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História Como Queimar uma Borboleta - O Sóbrio e o Perseguidor


Escrita por: VoidWolfinGale

Notas do Autor


BET YOU THOUGHT YOU'D SEEN THE LAST OF ME, HUH?!

Não, gente, eu não estava morta. Mas quase. Eu estava imersa até o pescoço em provas e trabalhos para entregar da faculdade, hoje sendo o primeiro dia em que eu estou livre. Meu semestre está sendo uma loucura, sério, eu estava chorando toda noite antes de dormir, chorando pq não podia ver meus pais, tava sendo um desastre. Agr vou ter meu tão merecido recesso (amém) e depois voltar no comecinho de janeiro ahsuhausas Por causa disso, não tive tempo de postar, soooooorry D: ~~

ATENÇÃO PARA PERGUNTA DO DIA:
Enfim, o capitulo de hoje é maior do que os que eu já escrevi. Entretanto, ele também demorou mais para sair. Eu queria perguntar se vcs preferem capitulos curtos mas que saiam relativamente com mais frequência, ou capitulos grandões mas que demorem um pouco mais para sair? O conteudo não vai alterar em nada, só a frequência e o tamanho mesmo, por isso poderia acontecer de um capitulo pequeno sair rapido mas não ter climax ou acontecimentos relevantes nenhum, ser só algo introdutório.
Pfvr, responda o que vc prefere, eu agradeceria muitão ^^

Enfim, vamos ao capitulo huehue.

Capítulo 8 - O Sóbrio e o Perseguidor


Fanfic / Fanfiction Como Queimar uma Borboleta - O Sóbrio e o Perseguidor

O dia seguinte chegou e passou como o anterior, baseado em risadas e um clima leve, isento de preocupações. Era como se eu estivesse preso em uma realidade a parte, sem Suga ou afastamentos do trabalho, onde existiam apenas eu e meus amigos. Eu sabia que alguma hora esta fantasia teria que acabar, a ansiedade em meu peito aumentando apenas em considerar este destino, mas, pelo menos durante aquele raro período, resolvi ignorar o futuro e focar nas piadas toscas saindo incessantemente da boca de meus companheiros. Eu queria me agarrar àquela felicidade enquanto ainda podia.

Eu estava preocupado sobre estar abusando demais da gentileza de Jungkook. Não era como se ele fosse me falar diretamente se eu estivesse sendo um incômodo, ele era gentil demais para isso, então cabia ao meu próprio bom senso saber quando parar de importuná-lo. Entretanto, parecia que o menino lia minha mente, pois toda vez que esta apreensão cruzava meus pensamentos ele vinha ao meu resgate, oferecendo-me um sorriso e assegurando-me de que eu não estava sendo de modo algum inconveniente.

Eram quase oito da noite e eu estava jogado no sofá de Jungkook, transitando desinteressadamente entre os canais de televisão. Nenhum deles era realmente relevante para prender minha atenção, era domingo, afinal. Nada de bom passa na TV aos domingos. Mas eu era preguiçoso demais para sair daquela posição e ir fazer outra coisa, preferia ficar jogado sobre o acolchoado macio como um saco de batatas, como se fosse parte da mobília do lugar.

-Jimin, cara, olhar para você está me deprimindo. –Disse Jin do balcão da cozinha, olhando para minha figura esparramada e moribunda.

-Então vira a cara, palhaço... –Eu bufei do meu lugar sem ao menos olhar para ele.

Jin riu abafado com meu comentário, sempre o fazia quando eu era desrespeitoso com ele, não me pergunte o porquê. Ele era o primeiro hyung que eu conhecia que achava graça em não ser tratado como um, que se divertia quando eu o xingava. Talvez ele fosse um... masoquista social. Se é que este termo existia. De qualquer jeito, nunca questionei tal atitude, talvez ele só ficasse feliz em ver que tínhamos intimidade o suficiente para jogar as formalidades de lado um com o outro. Isso de certo modo me fazia feliz também.

Jungkook também estava na cozinha, lavando na pia os pratos que sujamos nas últimas horas. Ele acabou por ouvir nossa conversa e inclinou o pescoço sem sair de sua posição para conseguir me enxergar na sala, tão deprimente quanto Jin descrevera.

-Mas por um lado Jin hyung está certo, Jimin. Você não saiu desse sofá desde quando acordou. Não sei se você percebeu, mas às vezes eu passo aí do seu lado para checar se você ainda está vivo.

Jin gargalhou com a fala de Jungkook enquanto eu soltei uma exclamação indignada, finalmente virando-me para trás e fuzilando-os com o olhar.

Quase passou despercebido pelos meus ouvidos o modo como Jungkook havia me chamado. Quase. Desde a noite retrasada, quando eu cheguei em sua casa e tivemos a conversa mais profunda que eu já tive com alguém em meses, ele me chamava ocasionalmente pelo meu nome de batismo. Sem honoríficos ou etiqueta, apenas meu nome e nenhum complemento, como se fossemos velhos amigos. Não acontecia toda hora, era bem sutil o modo como esta mudança aparecia em uma conversa ou outra, mas era o suficiente para eu notá-la. Ele realmente falava sério quando disse que queria aproximar-se mais de mim, talvez o nome fosse apenas o primeiro passo.

Aquilo não me incomodava nem um pouco e, inconscientemente, trouxe um minúsculo sorriso fechado para meus lábios. Por sorte, Jin não parecia ter notado o novo vocativo, então ele não iria nos incomodar por causa disso.

-Ah, Jimin, você tem que admitir que a gente tem razão. Não só você, mas nós três ficamos o dia inteiro em casa, totalmente mofando. –Jin começou, apenas jogando o assunto na roda despretensiosamente. Eu e Jungkook não caímos nessa e ambos o olhamos desconfiados.

-...O que você está planejando, hyung...? –Perguntou Jungkook, para o qual Jin respondeu apenas com um sorriso de canto.

Às vezes esse hyung me assustava.

 

(...)

 

 

Eu e Jungkook percebemos que estávamos certos em suspeitar dos planos de Jin quando, exatamente às nove e meia da noite, estacionamos na frente de House of Cards, a boate mais famosa de Seul. Viemos com o Jin em seu Ford Ka, tivemos que parar o carro a três quarteirões de distância e fazer o caminho até a entrada a pé, devido a fila enorme de automóveis rodeando o local e as redondezas. Nada de anormal para a casa noturna mais disputada da cidade.

Eu não gostava tanto de festas ou multidões e Jungkook havia deixado claro que ele também não, por isso não soube explicar muito bem os eventos em cadeia que nos levaram a ceder às vontades de Jin. Eu e o mais novo fomos junto, mas não sem sentir uma forte impressão de que havíamos sido manipulados.

Eu estava vestindo algumas roupas mais apropriadas emprestadas por Jungkook, já que não tinha as minhas próprias em mãos e o mais novo havia sido gentil o bastante para oferecer.

-Não gostei, vamos voltar para a casa? –Jungkook disse franzindo o cenho assim que olhou a fila enorme de pessoas que estavam apenas esperando para entrar. –Sério, com essa fila aqui a gente não vai conseguir entrar nessa vida, desiste. Quem topa filminho de terror?

Jin respondeu com um safanão na parte traseira de sua cabeça, fazendo com que Jungkook se calasse e massageasse o local golpeado com um bico infantil nos lábios.

-Para de reclamar, moleque, eu não dirigi até aqui porque eu gosto de gastar gasolina. –Jin não parecia nem um pouco preocupado e andava em direção às portas de entrada passando ao lado da multidão enfileirada sem nem olhar para a mesma. Eu e Jungkook, sem sabermos o que fazer, apenas o seguimos, confiando em sua segurança. –E se o problema é a fila, não se preocupe. Eu tenho meus contatos.

Ele completou olhando para nós pelo ombro com um sorriso de canto e dando uma piscadela. Ambos engolimos em seco. Aquele hyung definitivamente me assustava.

Ele fora bem vago quanto a explicação do porquê não deveríamos nos preocupar com a fila, mas pelo menos não mentira. Nós atravessamos na frente de todo mundo e foi preciso apenas algumas palavras trocadas entre Jin e o segurança da entrada para que ele liberasse nossa passagem precoce, seguida por várias exclamações de indignação das pessoas que provavelmente esperavam em linha há horas.

Se o lado de fora da boate era chamativo, ele agora parecia desbotado em comparação com o interior daquele lugar. As luzes coloridas e flashes neon passeavam por toda a imensidão daquele espaço, tornando-se as únicas fontes de luz em meio àquele caos. O cheiro de bebidas alcoólicas só conseguia ser mascarado pelo odor de suor e perfumes das pessoas presentes e pela fumaça que ocasionalmente era solta por aparelhos específicos, adicionando ainda mais ao clima lúdico do local. Aquela aglomeração de pessoas bêbadas e felizes demais para o meu gosto era delirante, com corpos se chocando inevitavelmente e sem consideração nenhuma pelo espaço pessoal alheio. Era o típico ambiente de uma casa noturna, diferindo apenas na decoração mais bem trabalhada e em uma clientela mais bem vestida para a ocasião.

Nós entramos e, como eu já esperava, não demorou muito para eu me sentir deslocado. Foi incontrolável não julgar as pessoas desnorteadas a minha volta, ainda que eu não quisesse parecer hipócrita, afinal, eu também já frequentei bastante lugares como aquele. Isto apenas contribuía com a minha hipótese de que eu estava me transformando gradualmente em um velho de 85 anos a cada dia que passava.

Jin pareceu ter percebido o desconforto presente em minha face, então logo tratou de me dar um leve tapa encorajador no ombro.

-Não fica assim, Jimin, você está aqui para se divertir! –Ele teve de gritar para ser ouvido através da música eletrônica alta. Ele procurou pela face de Jungkook e percebeu que não estava muito diferente da minha, o garoto não parecia estar muito à vontade no ambiente. –Tsc, sabe o que eu acho? Eu acho que nós não estamos bêbados o suficiente.

Jin enroscou um braço em meu pescoço e o outro no de Jungkook, puxando-nos para mais perto e arrastando ambos para o bar localizado na extremidade leste da boate. Ele se recusou a nos soltar durante todo o percurso, ainda que fosse extremamente difícil caminhar daquele jeito pela pista lotada.

Quando chegamos, ele bateu a palma da mão na mesa com força para chamar a atenção do bartender em meio ao barulho, sorrindo para o mesmo quando este olhara em nossa direção. Nós três sentamos em alguns dos poucos bancos altos disponíveis posicionados ao longo do balcão e esperamos até que fossemos atendidos.

-A gente tem que beber pelo menos até nossa sexualidade mudar, isso significa que estamos prontos p-

-Espera um pouco, hyung. –Jungkook cortou a fala entusiasmada de Jin com o cenho franzido. –Você não está esquecendo de uma coisa?

Jin ficou em silêncio por alguns segundos antes de tentar a sorte.

-...Camisinhas...? –Ele perguntou confuso e, sinceramente, vindo dele era uma resposta esperada. Algumas pessoas não tinham jeito mesmo.

-Tsc, não, hyung! Eu estou falando de quem vai dirigir o carro na volta. Pelo menos um de nós tem que ficar sóbrio para levar todo mundo sem causar um acidente.

Jungkook colocara uma questão na roda que, realmente, nem eu tinha considerado até o presente momento. Ainda que em tese nós três deveríamos nos divertir naquela noite, alguém teria que ficar responsável por nos levar de volta e, para tal, precisaria sacrificar a própria curtição. E, ainda que eu não quisesse, não pude deixar de pensar egoisticamente.

Eu queria a bebida. Talvez, mesmo que eu não admitisse, a prospectiva de colocar álcool no meu sistema fora o motivo decisivo pelo qual eu havia saído naquela noite. Eu ansiava pela bebida, por estar tão perdido e embriagado a ponto de não lembrar mais meu nome. Era o único momento em que eu me sentia livre.

Ficamos olhando um para cara do outro, esperando que alguém se pronunciasse, nenhum de nós desejando ser nomeado o sóbrio da noite. Quando ficou claro que nenhum de nós estava disposto a ceder, Jungkook suspirou e tirou do bolso uma moeda, logo virando para Jin.

-Cara ou coroa? –Jin não demorou muito para entender o que o menor estava insinuando.

-Coroa. –Respondeu o mais velho, com um sorriso de lado enquanto Jungkook lançava a moeda para cima e batia com a mesma no braço, tirando a mão da frente para ver o resultado.

Jungkook bufou irritado e o sorriso de Jin se alargou.

-Haha! Coroa nunca perde, criança, aprenda isso. –Dito isto, o maior apenas afastou-se de nós para gritar pelo bartender, pronto para começar a se embebedar noite afora.

-Cara ou coroa? –Jungkook voltou-se para mim com um sorriso apologético.

-Coroa...? –Minha incerteza saiu como uma pergunta e Jungkook riu da minha fala. Novamente ele jogou a moeda para cima e checou o resultado. Desta vez, diferente do que aconteceu com o Jin, seu sorriso se alargou.

Ele me mostrou a face que a moeda mostrava em seu braço e, realmente, lá estava a cara voltada para cima, como se estivesse zombando de minha má sorte e diversão arruinada. Tanta expectativa destruída em cima da face que, segundo Jin, nunca perdia.

Eu apenas fechei os olhos, suspirei derrotado e deixei meus ombros caírem, fazendo com que Jungkook risse do meu desapontamento. Eu logo abri os olhos para fuzilá-lo com os mesmos.

-Tsc, para de rir! Que tipo de dongsaeng é você, fazendo seu hyung sofrer desse jeito? Você que é o mais novo que deveria ficar sóbrio, não eu!

-Desculpa, Jimin, mas eu não posso contestar o veredito da moeda. Você sabe, isso dá azar. –Ele respondeu, sorrindo gigante e zombeteiro.

Eu apenas dei um tapa leve em seu braço para repreendê-lo enquanto o mesmo gargalhava de meu estado. Logo, o mais novo gritou pelo bartender assim como Jin tinha feito há momentos atrás, pronto para pedir por sua bebida também.

E eu tive que me resignar a um destino cruel de uma longa e entediante noite pela frente.

 

(...)

 

Horas após nossa chegada, minha profecia apenas se cumpria.

Depois da minha derrota na moeda, Jin voltara com um copo em mãos que não parecia ser o seu primeiro e tentara puxar a mim e a Jungkook para a pista de dança. Jungkook, que já estava mais desinibido devido aos contatos com o álcool, resistira um pouco, mas logo acabara cedendo a multidão inebriada. Eu, por outro lado, até tentei me misturar naquela gente, mas minha sobriedade e mal humor me impediam de ter uma ligação mais profunda com o ambiente.

Por fim, desisti depois de alguns minutos parado no meio da pista desconfortavelmente e voltei para o balcão, da onde não saí pela maior parte da noite. Resolvi passar meu tempo mexendo em alguns jogos no celular e observando a movimentação, além de solicitar bebidas não alcoólicas ao bartender, o mesmo me lançando um olhar simpático ao anotar meu pedido. Basicamente, minha noite fora regada de Candy Crush, refrigerantes mornos e sucos de frutas aguados.

Não era bem minha ideia de diversão.

Bebida após bebida –livres de álcool, obviamente -, eu já havia gasto quase toda a bateria do meu celular apenas sentado naquele banco alto, recebendo olhares de estranhamento daqueles a minha volta, que não conseguiam entender porque alguém ficaria horas em uma fila para jogar Candy Crush na balada –não que eu tivesse esperado tanto assim para entrar, mas eles não sabiam disso -. Queria poder explicar a todos eles que eu não estava ali por vontade própria, mas isso exigiria esforço desnecessário voltado para pessoas que provavelmente não davam a mínima.

Devido ao meu comportamento, não demorara muito para eu sentir a familiar pressão na minha bexiga.

Pedindo orientação para o bartender que me atendera nas últimas horas, eu fui caminhando em direção aos banheiros. Passei novamente pela multidão irritante de pessoas e tive quase certeza de que uma mulher bêbada havia apalpado a minha bunda e tentado lamber minha testa, mas não dei muita importância. Quando finalmente cheguei ao lugar designado para as pessoas com necessidades fisiológicas, foi o momento da noite que mais me arrependi de ter dado ouvidos ao meu hyung babaca.

A fila estava tão enorme e eu estava tão desesperado que pude até sentir o ardor das lágrimas brotando em meus olhos. Alinhados em frente a porta do banheiro masculino, a fila saia do corredor e quase contornava a boate inteira de tão grande, e eu apenas pude ficar me questionando se eu havia enfurecido algum deus para que coisas assim acontecessem comigo. Eu até tentei olhar para o banheiro feminino, porque, com a minha aflição, eu não teria problemas em utilizar o mesmo, mas parece que a situação das moças não era lá muito diferente da minha.

Eu realmente tentei ser um bom cidadão e esperar pacientemente, mas depois de alguns angustiados minutos, constatei que não era impressão minha e que a fila realmente não estava andando. Eu não sobreviveria àquilo.

Irritado por causa de uma noite que só dera errado para mim desde o princípio, eu estalei a língua no céu da boca e tomei a decisão de sair daquele lugar pisando forte. Foda-se Jin, foda-se Jungkook. Eu iria pedir um taxi e voltar sozinho, desejando uma madrugada muito divertida para ambos. Mas claro, não sem antes aliviar minha pobre bexiga.

Saindo para a noite fria de Seul, pude ver que o movimento na porta já havia diminuído, mas ainda estava lotado demais para o meu gosto. E eu, tendo que arranjar métodos alternativos de me aliviar, só pude fazer uma expressão de dor ao ver aquela cena.

Eu precisava de, no mínimo, um lugar vazio e mais reservado para poder fazer minhas necessidades em algum canto, um dos benefícios de se nascer com um pênis. Por isso, comecei a andar em alguma direção qualquer, afastando-me mais e mais da boate em busca do desejado local, recusando-me a entrar em becos suspeitos cheios de bêbados, mendigos e serial killers em potencial.

Já a uns cinco quarteirões de distância, pude ver que havia chegado em uma grande praça pública, cujo centro consistia de um bosque denso o bastante para esconder meus atos de olhos alheios. Não era a melhor coisa do mundo, ainda mais considerando a facilidade que seria eu me perder naquele meio, mas a pressão no meu baixo ventre já estava se tornando insuportável e eu não poderia ser muito exigente.

Embrenhei-me naquele lugar, agradecendo a minha sobriedade ao tentar lembrar a paisagem por onde passava para conseguir achar meu caminho de volta depois. Quando não podia mais ver a civilização atrás de mim e tive certeza de que estava sozinho, finalmente me dirigi até a arvore mais próxima e comecei a fazer minhas necessidades. Soltei até um gemido de prazer ao sentir que não precisaria mais de um transplante de bexiga.

Quando terminei, abotoei as calças e estava pronto para voltar por onde havia vindo, mas, ao me virar na direção desejada, ouvi um barulho proveniente da mesma. Imediatamente, meu corpo se enrijeceu e eu me tornei extremamente mais alerta aos estímulos à minha volta, desde o barulho do vento nas copas das árvores, ao quase imperceptível movimento que eu pude captar em meio a escuridão dos troncos. Podia ou não ser coisa da minha cabeça, eu já não confiava mais na minha sanidade como costumava, mas eu jurava ter visto algo se mexendo a minha frente e não estava disposto a ficar para comprovar tal impressão.

Virei-me na direção contrária e, sem olhar para trás, comecei a correr o mais rápido que pude. Tive a confirmação de que minhas suspeitas estavam certas quando escutei um par de passos extras pisando forte nas folhagens ao chão, atrás de mim e aparentemente tão apressados quanto eu. Aquilo não poderia ser mais coisa da minha cabeça e eu fiquei agradecido pela adrenalina em minhas veias, fazendo com que eu pudesse lutar mais apropriadamente pela minha sobrevivência.

Eu corria sem rumo, sem ao menos conseguir enxergar um palmo a minha frente devido a escuridão. Meus músculos e pulmões queimavam e eu não conseguia ver uma saída daquele jogo de perseguição. Entretanto, como um anjo me oferecendo a salvação, eu pude avistar ao longe uma vaga luz que brilhava em meio ao breu. Foi naquela direção que decidi correr, ainda que não soubesse o que era.

Ao me aproximar mais, percebi que havia chegado em um tipo de clareira de lazer em meio ao bosque. Haviam vários bancos dispostos em círculo e, no centro deles, uma única cabine telefônica, a fonte da luz que eu vira ao longe.

A caixa avermelhada dificilmente me protegeria de um psicopata determinado, mas era minha única opção. Eu já estava correndo há uns bons minutos e podia sentir que a qualquer momento meus músculos e consciência me abandonariam, eu precisava de um lugar seguro para repor minhas energias.

Corri em direção a cabine e fechei-a assim que entrei na mesma, apoiando-me nas suas paredes de vidro ofegante. Eu tossia como se meus pulmões tivessem tentando me abandonar e pude até sentir gosto de sangue na minha boca, tamanho havia sido meu esforço físico. Quando finalmente senti que pude respirar novamente, levantei a cabeça e olhei frenético para os meus arredores.

A superfície transparente me permitia ver o mundo lá fora e eu engoli em seco quando, condizente com meus medos, vi uma figura humanoide não muito longe, escondida pelas sombras na borda do bosque. Ele estava estático e, mesmo que fosse fisicamente impossível, tinha certeza de que olhava para mim, diretamente na minha alma. Sua presença era tão sutil e ao mesmo tempo tão aterrorizante que eu me vi incapacitado de desviar o olhar de sua forma ameaçadora.

Não sei exatamente quanto tempo ficamos naquela competição de olhares, minha mente estava nublada demais com a adrenalina para pensar em qualquer coisa senão sua monstruosa presença. Senti meu corpo enrijecer quando o vi se movimentando, aparentemente mexendo em algo, mas não podia ter certeza devido ao escuro e a distância. Não foi preciso, no entanto, de muito esforço da minha parte, pois logo ouvi meu celular tocando no bolso traseiro de minha calça.

O toque familiar nunca soou tão ameaçador e eu hesitei em atendê-lo, porém ele não tinha previsão de parar até que eu entrasse no jogo sádico de meu perseguidor. Com mãos trêmulas e ainda sem desviar o olhar da pessoa ao longe, pesquei o celular do bolso e atendi-o sem nem olhar para tela.

A primeira coisa que notei foi o som de uma respiração pesada do outro lado da linha. Uma respiração que nada dizia, apenas mostrava sua presença, e eu tinha certeza de que ele também conseguia ouvir meu fôlego errático. Depois de um longo tempo neste impasse, percebi que ele não iria falar nada, então decidi fazer o primeiro movimento.

-...Q-Q-Quem é v-você? –Minha voz saíra baixa e trêmula, mas pela risada abafada e sombria que ele emitira eu soube que havia sido entendido. Demorou mais alguns segundos até que eu pudesse ouvir sua resposta.

“Você sabe muito bem quem eu sou, Jimin.” Sua pronúncia de meu nome fez arrepios se espalharem pelo meu corpo, mas eu não demonstrei. “Pensar que poderia ser outra pessoa senão eu chega a ser até ofensivo da sua parte, sabia?”

Eu fiquei alguns segundos em silêncio, pois o nó na minha garganta me impedia de produzir qualquer som. Sua voz do outro lado da linha soara tão calma, fria e tão hostil ao mesmo tempo, que eu tive certeza de que ouvia a voz do próprio demônio.

-...Suga... –Meu sussurro quebrado mal conseguira sair por entre minha aflição.

“Jimin...” –Pela sua voz, pude perceber que ele alargava um sorriso no rosto com a minha reação amedrontada. Um sorriso sem dúvida sádico e doentio, assim como seu dono. “Chega a ser engraçado o modo como você acha que pode fugir de mim.” Ele completou gargalhando da minha situação desgraçada.

Novamente, o quase silêncio pairou sobre a linha e eu só pude ouvir o som de sua respiração. Por algum motivo, eu não conseguia me convencer a desligar na sua cara, o medo havia paralisado meu corpo.

Percebi, no entanto, que sua respiração foi ficando mais ofegante conforme os segundos passavam, soando mais intensa e fazendo-me tremer com as intenções obscuras que cada uma de suas ações carregavam.

“Eu consigo enxergar seu medo daqui...” Eu pude jurar que ouvira um gemido engasgado em sua frase, como se ele tivesse literalmente sentindo prazer com o meu terror. “Isso me deixa muito excitado...”

Sua frase soara tão doentia e repugnante aos meus ouvidos, o sentido de suas palavras eram imundos, assim como a mente de Suga. Ele realmente estava se deliciando ao ver outra pessoa submissa a ele, isso era repulsivo. Não que eu esperasse coisa diferente justamente dele, mas fazer parte das fantasias asquerosas daquele monstro me enojava mais do que eu achara possível.

Sem conseguir mais aguentar, eu encerrei a chamada. Não iria ficar escutando seus gemidos e respiração descompassada do outro lado, provocando-me.

Foi então, quando eu finalmente cortei meu diálogo com Suga, que eu me dei conta. Eu estava com meu celular. Ainda que ele pudesse me assassinar antes que a ajuda tivesse chance de chegar, ainda era minha melhor opção de salvação. Não havia muito que eu podia fazer contra ele, eu não sabia quais armas ou vantagem ele possuía sobre mim, que agora era apenas mais um cidadão comum aos olhos do mundo. O telefone na cabine era uma opção inviável, tendo em vista que eu não tinha moedas em mãos, então meu celular teria que me socorrer.

Eu nem hesitei em escolher o meu salvador na lista de contatos, clicando rapidamente no nome de Taehyung. Eu ainda não arriscaria perder definitivamente meu emprego ligando para Namjoon ou para a polícia, por mais pretensioso que isto soasse na minha situação atual. Felizmente, desta vez ele atendeu no segundo toque e não me ignorou como na outra noite.

-T-T-TAE! V-Você tem que me ajudar, você tem que vir aqui, por favor, por favor, Ta-

C-Calma, Jimin, calma! O que aconteceu?! Onde você está?!” –Nunca tinha ouvido sua voz soar tão séria como naquele momento, talvez porque ele tivesse percebido que não era hora para brincadeiras.

-T-Tae... –Eu disse, engasgando no choro que começava a subir pela minha garganta, fazendo com que meus olhos finalmente começassem a se umedecer. –B-Bosque... Bosque da praça p-perto da House of C-Cards...

Minha voz saia como um sussurro, pois eu tinha um medo inconsciente de que Suga estivesse me ouvindo, de que ele soubesse que eu estava pedindo ajuda e viesse destruir meu resgate. Eu estava criando um pavor tão enraizado dele que já começava a conferi-lo um status de Deus na minha cabeça, como se ele fosse onipresente e eu não tivesse como evita-lo.

“T-Tudo bem, Jimin, já estou indo. E-Eu vou ligar para a polícia e j-“

-NÃO! Tae, não! Você não pode fazer isso! –Até eu me surpreendi com a prontidão com as quais disse aquelas palavras, tamanho era meu medo de perder o emprego, até mesmo em uma situação tão delicada como aquela. Era patético o jeito como eu era tão viciado no trabalho que estava colocando minha vida em risco por ele. –P-Por favor, Tae, n-não faz isso...

Do outro lado da linha, já pude ouvir o barulho de um motor em funcionamento, indicando que Taehyung já estava a caminho.

“O-Ok, eu já esto-“

A ligação cortara no meio de sua fala e aquilo me assustou, minha mente imediatamente começando a pensar no que Suga havia feito para romper nossa conexão. Entretanto, ao olhar para a tela do celular e o famoso sinal de um galão vazio, percebi que meu problema era mais técnico. Minha bateria tinha definitivamente acabado.

Percebendo que eu havia perdido meu único meio de comunicação com o mundo exterior, só me restava esperar que Taehyung conseguisse chegar a tempo. E que trouxesse um taco de beisebol com ele. Droga, eu deveria ter avisado sobre o taco de beisebol.

Olhei novamente para o lugar onde estava meu perseguidor e assustei-me ao constatar que o lugar agora estava vazio. Aquilo ironicamente apenas aumentou mais o meu medo. Eu preferia ver a ameaça à minha frente do que saber que ela estava por perto e não conseguir enxergá-la, isto fazia eu me sentir tão vulnerável. Comecei a procurar freneticamente por alguma sombra, algum movimento, algum indicativo de onde ele estava, mas parecia que ele havia sumido dos quatro cantos da Terra. Tudo que eu conseguia ver eram troncos e mais troncos, bancos e o balançar de folhas.

Eu me encostei na parede onde estava pregado o telefone e fui escorregando até sentar-me ao chão, abraçando meus joelhos rente ao corpo na posição mais resguardada que conseguia. Eu estava tremendo demais e meus músculos doíam de ficarem muito tempo tensionados. Meu coração ainda estava extremamente acelerado, ainda que eu tivesse conseguido acalmar minha respiração o suficiente para que não sentisse meus pulmões em chamas.

Fiquei assim, naquela postura por minutos, provavelmente uma meia hora. Eu olhava para todos os lados sem parar, com certeza a representação de uma pessoa paranoica, sem nunca baixar minha guarda, porém não vi nem resquício de Suga.

Quando o tremor de meu corpo já havia diminuído junto com parte da minha ansiedade, percebi que fazia quase uma hora desde que meu perseguidor não aparecia pelas redondezas. Parecia tempo demais para ficar me esperando sair da cabine, ainda que eu não descartasse tal hipótese completamente. Talvez ele só quisesse me fazer sentir seguro e depois voltar a me aterrorizar, isto soava como algo que ele faria. Entretanto, eu já não estava mais com paciência para descobrir.

Já havia passado tempo o suficiente, achei que deveria tentar minha sorte no bosque lá fora. Se eu saísse e corresse bem rápido, talvez, mesmo que Suga ainda estivesse lá, ele não conseguisse me acompanhar. Preparei-me para o pior e enchi meu peito de coragem, pois não estava disposto a continuar tremendo em posição fetal, tão patético quanto ele provavelmente me achava.

Abri a porta e não demorei a sair correndo pela escuridão afora. Não olhei para os lados nem tive tempo para hesitação, não sabia nem ao menos para que lugar estava indo, só queria ter certeza de que estava sozinho.

Parei de correr depois de um tempo, quando percebi-me rodeado por árvores iguais e desconhecidas, completamente perdido. No entanto, isto não era algo tão desesperador, pois logo notei outra coisa. Silêncio. Não ouvia passos ou alguma outra respiração no ar senão a minha. Não vi vultos por entre as sombras também. Ao que tudo indicava, eu realmente estava sozinho.

Foi o que eu pensei de início, o suficiente para acalmar meu coração e fazer-me continuar o caminho para fora do bosque andando, até que a calmaria aparente fora rompida com o barulho de um galho quebrando não muito longe de onde eu estava. Aquela fora minha deixa para voltar ao pânico extremo e começar a correr pela minha vida como um lunático pela natureza.

Como antes, meus músculos trabalhavam a máxima capacidade e eu só conseguia pensar em sair daquele lugar, correndo o mais rápido possível. E talvez porque eu estivesse afobado demais em minha fuga, ou porque meu corpo tremia demais para raciocinar direito, eu inconvenientemente tropecei em algo posicionado em meu caminho, totalmente invisível devido ao breu da noite.

Fui de cara ao chão, meus braços não foram rápidos o suficiente para impedir o impacto. Senti uma ardência na minha face, resultado do contato brusco desta com a terra do chão rústico, e um atordoamento com o choque repentino. Em meio ao meu torpor pós-queda, ainda sob o efeito do desespero, tentei continuar me arrastando pateticamente para fugir de meu atormentador.

Congelei, no entanto, quando senti uma mão pousar em meu ombro e uma voz sussurrar logo após no meu ouvido:

-Te peguei.


Notas Finais


PÃ!
É isso. hahahahaha.
Só um pequeno aviso: É provável que eu também demore com os próximos capitulos, pq a partir do dia 3 minhas aulas voltarão e eu vou estar mais ocupada do que nunca, vai ser uma chuva de provas, seminários e trabalhos em cima de mim. Desculpe por essa inconveniência, prometo fazer o meu melhor haha <3
Bjs bjs


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