1. Spirit Fanfics >
  2. Complicated - Limantha >
  3. Recomeço

História Complicated - Limantha - Recomeço


Escrita por: mini_isa

Notas do Autor


Genteeee, vamos conversar aqui rapidão: 80 COMENTÁRIOS MEU DEUS DO CÉU VOCÊS FICARAM IMPACTADOS MESMO HEIN SCRR
De 80, 75 foram ameaças de morte então estou aqui toda me tremendo, espero que estejam felizes
Outra coisa, quando alguns de vocês falam que choraram é na moral? Não quero ser a chata, perguntei algumas vezes isso, mas é que parece meio surreal quando alguém fala "Pô, chorei com uma parada que tu escreveu".
Enfim, não sei ainda se gostei dessa sensação ou não, veremos...

Capítulo 26 - Recomeço


Fanfic / Fanfiction Complicated - Limantha - Recomeço

Samantha

NY é linda no outono. Pode parecer clichê, mas as folhas caídas no chão, esse clima nem frio nem quente, apenas refrescante. Era algo rejuvenescedor, um ar que enche seus pulmões de alívio.

Fazia quase uma semana que eu havia me mudado e a ficha ainda não havia caído. Às vezes eu acordo e olho para a janela, estranhando os prédios e arranha-céus que não são os mesmos de São Paulo, ao contrário, são muito mais altos e intimidadores.

Eu ainda não havia começado a estudar na escola, teve um probleminha com a matrícula então eu só estava ali existindo, mas tudo começaria na segunda-feira. Eu nunca fui uma garota de se sentir tímida e essas coisas, mas pela primeira vez a ideia de conhecer gente nova estava me fazendo tremer na base.

Nessa sexta-feira que eu estou contando as coisas para vocês, eu estava andando pela cidade. Não havia feito isso antes, precisava entende-la, conhece-la... E olha que não é muito fácil não, viu? Pelo menos morávamos em Manhattan, então já é alguma coisa, já que é o único lugar desse lugar imenso que eu conheço. Deixei meu pai naquela tarde sozinho, no apartamento, com os investidores e fui andar, meio sem rumo.

Estava um calor dos infernos quando eu decidi que queria turistar e fui para a Times Square. Suspiro um pouco decepcionada: aquele lugar era mais interessante à noite. Observo algumas famílias, tirando fotos bem de turista na famosa escada vermelha que ocupava o centro da Times. Ando mais um pouco e avisto a rua em diagonal que eu queria tanto conhecer.

Ok, aí vai uma curiosidade de Samantha Lambertini para você. Eu amo musicais. Tipo, muito mesmo. Para caralho. Meus pés me puxam para a Broadway como ímãs. Aquele lugar era meu paraíso, eu precisava assistir uma peça ali. Uma não, todas. Vou passando por eles, cada vez mais sonhadora: Mamma Mia, Chicago, Cursed Child, Fantasma da Opera... Dou uma leve surtada quando vejo o meu favorito de todos os tempos, “Os Miseráveis” e anoto mentalmente que eu precisaria assistir pelo menos uma vez se não eu morreria. Mas aí, para desgraçar tudo, eu vi o Rei Leão.

Foi involuntário. Eu me lembrei dela.

Sorri, nostálgica. Lica não gostava do Rei Leão e eu só consegui pensar em como eu a arrastaria para assisti-lo junto comigo, se ela estivesse ali. Como eu ia encher o saco, falando que ele era o melhor de todos e depois ela me chamaria de besta e eu teria que assistir Aladdin para ficarmos quites.

Me censuro imediatamente quando uma lágrima se forma e continuo andando, afastando Lica da minha mente. Ou pelo menos tentando, porque eu não conseguia, a saudade chegava a doer.

Pego o metrô e vou para o Central Park. É outro lugar que eu sempre quis conhecer. Sim, eu sei, é bem turista, mas eu hein me deixa estou aqui há pouquíssimo tempo, eu posso.

O parque era imenso e assim como o outono, tinha uma sensação de paz impregnada. Sento-me numa pedra gigante (quase tombei, por sinal) e fico observando a vida em minha volta. Um homem corria com seu cachorro, ouvindo música. Um casal de idosos estavam sentados a minha frente, num banco, conversando. E uma garota de cabelo preto e franjinha, jovem, beirando seus vinte anos estava deitada na grama, ali perto lendo um livro.

Como sou curiosa, aperto meus olhos e consigo identificar o título do livro. Ah, ótimo. “Pride and Prejudice”. Uma garota morena de franja lendo Orgulho e Preconceito... É sério universo, você só pode estar me zoando. Não é possível, só faltava a própria Lica aparecer na minha frente... E não vou negar que eu gostaria disso, muito.

Perco a paciência, me levanto da pedra e saio do parque torcendo para que eu não encontrasse mais nada que me lembrasse, mesmo que remotamente, a garota que eu ainda amava e que provavelmente eu não esqueceria tão cedo. 

Decido parar num Starbucks – sério, parece praga esse negócio aqui, tem em toda esquina. Amarro meu cabelo num coque frouxo, calçando meu All Star e esbarro num garoto que estava carregando vários livros. Descobri mais tarde que ele era famoso.

Tá, foi zoeira essa última parte, desculpa. Até parece né, eu hein, isso aqui não é fanfic não. Eu só estava com vontade de tomar café mesmo. Pego meu Cappuccino gelado e me sento num canto, coloco os fones de ouvido e de repente eu sinto uma puta saudade.

Eu sempre ia para o Starbucks com a Clara – sim, eu sei, muito patricinhas, mas deixa a gente. Então, nem me importando para as pessoas em minha volta, eu ligo para ela no FaceTime, torcendo para tudo que existia de mais sagrado que ela atendesse. Meu coração se alivia quando seu rosto sorridente aparece:

— Amiga! Que saudade! Achei que você tinha esquecido de mim já! — Clara fala, abrindo um enorme sorriso.

— Claro que eu não vou te esquecer, amiga! Ai to morrendo de saudades já.

— Eu também. — Alguém começa a se movimentar atrás dela, dando uns gritos. — Ai, pera aí que alguém quer falar com você. — Clara some e outra cabelereira loira aparece em seu lugar.

— Samanthinha! — MB berra, quase me deixando surda e logo Guto aparece ao seu lado, se espremendo na tela. — Volta para o Brasil agora, está tudo muito chato sem você.

— Ai, para MB, vou morrer de saudade aqui.

— Já sabe como curar isso né, palhaça? — Agora K1 tinha brotado da puta que pariu e se enfiou entre os dois. — Só voltar. Brincadeira, Sam, aproveita NY. Arrasa, viada. — K1 é uma figura mesmo.

— Sai, gente, ela ligou para mim. — Clara aparece de novo, empurrando todos para fora. — Fala amiga, o que você está fazendo agora?

— Tomando um café. — Digo mostrando o copo do Starbucks com meu nome.

— Ai, sem mim. Não acredito...

— Mas conta, alguma novidade? — Pergunto ansiosa.

— Na verdade sim. Vou sair com o Davi amanhã de novo... Vamos no cinema. Assistir um filme de super-herói lá.

— Deixa de ser cínica, Clara, que nós duas bem sabemos que você não vai assistir filme nenhum. — Ela sorri, nervosa, mas também não discorda.

— Olha aqui, esqueci de te perguntar: que droga foi essa que quando eu fui ver você tinha deletado todas as suas redes sociais?

— Ai, que mentira. Não foram todas.

— Deixou só o instagram, Samantha. Mas cadê whatasapp? Twitter? Snap? Facebook?

— Ai, eu queria zerar tudo. A partir de hoje, só instagram para mim. Sou uma nova mulher. — Batuco na mesa, nervosa. — Mas... Como tá todo mundo aí?

A expressão de Clara fica meio triste, meio “tá querendo enganar quem?”.

— A Lica está bem, Sam. Quer dizer, bem na medida do possível. Ela sente sua falta... Você podia ligar para ela também.

— Não. — Digo no mesmo instante. — Acho melhor não. — A verdade é que se eu visse o rosto dela, se eu ouvisse sua voz, seria capaz de eu me arrepender por completo de ter me mudado. Nada poderia me impedir de pegar o primeiro voo para São Paulo e ir correndo para seus braços, fingindo que essa loucura nunca aconteceu.

E eu não podia fazer isso, eu precisava desse tempo em NY para mim. E eu não podia deixar essa saudade que eu estava sentindo atrapalhar.

 

Tina

Oi, gente, voltei. Infelizmente por motivos caóticos. Então, que tombo foi esse né? Eu toda feliz, achando que meu casal estava são e salvo, mas não. Elas terminam e Samantha vai para a porcaria de outro país! O que vai ser de mim sem meu Grupo de Oração? Sem meu casal? Ai, estou sofrendo muito, Brasil.

Bom, então, vou explicar o porquê de eu estar narrando de novo né. Basicamente, a Lica está só o meme da Lady Gaga “devastated” e vai ter que desativar por um tempinho, porque ela não tem forças nem para existir direito. Dá até dó, mesmo sendo tão burra e cabeça dura.

Custava ela ter dado apoio para a Samantha? Custava? Sinceramente, quando eu digo que elas não conseguem nem chegar na esquina sem mim, eu não estou brincando.

Era sábado, oito horas da manhã, e eu já estava na casa dela, indo acordá-la. Aí você pensa: “nossa Tina, a menina já está na bad e você vai lá perturbar no final de semana”. Acontece que, no meio da semana, quando a Lica estava no auge da sofrência, eu a convenci a entrar num curso de desenho, aos finais de semana, para ver se isso distrairia a mente dela. E Lica só concordou se eu fosse junto, porque ela não queria ficar sozinha.

E isso, meus amigos, é a maior prova de amizade que vocês vão encontrar no momento, porque eu ia pagar uns micos daqueles já que não sei desenhar nem boneco de palito.

Voltando, Leide me deixa entrar na casa da minha amiga e eu vou em direção ao seu quarto. Obviamente que ela ainda estava dormindo. A aula era 9:30 e era longe, mas quem liga né? Vamos dormir.

— Pode acordar, Heloísa! — Eu grito abrindo as cortinas e ela se mexe na cama, irritada, tapando a cara com o travesseiro, me evitando. — Olha só que dia lindo, olha esse Sol! Tá mandando um beijo para você. — Ela solta um suspiro triste.

— O que foi agora?

— A Samantha... Ela se vestiu de Sol, lembra? — Minha nossa senhora, tá difícil. Foi a semana inteira assim, não vou negar. “Ah, olha aquela tá comendo uma bala de coco, a Sam adora coco”. “Nossa, a Sam iria adorar esse colete”. “Ah, aquela menina está respirando. A Samantha também respirava”.

Nunca que eu imaginei que a Lica ficaria assim tão bad por alguém. Não vou mentir que eu estava plena, aceitando essa situação de boa, mas eu precisava fazer cara de paisagem e fingir que esse rolê inteiro não me afetava.

— Esquece a Samantha... Hoje é o primeiro de aula no curso, lembra? Anima! — Eu ergo os braços dela, numa tentativa de fazê-la rir, pelo menos, mas não funciona.

— Foi culpa minha. — Ela diz depois de uma eternidade em silêncio.

— Culpa sua o quê, garota?

— Se eu não tivesse sido a pior namorada das galáxias, ela ainda estaria aqui. Eu sou um lixo de ser humano, nunca mereci a Samantha. — Ela se joga de cara na cama, de novo.

— Lica, a gente conversou sobre isso com o Gabriel, lembra? Ele falou que a Sammy estava meio depressiva...

— Pior ainda! — Ela levanta a cabeça, gritando. — Ela estava mal e eu não percebi! Horrível, eu sou horrível.

— Deixa eu terminar de falar, desgraça. Ele falou que ela estava depressiva e que nem por isso seja por sua culpa. E que provavelmente ela iria de qualquer jeito, se vocês tivessem discutido ou não.

— Eu não quero ir para a aula, quero sofrer em paz, sai daqui. — Lica tenta me expulsar, mas obviamente não funciona.

— Para com isso, Samantha não iria querer te ver assim. Vamos, vai ser legal!

Depois de uma eternidade, Lica se rendeu e levantou. Foi mais uma luta para fazê-la tomar banho e outra para ela se arrumar, então eu nem acreditei quando chegamos de fato na aula. Entramos na sala, juntas, e nos sentamos num canto, tentando não chamar atenção. Agradeço pelas cadeiras estarem dispostas em trio, então acabou que ninguém se sentou conosco para compartilhar da visão da cara de cu da minha amiga. Eu tentava a todo custo animar, fazer umas piadas, mas não estava dando. A Lica só queria saber de sofrer mesmo. Estava parecendo um clipe da Adele ao vivo.

O professor, bem vibe de humanas, estava se apresentando e explicando como funcionaria a dinâmica das aulas quando a porta se abriu e uma menina entrou. Uma menina ruiva que nós conhecíamos muito bem.

Lorena se desculpou pelo atraso e olhou em volta, procurando um lugar vago e sua cara de foi de pânico ao perceber que o único era ao lado de Lica. Eu também não estava muito calma com aquela situação, dei uma olhada na cara da minha amiga, porque se eu a conhecia bem, era capaz de armar um barraco agora mesmo.

Mas ela não fez nada disso, ao contrário, ainda deu bom dia para a garota quando ela se sentou. Até Lorena olhou para mim, sem entender nada, e eu também não tinha explicação, nunca que eu imaginaria uma cena dessas.

O professor falou que como era nossa primeira aula iria deixar nossa “criatividade fluir” e pediu que fizéssemos uma pintura abstrata. Ele pede que apenas um do grupo fosse na frente, pegar as tintas, e Lorena se voluntaria mais rápido que a Katniss nos Jogos Vorazes, talvez temendo ficar sozinha com Lica.

Assim que ela se afasta, Lica me cutuca, urgente.

— Ai, o que foi?

— Você viu? — Os olhos dela estavam arregalados, então parecia ser sério.

— Não, o quê?

— O braço dela, Tina. Tá cheio de marca. — Espero alguma explicação, mas ela para ali. Marca de quê?

Então, eu entendo. Ela se cortava.

Meu Deus, isso daqui está muito pesado, eu não aguento mais todo mundo sofrendo ao meu redor.

— O que a gente faz?

— Eu não sei! — Ela responde sussurrando, no mesmo nível que eu. — Fala com alguém? A Clara fazia isso, quem sabe ela não pode conversar com ela?

Concordo, mas deixamos aquele assunto morrer por ali, porque ela já estava voltando com todas as tintas e vários pincéis. Lorena fica surpresa quando nós duas agradecemos, educadamente.

Ela, assim como Lica, claramente, já sabia desenhar e eu era a única isolada ali, porque as duas já estavam pintando enquanto eu ainda tentava abrir um potinho de tinta preto.

— Eu sinto muito... Que a Samantha tenha ido embora. — Até deixei a tinta cair depois que a Lorena disse isso para a Lica. Ok, ninguém estava esperando. Você estava? Porque eu não. Nem ela, que até parou de pintar para olhar para a ruiva.

— Obrigada.

— E eu sinto muito também. Por tudo que eu fiz, com você e com a Sam. — Lorena engole em seco, aquilo não estava sendo nem um pouco fácil para ela. — Principalmente com você.

— Comigo? — Lica pergunta confusa.

— É, eu sempre tive implicância com você, porque eu era a fim de você. — Ok, que porra foi essa?

Você também sentiu o impacto aí? Isso estava mesmo acontecendo? A Lorena admitiu que era a fim da Lica?

Ah, mas eu não vou deixar isso não. Samantha pode estar na puta que pariu e Limantha pode estar em hiatus, eu que não vou permitir que alguém dê em cima da metadinha do meu casal assim tão descaradamente.

— Jura? — Lica perguntou, tão incrédula quanto eu.

— Ainda bem que você já superou e está com a Carolina né? — Eu jogo no ar, querendo também dar um coice na cara dela. Vê se pode?

— Relaxa, eu não vou fazer nada. Já superei mesmo, a Samantha te ama e por mais que eu tenha sido uma escrota, ela era a minha amiga. Eu nunca faria algo assim. — Silêncio desconfortável. Dava até para ouvir as pinceladas frenéticas que Lica fazia no quadro.

Depois disso ninguém mais estava no clima de conversar, até porque era surpresa demais para mim. Vai que Lorena começava a falar de novo e propusesse um poliamor entre ela, Lica e Carolina? Deus nos livre disso.

Bom, eu já tinha desistido de fazer qualquer coisa que prestasse e estava só jogando tinta aleatoriamente no quadro. O professor estava passando nos grupos, dando uma analisada por alto.

— Nossa que... Interessante. — Ele diz, olhando meio enojado para a minha obra-prima.

— O quê? O senhor não gostou? Mas está lindo. — Sinceramente, esse povo que não sabe apreciar arte.

— Pelo menos você tem autoestima. — Ele sorri, ao ver o quadro de Lorena, mas para, meio perplexo, quando vê o de Lica. — Meu Deus, isso está incrível. Essas cores, a maneira como elas ornam... Você conseguiu passar sentimento para a sua tela, meus parabéns. Qual é seu nome? — Lica não responde, ela estava olhando sua pintura como se fosse a primeira vez que a tivesse notado.

— Heloísa. — Eu respondo por ela. Meu Deus, que orgulho da minha amiga, vontade de colocar num potinho. — Mas pode chamar ela de Lica, prof.

— Lica... Vou me lembrar de você.

— Amiga, parabéns! — Eu falo sacudindo seu ombro quando ele se afasta, mas ela continua olhando, um pouco chocada, para o quadro. — O que foi?

— Olha as cores que eu usei, Tina. Vermelho, azul e roxo... São as cores do cabelo da Samantha.

Ai meu Deus do céu, estou bad e soft ao mesmo tempo. Eu não aguento com uma coisa dessas.

— Você fez de propósito?

— Não... Eu nem percebi.

 

Samantha

Segunda-feira chegou voando e junto com ela, meu primeiro dia de aula. Eu nunca fiquei tão nervosa para uma coisa assim na minha vida, sempre fui cara de pau e soltinha. Mas dessa vez era diferente.

Meu pai me acompanhou até a entrada, mas disse que teria que ir embora, por causa de uma reunião importante. E, por mais que eu quisesse que ele ficasse comigo o tempo inteiro, entrar com o pai na escola nova não causaria uma boa impressão né.

Ando até a sala do diretor, recebendo uns olhares curiosos no caminho. Tudo bem que ainda era o início do período letivo deles, mas mesmo assim não era comum aparecer uma aluna nova assim do nada.

Bato timidamente na porta e uma secretária pergunta meu nome e libera minha entrada na sala logo em seguida. Essa parte da conversa aqui foi em inglês, mas achei melhor traduzir, porque né, nem todo mundo é bilíngue. E eu quero te poupar o desconforto de usar o Google Tradutor, aquela farsa que traduz igual a cara.

— Ah, Samantha! Seja bem-vinda. — A mulher, baixinha e gordinha, beirando seus 50 anos, se aproxima e eu estendo a mão, mas no lugar ela me abraça. Ok, acho que vou gostar dela.

— Obrigada.

— Eu sou a Monica, a diretora e pode contar comigo para qualquer coisa. Esse aqui — Nem tinha reparado que tinha mais alguém na sala até ela apontar para o menino alto, de cabelo castanho e olhos verdes — é o Alexandro, ele é brasileiro também e acho que vai ser um ótimo amigo para você.

— Prazer. — Eu digo estendendo minha mão para um cumprimento e ele aceita no mesmo instante.

— Todo meu. — Alexandro responde sorrindo.

— Agora, Alexandro, ajuda a Samantha a encontrar o armário dela e apresentar a escola. Aqui estão seus horários, fiz questão de que eles combinassem para você não se sentir sozinha. Começar numa escola nova não é nada fácil. — Ela dá uma piscadinha para mim, cúmplice.

— Muito obrigada.

Alexandro abre a porta para mim e nós dois saímos.

— Alex. Pode me chamar de Alex, não gosto muito de Alexandro. Foi ideia da minha mãe, ela é colombiana.

— Ah, está certo. Alex então. E pode me chamar de Sam se quiser.

— Fechou. — Acho que ele ri para mim, não tenho certeza, ele era muito alto então não consegui ver. — Então, de onde você é lá do Brasil?

— São Paulo.

— Sério? A gente também. — Eu o observo confusa. — Ah, é porque eu vim para cá de intercâmbio com duas amigas minhas. A gente estuda na Copérnico, não sei se você já ouviu falar.

— Ah, sei. — Já, já ouvi sim. E muito. Por mim tacava fogo nessa escola de tanta confusão que ela já me causou. Alex para de andar e fica de frente para um armário, o oitavo, e tira uma chave do bolso, me entregando.

— Esse é seu armário. A chave é para casos de emergência, a gente geralmente usa a senha. E, por favor, tente não esquecer a senha a cada dois dias. Atena faz isso, ninguém aguenta a sonseira dela mais.  

— Atena? — Tipo a Deusa grega? Que maconha esse garoto fumou?

— Ah, vem, eu vou te apresentar.

Alex anda pelos corredores e eu só vou atrás, mais perdida que tudo. De repente a gente atravessou a cantina e a biblioteca e estávamos numa espécie de pátio. Ele seguiu para onde duas garotas estavam sentadas, em cima de uma mesa. Cadeira para quê, né?

A da direita tinha cabelos ondulados e morenos, combinando com a cor de seus olhos. Destoava apenas por possuir algumas mechas roxas no cabelo. Ela também tinha um piercing no septo e consegui distinguir uma tatuagem no braço, acho que era “Allow yourself”.

A outra era negra, bem baixinha, tinha uns 1,50m fácil, e os cabelos ondulados também tinham algumas mechas, embora os dela fossem azuis.

— Ai lá vem. — A de mechas roxas diz ao ver Alex se aproximando.

— Cala a boca, caralho. Sam, essas são Atena — A da direita estende a mão. — e Maria Helena. — Cumprimento a outra logo em seguida também.

— Olha, você pode me chamar de Maria. Aceito até Helena. Mas de Maria Helena não, pelo amor de Deus.

— Ai, pronto. Chama ela de Helena, é muito mais bonito. — Atena pede para mim, rindo.

— Qual foi? De novo isso? — Helena pergunta, irritada, para a outra.

— Desculpa, mas já te falei que eu acho “Maria” sem graça.

— Nome da mãe de Jesus, minha filha, me respeita.

— Tu nem vai na igreja, demônio.

— E daí? Maria é lindo e cheiroso. E outra, você não tem moral para falar nada não, “Deusa Grega”. — Helena faz as aspas com as mãos.

— O que você tem contra o meu nome, palhaça? Atena é a melhor dos Deuses Olimpianos.

— Só nos seus sonhos, Poseidon pisa com força.

— Vai beijar a boca dele então, queridona.

— Eu não, você sabe que eu prefiro mil vezes a sua. — Aí elas foram lá e se beijaram. Desculpa, me perdi aqui um pouco. Vamos tentar de novo...

— Ai, já deu. Parou com a putaria. — Alex começa a bater palmas, distraindo e atrapalhando o beijo das duas.

— Lá vem o ciumento. — Helena reclama logo depois de se desvencilhar de Atena.

— Vem cá, Sam, vamos te contar a história de como o Alex ainda não superou a Helena.

— Maria. — A outra corrige, mas Atena nem se abala.

Eu que não sou boba nem nada, estava só a Lindsay Lohan em “Meninas Malvadas” obedeço e sento a seu lado, porque não quero ficar sem amigos aqui não.  

— Tudo começou no oitavo B...

— Ei, minha banda tem uma música com esse nome. — Eu a interrompo, mas ela não se irrita. Pelo contrário, Helena me puxa para ficar de frente para ela, deixando Atena no vácuo.

— Para. Você não vai me dizer que você é a Samantha vocalista dos Lagostins.

— Eu mesma. — Sorrio satisfeita. E vai, me achando também, não é todo dia que a gente é reconhecida.

— Meu Deus, viada, a gente ama a sua banda. Fomos naquele show na feira, sabe, perto da escola? Acho que faz um ano. Nossa, vocês arrasam muito. Nem te reconhecemos, você parece outra pessoa.

Eu sorrio e agradeço.

— Posso contar a história agora? — Atena pergunta e confirmamos com a cabeça, menos Alex, que estava suspirando, sem paciência. — Bom, o menino Alex sempre teve um crush na Helena. A menina Atena também, no entanto sempre fomos bons amigos e civilizados. Até que no oitavo B, Alexandro realiza seu sonho e fica com Helena, a princesa de Troia. Eles começam a namorar e a Deusa sofre em silêncio. Até que, eles terminam, uma pena. — Ela diz debochada para o garoto, que responde com uma careta. Ok, já estou amando esse povo. — Mas continuam amigos. Um dia, numa bela festa, Helena descobre a bissexualidade no fundo de uma garrafa de Vodka e descobriu que beijar bocas femininas era legal também.

— Agora a gente namora e Atena gosta de ficar esfregando isso na cara do Alex. — Helena termina a história, sem paciência.

— Sim, eu já entendi. Alena é real. E eu já superei. — As duas o ignoram.

— Mas e você, Sam? Tem algum crush lá no Brasil? — Minha felicidade que estava durando, intacta, até aquele momento, fica abalada.

— Tinha... Tenho. Eu não sei.

— Ai, drama. Adoro, conta para a gente.

— Eu e minha namorada, a gente terminou. Quer dizer, eu terminei com ela.

— Namorada? Ai, é do vale, sabia. Já estou te amando, garota. — Atena diz.

— Quê? — Helena olha para a namorada, irritada.

— Sem ciúmes, eu não vou dar em cima dela não. Olha a carinha de devastada, claramente ela ainda ama a mozão dela. Acertei? — Concordo, triste. — E por que vocês terminaram, então?

— Nossa, uma longa história. Dá até uma novela. Um dia eu conto para vocês.

— Vamos cobrar, hein. — Alex diz e se senta ao nosso lado, tirando uma folha da mochila.

— O que é isso? — Pergunto, curiosa.

— Ah, é o formulário de inscrição para o grupo de teatro. É muito bom. Não quer tentar?

— Não sei, nunca atuei na vida... — Digo, insegura.

— Aí, mais um motivo para tentar então. — Helena diz de forma encorajadora. — Sempre bom tentar algo novo.

— Acho que vou tentar então. — Digo, decidida. Novo começo, novas experiências.

— Oh, esse momento merece uma foto. — Atena se levanta e pede meu celular. Ela o ergue longe e tira uma selfie de nós quatro. — Aí, Sam, para você lembrar que já tem amigos em NY.

 

Lica

Oi, voltei. Acho que a Tina falou um pouco com vocês, espero que não tenha sido nenhuma besteira. Então, ainda estou sofrendo horrores, caso você queira saber. Minha segunda-feira estava triste demais.

Para começar, no final da tarde, recebi uma mensagem de Felipe.

Bode: Oi, sumida rs

Eu: Q? Q sumida? A gnt se viu hj garoto

Bode: Eu quero dizer q a gnt n se fala mais Licaaa tava com sdds

Eu: Ta fala então oq vc quer

Bode: Eu queria saber se vc n tava a fim de ir naquela exposição comigo, faz tempo q a gnt n sai junto

Bode: Sozinho

Eu: Crlh, mas já?

Bode: Já oq?

Eu: Já vai dar em cima de mim? Meu coração foi esmagado há apenas uma semana

Eu: Vai se foder

Eu: Respeita meu luto seu pau no cu

Bloqueio o contato de Felipe e não consigo deixar de sorrir, imaginando a festa que Sam faria se me visse fazendo aquilo. Alguma coisa como: “Isso! Bloqueia mesmo esse bode talarico de merda, gosto assim”.

Ah, que saudades da porra.

Alguma coisa mais forte que mim me fez abrir o Twitter e procurar para ver se ela não tinha colocado alguma coisa nova. Olho confusa ao perceber que seu usuário não existia mais. Ué.

A mesma aconteceu com todas as outras redes sociais. Somente o Instagram permanecia. Mas, sinceramente, eu preferiria que não, porque aí eu não teria que ver duas novas fotos que foram um murro direto na minha cara.

A primeira era ela, linda como sempre, sentada ao lado de um garoto e uma garota, com outra tirando a foto. Não consigo evitar que o ciúme venha, pensando que ela estava lá, criando memórias das quais eu não participaria, piadas internas que eu não entenderia.

A segunda era a Sammy, de perfil, no Central Park, olhando para o horizonte, com o Sol logo atrás, acima de sua cabeça. Era uma foto linda demais, a mais bonita que eu já tinha visto dela, provavelmente seu pai a havia tirado.

Sinto então a urgência de desenhar alguma coisa, inspirada naquilo. Coloco meus fones de ouvido, como eu sempre fazia quando queria desenhar, e me concentro, com nada existindo a minha volta.

Eu desenhava o Sol atrás e já estava começando um esboço do rosto dela, quando a playlist me traiu e começou a tocar Happier, do Ed Sheeran.

Walking down 29th and Park

I saw you in another's arms

Only a month we've been apart

You look happier

Paro de desenhar no mesmo instante para fitar o nada e sentir a intensidade que a aquela música estava me representando no momento.

Ain't nobody hurt you like I hurt you

But ain't nobody love you like I do

Limpo a lágrima que se forma no meu olho e encaro o meu anel, que eu ainda me recusava a tirar. Talvez fosse o momento, talvez eu devesse aceitar que tudo havia mesmo acabado.

Tiro o anel rápido, como um band-aid, a fim de não sentir dor.

I know that there's others that deserve you

But my darling, I am still in love with you

Não, eu ainda não consigo. Coloco o anel de volta em seu lugar.


Notas Finais


Déboraaa, acho que foi tu que falou de Happier né? Vlw pela ideia, chorei horrores lendo o cap anterior ouvindo ela


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...