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História Condutas adolescentes de uma estrela em ascensão - Prólogo


Escrita por: Vkusna

Capítulo 1 - Prólogo


Yuri Plisetsky pôde ver exatamente o momento em que sua anuência – aquela que ele preferia morrer a confirmar a existência: ele não tinha a certeza de que poderia realmente derrotar Viktor – se transformou em alguma coisa que ele não podia definir com muita certeza. O sentimento era novo e não havia conhecimentos necessários para defini-lo como propício ou não. Pelo menos não ainda.

Foi no exato momento em que uma ideia idiota floresceu em sua cabeça.

Foi enquanto o patinador japonês, o outro Yuuri, fazia sua impressionante sequência de passos no gelo. Era como se ele pertencesse àquele lugar, como se todo o gelo fosse uma extensão de seu corpo delgado. Yuri sabia exatamente o quão difícil era o que ele fazia naquele momento, e por isso não pôde deixar de se impressionar.

(Claro, o homem com a chamativa roupa azul era um verdadeiro fracasso na parte técnica, o que fazia o atual campeão júnior querer socá-lo por se deixar levar pelo o que quer que o distraísse naquele momento. Ninguém ali poderia se dar ao luxo de se perder em adágios que não fossem sobre a vitória.)

Respirou audivelmente pelo nariz, sem conseguir abandonar a fantasia que invadira sua mente: como seria competir contra Yuuri Katsuki?

...

Ele estava do lado de fora do banheiro, esperando pacientemente Yuuri Katsuki sair. (E então o quê? O que ele diria? Estava cuidadosamente planejando quando finalmente perdeu a paciência). Entrou no lavabo e o percebeu vazio por exceção de um cubículo. O Katsuki estava lá, falando ao telefone em uma língua que provavelmente era japonês, porque Yuri não entendia absolutamente nada. E ele estava chorando. Que patético.

Yuri estalou a boca, sentindo um arrepio de pura raiva passar por sua espinha. Ele poderia não estar entendendo nada, mas não era difícil adivinhar. Certo, o cara não conseguiu um lugar no pódio, foi uma desgraça no programa livre e certamente conseguiu humilhação suficiente por uma vida quando ficou mais de cem pontos atrás do vencedor. E daí? Isso foi realmente o suficiente para fazer alguém desistir? Ele abdicaria de suas conquistas realmente antes de Yuri estrar na categoria sênior? De jeito nenhum.

E nesse momento, Yuri Plisetsky pensou em milhares de coisas para falar, milhares de cenários em que ele faria Yuuri Katsuki esperar por ele. Ainda assim, conseguiu escolher um dos poucos em que a sensação de culpa e arrependimento pesaria em seu estômago mais tarde, quando estivesse sozinho. Com uma força surpreendente para alguém tão franzino, o medalhista de ouro simplesmente chutou a porta do banheiro, como em um dos estúpidos filmes de ação de Mila.

Não precisou fazê-lo de novo para que o fracassado a abrisse. 

– Desculpe. – ele murmurou em uma voz chorosa. Yuri quis vomitar. Olhou-o com a sua melhor expressão irada e não pôde deixar de sentir pena da outra única pessoa no local. O patinador japonês mantinha as mãos apertadas em firmes punhos ao lado do corpo. Depois de encarar o seu olhar, ele tremia: de medo ou vergonha, Yuri não podia dizer.

Yuri resistiu ao impulso de estalar a língua e virar de costas. Em vez disso, apenas apontou o dedo graciosamente para o lado, como alguém que vai começar um discurso muito importante (ou ele via assim).

– Ei. Ano que vem vou competir na divisão sênior. – observou o rosto do outro homem, com olhos já muito grandes para um japonês, de acordo com os estereótipos de Yuri, ainda mais arregalados. Mais tarde, ele pensaria que aqueles olhos cor de canela eram quase cativantes. – Não precisamos de dois Yuri. – abaixou-se um pouco, para olhá-lo de baixo. – Quem é incompetente tem que apenas parar de uma vez. – Tomou um pequeno fôlego, perguntando-se o porquê de estar fazendo isso. Yuri era mal humorado e não gostava das pessoas em geral (com exceção de seu avô), mas não costumava ser cruel com estranhos aleatórios. Concluiu que o outro Yuuri merecia, por cogitar desistir antes que eles se enfrentassem. Deixou a coluna ereta abruptamente e, para aumentar sua estatura, ficou na ponta dos pés (machucando um pouco o próprio orgulho durante o processo). Antes que se arrependesse completamente, gritou, em alto e bom tom: – Idiota!

Dessa vez, virou-se de costas e realmente foi embora. O arrependimento bateu como um trem e ele nunca se sentira tão horrível. Certo, ele não fez nada de mais, apenas colocou um tolo em seu devido lugar. Então por que o peso em seu estômago o fazia andar mais devagar? Ele não queria ter gritado com Katsuki. Mas ele merecia, uma parte traiçoeira de sua mente sussurrou. Por quê?, outra mais lúcida indagou curiosamente, não em repreensão. Apenas quando estava longe do banheiro e do olhar marrom de Katsuki, cobriu a boca com a mão esquerda, sentindo a sensação familiar de fechamento em sua garganta. A auto aversão o fazia entrar em colapso, não pela primeira vez.

Agora não, por favor. Seu desejo, porém, não foi atendido e a tosse seca foi o suficiente para que seu corpo começasse a tremer, quase convulsionando. O conhecido sentimento em sua traqueia o fazia querer enfiar as unhas no pescoço. Yuri sabia que isso poderia acontecer. Todos os fatores climáticos do gelo, que ele já desafiava, o esforço de uma competição e uma discussão não planejada faziam seu sistema falir, abruptamente.

Sabia que não ajudaria em nada, em alguma parte racional de sua mente. A dificuldade de respirar, todavia, o fazia sentir como se suas vias aéreas estivessem lentamente ficando mais quentes. Então, de repente, pegava fogo. Yuri rapidamente pegou o objeto de plástico em seu bolso, o formato de “L” quase íntimo em suas mãos. Agitou rapidamente, com fúria, mas escorregou de seu aperto trêmulo e fez um baque surdo no chão. O som não foi algo que ele percebeu em meio ao desespero de não conseguir respirar.

Sua mente começava a ficar vazia e pontos brancos começaram a aparecer atrás de suas pálpebras. Seus olhos estavam úmidos quando se lembrou dos exercícios que fazia com seu avô quando não tinham dinheiro suficiente para a bombinha. Imaginou o ar entrando por sua narina esquerda e saindo pela direita. Cerrou a boca que nunca deveria ter aberto enquanto o gás imaginário fazia seu trabalho. O ar passou a entrar com dificuldades e, depois de pelo menos treze minutos calculados, que mais pareceram horas, o oxigênio começou a entrar normalmente em seus pulmões doloridos.

Respirar depois de uma crise sempre era o melhor sentimento. Massageou o peito por cima da camisa, lentamente, sentindo-se finalmente cansado. Desencostou-se da parede que nunca percebeu ter se aproximado e caminhou para onde sabia estar aquela trupe. Eles já devem estar sentindo sua falta.

...

Quando ele viu Viktor, quase suspirou aliviado, mas tinha uma reputação a zelar. Caminhou para o lado daquele poste e eles teriam andado em silêncio para o hotel se o medalhista de ouro da divisão sênior tivesse essa capacidade. Viktor estava ao seu lado, sendo um idiota. Nada de anormal, se tratando dele, mas ainda era irritante.

– Yuri. – ele chamou seu nome, e o adolescente sabia que algum sermão estúpido e mal vindo sobre sua patinação estava chegando. Ele não o olhava no rosto enquanto falava, como se fosse algum ser superior. Yuri revirou os olhos. – No programa livre de hoje, na sequência de trabalho de pés, você pode...

– Eu venci, que diferença faz? – interrompeu, porque era verdade. Não era como se pudesse voltar lá e melhorar o que quer que fosse. – Não encha o saco, Viktor. – e a forma como ele tratava o atual topo do mundo na patinação poderia chocar as pessoas ao redor, mas Yuri Plisetsky não se importava. Eles avistaram Yakov em cinco metros de distância, e ele com certeza o ouvira. Foda-se.

– Ei, Yuri! – Yakov começou com as repreensões e Viktor colocou uma mão no quadril, como se fosse o dono da razão. Yuri quis matá-lo, mas nem se dignou a ouvir. – Você não pode ficar falando assim pra sempre! – e blá, blá, blá. Mesmo que Yakov estivesse certo, ele nunca admitiria, muito menos em frente ao rosto presunçoso de Viktor.

O pentacampeão desviou o sorrisinho irritante de seu rosto (pelo amor de deus, Yuri achava que ele era o único com quatorze anos ali) para encarar alguma coisa em suas costas. Yuuri Katsuki, o medalhista júnior percebeu. Viktor virou o corpo em direção ao patinador japonês enquanto burramente perguntava:

– Uma foto comemorativa? – e Yuri sentiu pena do Katsuki. Ser confundido com um simples fã pelo campeão de um dos maiores eventos de patinação do mundo e ser aconselhado a desistir por outro medalhista de ouro... Quem Viktor achava que era para não saber contra quem competiria? Patético. Claro, típico de Viktor, achar que o mundo girava ao seu redor e que, se o olhava, era fã. Yuri quis rir. Os grandes olhos cor de canela se tornaram ainda mais apagados. – Claro!

Katsuki apenas virou de costas e deixou Viktor plantado com uma cara de banana. Yuri poderia ter gostado dele, se não soubesse que foi uma ferramenta de autodefesa. Estalou a língua para o estúpido, balançando a cabeça levemente em reprovação.

– O que, eu fiz algo errado? – Nikiforov questionou um pouco preocupado. Ele era tão burro que Yuri quase sentia simpatia por ele. Quase.

– Você nasceu. – Yuri respondeu quase amavelmente.

...

O banquete seria aquela noite, e Yuri só queria ir para casa, ficar com Misha (sua adorável gatinha) e dormir. Ele não queria ficar na companhia daqueles estúpidos irritantes. Yakov, entretanto, o obrigou a ir com Viktor e Mila, porque eles precisavam falar com os patrocinadores, conseguir novos, blá, blá, blá. Então, ele estava preso com os outros dois medalhistas de ouro em uma loja de ternos que ficava em um shopping perto do hotel. Porque ele nunca planejou ir para esse banquete idiota, afinal, então foi o único que não trouxe a roupa adequada. Sentia-se como Viktor deveria se sentir a maior parte do tempo. Burro.

Uma das peças chamou sua atenção, entretanto, e ele mal pôde se parar enquanto apressadamente a pegava. O conjunto era de um azul profundo. Tão azul quanto as roupas dele, pensou involuntariamente, e o devaneio indesejado quase o fez soltar imediatamente o que tinha em mãos. Mas era bonito, e Yuri não resistia a roupas bonitas.

 – Tentando impressionar alguém? – Mila o provocou, e ele apenas a olhou seriamente.

– Saia, velha. – ela riu como se ele não a estivesse ameaçando de verdade, e o menino controlou o impulso de gritar com ela e dizer que estava falando sério. No lugar de dar um chilique e ser expulso da loja, apenas a observou sentar-se ao lado de Viktor, que o esperava enquanto fazia fotos para o Instagram. Yuri não poderia culpá-lo. Era seu único vicio, no fim das contas. Revirou os olhos e segurou melhor o terno.

Já sabia o que levar, de qualquer forma.

...

O banquete era exatamente o que Yuri esperava. Pudera, ele frequentava aquele lugar desde os doze anos, quando seu técnico passou a dizer que ele já era velho o suficiente. Agora, veja onde paramos: Yakov também quer que ele faça o próprio check-in quando chegam em algum hotel (francamente, Yuri não sabe se está pronto para crescer ainda e agir como um adolescente responsável)!

Estava lá há pelo menos quarenta minutos quando ele chegou. Yuuri Katsuki, parecendo como se estar ali fosse a última coisa que ele desejasse. O técnico do patinador japonês tentava, muito alto para o gosto de Yuri, animar seu aluno de ombros caídos e cabelos que pareciam nunca ter visto um pente na vida. Ninguém, além de Yuri e Viktor, prestou atenção na chegada do sexto lugar.

Até que ele começou a beber. O perdedor ignorou a mesa repleta com o melhor coquetel que você poderia imaginar e simplesmente pareceu fazer morada ao lado da mesa de bebidas. Depois da quinta taça, Yuri se sentiu um pouco culpado por fazer o dia do homem pior. Depois da décima, ele até pensou em ir lá e fazê-lo parar. Depois da décima sexta, Katsuki parece que teve a mesma ideia e parou sozinho.

Yuri não tinha certeza do que aconteceu, mas de repente Katsuki estava com a gravata no bolso e uma garrafa de champanhe na mão enquanto Viktor tirava fotos, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. O medalhista júnior sentiu um som estranho sair por sua garganta, quase um lamento por estar cercado de idiotas. Caminhou até os ditos, vendo que a atenção do público estava toda neles agora.

– Viktor, dê ele para o técnico. – ordenou, mesmo que soubesse que Viktor era tão obediente quanto uma mula. Quanto mais obedecer Yuri, por favor.

– Ele é um homem adulto, não uma criança para eu dá-lo ao técnico. – Viktor sussurrou de volta presunçosamente e Yuri quis seu cadáver. Poderia ser queimado, afogado ou estrangulado por ele, não havia tanta exigência.

– Hei, você... – Katsuki chamou lentamente, apenas como bêbados que não querem parecer bêbados podem falar. – Você se acha muito bom, certo? Seu pequeno valentão... – o japonês soluçou e Yuri quase gemeu de raiva. Katsuki se desequilibrou e acabou, de alguma forma, apoiado em Yuri, que resistiu como um torturado à tentação de soltá-lo e deixá-lo cair.

– Viktor, tira. Tira, tira esse idiota de mim! Tira! – seu tom baixo foi substituído por alguns gritos de pura raiva. O perdedor apenas riu e se equilibrou parcamente em dois pés.

– Batalha de dança...  – ele murmurou e Yuri nem sabia se ele ouviu certo.

– O quê? – indagou sem muita curiosidade, apenas para calá-lo.

– Vamos fazer uma batalha de dança! O perdedor faz o que o vencedor quiser! – Yuri não estava fazendo isso. Ele não estava entrando em uma competição estúpida com um homem bêbado que mal se aguentava de pé. – Ou será que você está com medo?

E alguma coisa estalou dentro de Yuri. Alguma coisa realmente feia, porque ele se sentiu rosnando para o babaca bêbado a sua frente, que apenas riu. O japonês colocou a gravata frouxamente em torno do pescoço e tirou o paletó, jogando-o como se não importasse o paradeiro.

– Não há como eu perder qualquer coisa para você, palhaço. – Viktor parecia alguém que poderia começar a saltitar de animação a qualquer momento. Yuri poderia jurar que o mais velho ali tivesse murmurado algo sobre ser o jurado. Ele esperava que não, francamente.

– Você é novo. – o Yuuri moreno disse. – Suponho que saiba um pouco de break dance. – ele gritou alguma coisa em um inglês quebrado demais para que Yuri entendesse tudo rapidamente, mas Viktor entendeu, e correu para onde o sonoplasta (porque não haveria um DJ em uma festa de gala) estava. De repente, a música ambiente, chata como Viktor, foi trocada por algo muito mais animado – algo que Yuri não gostava mais por isso – e muito mais alto.

Algo que Yuri não reconhecia, mas que fazia Katsuki balançar seus quadris e ombros no ritmo e era quase bonito. Ele se mexia como se não houvesse esforço envolvido, como se seu corpo fizesse música sozinho. Era quase como se ele fosse o próprio instrumento ou o ritmo. Engraçado que essa definição pudesse se encaixar em um cara bêbado que dançava algo que Yuri particularmente não via atratividade.

O adolescente fez um esforço significativo para desviar o olhar e tentar acompanhar o homem mais velho, que de alguma forma parecia mais flexível e ágil. Era como um furacão passando por aquela sala muito pequena para comportá-lo. E quanto mais a música avançava, mais perdido Yuri se tornava, porque o Katsuki era tão bom que quase fazia você querer parar para assistir (e Yuri nunca confessaria, nem em um pau-de-arara, que ele soube que terminou assim que começou). Ele também era surpreendentemente forte para um homem bêbado, visto que levantou seu corpo baixo, porém musculoso, em uma mão apenas, sem esforço ou queda (e Yuri poderia fazer isso também, mas não havia realmente a graça, ou a facilidade, ou a vontade).

Quando a música acabou, o medalhista de ouro júnior sentiu os fios de cabelo loiro grudados pelo suor na nuca e na testa, fazendo-o se sentir quase sujo. Viktor gritou que Yuuri Katsuki era o vencedor, e alguns aplausos educados da plateia, que de repente existia, o fez se sentir doente. Não percebera que estavam chamando muito mais atenção do que deveria. Desabotoou discretamente suas roupas, porque o esforço o deixara quente e seus pulmões, castigados pela sua crise mais cedo, não o fizera mais receptivo ao esforço.

Depois disso, Katsuki sumiu para dançar em algum outro lugar, dando risadinhas e parecendo muito diferente do Katsuki com quem Yuri fora tão rude. Ele parecia extrovertido e alegre, quase encantador, porque as pessoas gostavam desse tipo de gente. Era nojento, porque era falso. Yuri desviou sua atenção para suas próprias coisas, porque, ao que parece, ele só sairia dali com Viktor, que não estava muito inclinado a ir agora.

A sensação de estar preso pelo resto da noite só não foi pior, obviamente, do que a chegada de Christophe Giacometti (o eterno prata, em línguas maldosas que com certeza não eram de patinadores russos que se achavam demais por serem companheiros de rinque de Viktor), que tirava a roupa lentamente enquanto um grupo de homens descansava um mezanino redondo (queijo, algo sugeriu em sua mente) no meio do salão de baile.

Meu deus, o que está acontecendo? Uma pequena e infantil parte de seu cérebro, que ainda conservava um pouco da inocência pueril, questionou quase raivosamente. Yuri tinha certeza de que aquilo não era algo para alguém de quatorze anos estar vendo e, ainda assim, não conseguia desviar o olhar. Quando o circo estava armado, Chris se moveu sensual e lentamente para o centro. E ele começou a fazer um show de strip-tease. Simples assim. Enquanto desabotoava a sua provavelmente muito cara camisa de seda, ele sorria e dançava de uma forma que deveria ser sensual (Yuri queria desviar o olhar, mas era terrível demais, como um acidente de carro).

Uma música muito mais lenta do que a que tocava anteriormente estava sendo ouvida e então, o suíço tirava as roupas e, de repente, tinha um homem de vinte e muitos anos, seminu em uma estúpida festa de gala, na presença de um menino de quatorze anos de idade. (Yuri mais que nunca se arrependeu de não ter se escondido debaixo da cama quando teve a chance. Yakov certamente não o perturbaria lá.) Ele não tirou tudo imediatamente, apenas a parte superior de suas roupas, e com um gesto que deveria ser elegante e educado, convidou Yuuri para subir e fazer alguma coisa. Certo, Yuuri foi surpreendentemente um bom dançarino, mas ele não parecia alguém capaz de dançar pole dance, ainda mais bêbado e...

Seu fluxo de pensamentos que tentavam dar algum crédito ao homem mais embriagado que já vira na vida foi bruscamente interrompido pelas pernas fortes de um atleta, principalmente no esporte deles, firmes ao redor do poste. Ainda assim, porém, não parecia que o esforço era muito grande para Yuuri, mesmo que o adolescente pudesse ver a tensão por baixo da pele lisa, onde os músculos se esticavam (e obviamente Yuri não estava reparando. Era apenas algo que estava na sua frente e ele aconteceu de olhar).

E por alguma razão, o homem japonês parecia ser tão capaz de permanecer em suas roupas quanto Chris, o que irritou Yuri de um modo que não poderia ser descrito com palavras. Ele precisou se controlar o suficiente para não parar com as obscenidades públicas e acabar com a farra (chamando a polícia ou Yakov, ele ainda não tinha certeza). As calças tinham se ido agora e apenas a visão de um pedaço – muito grande, diga-se de passagem – de pele fez o russo enrubescer como se tivesse visto Viktor em uma de suas centenas de situações constrangedoras.

Yuuri Katsuki, depois de minutos, ao que parece, tornou-se insatisfeito por estar com roupas – e o que ele vestia nem sequer era socialmente aceitável – e logo ele tirou a camisa, há muito desabotoada, e do nada ele estava em um conjunto, que não deveria parecer tão atraente quando era, composto de uma cueca box, uma gravata muito feia e um par de meias. Yuri quase podia sentir pena do par de sapatos que foi abandonado quando o sexto lugar subiu no palco.

E então, depois de muitas presepadas e acrobacias que não deveriam ser realmente possíveis (mas que, para ele, de alguma forma, eram), ele parou com a apresentação para deixar Christophe continuar a indecência. Em algum momento, o suíço tirara o que restou das roupas, e a pequena tanga não era suficiente para deixar sua nudez à imaginação. Yuri se perguntou o que aconteceria se ele começasse um escândalo ali e agora, mas jamais deixaria Viktor saber que ele estava mesmo que um pouco incomodado.

E depois de um pequeno show que o deixou querendo se enterrar em algum lugar, Giacometti se pediu ao bêbado a se juntar à mostra (e Yuri duvidava muito que o vice-campeão também estivesse entupido de álcool. Chris apenas sofria de falta de decoro), e eles estavam em uma dança que parecia física e moralmente perigosa, porque havia proximidade demais, esfregação demais, pele contra pele demais (e ele verdadeiramente não ligava se era algo puramente artístico. Era nojento). E isso sem contar que as pessoas estavam encarando demais também (e agora, francamente, não era como se Yuri se importasse com o que as outras pessoas pensavam. Mas Katsuki estava quase conseguindo destruir a própria reputação, então... Não que Yuri estivesse preocupado, claro).

(Nesse momento, em especial, Yuri desviou o olhar.)

O lugar, por alguma razão, estava abafado demais, e Yuri era acostumado ao frio, ao gelo e a Rússia; ele nunca atribuiria o fator ambiental ao que seus olhos viram, claro, mas ainda assim, ele não podia negar que havia algo de erótico naquela dança de par em especial. Eles pareceram fortes antes, quando apenas um braço e uma espetacular força abdominal os erguiam, como se a gravidade fosse apenas uma invenção que não os afetava. Agora, juntos, eles pareciam absolutamente poderosos, com todas as coxas e bíceps e músculos que eram certamente adultos e obviamente atléticos.

Quando a música acabou e eles pareceram finalmente se dar por satisfeitos, ambos desceram suados, corados e risonhos, como um par de imbecis. Yuri sentiu-se repreender em forma de um som estalado com a língua. Ainda assim, a repreensão foi tola e ele logo se arrependeu por tê-la feito, porque não era da conta dele o que gente crescida que fingia ter dezesseis anos fazia.

Yuuri Katsuki fez apenas algumas coisas antes de agir estupidamente demais até para o perdedor que ele era. Colocou a camisa, mesmo que ela estivesse desabotoada e amassada, e por algum motivo incompreensível, colocou a gravata ao redor da cabeça, em um nó desleixado e mal feito, como tudo o que ele fazia, ao que parece.

Katsuki murmurou alguma coisa em japonês – ou Yuri achava que era – e sorriu calorosamente quando avistou algo que o agradou em meio aos convidados. O que quer que ele tenha visto, estava em sua direção, e por um momento Yuri poderia jurar que o sorriso do asiático era para si. Quando ele acenou vigorosamente e se lançou em meio às pessoas – que se afastavam com uma mistura vertiginosa de espanto e interesse – o menino percebeu do que se tratava. Viktor, que estava a sua frente, e assistia cada coisa, cada detalhe da apresentação do japonês como um sedento bebendo água, ansioso por cada gole e uma voracidade atípica em seu olhar. Yuri se permitiu ficar um pouco assustado. Chris chegou ao seu lado e não parecia nem um pouco surpreso, apenas deliciado pela comoção que causaram.

(Ele ignorou a forma que seu peito afundou.)

Yuuri resmungou algo mais e se lançou ao redor de Viktor, braços frouxos ao redor de seu pescoço e seus próprios quadris revirando-se nos do pentacampeão de uma maneira suja. Yuri pensou que poderia vomitar a qualquer momento, de puro ultraje. Ele sussurrou alguma coisa em sua língua materna e então, em inglês, de uma forma que todos ao redor de Viktor poderiam escutar, ele ouviu Yuuri pedir, em um idioma quebrado:

– Se eu vencer a competição de dança, você vai ser meu técnico, né? – ele encarou Viktor tão esperançosamente, com olhos tão brilhantes, que Yuri quase sentiu pena do “não” que ele receberia. Quer dizer, se ele não tivesse mortificado de mais, e agora, nesse momento, estivesse disfarçando isso com sua melhor cara de exasperação. – Seja meu técnico, Viktor!

E foi quando Yuri viu. Foi o exato momento em que Viktor soltou um ofego quase dolorido e apoiou as próprias mãos sem defeitos na cintura do japonês e no exato momento em que em suas bochechas um vermelho brilhante se instalava. Yuri nunca presenciou Viktor Nikiforov corar. Seu próprio peito se estalou para a constatação, e o vencedor do GPF júnior nunca se sentiu tão nervoso. Ele mal entendia o sentimento, porque ele nunca vira os outros patinadores como concorrência. Era um sentimento um pouco feio, para ser sincero.

– Não. – Viktor respondeu confiantemente, como tudo o que ele fazia, e Yuri quis revirar os olhos, junto aos murmúrios de quem os observava. “É claro que ele não aceitaria”, alguém disse, alto o suficiente apenas para ser ouvido em um silêncio parcial. – Eu quero dançar com você. – e Viktor riu brilhantemente, como se a solução dos seus problemas apenas tivesse caído do céu. Yuri inclusive pegou seu celular do bolso, porque se alguém exporia Viktor e Katsuki Yuuri ao ridículo, esse alguém seria ele. Mais tarde, ele pegaria o que sobrou das fotos que ele não conseguiu tirar com Mila. Ele sabia que, de todas as pessoas, ela as teria.

E Viktor só precisou de um aceno para que uma música muito diferente de tudo o que ouvira hoje começasse. Ela era, supostamente, sensual, mas não de um jeito que parecesse algo que Chris patinaria. Parecia mais um tango, ou algo assim, coisa que se assemelhava a Viktor e seu estilo heterodoxo.

E a dança era algo que você só veria nos jogos de sedução dos estúpidos filmes de romance de Mila, de uma forma que eles pareciam se encaixar. Yuri se recusou a prestar mais atenção que o merecido. Ele apenas fotografaria e veria mais tarde a vergonha de Viktor Nikiforov (não que fosse novidade. Viktor há muito é conhecido por todos os seu escândalos e polêmicas, sexuais ou não – mas que quase sempre eram sexuais).

Yuri não olhou por outros olhos que não as lentes de seu celular nem mesmo quando as mãos de Yuuri Katsuki estavam firmemente presas às pernas de Viktor, os dois sorrindo como se a presença de terceiros não fosse importante. O som borbulhante dos risos foi suficiente para acabar com a sua noite (que já estava destruída, desde o começo). Ele não se incomodou em capturar imagens da dança até o final.

{...}


Notas Finais


Então, não. Não vai ter YuuYu. É unilateral, coisa de adolescente, como quando a gente gostou daquele(a) professor. Enfim, o Viktor é um horror, mas não porque eu acho o meu husbando um horror: porque é narrado pelo ponto de vista do Yurio. Então, sim, ele não é confiável. Eu aceito reviews <3 próximo capítulo sai em uma ou uma semana e meia. Depende dos fatores climáticos e fisiológicos por aqui. Muitos beijos <3


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