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História Como Queimar uma Borboleta - Prólogo - Que comecem os Jogos


Escrita por: VoidWolfinGale

Notas do Autor


Gent, nem sei porque eu estou postando essa fic, precisava de alguma amiga que me sentasse e falasse: "Miga, pare, tá feio." hahaha
Essa fic nem está editada ou pronta, só tenho esse capitulo por enquanto, e ele está sujeito a mudanças ocasionais, mas eu to postando. Não sei quando vou postar o próximo porque, como eu disse, não tenho previsões de escrever ele pelo menos por esta semana rs.
Outra coisa, os capítulos são maiores do que eu estou acostumada a escrever. Eu queria algo mais detalhado e que mostrasse mais o psicológico e os sentimentos, então acabou que vai ser algo enorme e cansativo de ler, me desculpe. Mas se acabar ficando maçante demais, me avisem, please, para que eu possa consertar isso ahsuhauhsas. Além de que vai demorar mais tempo para um capitulo ficar pronto, estou estimando duas semanas para cada no minimo. Sorry ;s
Mas bom, pelo menos a ideia já está postada, agora só falta desenvolvê-la, haha.
E gente, pelamordedeus, só um aviso:
Não simpatizem com o Yoongi nessa história não, por favor. Não é bem um romance fluffy lindo de dorama e ele não é o moço bom do rolê. Eu ainda não escrevi nem metade das merdas que ele vai fazer. Então please, se poupem do sofrimento ahsuhaushas.
Ps: eu marquei umas coisas muito nonsense nos gêneros da fic, porque eu não sabia se se encaixava muito e também porque eu não sei muito bem o que vai ocorrer no futuro rs. Então, para evitar confusão, já está tudo avisadinho lá. Mesmo que alguns acabem não acontecendo.

Capítulo 1 - Prólogo - Que comecem os Jogos


Fanfic / Fanfiction Como Queimar uma Borboleta - Prólogo - Que comecem os Jogos

Eu estava sentado, na minha poltrona, na minha casa. Finalmente.

O tecido grosso e áspero do assento e do apoio sob meus braços pareciam seda, de tão calmantes que eram sobre meu corpo. As roupas que eu vestia -velhas, largas e com uns buracos perdidos aqui ou ali -, eram as mais confortáveis que eu poderia pedir no momento. Com uma lata de cerveja na mão e uma televisão a minha frente que passava um jogo de futebol pelo qual eu não nutria o mínimo de interesse, tudo isso era paraíso para mim. Porque, finalmente, eu conseguia sentir meus músculos se relaxando, a dor de cabeça se esvaindo, um suspiro escapando pelos meus lábios.

Era uma sexta feira, e eu estava em casa aproveitando o finalzinho da noite, como não pude fazer há semanas. Talvez meses. Não sei, mas fazia muito tempo. Desde que ele apareceu.

Ao pensar nele, pude sentir meu corpo imediatamente tensionando de novo, os músculos que eu demorei a semana inteira para relaxar começando a doer. Tudo isso por causa de um filho da puta desgraçado e escorregadio. Impossível de se agarrar.

Tomei um gole de minha cerveja para dispersar aqueles pensamentos, eu não gastaria o meu raro momento de folga pensando no trabalho. Poderia pensar nisso quando o dever me chamasse novamente, o que não demoraria a acontecer, levando em conta a minha profissão.

A cerveja desceu amarga pela minha garganta e não pude reprimir uma careta que adornou minha face. Eu odiava cerveja. Aquele gosto amargo, nunca entendi como alguém poderia tomar uma coisa daquelas em um mundo onde existia Coca-Cola. Mas, por motivos muito pertinentes, eu não aguentava nem olhar para coisas doces ultimamente. Mais uma vez, por culpa dele.

Droga. O desgraçado me perseguia até nessas horas, até na minha cerveja, até no meu futebol –do qual, cá entre nós, eu não entendia nada, só queria algo para assistir mesmo.

Eu era detetive. Trabalhava protegendo cidadãos, combatendo monstros. Falando desse jeito, não parecia ser um trabalho muito diferente de um guerreiro ou cavaleiro medieval. Bom, tirando o fato de que eles não precisavam preencher toda a papelada e lidar com a burocracia ao final de uma luta, mas enfim, era parecido. E eu era um bom detetive, um dos melhores da minha divisão, sem querer me gabar. Muitas prisões, muitos favores a comunidade. Mas, assim como o protagonista de um livro clichê de super-herói, eu tinha meu arqui-inimigo. O maldito.

Aquele que atrapalhava minhas folgas, aquele que manchava meu histórico perfeito, que perturbava o meu sono, que amargurava meus refrigerantes e fizera de mim desesperado o suficiente a ponto de assistir futebol numa sexta-feira à noite apenas para dizer que fiz algo de relaxante, que tive um tempo para mim. Era esse o meu pior monstro até agora.

Ele me perseguia tanto que até sentado em minha casa eu não estava livre de seus crimes, de suas monstruosidades. Eu queria relaxar, queria procurar alguma coisa além de futebol na televisão, mas eu sabia que de nada adiantaria, porque eu não estava prestando atenção nas imagens da caixa falante a minha frente. Era nele que eu pensava. Apenas nele. Sempre nele. Maldito filho da puta. Por causa dele, eu tinha ânsia de pensar em doces, nojo de provar bebidas açucaradas, fugia de qualquer alimento que não soasse amargo, azedo ou salgado às minhas papilas gustativas.

Ah, que desejo distante relaxar em minha casa, como sou ingênuo.

Mal terminei de pensar aquelas palavras, ouço meu telefone tocar. O barulho estridente e irritante cortando aquela aparente calmaria, assustando-me levemente. Pelo menos foi distração suficiente para romper meus pensamentos nocivos sobre aquele cara, divergir minha atenção para aquele aparelho que teve a audácia de dar o ar da graça justo no meu único momento longe do trabalho.

Levantei-me da poltrona com sentimentos controversos. Por um lado, frustrado por estar sendo interrompido no meu tempo de “lazer”. Por outro, animado e esperançoso que fosse o meu trabalho, me dando notícias boas sobre o caso ou qualquer coisa que dissipasse esse pequenino desespero que já era parte constante de mim desde que comecei a investigar aquelas mortes.

- Alô?

- Jimin? –Reconheci aquela voz aveludada e suave, se não um tanto infantil, como sendo de meu colega de trabalho, mais especificamente o detetive que dividia os casos comigo. Jeon Jungkook. Um novato que logo foi colocado como meu parceiro, cuja idade e inexperiência não era nada aparente quando ele estava em campo. Não era à toa que ele havia se graduado tão cedo, como o melhor da turma. Não era à toa que era o garoto de ouro do departamento. Não era à toa que era um dos melhores parceiros que eu poderia desejar.

- Jungkook? O que você está fazendo me ligando a essa hora? –Perguntei, apenas genuína curiosidade laceando a minha voz. A gente não tinha muito uma relação fora do trabalho, para meu desgosto. Encontrávamo-nos apenas para falar de nossos casos e mal sabíamos da vida pessoal um do outro, por esse motivo achava muito improvável que ele estivesse me ligando para pedir uma receita de bolo.

- Desculpe, Jimin, mas eu não conseguia ligar no seu celular, então tive que pedir o telefone da sua casa para o capitão. Me desculpe, sério mesmo, eu sei que está na sua fol-

- Não, não, está tudo bem. Apenas estou curioso do porquê está me ligando agora. –Realmente, eu havia desligado o celular aquela noite, apenas para ter uma falsa sensação de paz, de que estava realmente me desligando um pouco do trabalho. Ênfase em falsa.

Ele suspirou do outro lado da linha. Um suspiro pesado, cansado, farto. Um suspiro que eu conhecia muito bem. Um suspiro que não escondia a razão daquela ligação. Aquele suspiro era o suficiente.

- Droga. –Murmurei, mas tinha certeza de que fui ouvido. Ele apenas suspirou novamente e eu consegui visualizar o garoto esfregando com a ponta dos dedos o espaço entre seus olhos, um gesto que eu percebi que ele fazia muito quando estava exausto. –Agora?

- Sim, agora. Nós já estamos no local, eu vou te mandar o endereço por mensagem. –Aquela frase levantou uma leve suspeita em mim.

- Nós quem? –Eu temia a resposta, mas de algum modo já sabia o que estava por vir.

-Nós... todo mundo. O capitão, policiais... –Não ia demorar a vir -...Repórteres... –Aí estava. Ele havia sussurrado a palavra na esperança de que eu não fosse ouvir, mas Jungkook sabia que hora ou outra eu iria descobrir.

Eu suspirei longo e alto, sem esconder minha irritação. Sanguessugas imprestáveis.

Como se meu trabalho já não fosse difícil e extenuante por si só, havia sempre aquele bando de sensacionalistas atrapalhando todo o processo. Como se meu trabalho já não fosse perturbador o suficiente, havia aquela matilha de pessoas ignorantes banalizando a morte alheia, tentando ao máximo fazer com que tudo parecesse mais um excitante episódio de CSI. Tentando tirar informações a todo custo, muitas vezes espalhando notícias falsas que geravam pânico desnecessário na população apenas para parecerem mais importantes, tratando a dor de outros como uma novela mexicana, coisa que o povo adora.

Povo ignorante. Deve ser por isso que eram felizes.

- Ok.... Eu já estou a caminho. –Disse e já desliguei, mais do que pronto para ir me arrumar e chegar logo ao local. Sim, foi muito ingênuo da minha parte acreditar em coisas como “folga” ou “descanso” com aquele cara à solta.

Liguei meu celular novamente, já vendo a mensagem de Jungkook com o endereço para o qual eu deveria ir e não demorei em colocar uma calça jeans, camiseta e casaco qualquer, pegando as chaves do carro e minha carteira –com o distintivo, coisa que eu iria precisar para passar no meio daquela manada de desocupados que já estavam lá –em cima da cômoda.

No meio do caminho, enquanto dirigia levemente acima do limite de velocidade –era uma emergência, eu tinha um motivo, sem julgamentos aqui –tentei não pensar em nada. Sabe, não criar expectativas, não mais, porque aquele cara era profissional em destruí-las. Sempre que eu imaginava que ele não podia ser mais doente, o filho da puta jogava na minha cara que insanidade é o que não faltava nele. Então eu apenas dirigia ao local de morte, sem tentar imaginar quem morreu, como, porque, se tinha família, filhos, se teria um funeral decente...

Droga, e lá ia eu imaginando tudo de novo. Como se aquele babaca seguisse um padrão. O dia em que ele tiver um padrão, eu tenho minha aposentadoria.

Cheguei naquele lugar mais rápido do que o esperado, talvez ganharia umas multas por aí, mas quem nunca? O importante é que havia chegado, diferente de alguns, vivo. E quando eu disse alguns, sim, eu me referia ao cadáver esparramado no chão que seria matéria da capa do jornal de amanhã.

Mal saí do carro e pude ver aquele monte de desocupados rodeando o que eu assumia ser o local onde os policiais tentavam fazer o seu trabalho. Bufei com aquela cena, eu realmente odiava esse pessoal. Parece que não tinham nada melhor para fazer da vida do que se animar com a desgraça dos outros, que droga.

Fui cortando por entre as pessoas –lê-se: empurrando –até chegar a uma faixa que fora colocada em volta do local para impedir a entrada de qualquer um. Ainda assim, havia repórteres com câmeras e microfones, cidadãos normais que passaram pelo local e decidiram tirar uma selfie, todo tipo de vagabundo. Cheguei ao policial mais próximo, que estava ajudando a controlar o pessoal e pedir para eles se afastarem, e mostrei o distintivo na minha carteira, fazendo com que ele levantasse a faixa para que eu entrasse e logo voltasse a controlar o povo novamente.

- Jimin! Ei, Jimin! –Ouvi a mesma voz melodiosa de meu telefone minutos atrás me chamando. Virei-me em direção a sua fonte, um Jungkook que gritava e balançava as mãos para que eu pudesse vê-lo e logo veio correndo até mim, chegando ao meu lado arfando levemente. –Você chegou rápido demais, estava tentando causar um acidente?

- Há, para ter o desprazer de ter toda essa gente desocupada por cima do meu cadáver esparramado na rua? Não, muito obrigado, prefiro ficar do lado vivo das notícias mesmo. –Respondi, já olhando em volta em busca do corpo e do capitão, ignorando completamente a falaria e agitação do pessoal do outro lado da faixa. –Você disse que o capitão estava aqui?

-Ah sim, você sabe como que é. Sempre que vem a mídia ele tem que estar lá para ser a ponte entre o povo e nosso trabalho. É nessas horas que eu fico feliz em ser apenas um mero detetive. –Disse Jungkook, e suspirou novamente. Ele estava cansado, podia ver em sua postura, em sua face jovial demais para conter tanta preocupação. Realmente, uma criança jogada no mundo dos adultos, era assim que eu o via. –Ele deve estar conversando com aquele povo, mas disse para eu te inteirar da situação assim que você chegasse.

Dito isso, Jungkook me puxou para onde o cadáver estava, escondido por trás de outros profissionais que fotografavam a cena e tentavam pegar amostras para analisar mais tarde no laboratório. Tentei ver o que podia, mas os corpos na frente bloqueavam minha visão, então me concentrei nas informações saídas da boca de Jungkook.

-Jackson Wang, homem chinês, 21 anos. Segundo o namorado, saiu para comprar cigarros e não voltava há dois dias. Mas agora parece que descobrimos o paradeiro. –Jungkook apontou para um canto onde uma van da polícia estava estacionada.

Encostado nela estava um garoto conversando com os policiais. Conversando não era bem a palavra na verdade, ele estava chorando como se não houvesse amanhã –e, talvez, para ele não houvesse mesmo -, agarrado nas portas da van para que não fosse de encontro ao chão enquanto esguelhava e seu corpo tremia incontrolavelmente. Os policiais a sua volta tentavam acalmá-lo, mas sem sucesso. Abanavam o menino, traziam água, seguravam-no, mas nada adiantava. Ele estava inconsolável.

-O nome do garoto é Mark Tuan. Americano, 22 anos, vivia sozinho com seu namorado Jackson. Ligamos para ele vir assim que pudemos identificar o corpo por meio do registro de desaparecidos, e ele confirmou que era mesmo Jackson Wang. Mark conseguiu responder só algumas perguntas da polícia enquanto ainda estava pasmo demais para acreditar que aquilo fosse verdade, mas parece que a ficha finalmente caiu.

Nós dois olhamos o garoto descontrolado, que mal conseguia ficar de pé, que mal conseguia formar palavras, apenas gritos e gemidos sem sentido, provavelmente tentando chamar pelo seu amor que nunca o responderia de volta.

Aquilo deveria ser uma cena triste para mim e, realmente, não pude deixar de sentir um leve aperto no coração ao ouvir aqueles gritos desamparados. Mas não era a tristeza que dominava o meu ser. Era raiva. Ódio. Nojo. Se, naquele exato momento, eu estava olhando para um garoto que estava no começo de sua vida acabar de perder a esperança no mundo, era porque existia um monstro à solta que eu não havia sido capaz de capturar. Um monstro que não se importava em machucar os outros, um monstro que ria da dor alheia, que fazia piadas sobre sangue derramado. Um monstro que eu não descansaria até que encontrasse e pudesse sorrir em sua cara e exclamar: eu venci...

Desviei o olhar daquela cena e tentei bloquear o choro que vinha daquele lado, não queria acabar me tornando sentimental demais e prejudicar meu trabalho. No momento, eu precisava ser sério, preciso e profissional.

Indiquei com a mão para que Jungkook abrisse caminho e me levasse ao local onde estava o corpo. O mais novo não hesitou em ir a minha frente e, em poucos passos, estávamos em cima do cadáver, os outros profissionais tendo dado passagem ao ver que eu estava na cena.

O que eu vi foi, no mínimo, perturbador.

Um corpo nu de um homem estava lá, deitado no chão. Sua posição era muito calculada para ter sido como ele morreu, seus braços e pernas estavam meticulosamente esticados, indicando que alguém o havia posicionado ali. O rapaz era bonito até, feições másculas que com certeza cativavam muitos, não é à toa que conseguira um namorado tão belo para si. Mas, de relance, não era isto o que mais chamava a atenção.

Sua boca estava aberta e dentro dela podia ser visto inúmeros marshmallows. Sim, isso mesmo, marshmallows. Seria engraçado se não fosse desprezível. Uma piada de mal gosto que fazia todo tipo de humor negro ao redor do mundo parecerem palavras de amor.

Havia pelo menos uns quinze marshmallows dentro daquela cavidade, algo fácil de se fazer quando você soca o doce até na garganta do cadáver. Bom, não era como se ele estivesse vivo para cuspir tudo aquilo mesmo. E como se não bastasse, dos cantos da sua boca ainda era possível ver o sangue que escorrera há algum tempo, deixando agora manchas vermelhas e secas sobre a mandíbula definida.

-Ele está morto a aproximadamente uns dois dias, então ele provavelmente não foi mantido em cativeiro em nenhum lugar. O golpe na testa mostra que provavelmente foi isso que desacordou ou até possivelmente o matou, mas vou ter mais respostas depois da análise completa. É possível ver pelo menos 15 marshmallows enfiados em sua boca, mas temos certeza que tem mais entalado em sua garganta. Além disso, também descobrimos ao retirar alguns que todos os seus dentes foram arrancados. –Um homem de óculos e jaleco branco que eu conhecia apenas de vista falou, chegando ao meu lado. Acho que seu nome era Hoseok, ou algo assim, não me lembrava muito bem. Era ele quem ficava dentro do laboratório descobrindo as pistas e informações que depois os detetives, tipo eu, usariam para identificar o assassino.

-O quê? Calma, como assim? Seus dentes foram retirados? –Eu olhei abruptamente para o homem ao meu lado com um olhar questionador que provavelmente o assustou, pois percebi que ele deu um leve salto. Talvez a expressão em meu rosto não fosse a mais amigável, eu estava sim ainda com muita raiva daquele assassino.

-S-Sim.... Sim, seus dentes foram arrancados, pelo que parece todos eles. Acho que não sobrou nenhum, mas, sabe como é que funciona, ainda vou.... ver.... mais a fundo... –Sua voz foi ficando mais baixa a cada palavra, provavelmente consequência do jeito que eu estava o olhando fixamente. Aquele cara deveria perder o medo das pessoas, eu nem tinha sido rude, estava apenas fazendo meu trabalho.

Com um aceno de cabeça eu voltei a observar a cena e tirei meus olhos do rapaz que já começava a tremer ao meu lado, ouvindo deste um suspiro de alívio. Aquela informação era realmente interessante.

Por que arrancar os dentes daquela pessoa? Eu sempre achava que conhecia o modus operandi daquele assassino e eu sempre batia com a cara na parede. O cara era imprevisível.

Ele não tinha um local definido, não tinha perfil de vítimas definido, não tinha maneira de matar definida... A única certeza até agora que tivemos dele e que ele nunca falhou em nos mostrar foi a característica que deu nome a lenda.

Suga.

Por algum motivo, esta pessoa conseguia deixar doces em todas as suas vítimas. Isso mesmo, doces. Pedaços de chocolate, balas, chicletes, paçocas e, pelo jeito, agora marshmallows também. Todo tipo de doce que se podia imaginar ele colocava nos lugares mais aleatórios da vítima, como se estivesse se divertindo ao escolher aquelas partes do corpo. Às vezes eu me perguntava se ele imaginava todos os policiais rindo e o aplaudindo pela piada besta toda vez que achávamos um novo cadáver.

Quando eu digo lugares inusitados, quero englobar tudo. Já achamos dentro da boca, dentro da cavidade dos olhos, dentro das orelhas, na palma de suas mãos, no meio dos dedos do pé e, caso esteja se perguntando, sim. Até mesmo enfiado naquele lugar que todos sabemos onde é.

Por causa de seu trabalho polêmico e pelas piadas que fazia com seus assassinatos, ele foi ganhando cada vez mais atenção da mídia. Por algum motivo, as pessoas sentem prazer em banalizar a morte. Talvez achem que ela é algo distante, que nunca as atingirá. Talvez se sintam superior a ela quando compartilham piadas e riem sobre o garoto que foi morto afogado em uma poça de água. Talvez eles não conheçam a família daquela pessoa ou tenham noção da dor pela qual aqueles que o amavam estavam passando.

De qualquer forma, não demorou muito para darem um nome ao monstro: Suga, em referência a açúcar, que era sua marca registrada. E assim, começaram a chuva de memes, comentários de amigos falando que iriam “mandar o Suga atrás um do outro”, pessoas falando que era para “ser um bom menino se não o Suga ia te pegar”. Era uma palhaçada.

Desde então, toda vez que um novo corpo era encontrado aparecia aquela multidão de gente sem louça para lavar indo lá para tirar uma selfie, cobrar de nós se já estávamos perto de pegar o Suga, perguntar se podiam tirar foto comigo –cuja força de vontade que eu tive que ter para não espancar tal pessoa poderia me fazer um santo.

Era doentio. E por mais que eu tentasse falar para mim mesmo que eu não era obrigado a aturar aquilo, meu trabalho infelizmente insistia em discordar comigo. Eu tinha que aturar aquilo a todo tempo. Lamentavelmente.

-Calma, Jimin. Não se estresse agora, preciso de você com a cabeça no lugar. –Disse uma voz familiar e profunda vinda de trás de mim, acompanhada de uma mão que pousou em meu ombro e apertou-o levemente.

Virei-me para o capitão da delegacia, Kim Namjoon, que me olhava com olhos professionais e ao mesmo tempo preocupados. Afinal, eu não era apenas mais um subordinado, nós éramos amigos de longa data. Conhecemo-nos antes de eu me juntar a delegacia, nossa amizade não era leviana. Ele sabia me ler como ninguém, e também sabia os pensamentos que perturbavam minha cabeça há um tempo.

Soltei um longo suspiro, exausto e farto, porque eu sabia que dele não adiantava esconder nada.

-Você sabe que não vai dar em nada, Mon. Parece que as únicas pistas que tivemos até agora neste caso foram aquelas que ele nos permitiu ter. Ele está brincando com a gente, e eu realmente não estou com humor para brincadeiras.

Namjoon ficou em silêncio por um tempo, ambos ficamos. Precisávamos daquele silêncio. Percebi quando ele se recompôs, endireitou a postura e me disse com sua aura profissional no lugar. Aquela que, sempre que ele a utilizava, eu sabia que não iria poder contestar.

-Vá para casa por enquanto, Jimin. O laboratório te ligará quando tiverem mais informações para você utilizar.

-O que? Você está brincando, né, Mon? Não pode fazer isso, eu acabei de chegar! –Eu levantei minha voz levemente, atraindo a atenção discreta de algumas pessoas a nossa volta, mas me recompus quando notei o olhar reprovador de Namjoon sobre mim.

-Posso e vou. E, no trabalho, me chame de Capitão Namjoon, detetive Jimin. Eu decido o que é melhor para os meus subordinados e você não será útil no estado em que está. Tente dormir um pouco, tente esfriar a cabeça. E só então volte e resuma seu trabalho.

Ele não deixou espaço para discussão, seu olhar duro sobre mim me impediu de rebater sua fala. Eu apenas abaixei a cabeça resignado e ele se virou e foi embora.

Suspirei novamente. Estava fazendo isto muito nos últimos dias. Passei as mãos pelos meus cabelos alaranjados –uma cor incomum para alguém na minha área de trabalho, eu sei –e olhei uma última vez para o cadáver ao chão. Olhei uma última vez para Mark, o menino que agora só tremia e soluçava silenciosamente no chão. Olhei uma última vez para aquela desgraça que só se acumulava.

Sem mais o que fazer e sentindo que eu iria cometer uma besteira se eu ficasse naquele lugar por um segundo a mais, resolvi ir embora de uma vez. Com passos apressados e os dentes cerrados de raiva, caminhei o mais rápido que pude até o meu carro. Mas claro, como tudo na minha vida não eram flores, eu tinha que passar no meio da multidão de ociosos.

Não fui nem um pouco gentil. Na verdade, posso ter até causado um hematoma ou dois em algumas pessoas que empurrei para saírem da minha frente. Se repórteres insistissem em meter o microfone e a câmera na minha cara durante o trajeto, eu apenas virava o rosto e os presenteava com meu rude silêncio.

Estava quase chegando no meu carro, a multidão já havia ficado para trás porque desistiram de me perseguir quando viram que meu humor não estava para entrevistas. Porém, quando estava quase abrindo a porta do meu veículo, senti meu braço sendo segurado, impedindo-me de continuar.

O braço pertencia a um homem, extremamente pálido e vestido com um moletom enorme e uma toca que me impedia de ver seu cabelo. O microfone em sua mão não mentia, parece que eu não havia conseguido me livrar de todos os repórteres pelo visto.

-Apenas uma pergunta, senhor detetive. –Ele deu uma pausa e, estranhamente, eu não o empurrei para longe de mim. Algo me fez sentir compelido a responder aquele estranho persistente. –O que você pensa sobre Suga?

Eu estava certo, aquela era certamente uma pergunta que eu queria responder. Uma perguntava que eu ansiava por responder, algo que coçava dentro de minha garganta, algo que fazia eu me revirar na cama pensando em todas as respostas possíveis para aquela questão.

Eu tomei o microfone de sua mão bruscamente e cheguei bem perto de seu rosto, para que aquele repórter enxerido gravasse bem as minhas palavras. E, com um vocábulo pingando veneno, disse apenas aquilo que tinha nas profundezas de minha mente sobre aquele doente.

-Suga? Ele é um menininho idiota e inseguro, que acha que consegue ter poder sobre os outros quando destrói suas vidas com piadinhas idiotas. Ele é sádico e uma piada em si só, ele é patético. Ele acha que pode ser o dono do mundo apenas porque corre livre por aí, mas ele não pode e eu mostrarei isso a ele. Eu vou destruir aquele ego babaca e aprisionar ele em um lugar onde ele nunca mais verá a luz do sol, e então eu vou rir de sua cara. Eu vou fazer questão de ir visitá-lo todos os dias na jaula onde ele estará, apenas para dizer o quão merda ele é. –Virando-me pela primeira vez para o homem que segurava a câmera ao lado do repórter, eu fiz questão de olhar bem dentro da lente daquela máquina. Fiz questão que, onde quer que o desgraçado estivesse, ele pudesse sentir minhas palavras queimando em seus ossos. –Você não tem ideia de com quem se meteu. Eu vou te achar, seu filho da puta. E eu vou te arrastar pessoalmente para o inferno.

Terminando minhas palavras, devolvi o microfone grosseiramente para o repórter, que quase tropeçou para trás com a força que eu coloquei ao empurrar o microfone em seu peito. Virei-me rapidamente para ir embora, com a certeza de que tinha acabado de fazer uma besteira impulsiva das grandes. Porém, antes que eu fechasse a porta do carro, pude jurar que ouvi um sussurro. Baixo, quase inaudível, e desafiador.

-Eu mal posso esperar, detetive...

Porém, quando eu olhei novamente na direção do repórter e do cameraman, nenhum dos dois estava mais lá.

Parece que eu estava precisando mesmo de umas horas de sono.


Notas Finais


Por enquanto é só, pessoas. No próximo capítulo tem uma aparição um tanto... macabra do Suga na vida do ChimChim rs. Ah, e não esqueçam de ler as notas iniciais, elas são importantes.
Bjos bjos, até mais ;*


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