㅡ Não diga essas coisas! A tia diz que é ruim! Para! Me deixa curativar seu dedo. E eu vou falar curativar pra sempre! Sempre! Não ligo pra você e seus palavrão que não são palavrão!

Não respondi, apenas prossegui rindo enquanto ele cuidava do meu dedo machucado. Havia cortado por acidente ao limpar o armário grande de copos. Um copo quebrou e um corte bastante sangrento se fez em meu dedo quando recolhi os cacos.

ㅡ A dor do meu corte não é tão ruim quanto a do tapa que vou levar quando ela descobrir que quebrei um copo.

ㅡ Eu te ajudo a ajeitar os copos pra ela não notar que falta um. Inventamos uma mentira para o machucado. ㅡ Ele passava com cuidado o esparadrapo ao redor da faixa. Mãos como as dela. Mãos semelhantes com funções diferentes: as dela feriam e as dele curavam.

ㅡ Acho que ela não vai ligar. Meus machucados não importam.

ㅡ Que se foda, importam pra mim. Que se foda o que ela diz.

ㅡ Hyung! E aquela história de que a tia não te deixa xingar?

ㅡ Ela não está aqui! ㅡ gritou fininho de novo. ㅡ E eu não estou falando xingo porque sou mal educado! Tô falando porque é verdade! Não importa o que ela diz!

ㅡ Não sei se é certo dizer "falando xingo", hyung.

ㅡ Jimin, não é todo mundo que nasce inteligente igual você. Respeita as pessoas burras! Eu sou gente também!

ㅡ Não te acho burro, hyung. Te acho incoerente.

ㅡ Eu nem sei o que isso significa. ㅡ Coçou a testa. ㅡ Bom, seu dedo está bom. Levante do chão. Temos que arrumar os copos e te dar comida.

ㅡ Coerente é…

ㅡ Não, não, não quero saber. Vou continuar burro por hoje. Ser um menino de onze anos burro não é tão ruim.

ㅡ Ser um menino inteligente de nove também não.

ㅡ Aff, não seja mimado.

ㅡ Não é isso que mimado significa, hyung.

ㅡ Eu vou descurativar seu dedo, Jimin.


{...}


Na adolescência eu conhecia a indiferença, a mágoa, o amor e a esperança. Aos dezesseis eu aprendi o que era tesão e o que era estar apaixonado. Um tempo depois aprendi o que era ser enganado e o que era ter seu coração partido.

ㅡ Você quer isso, Jimin? Você quer me beijar também? ㅡ Taemin perguntou, tocando minha bochecha esquerda. Era fim de almoço, estávamos sozinhos no banheiro da escola. ㅡ Vão implicar com a gente. Dizer que somos errados. Você se importa?

ㅡ Não ㅡ neguei várias vezes com a cabeça ㅡ, eu só ligo pra ficar com você.

ㅡ Você nunca beijou, não é? ㅡ Passou o polegar pelo meu lábio inferior. Eu estava corado, com o coração acelerado, o estômago gelado. Estava apaixonado. Neguei com a cabeça. ㅡ Nunca fez nada, não é? Quer fazer? Você faria sexo comigo, Jimin? Me deixaria tirar suas roupas?

Assenti freneticamente com a cabeça de novo. Sua mão em meu rosto me causava pânico, porém eu ignorava. Não tinha problema sofrer se fosse por ele. Mesmo que minha misofobia gritasse, o TOC me punisse e a ansiedade tentasse fazer meu coração parar de bater, meu desejo de ser amado era maior. Tão grande quanto tudo que eu achava que me impedia de ter pessoas para amar.

Ele me beijou. A biologia me fez querer chorar por saber que estávamos trocando saliva. Meu amor me fez suportar. Era eu contra eu. De todo jeito, eu sairia perdendo.

Foi meu primeiro beijo. Foi minha primeira vez segurando a mão de alguém. Um colega de classe sociável e cheio de amigos de repente estava interessado em mim e dizia me amar, dizia me achar bonito. Meu peso não padrão não parecia empecilho. Minha expressão sempre de medo, minhas mãos que constantemente limpavam a mesa e os cadernos, meu jeito calado e a indiferença que minha presença fazia não eram empecilho.

Achei que fosse milagre. Achei que estivesse sonhando. Achei que poderia sentir a esperança de que Hoseok tanto falava e finalmente ser otimista.

Foi o meu primeiro amor.


{...}


ㅡ Como foi hoje, pinguço? ㅡ meu cunhado questionou quando me sentei no banco do carona e coloquei o cinto. Revirei os olhos.

ㅡ Foi bom. Nada tão fora do comum.

ㅡ Está funcionando, então? Não terei que invadir a sala e esfaquear uma psiquiatra por levar embora o dinheiro, tempo e esperança de cura do meu cunhado?

ㅡ Não. Por enquanto não.

ㅡ Ótimo. Cara, você precisa ensinar o Jungkook a ficar quieto. Sempre que saio com ele, ele me faz passar vexame! Qual é! As pessoas não têm que saber que ele tem um intestino sensível. Sério, como você aguenta ele?

ㅡ Quando quebrei a perna, ele colocou uma cadeira para me ajudar a tomar banho. Ele empurrou minha cabeça pro pau dele e disse que era a posição perfeita pra um boquete. Acho que estou acostumado.

ㅡ Você boquetou ele primeiro, também. E sem aviso.

ㅡ Eu nem sei se existe o verbo boquetar.

ㅡ Não me corrija como corrige Hoseok. Nossa, como eu e ele temos irmãos chatos.

Revirei os olhos e cutuquei a cintura dele, pois sabia que ele tinha cócegas. Taehyung gargalhou.

ㅡ Para, Jimin! Eu tenho que dirigir!

ㅡ Não.

ㅡ Sério, para. Eu vou bater o carro! Jimin! ㅡ Bateu nas minhas mãos e tentou revidar, cutucando minha cintura. 

ㅡ Não sinto cócegas.

ㅡ Ah é, seu ponto fraco é na coxa.

Ele apertou minha coxa direita. Meses atrás eu teria repelido seu toque, entrado em choque e me sentido invadido. Mas não era meses atrás. Eu já não tinha medo. Taehyung não iria me machucar.

Gargalhei e o dei um tapa também. Ele controlava o volante com uma mão só enquanto me torturava.

ㅡ Porra! Já disse ao Jungkook para não contar essas coisas pra você! ㅡ reclamei, me contorcendo de rir.

ㅡ É exatamente disso que eu estava reclamando: seu marido não tem limites! E eu não vou parar! A não ser que você seja como ele e tenha uma bexiga fraca também. Não quero ninguém molhando meu carro.

ㅡ Cala a boca! Res-respeita o sensível do seu irmão! Meu amor não tem culpa de ser fraquinho!

Não suportei mais, puxei sua mão e mordi a palma. Ele gritou e me deu um tapa no ombro. Eu suava de tanto rir. 

Sua mão na minha boca não me trouxe agonia. Eu estava contente por fazê-lo rir. Ele era meu amigo. Eu tinha um amigo. Eu tinha um irmão, um marido, um amigo e um gato, pois eu e Jungkook decidimos, dois meses antes, que eu estava pronto para criar um animal. Escolhemos um gato porque não faria tanta sujeira, então era ideal para começar. Com o tempo, viria o cachorro que eu esperava desde me tornar fã de "De Volta Para O Futuro".

ㅡ Não quero te levar para as garras do amor ainda. Vamos lá pra casa? Hoseok fez um almoço incrível e ainda tem um pouco na geladeira. Vamos comer e beber umas duas taças de vinho, que tal? 

ㅡ Por mim tudo bem. Mas você não vai dirigir bêbado, vai?

ㅡ Ainda não me conhece?


{...}


Eu fiquei nu para Taemin, deixei que ele me dominasse e fodesse comigo. Todas essas três afirmações são ambíguas. 

ㅡ Você não vai reclamar, vai? Hm? Meu príncipe. Tão sensível e cheio de carne… ㅡ Apertou minha coxa. Gemi. ㅡ Você não vai reclamar, vai? Você vai me deixar fazer o que eu quero, não vai?

ㅡ Vou. Vou sim. Tudo o que você quiser.

Com o tempo eu já não sabia se queria fazer todas as suas vontades. Eu já não sabia se ele me amava. Eu só sabia que tinha medo de afastá-lo como afastava todas as outras pessoas e estava desesperado, implorando para que ficasse. Chorando e sofrendo a todo instante de tanto me esforçar para fazê-lo feliz.

No fim dos meus dezesseis anos eu já conhecia a indiferença, a mágoa, o amor, a esperança, o tesão, a paixão, a dor de ser enganado e ter seu coração partido.

ㅡ Se eu te vir perto de Jimin de novo, eu te mato! Tá ouvindo?! Eu te mato! ㅡ Hoseok gritava, os punhos sujos de sangue. Ele não mentia.

ㅡ Hyung, hyung, para! Para, por favor! ㅡ eu pedia, soluçando.

ㅡ Foda-se também! Eu não ligo mais pra ele! Maldito de merda. Não sabia fazer nada direito! ㅡ Taemin retrucou, limpando a boca suja de sangue.

ㅡ Tae, não fala assim… ㅡ pedi, sem nem mesmo enxergá-lo de tanto chorar. Ele me olhou de cima como minha mãe fazia.

Hoseok socou a bochecha dele. Sua boca sangrou mais. Gritei. Taemin grunhiu e saiu quintal afora, nos amaldiçoando.

ㅡ Tae… ㅡ chamei, chorando, de joelhos na porta.

Hoseok me arrastou para dentro, trancou a porta, me jogou no sofá e pegou gases, esparadrapos e antissépticos.

ㅡ Me dê seu braço ㅡ mandou. Obedeci, engasgando em lágrimas. ㅡ O corte foi acidental, mas ele estava pronto para te bater quando eu cheguei. Como deixou chegar a esse ponto? O que você estava pensando? O que se passa na sua cabeça para deixar que ele te trate assim?

ㅡ Ele é meu namorado, hyung! Eu tenho que ser paciente! Você o mandou embora! Agora ele vai ficar bravo comigo… ㅡ Eu soluçava tanto que minha voz não saía. Hoseok chorava enquanto cuidava do corte no meu braço.

ㅡ É com isso que está preocupado? Juro que se você procurá-lo de novo, ele não será o único a apanhar! Que inferno, Jimin! Que inferno! Quando você vai parar de se humilhar pras pessoas? Hein? Acha que isso é uma piada? Já te disse pra parar, já implorei pra que parasse… 

O tronco dele sacudiu devido ao choro intenso. Molhou minha mão com suas lágrimas. Eu estava em pedaços. Meu mundo estava desabando. Ele estava mais uma vez tentando juntar os cacos. Mais uma vez sofrendo. Eu não podia fazê-lo feliz.

ㅡ Me desculpe, hyung… Eu devia saber lidar com isso. Sou muito idiota. Só te faço mal! Mereço passar por isso.

ㅡ Cala a boca, ouviu? Cala a porra da boca! ㅡ gritou. ㅡ Você é meu irmão, você é a minha vida, a minha família! Eu te amo mais que tudo e não há nada que me importe mais que você! ㅡ Choramingou, secou as lágrimas. Xingou. ㅡ Você nunca foi ou será um problema. Eu te amo. Eu te amo. Me deixe cuidar de você.

Ficamos calados enquanto ele cuidava do meu corte. Quando acabou, permanecemos no sofá, em silêncio, lado a lado. A pouca esperança que eu tinha havia escorrido pelo meu braço junto com o sangue.

ㅡ Lembra quando éramos crianças e eu dizia que ia "curativar" você? ㅡ ele perguntou. Concordei. ㅡ Você dizia que essa palavra não existia. Você estava certo. Você sempre foi o mais inteligente de nós dois, Jimin. Você sabe. Você sabe que ele não ama você e sabe que tudo isso foi errado. Não existe a palavra "curativar" assim como não existe as palavras manipular, agredir, ofender e abusar no amor. Eu aprendi com você, aprenda comigo. Fique sozinho, Jimin, fique sozinho e passe o resto da vida assim, mas não se envolva com pessoas que vão te ferir mais que a solidão. Você sempre foi o mais inteligente e, infelizmente, o mais machucado também. Me perdoe. Eu não pude salvar você.

Eu conhecia a indiferença, a mágoa, o amor, a esperança, o tesão, a paixão, a dor de ser enganado, ter seu coração partido e também passei a conhecer uma coisa importante: a perseverança.

Abracei Hoseok, pedi desculpas, prometi jamais ver Taemin novamente. Ele dormiu comigo naquela noite e lemos alguns livros que eu gostava juntos. Eu sabia que a dor não sumiria, mas também sabia que ela não podia me fazer parar.


{...}


ㅡ Amor, chegamos! Seu irmão veio junto pra comer e beber! ㅡ Taehyung anunciou assim que entramos no grande apartamento. Deixou sua bolsa no sofá e andou até a cozinha. Eu só o segui.

ㅡ Ah, sim! Não brigaram no carro de novo? Sabem que é perigoso ㅡ Hoseok respondeu enquanto mexia uma massa na frigideira.

ㅡ Nunca para de cozinhar ㅡ falei. O abracei de lado e beijei sua bochecha.

ㅡ Não brigamos. Você tem que convencer seu irmão a aprender a dirigir, Hoseok. Ele e o marido têm que ter um carro. Essa vida de ônibus e bicicleta é muito impertinente ㅡ Taehyung disse, bufando. Beijou o noivo e experimentou (sem permissão) a massa na frigideira.

ㅡ Resolva você isso. Nenhum dos dois quer nosso dinheiro para comprar um carro. Já foi uma vitória Jungkook levar a sério a economia para a moto. Se ele não gastar tudo em brinquedos e comida, já será um milagre.

ㅡ Vocês falam do meu marido na minha frente como se ele não fosse meu marido ㅡ comentei, inconformado. Ambos deram de ombros. ㅡ Vou me sentar na mesa. Você não está me devendo duas taças de vinho e uma refeição, Taehyung?

ㅡ Opa, vamos, cunhadinho.

ㅡ Não fique bêbado! Quem vai levar Jimin pra casa? Eu estou ocupado! ㅡ Hoseok reclamou.


{...}


Eu já conhecia muitos sentimentos e abria mão de todos eles quando entrava nos clubes. Homens de tantas idades, alturas, personalidades, gostos e desejos diferentes. 

Eu aprendi a foder em várias posições e jeitos. Aprendi a engolir, a tocar, a dominar.

Aprendi também que a pele pode sangrar se você a esfregar tanto quanto eu esfregava no banho. Aprendi que o nojo e o medo lancinante de pegar uma doença podem te fazer vomitar. Aprendi o que era se castigar.

Infelizmente, aprendi também as consequências de ser jovem, fraco e ficar bêbado em um local cheio de pessoas mal intencionadas. Aprendi ㅡ à força ㅡ a me defender.

Ninguém supera um estupro. Superar é deixar pra trás, amadurecer com a experiência. Ninguém amadurece com estupro. Ninguém lembra dele como apenas uma experiência ruim. 

Eu tentava fazer piadas sobre estupro, tentava dizer a palavra sem emoção. Não queria que ela fosse minha e tentei a fazer ser desimportante. Não consegui.

Você aprende a lidar com a dor e com o medo ㅡ com a mágoa também, dependendo de quem foi ㅡ, aprende, pouco a pouco, que acabou e que você tem que prosseguir. Não se pode julgar quem não quer prosseguir, quem desiste. Ninguém sabe o peso da dor alheia.

Você sobrevive e descobre como continuar. Você é encontrado sangrando pelo seu irmão e é mais uma vez socorrido. Você sai de casa, se despede sem emoção da sua mãe, arranja um emprego, aluga um apartamento, começa a faculdade.

Os dias passam. Você compra e ganha mais móveis. Você se fecha e não pensa mais em namoros e sexo casual. De repente, descobre que terá que trabalhar com a pessoa que dilacerou seu coração e, gradativamente, se acostuma. Os dias passam e você se torna insensível à dor das lembranças.

Você não sabe mais por que está vivo, embora saiba que não quer morrer. Você fica ainda mais viciado em Queen e canta "Bohemian Rhapsody" e "The Show Must Go On" para desabafar e adquirir alívio. 

O tempo passa. Você deixa de conhecer sentimentos novos. As dores do passado continuam e você continua também. Continua vivendo com elas e vivendo elas. 

Você aluga seu quarto reserva e ninguém permanece por mais de algumas semanas, pois não há pessoa viva que te suporte. Isso faz você se odiar ainda mais, mas você se acostuma. Sempre se acostumando com a dor, nunca adquirindo cura.

Até que, anos depois, você aluga o quarto reserva ao amigo do seu irmão, com quem você nunca teve contato, e descobre pouco a pouco que o tempo de se acostumar com a dor acabou.

Você cede o quarto ao lado para um anjo e, inesperadamente, se apaixona perdidamente com a certeza de que nada mais será igual.

Você é salvo e a marca que o anjo deixa no seu peito é mais forte que todas as anteriores.


{...}


ㅡ Tudo que Jungkook faz é trabalhar. Sério, ele está viciado em escrever. Nem sei quantos livros já começou ㅡ falei e tomei um gole de vinho.

ㅡ Sem contar as milhares de fanfics totalmente aleatórias que ele começa todo dia ㅡ Taehyung disse.

ㅡ E todas aquelas resenhas de anime, livros e filmes que ele faz, como se fosse crítico ㅡ Hoseok acrescentou. Nós três dissemos um "Ele está viciado".

ㅡ Fico feliz por vê-lo tão animado. Isso o faz feliz e, caralho, ele realmente anda fazendo um bom dinheiro desde que o livro dele foi lançado. Além de comprarmos um apartamento novo, ainda estamos economizando e pensando em viagens. O marketing do Seokjin foi como mágica ㅡ falei. Os noivos concordaram.

ㅡ Eu não sou fã do Seokjin, mas admito que ele trabalhou muito bem. Jungkook também, claro! Li "Até que o céu caia" cinco vezes. Fiquei tão mal pelo final que apareci de rosto inchado no trabalho várias vezes ㅡ meu hyung disse.

ㅡ De fato. Meu irmão tem talento. De nada, tá? Eu sempre incentivei esse lado dele ㅡ Taehyung se gabou. ㅡ E Hoseok está começando a deixar de lado sua raiva pelo Jin, meu cunhadinho. Desde que conheceu Namjoon anda bem reflexivo.

ㅡ É que saber que ele namora me faz ter menos medo que ele tente seduzir você de novo ㅡ Hoseok retrucou.

ㅡ Eles têm uma relação aberta, Hoseok. O último dos impedimentos de Seokjin é o Namjoon. Ele desistiu de mim por respeito a mim e a você.

ㅡ Obrigado por me lembrar, Taehyung, eu estava quase esquecendo que aquele homem rico, lindo, criativo e encantador pode voltar a ter interesse em você! ㅡ Bufou e tomou seu vinho em um gole só. Taehyung revirou os olhos e abraçou o noivo.

ㅡ Não tenho medo. Nem quando Yoongi ainda perseguia Jungkook. Sei lá, antes não fazia diferença Jungkook me amar ou não, mas agora somos casados, temos um gato. Então: porra, não há espaço para isso. Quando vocês casarem, suas paranóias vão sumir, hyung ㅡ falei, tocando o ombro dele.

ㅡ Por que acha que pedi ele em casamento? Quero ter logo um papel que prove perante a lei que eu sou de Taehyung e ele é meu e que não há lugar para Seokjin nenhum. ㅡ E bebeu mais vinho direto da garrafa.

ㅡ Isso não vai impedir ele de sair com a sua tia ㅡ Taehyung brincou. Mordi o lábio para não rir.

ㅡ Quer saber? O assunto acabou. Vou beber sozinho no meu quarto e chorar. ㅡ Meu hyung se foi com a garrafa de bebida.

Taehyung e eu rimos e pedimos desculpas. Hoseok não tinha de fato medo de ser traído, ele tinha medo de ser menos interessante que Seokjin. Mais que isso: queria esfregar na cara do Kim que não perderia Taehyung tão fácil. Era uma birra. E também uma insistência idiota que ele usava para não pensar que Seokjin e sua tia podiam estar saindo de novo. Era adorável, embora nocivo.

Eu amava meu irmão e seu noivo, amava meu marido e minha vida atual também era ótima. Eu gostava mais de mim. Eu já podia rir sem medo de perder a felicidade logo depois.

Eu estava vivendo, finalmente.


{...}


Ele chegou sem aviso ㅡ literalmente ㅡ e já conheceu um dos piores lados de mim. Já iniciamos errado e andamos pelo caminho torto durante dias.

Desafios bobos aqui e ali, deboche. Ele bagunçando meus potes, sujando meu sofá. Eu acreditando que não demoraria até que ele sumisse.

Ele invadiu meu quarto, me revidou. É quase estranho pra mim, mas… ele enchendo a boca de comida, ele sem saber usar uma faca de cozinha… me encantava. Ainda me lembro de quando o ensinei a cortar pimentões. Seu calor, seu cheiro, seu tom…

Até batendo o pé, sendo implicante, ele era tão lindo. Tão sincero. Me apaixonei antes mesmo de saber se iríamos morar juntos por mais um dia ou um ano. Me apaixonei dia após dia, sem empenho algum em esconder. O amei antes, isso é visível. O amei antes mesmo de ele descobrir que não me odiava.

O censurei, gritei com ele. Chorei no escuro do meu quarto por não poder acompanhá-lo. Quase enlouqueci de preocupação e o busquei numa festa de bicicleta. Tive medo de tirar suas roupas para lhe dar banho, devido a todo o tempo que passei sem qualquer contato íntimo. Tive medo de tirar sua cueca. Ele estava bêbado, falando sobre não me odiar e odiar, falando sobre ser meu bebê. 

Ele estava sorrindo e sendo sincero enquanto eu estava lutando contra mim mesmo. Ele era precioso, me parecia tão inocente para saber de tudo sobre mim… Deduzi ser melhor mantermos certa distância, porém ele não parecia concordar. Prosseguia me surpreendendo, ocupando espaço. Me defendeu de quem me ofendeu. Começou a tentar me entender; isso me assustou.

Tive ciúmes dos seus amigos e me deixei levar por isso. Acabei indo longe demais e lhe fazendo um boquete na cozinha.

Falamos sobre fetiches. Viramos amigos. Cozinhamos juntos, descobrimos gostos em comum.

Eu já o amava. O amava antes de um mês, antes de ele decidir que não iria embora e que iríamos juntos ao Japão. Eu já o amava o bastante para morrer por ele ㅡ o que comprovei ao, no mesmo dia, me jogar diante de um carro para salvá-lo.

Houve uma discussão, mas ele estava chorando, estava pedindo perdão. Eu não estava magoado, não podia deixá-lo ir. O carro veio e eu não tive que pensar. Fechei os olhos pelo impacto, porém vi quando ele rolou no asfalto.

Ele jamais soube, mas eu sorri antes de desmaiar. Sorri agradecido por ele estar bem. Morrer ali não teria me incomodado, eu não tinha nada a perder. O medo do inferno nunca foi real e eu sempre idealizei o vazio da morte. Me entreguei ao vazio para que ele ficasse com todo o resto.

Acordei na ambulância e ele estava bem. Nada mais me preocupava. Exames aqui e ali. Terror de contrair doenças. Tic nervoso. A sensação de que todos os móveis do quarto estavam no lugar errado. A vontade de levantar e organizar tudo. O gesso na perna me impedindo.

Quase surtei, porém nada era mais importante que ele. Ele estava bem? Estava chorando? Alguém tinha que fazer algo!

Nos vimos, ele pediu perdão e garantiu que estava bem, eu confessei não ter medo de morrer em seu lugar. Naquela noite ele sumiu. Recebi uma ligação e o busquei na delegacia, quase suando de tensão. Um acidente de trânsito. Eu não podia ter salvado sua vida para receber a notícia de que ele morreu logo depois.

Vi seu pai de relance. Não me interessei pelo homem que havia me ligado. "É, ele bateu a moto de um amigo. Nunca pensa direito. Seria até bom pra você repensar sua amizade com ele. Enfim, ele está aqui. Está bem, tirando a cara de arrependido de sempre. Mas sabe como é, né? Amamos os filhos de todo jeito". Essas foram as palavras dele no celular. Ali eu já sabia que Jungkook também tinha um passado ㅡ que eu conhecia uma nesga graças a Hoseok.

O levei pra casa, chorei ao seu lado, prometi não abandoná-lo. Era uma promessa real e sempre seria. Eu queria ficar com ele, amá-lo em segredo ou para que o mundo soubesse. Não importava. Eu só o amava.

Ele decorou horários para me dar remédio, limpava o apartamento todo, cozinhava o que sabia por mim. Me senti tão sortudo. Tão sortudo. Eu sabia que ele não era Taemin, todavia ainda temia. Ele me fazia perder os receios toda vez que sorria pra mim. Ele me viu sem roupas, me deu banho, me tocou sem permissão e desencadeou memórias péssimas. Entrei em conflito de novo.

Falamos sobre namoros, contei a ele sobre mim. Dia após dia nos aproximamos mais. Eu queria protegê-lo de mim e ele queria me proteger de mim mesmo, sem medo de se ferir no processo. 

Dormimos juntos. Eu dividi a cama com alguém além de Hoseok e me senti bem com isso pela primeira vez na vida. 

Ele estava mudando tudo. Eu mal acompanhava. O amava tanto… ele se esforçava tanto. O amor parecia uma armadilha na qual eu caí como um tolo. Seu toque… Eu não podia amar tanto alguém.

Transamos. Deus. Aquela foi a primeira vez que realmente aproveitei o sexo na vida. O sexo oral havia sido ótimo também, mas fiz por puro impulso. Foi diferente naquela vez no meu quarto. Nosso primeiro beijo que acabou em sexo.

Jamais esqueci sua forma perfeita sob as minhas mãos. Seu olhar lascivo, gemidos, corpo suado e quente. A cintura fina, as nádegas fartas, o pescoço, até o tamanho de seu cabelo. Jamais esqueci.

Foi o melhor sexo que já tinha feito até então. Eu me sentia bem, me sentia desejado, recebi carinho. Foi o paraíso.

Nos tornamos tão próximos após isso. O sexo uma vez na semana! Deus! Era loucura! Loucura! Ele me mostrando seus lados tímidos e submissos. Todos tão lindos. Me apaixonei por todos tantas vezes que perdi a conta.

Nos confessamos bêbados e acordados, ele me pediu em namoro com duas luvas de borracha. Em que momento me entreguei tanto? A ponto de ele ser meu ar?

Contei segredos, queimei ao revelar meu passado, sangrei ao conhecer o dele. Contei sobre minha mãe, meu namoro abusivo, minha vida presa no loop. Ele me contou do suicídio de sua mãe, me levou ao túmulo, me contou sobre seus sonhos e sobre como seu ex-namorado o usava como passatempo.

Cheguei a agredir seu ex. Vê-lo difamado Jungkook foi a pior coisa que podia ter feito pra mim. Naquele dia tive crises fortes e Taehyung e Jungkook ficaram ao meu lado. Eu senti que realmente tinha mais pessoas além de Hoseok. Me senti amado. Jungkook estava preocupado porque se importava. Aquilo doía tanto quanto me aliviava. Saber que seu amor não sumiria era o nirvana. Saber que ele sofria era o inferno.

Comecei a terapia por impulso dele, por, pela primeira vez… eu querer ficar bem realmente. Hoseok me amaria e ficaria comigo mesmo que eu definhasse. Jungkook não suportaria nem seria conivente. Havia uma pessoa na minha vida que eu poderia perder se não estivesse bem para acompanhá-la.

Jungkook me deu uma vida. Me deu uma vida real ao lado dele. Ter me jogado na frente do carro não era nada perto de tudo que ele fazia por mim todos os dias. O meu anjo. O meu anjo.

Viajamos, transamos tanto em toda parte, rimos de tudo. No Japão, eu vi que tinha conseguido: eu era capaz de ter uma vida normal. Essa certeza de que eu podia viver foi tão avassaladora e me deixou tão eufórico que eu soube que teria que pedi-lo em casamento ali mesmo ㅡ mesmo que eu já tivesse pedido não-oficialmente outras vezes. Se eu podia ter uma vida era graças a ele, então eu queria viver ao lado dele.

Ele se expôs pra mim, expôs tudo. Contei a ele que tínhamos que deixar tudo pra trás. Ele havia me mostrado isso e devia aplicar em sua vida. Jungkook também merecia uma vida boa e feliz e a teria. Fomos muito machucados, perdemos a fé e vontade de viver e a reencontramos um no outro e nas pessoas ao nosso redor. Tínhamos bons irmãos e amigos. Tínhamos bons noivos.

No altar ganhamos bons maridos. Era um sonho! Eu tinha esperança e otimismo! Ele conhecia o pior e melhor de mim e ainda me amava, me queria, confiava em mim. Eu podia fazer piadas cruéis sem medo, podia ser ousado e também maldoso. Ele podia ser infantil e manhoso. Um para o outro, éramos tudo. Nos fizemos felizes, nos demos contos de fadas.

O acompanhei até a casa de seu pai quando ele sentiu que estava pronto para superar. Ouvi ele despejar suas mágoas, ouvi seu pai falar de si mesmo como um herói incompreendido.

A mãe de Jungkook tinha sua vida controlada pelo marido, que a traía constantemente, não lhe permitia trabalhar e a prendia em casa para viver o paparicando. Li os livros dela que Jungkook me indicou; ela era uma poeta de muito talento e saber que havia se casado com um homem tão egocêntrico me machucou. Óbvio que para Jungkook foi pior. À noite, ele chamou Taehyung. Chorou nos braços do irmão e nos meus, inconsolável. Ele tinha que aceitar a dor para curá-la, era o nosso fato. O assisti chorar para poder secar suas lágrimas e fazê-lo sorrir.

Seu livro vendeu, ele ficou tão feliz que passou dias pulando para todos os lados. Era seu sonho desde criança. 

ㅡ Sua mãe teria orgulho, meu anjo ㅡ falei.

ㅡ Não diga isso! Não aguento mais chorar! ㅡ ele respondeu, me abraçando e chorando de felicidade.

Sua mãe era sua vida como a minha jamais sonhou em ser pra mim. Eu a admirava por isso e agradecia também, pois meu Jungkook só merecia coisas boas.

Nos mudamos e foi difícil dar adeus ao apartamento, já que eu estava tão acostumado e apegado. Além de que casa nova significava móveis em lugares novos e isso me deixava nervoso, contudo já havia passado o tempo de me prender ao passado. Fomos a um apartamento maior, nos divertimos decorando, preparando o canto do gato. Um grato branco e preto que Jungkook chamou de Branto, porque Branto era a mistura de branco com preto. Eu ri até chorar, mas o nome pegou. Agora era eu, ele e o Branto.

Transamos em todos os lugares possíveis do apartamento para inaugurar, tiramos fotos, colamos fotos nas paredes e compramos porta-retratos também. Todo cômodo tinha alguma foto nossa fazendo qualquer coisa, desde cozinhando até eu sorrindo na roda-gigante enquanto ele vomitava. Eu me sentia tão bem que conseguia cuidar de plantas reais, não de plástico! Eu podia tocar a terra e isso me chocava. Não havia mais horários para tudo, somente para coisas essenciais. Não havia regras. Eu não estava mais preso. Eu era livre. Livre com Park Jungkook, meu marido, e nosso gato branco e preto, Branto.

Era um sonho.


{...}


ㅡ Cheguei, amor. Demorei porque Taehyung e Hoseok tiveram uma briga qualquer por causa de Seokjin e vinho. Como estão você e o Branto?

Deixei meu casaco no sofá, pois eu não precisava correr e guardar. Não precisava. E isso me fazia feliz

ㅡ Bem! Bem! ㅡ gritou do quarto. ㅡ Sente no sofá! Tenho uma surpresa!

ㅡ Você vai usar alguma fantasia pra transar de novo? Tenho que me preparar.

ㅡ Não! Não é isso… ainda. Talvez de noite.

ㅡ Ok.

Esperei no sofá e Branto deitou no meu colo, pedindo carinho. Poder tocá-lo quase sem receio era surreal também. Eu estava me acostumando a essa vida calma. Me acostumando a ser feliz. Jungkook surgiu contente com um livro em mãos. Estava de cueca e moletom. Gostoso. Sentou ao meu lado explodindo de alegria e eu acariciei seu cabelo, há meses sem cortar, já batendo no pescoço.

ㅡ Lembra daquele livro que te falei que estava produzindo?

ㅡ Aquele de que você faz segredo dia e noite? Sim.

ㅡ Então, finalmente está pronto. Eu mesmo imprimi. Será uma edição só. Você deve reconhecer o design da capa.

Me entregou o livro de capa rosa feita em casa. A ilustração era um desenho que ele me pediu para fazer semanas antes: eu e ele de lados opostos da geladeira do antigo apartamento, encarando a lista de afazeres do dia. Eu de meias de cores diferentes, calça de moletom e camisa com estrelas, usando minhas pantufas de porco. Ele de camisa branca e calça de moletom, sem sapatos e descabelado. Admito que quando recebi o pedido tão detalhado fiquei confuso, mas era comum se tratando dele, então ignorei e fiz, pois eu não o negaria nada.

Acima da ilustração estava o título "Como (Não) Viver com Park Jimin" e embaixo tinha seu nome. O encarei, de coração acelerado.

ㅡ É pra mim? ㅡ Ele concordou com a cabeça, mordendo o polegar direito. Colocou o cabelo para trás da orelha e deitou no meu ombro.

ㅡ Sim. Por isso é edição única. Escrevi pra você. Eu já fiz o livro que prometi à mamãe, esse é seu. Os outros serão meus. Vamos, leia! Leia! Pode ser só o começo, já que ele é meio grande.

ㅡ Ok, ok. Nossa… não sei nem o que pensar! Um livro pra mim!

ㅡ Tudo pra você, Jimin. ㅡ Me beijou. ㅡ Tudo pra você. Leia com amor, tá?

ㅡ Sim! Nossa, fiquei animado!

Respirei fundo e fui até a primeira página. O primeiro capítulo se chamava "(Não) Duvide Dos Boatos Sobre Jimin" e o começo estava em itálico e negrito e dizia o seguinte:

"Desde agora aviso que todas as coisas que eu citar sobre Jimin aprendi com experiência, já que não tinha um manual sobre como ele funciona ㅡ ou como se liga e desliga. Já deixo aqui uma primeira regra muito importante para começar a convivência com um Jimin: 

Preste muita atenção no que falarem sobre ele."

Suspirei logo após acabar o parágrafo, já sentindo meu coração agitado. Respirei fundo e beijei sua testa, pronto para ler o restante. Eu sabia que amaria tudo. Eu amava tudo que vinha dele. Eu o amava.

Ele se tornou o meu anjo que me mostrou outra maneira de ver meus sentimentos, que me libertou, me fez entender que eu também era importante. Ele era um contador de histórias, eu era um leitor qualquer que o amava, então ter um livro em mãos que ele havia feito só pra mim, sobre mim, era loucura.

Jeon Jungkook, que passou a ser Park Jungkook, me amava. A ponto de fazer um livro sobre mim e carregar meu sobrenome.

Com minha mãe eu aprendi o que era indiferença e mágoa, com Hoseok aprendi o que era amor e esperança, com Taemin aprendi o que era tesão, paixão, enganação e corações partidos. Sozinho aprendi a ignorar o mundo e me fechar, sofrendo constantemente enquanto prosseguia, com Taehyung eu aprendi a dar chances a pessoas novas.

Com Jungkook eu aprendi o que era viver e, ao ver o título do livro, supus que ele aprendeu algo semelhante. Ele aprendeu a viver comigo; com ele, eu aprendi a viver.

Um anjo me deu a vida, digo sem medo. Morrerei ao lado dele. Eu e ele para sempre. Um cara qualquer que aprendeu o valor da vida ao lado de um anjo sem casa. Sempre. O amarei para sempre. 

O amarei enquanto desfrutar da vida que ele me deu.


Notas Finais


[ Capítulo revisado em 29/12/2021 ]

Esclarecendo dúvidas: sobre o YG, ele era muito bom em seduzir, como o JK disse. Quando eles namoravam tudo o que o YG pedia era sexo e não dava atenção nenhuma pro namorado, e quando dava era como se ele fosse um paciente. O JK estava passando por muitas mudanças nessa época por ter acabado de sair da casa do pai e o YG ajudou ele, por isso o YG disse que fez dele um homem. Eles terminaram quando o JK notou que não estava ganhando nada com aquilo, mas isso não fez o YG desistir, como a fanfic deixa claro.
O Seokjin foi apaixonadinho no Taehyung até cair de amores pelo Namjoon, então o Hoseok não estava sendo burro não.
Caso queiram saber alguma coisa, podem perguntar aqui, eu respondo!

O motivo de o extra sair hoje é que nesse mesmo dia em 2018 eu postei o primeiro capítulo da fanfic no spirit. Eu quis encerrar assim. Um pouco de simetria.
Não vou perguntar se gostaram, é irrelevante. O Jimin falou. Isso é tudo que importa.
Se você conseguiu ouvi-lo, me diga: o que ouviu? O que aprendeu? O que entendeu? Espero que tenha reconhecido o valor e peso das palavras dele.
Eu me despeço definitivamente agora (a não ser que você leia mais fanfics minhas), espero que tenham aproveitado. Usem a #aiminhatetinha!!! Sério, é uma ORDEM!!! Quero ver vocês. Sigam os bebês casados no twitter para falas aleatórias do JK.
Tchau, gente. Obrigada por tudo💕


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