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História Como Perdoar Alguém - Reinserindo Alguém (Parte II)


Escrita por: GSilva e Little_Vik

Capítulo 17 - Reinserindo Alguém (Parte II)


16 – Reinserindo Alguém (Parte II)

 

            — Qual é essa história de que você está formando um grupinho contra a Alexia?

         Interceptei Larry enquanto saíamos daquele dia de aula. Estava uma bagunça ao redor, pessoas passando de ambos os lados, conversas, gritos e risadas mais altas do que o necessário. Olhei seriamente para Larry, parando em sua frente, impedindo-o de sair da massa de 500 estudantes que deixavam aquele pavilhão no momento. Ele sorriu, contrastando todos meus desejos.

         — O quê? — Ele perguntou.

         — Você sabe do que estou falando. — Rebati. — Aqua disse que você foi conversar com minhas amigas e que pediu ajuda para se vingar por mim!

         — Ah, eu devia ter imaginado que elas abririam a boca. — Ele praguejou, não parecendo estar de mau-humor. — Só se acalme, está bem? Não é o que você pensa. Eu não vou assassiná-la.

         — Eu não disse isso. — Respondi. Ele tentou passar por mim novamente, mas eu o barrei, segurando seu antebraço. Mal consegui segurar seus músculos grossos com minha mão. — Larry, o que você vai fazer?

         — Nada, Greg. Eu só estava revoltado com a Alexia, não vou fazer nada.

         — Isso não soou convincente.

         — Ok, então. Eu juro.

         Estreitei os olhos para ele, tentando descobrir se ele estava me enganando. Eu não o conhecia muito bem, mas, ainda assim, conhecia-o mais do que maioria. E então me lembrei que eu estava sendo o desconhecido ali, eu estava fazendo as coisas erradas. Ele não era daquele jeito, não era vingativo. Pelo menos era nisso que eu acreditava.

         — Tudo bem, assim está bem melhor. — Respondi.

         — Agora... — Disse ele, retirando seu antebraço de minha mão. — Posso ir? Eu comecei a trabalhar de estagiário no mês passado e não gostaria de me atrasar.

         Eu assenti, deixando-o livre. Vi-o se afastar rapidamente pela multidão, com a mochila presa nas costas. Ele não sabia no que estava se metendo, não sabia que Alexia não era apenas uma garota da qual você poderia zombar e ela simplesmente o deixaria ir. Ela era vingativa. E não tão boa mentirosa quanto ele.

 

         O dia seguinte no colégio foi carregado de ansiedade. Larry não tinha chegado no horário, tinha se atrasado por uma hora ou duas, o que me deixou nervoso. Não pude deixar de me perguntar o que ele estava fazendo fora daquela sala, mas simplesmente não podia perguntá-lo. Foi quando decidi deixá-lo em paz. Eu já tinha me metido com Alexia o suficiente para saber que não deveria mais mexer com ela, e, obviamente, segundo ela, eu deveria me mudar em um dia – caso contrário, CMA seria divulgada. Mas isso não estava nos meus planos: eu realmente não queria sofrer as consequências, mas também não pretendia me mudar; ia apenas passar uns três dias fora e voltar com uma afronta contra Alexia. Esse era meu plano. Larry era (sempre foi) muito mais prático do que eu, preferia agir ao invés de planejar. Por isso tinha falado e feito coisas tão estúpidas quando abri o jogo para ele. Não foi como se pudesse manter o controle; e sobre a vingança contra Alexia não seria diferente. Porém, realmente quis deixá-lo aprender com as próprias atitudes, todavia, não queria que Alexia tocasse um dedo nele, por isso deixei os olhos bem abertos.

         — Você sabe que a prova final é amanhã. — Disse Alison, me acordando do devaneio, fazendo eu retirar os olhos de Larry por um momento.

         — Sim, eu sei, mas realmente preciso ir ver meu namorado. Ele está viajando há mais de um mês! — Alicia respondeu, consternada. — Não são emitidos justificas de ausência para viagens?

         — Claro que não. Você vai viajar por que quis, e não por que precisou. — Aqua rebateu, com sua voz fina falando alto demais (como sempre). — O que você acha Greg?

         — Eu? — Perguntei, espantando, virando-me para ela. Eu realmente não tinha prestado atenção na conversa.

         — Terra chamando Greg. — Alison respondeu, com uma vozinha fina. — Tem alguém aí?

         Eu sorri desdenhosamente para ela.

         — Engraçadinha.

         — O que foi? — Alicia perguntou, preocupada.

         Estavam as três olhando para mim, com seus olhos cheios de preocupação. Eu já estava cansado da piedade delas, e realmente me segurei para não ter um ataque de nervos. Nosso semicírculo estava quase fechado, então achei que poderia falar a verdade, se sussurrasse. Ninguém parecia prestar atenção na gente e o professor estava passando alguma matéria chata no quadro.

         — Nada. É só que... esse negócio do Lucas está me matando. — Respondi. Aqua elevou a voz.

         — Lucas? Quem é Lucas?

         — Lucas? Eu disse Lucas? Queria dizer Larry... ops. — Olhei de soslaio para o lado, com medo que ele tivesse escutado. Mas, felizmente, todos ainda nos tratavam com indiferença.

         — O que ele fez desta vez? — Alison perguntou.

         — Nada. — Respondi. — É esse problema. O Larry que eu conhecia faria alguma coisa, qualquer coisa. Ele ainda não fez nada, e isso me assusta.

         — Acha que ele está guardando alguma coisa pro futuro?

         — Acho que sim. Tipo, ele parecia tão motivado a vingar o que aconteceu comigo, e, mesmo assim, desistiu muito rapidamente quando pedi para que ele se afastasse de Alexia.

         — Estranho. — Aqua respondeu. — Muito estranho.

         — Sim, muito estranho. — Alison respondeu, em seu modo misterioso. — Mas você não perguntou para ele? Quero dizer, não tentou descobrir o que ele vai fazer?

         — Claro que já, mas ele parece inclinado a não querer me contar. — Respondi, fazendo-as franzirem as sobrancelhas.

         — Não sei, Greg. Essa história está mal contada. — Aqua respondeu, voltando para sua cadeira. Eu respirei fundo e olhei para o lado, ignorando o olhar de Andrew que certamente estava sobre mim. Foquei na aula.

 

         Pouco antes da saída para o intervalo, percebi que algo estava diferente. Geralmente, Larry partia com seus amigos, todo sorrisos e brincadeiras, imediatamente após o sinal tocar; mas, naquela vez, vi que ele ficou parado em sua cadeira. Todos seus amigos, o grupinho de transferidos, saíram para fazerem o que faziam, mas ele permaneceu sentado. Quando olhei para o lado, vi que uma garota estava indo de encontro a ele. Iliana.

         — Greg, você vem ou não? — Aqua perguntou, estendendo a mão para mim. Eu olhei para ela e depois dirigi o olhar para Iliana e Larry. Percebi que algo estava acontecendo.

         — Está tudo bem? — Perguntou Alison, olhando para o mesmo lado que meus olhos se dirigiam. Sorri e me virei para ela antes que as duas vissem o que eu vi.

         — Claro. — Respondi. — Eu voltei. Por que não estaria?

         Segurei na mão de Aqua e nós três saímos para o intervalo.

         Aquilo foi uma das coisas estranhas. Larry estava agindo de uma forma diferente, de uma forma furtiva, e eu não sabia como lidar com um Larry furtivo cheio de segredos e coisas do tipo. Não sabia nem mesmo como lidar com o Larry original, pois, da primeira vez que realmente falei sobre meus sentimentos para ele, ele se afastou drasticamente. É claro que aquele momento foi extremo, uma exceção, mas, da mesma forma... simplesmente não sabia se conseguia aguentá-lo esconder coisas de mim. Sempre fomos muito abertos um com o outro, desde que nos conhecemos, desde quando ele esbarrou em mim no corredor.

         Durante o intervalo, não conseguia tirá-lo da cabeça. Tentei ficar perto de Alexia, mesmo furtivamente, dizendo para as garotas que eu queria ficar andando de lá para cá. Claro, seguir a Alexia também significava que eu tinha de vê-la com Andrew, ambos juntos, andando de mãos dadas, mas eu tinha que ter certeza de que Larry não estava tramando alguma bobagem. Continuei olhando-a de soslaio durante o intervalo. Obviamente, eu não estava zelando pela completa segurança dela (por mim, ela podia simplesmente explodir), mas estava preocupado com as consequências que recairiam sobre Larry caso ele fizesse alguma idiotice.

         Quando retornamos para a sala de aula, Aqua, Alison e Alicia fizeram o imprevisto.

         — Greg, vamos ao banheiro. Espere por nós aqui, ok? — Disse Aqua, com as sobrancelhas arqueadas.

         Eu olhei para os lados como se quisesse dizer “para onde mais eu iria?” e dei de ombros. Não me importava quando elas me deixavam sozinho, se fosse para ir ao banheiro (nunca entendi porque garotas precisam ir em grupinho ao banheiro). E, naquele dia, até achei aquilo um pouco... oportuno, pois, caso Larry entrasse por aquela porta, eu poderia interrogá-lo com mais liberdade. Mas não foi ele que entrou.

         Foi Alexia.

         Minhas lembranças de Alexia sempre se resumiram à uma garota loira, de olhos verdes, com mais ou menos a minha altura, sempre acompanhada com um garoto moreno de olhos verdes. Alexia e Andrew. Andrew e Alexia. Foi assim que formei minha imagem de ambos, não conseguia pensar em um deles separadamente. Mas Alexia entrou pela porta sem companhia. Esperava ver Andrew atrás dela, vindo com seu olhar abaixado e com as mãos cerradas, mas ele não estava lá. Franzi as sobrancelhas. Da última vez que Alexia se encontrou à sós comigo, me ameaçou e deixou bem claro que não me queria por perto. Por que daquela vez seria diferente?

         — Greg. — Disse ela, em tom sério. Para nossa felicitação, a sala ainda estava quase vazia, então ninguém estava realmente olhando nossa conversa.

         — Alexia. — Respondi, cruzando os braços. Me encostei à uma mesa ao lado, ficando numa posição que considerava ameaçadora. Só Deus sabe como nunca fui muito bom em interpretar papéis.

         — Recebeu o presente? — Perguntou ela, cruzando os braços também. Mas vi em seu olhar que alguma coisa dizia a ela para não perguntar, como se ela estivesse com medo que minha resposta fossa negativa. Não consegui pensar em outra reação.

         — Presente? Quê presente? — Perguntei, franzindo as sobrancelhas.

         — Ah, Andrew... — Disse ela, após uma pausa, entredentes. Dava para ouvir a raiva emanar de sua voz. — Ele não entregou.

         — Ele entregou uma caixa para mim, disse que você tinha mandado. Mas lá não tinha um presente, tinha uma ameaça. — Rebati, deixando meu olhar fixo nos olhos dela. Ela reagiu como se eu tivesse dito que ela era uma vadia idiota (o que, não posso negar, achava que ela era).

         — Fale baixo, ou...

         — É ruim quando ameaçam mostrar quem você é verdadeiramente, não é? — Rebati, estreitando os olhos. Não sei de onde retirei coragem, mas descruzei os braços e me aproximei dela. Nunca tinha percebido o quando ela era mais baixa do que eu, até pairar na frente dela como um monstro.

         — Greg, não ouse...

         — Não ouse o quê? Dar um conselho? — Respondi, interrompendo. Abaixei o tom da voz, quase sussurrando perto dela, ainda ficando os olhos presos nos dela. — Sabe, Alexia, da última vez que ficamos à sós você me deu um precioso conselho, se lembra? “Esse é um jogo”, você disse. “O perdedor sairá magoado. Para vencermos, resta apenas descobrirmos como magoar alguém”. Bom, agora me deixe fazer o mesmo...

         — Cale a boca. — Ela interrompeu. Eu levantei a mão, com o dedo indicador levantado e fiz uma carranca.

         — Não. Ainda não terminei. — Rebati. — Saiba que todos usamos máscaras. Todos nós. Alguns usam máscaras quase transparentes, outros, máscaras intransponíveis. Mas as máscaras foram feitas para serem retiradas. Uma hora, as máscaras de todos cairão.

         — A sua com certeza cairá. — Ela rebateu, com os dentes cerrados.

         — Pois deixe-a. Não preciso mais dela. Todos com os quais eu meu importo sabem quem verdadeiramente sou. Pergunte à Andrew, ele sabe a verdade; Larry também. — Interrompi. — Vá em frente, Alexia, com seus planos de arruinar a minha vida. Pois, quando eu estiver destruído, você pisará nos meus estilhaços e se cortará. Eu vou me reconstruir e me tornar inquebrável.

         — Você fala como um poeta. — Ela rebateu novamente. — Parece ter uma mente tão romântica, mas nem conseguiu manter Andrew ou Larry presos a você.

         — Não faça joguinhos psicológicos comigo. — Interrompi outra vez. — Vá e faça o que ameaçou fazer.

         Por causa da última frase, ela realmente pareceu estar ofendida e então se afastou. Os lábios dela estavam rijos em uma linha e tive certeza que vi alguns espasmos em seus olhos. Enfim, ela se virou para trás e saiu da sala, com seus passos pesados. Mas, na saída, esbarrou com Andrew. Ele sussurrou as palavras no ar.

         “O que aconteceu?”

         Eu dei de ombros, soltando o ar que não tinha percebido que estava prendendo.

 

         Naquele dia, Ryan não tinha ido ao colégio, o que significava que eu tinha que ir sozinho para casa. Não era exatamente ruim, mas também não era exatamente bom, porque, principalmente, as baboseiras que ele sempre ficava falando durante o percurso me distraíam do que acontecia na minha vida pessoal. Então quando o sinal tocou e todos os alunos foram liberados, eu dei um tchau desanimado para minhas amigas e me misturei na multidão que estava andando.

         Tentei procurar por Alexia, ou por Andrew, mas não os encontrei no meio do povo. Talvez ela tenha dito que eu a ameacei e ele acabou virando as costas para mim. Eu não ficaria surpreso, afinal, depois de tudo que fiz. Sorri um pouquinho enquanto cruzava o portão, lembrando de como falei com ela na volta do intervalo. Ainda não conseguia imaginar de onde tinha retirado coragem ou inspiração para falar aqui, apenas disse. As palavras saíram como uma cachoeira, e, a não ser que se construa uma represa, uma cachoeira não pode ser contida.

         — Olha só quem encontrei... — Disse uma voz ao meu lado. Eu dei um pulo de susto e olhei para a direita.

         — Droga, Larry, você me assustou. — Rebati, verdadeiramente irritado. Sempre odiei sustos.

         — Eu só queria dizer que pensei no que disse. — Ele respondeu.

         — No quê?

         — Em como a vingança para cima de Alexia não ajudaria em nada. Na verdade, não ajudaria em nada para você.

         Eu soltei o ar, respirando levemente.

         — Graças a Deus, Larry. Ainda bem que percebeu que não pode fazer uma besteira. — Respondi. Ele deu de ombros e arqueou as sobrancelhas.

         — Eu disse que não ajudaria em nada para você, mas para mim, sim. — Ele respondeu.

         — Larry, por favor...

         — Não. — Ele interrompeu. — Não vou voltar atrás. É uma questão de honra. Ela mexeu com um amigo meu, e não se mexe com meus amigos.

         Ok, friendzone claramente conquistada.

         — Larry, você ainda vai se meter num grande problema por isso.

         — Eu duvido. Sou muito discreto. — Ele respondeu. — Você nem vai perceber o que fiz, até realmente ver.

         — Eu não acredito. — Respondi, após uma longa pausa. — Não acredito que você vai com isso até o final.

         — É claro que vou. — Ele respondeu, e, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, partiu no meio da multidão e me deixou cheio de perguntas.

 

***

 

         Eu realmente não sabia o que ele ia fazer, realmente não. Várias ideias passaram por minha cabeça: ele assassinando-a, sequestrando-a, torturando-a e coisas do tipo; mas percebi que estava sendo idiota. Ele não ia fazer algo que fosse levá-lo para a cadeia, isso era óbvio. Mas, se não ia fazer algo realmente horrível, como ia se vingar? Digo, Larry podia arquitetar um plano em cima disso e executar toda sua cautela?

         Afinal, só fui descobrir seu plano naquela mesma tarde, enquanto estava deitado em minha cama, tentando estudar para Prova Final do dia seguinte. Meu celular vibrou ao meu lado, me assustando e eu rapidamente desbloqueei a tela quando vi era uma mensagem de Aqua.

         Ela: “Greg, o que vc está fazendo?”

         Eu: “Estudando. Por quê?”

         Ela: “Veja isso”

         Prendi a respiração. Aqua sempre teve um modo de criar um suspense, mas naquela vez ela exagerou. Meu celular vibrou novamente quando recebi uma foto. Demorou alguns segundos para o sistema baixa a maldita informação, mas lá estava:

         Era uma foto, um print, para ser exato, de uma notícia postada em algum site local. Li o título, a manchete, bem lentamente, para ter certeza que estava lendo algo verdadeiro. “Jovem é encontrada nua e desacordada no interior do Museu Mayer”. Meu coração disparou. Mais abaixo, havia uma foto borrada da suposta moça encontrada no museu, e um pequeno textinho ao lado. “A jovem, identificada como Alexia Collier, foi encontrada nesta tarde (22/09/2016) no interior do Museu Mayer. A moça estava nua e com indícios de drogas no sangue. Ainda não há responsável”.

         Só consegui pensar em uma coisa.

         Droga, Larry.



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