1. Spirit Fanfics >
  2. Conexão - Rabia >
  3. Nascer do sol.

História Conexão - Rabia - Nascer do sol.


Escrita por: Julabone

Notas do Autor


Oi gente, tudo bem? Aparecendo na maior cara de pau do mundo, minha cara nem arde (mesmo). Sinto muito mesmo por ter demorado, de verdade, não foi intencional. Eu sei que um porre acompanhar alguma estória que demora para atualizar, então, me desculpem mesmo. Mas nem sempre tenho tempo (trabalho, faculdade, etc). Então, eu li todos os comentário do capítulo anterior, muito, muito obrigada mesmo. Meu coração ficou quentinho. Eu sei que esse capítulo (o anterior), eu decepcionei ou frustrei muita gente também, então me perdoem (meu senhor, eu não paro de me desculpar), de coração. Mas é isso, trouxe um capítulo essencial para o desenrolar, meia boca kkkk mas é isso. Não vou prometer não demorar, porque acho que não cumpriria isso, mas vou me esforçar (e isso é muito bom né? kkk). Perdoem os erros e fiquem bem. Até.

Capítulo 21 - Nascer do sol.


Fanfic / Fanfiction Conexão - Rabia - Nascer do sol.

“Rafa: Você está com medo? - Perguntou num fio de voz. Estava sentada no canto do closet tentando fazer com que a agonia que sentia no seu peito, se dissipasse. Precisava se acalmar. Precisava controlar sua respiração. Precisava enxergar. Precisava ver. Soluçou desesperada.

 

Bia: Muito medo. - Sussurrou pegando a mão da mineira. Apertou com força. - Eu estou aqui, estou aqui... - Lembrou puxando Rafaella para seu peito. A casa estava em silêncio. Um silêncio perturbador.

 

Rafa: Eu estou com muito medo, muito medo - Soluçou contra o peito da namorada. - Eu... eu estou com medo do escuro... - Confessou se agarrando aos braços da carioca. Bia tentou engolir o choro, mas ele escorregou pelos seus lábios. Soluçou. Apertou-a com mais força. - Eu... eu quero minha vida de volta – Implorou entre soluços. Que desespero. - Por favor, Bia... eu quero enxergar... quero ver você... quero ver o Antônio... eu... quero enxergar - Grunhiu como quem sente dor. E de fato sentia. Muita. - Por favor, por favor me ajuda - Implorou assustada. Parecia uma garotinha perdida no parque. Seu corpo tremia. Seu rosto contorcido mostrava a dor da perda. Estava de luto. Em período de negação. Doía para um caralho. Doía não ter noção de espaço. Não enxergar. Doía ouvir demais. Tudo doía. Seu corpo pedia socorro. Suas articulações gritavam para diminuir a carga de tensão. Seu pescoço enrijecido estava sempre em alerta. Seria sempre assim agora? Estaria sempre à espera de uma ameaça? Precisava voltar a enxergar. Como se defenderia quando não conseguia sequer ver de onde vem o golpe? Como funcionaria? - Eu quero enxergar... quero enxergar - Gemeu sufocada. Sua respiração falhou. Puxou o ar com força. Bianca lhe apertou. Soluçou. As duas. Desespero.

 

Bia: Eu estou aqui... eu estou aqui - Sussurrou novamente. De forma mecânica. Era a única coisa que conseguia dizer. A única que era verdade. Estava ali. Com ela. Para sempre. - Eu estou aqui amor, vai... vai dar certo - Falou sem saber se era verdade. Daria certo? Quando? Pegou o rosto da Rafa entre as mãos. Como será que é estar no escuro? Se questionou. Nunca saberia. Não como Rafaella.

 

Rafa: Eu estou com muito medo - Confessou mais uma vez. Seu corpo suava. Estava desesperada. Apavorada. Destruída. - Faz... faz alguma coisa - Implorou entre soluços enterrando as unhas contra o pulso da mulher. - Você... você precisa fazer algo - Suplicou. Bianca soluçou. Não podia. Não sabia. O que faria?

 

Bia: Eu não sei... eu não sei, me perdoa... só me perdoa - Implorou trêmula. Seu corpo não obedecia. Suas pernas tremiam. O chão parecia que ia engoli-la. Queria correr. Queria confortar. Queria curá-la. Não podia. Não sabia o que fazer. Fungou. Tentou processar. Rafaella estava cega. Cega. Tentou ri. Que tipo de piada era essa? Rafa soluçou. Era verdade. Precisava falar algo. Não sabia o que. Rafa sim. Ela sempre sabia.

 

Rafa: Deus, dai-me compreensão. - Sussurrou no cansada. Implorou. Não tinha o que fazer. Estava anestesiada. Desorientada. Sem acreditar. Estava cega. Caiu. Se desesperou. As duas. ”

 

Bianca sentou na cama desnorteada. Mexeu nas cobertas a procura de Rafaella. Não achou. Olhou em volta sentindo seu corpo arrepiado de frio, obrigou-se a puxar a coberta sobre os ombros no automático. O janelão do quarto estava aberto possibilitando que a rajada de vento frio vagasse pelo quarto. Sentindo o coração acelerar pelo sonho em forma de lembrança, pegou o celular. 4:22 da manhã. Céus, onde Rafaella estava? Se perguntou descendo da cama com cuidado. O contato do seu pé com o chão fez sua perna doer. Estranhou. Insistiu sentindo a cãibra tomar conta de toda a sua perna esquerda. Puta que pariu. Sentou novamente na cama se contorcendo. Grunhiu entre o pano grosso da coberta sentindo a dor das costelas em processo de calcificação. Aguardou. Quando seus músculos aliviaram, calçou as pantufas saindo do quarto. A porta do quarto do Antônio estava fechada. Bia não fez menção de ir para lá. A luz da cozinha estava acesa, indicando que Rafaella estava por lá.  Apesar da nova condição, a mulher sempre acendia as luzes da casa, talvez por costume, mania, saudades, não se sabe. Mas ela conseguia diferenciar cores claras das escuras. Apesar de que o máximo que conseguia enxergar, era um borrão.

 

Bia se aproximou com cuidado do recinto vendo a namorada encostada no balcão e de costas para ela. Tinha os ombros largados, revelando seu cansaço. Era comum nas últimas semanas. Sobre o balcão tinha todos os ingredientes necessários para um bolo, e o cheiro que abraçava a cozinha, confirmava que sua constatação estava certa. Bia mordeu os lábios tensa se aproximando.

 

Bia: Rafa - Chamou a atenção da mineira que não se moveu. Bia circulou o balcão com cuidado. Parou do lado da mulher, que tinha os olhos que não enxergavam, fixo em direção ao forno. Como se pudesse ver. Bia se arrepiou com a possibilidade. - Rafa...

 

Rafa: Eu estava com vontade de comer bolo - Falou com a voz rouca e quase que inaudível.

 

Bia: Porque não me chamou para ajudar? - Questionou também com a voz rouca -

 

Rafa: Desde quando você sabe fazer algo na cozinha? - Devolveu a pergunta de forma grosseira. Bianca se assustou cambaleando para o lado. Ficou em silêncio tentando entender. Suspirou apertando a manta em torno dos braços com frio. Céus, essas reações eram tão normais. O mecanismo de defesa de Rafaella era sempre o mesmo: o ataque.

 

Bia: Você fez bolo de quê? - Perguntou ignorando a grosseria olhando a louça suja. Rafaella tinha muita dificuldade em pedir ajuda, ainda mais agora. Bianca sabia disso. E era mais insistente do que nunca. Se Rafa falava não. Ela ignorava e falava sim. Apesar de saber que a namorada ficava grata na maioria das vezes em que Bianca a ajudava sem ter que pedir, não conseguia demonstrar. Era muito difícil ter que lidar com a transição de independência para dependência. Bia sabia disso. E respeitava até certo ponto.

 

Rafa: Eu não faço ideia, eu não enxergo - Respondeu ríspida. Bia mordeu os lábios sentindo a mágoa crescer. Porque Rafaella estava assim? Porque não estaria? Corrigiu a pergunta encarando os pés tentando lutar com contra a vontade de chorar. Engoliu o bolo na garganta encarando o forno. Não fazia ideia se tinha dado certo mesmo, mas uma coisa tinha aprendido com tudo isso: o limite era uma linha tênue. Estavam se adaptando a nova condição. Se esforçando. Aprendendo. A maioria das coisas eram instintivas, e estava percebendo isso agora, com Rafaella.

 

Bia: Eu não sou sua inimiga, amor - Sussurrou cansada de ignorar. Amanhã se repetiria se não falasse. Como aconteceu nos últimos cinquenta e dois dias. - Você não precisa me atacar, porque eu não sou sua inimiga - Rafa suspirou pegando sua mão com pressa. Estava suada. Estava assustada. Comum. Bia apertou de volta a confortando, dando espaço. A mineira continuou em silêncio. - Eu estou com você, Rafa.... – Insistiu esperando que dessa vez, ela falasse algo. Algo mais do que “Me deixa sozinha”.

 

Rafa: O tratamento não deu certo - Sua voz falhou. Bia fechou os olhos. Não tinham certeza do grau da eficácia quando começaram o tratamento. Iniciaram em menos de quarenta dias, era de se esperar que tivesse algum progresso, mas não teve. Ainda. Rafa soluçou. Ela queria tanto, tanto que as coisas fossem diferentes, iguais, iguais a antes. Bia a puxou com carinho para os seus braços passando a coberta pelo seu corpo gelado. Poucas eram as vezes em que Rafaella se permitia estar em posição de cuidado, mas agora não existia mais isso. Bianca estava fazendo um trabalho árduo. Rafa estava percebendo que precisava aceitar que está tudo bem ser cuidada, você não se torna inútil. Se torna vulnerável. Corajosa. - Não deu certo... não deu nada certo e...

 

Bia: Tem a cirurgia ainda... - Lembrou passando as mãos levemente pelas costas da maior que tinha o rosto escondido em seu pescoço. Ela precisava chorar. Falar.

 

Rafa: Eu... eu não quero - Confessou passando o nariz pelo pescoço da mulher. Se sentia frágil. Uma porcelana. Bia apertou-a sentindo a garganta fechar. Tiveram que se adaptar, renunciar, aprender tanto nos últimos dias. Os dez primeiros foram esmagadores. Bia chegou a cogitar a possibilidade do fim. Rafaella ficou irreconhecível. Era de se esperar. Não fazia absolutamente nada depois da alta. Só ficava deitada. Quieta. Sozinha. Não conversava, não conseguia. No décimo primeiro dia, algo renasceu dentro dela, e foi aí que a carioca conseguiu entrar. Pelo menos uma brechinha. Uma faísca. Morreu logo em seguida. Dias depois.

 

Bia: Vem... - Chamou com cuidado. Saíram da cozinha indo de encontro a sala. Rafa andava hesitante. Sem perceber. Medo. Às vezes tinha medo de cair e não saber levantar, ou se machucar. Tinha medo de muitas coisas. Também estava cansada disso. Não era frágil, mas estava. Se odiava por isso. Não saia de casa, não conseguia. Mesmo com incentivo, ainda não tinha coragem para isso. Para sair para a rua. Explorava todos os cantos da casa. De lado a lado. Só. Não se sentia segura para andar por um mundo maior do que seu apartamento. Não fazia nada fora. Até mesmo as consultas eram domiciliares. Bianca não aprovava, mas sabia que as coisas tinham que ser no tempo dela. Afinal, era ela quem estava cega.

 

 

Rafa: Eu fico imaginando... imaginado mesmo - Fungou trêmula. - O quanto eu perdi por não conseguir enxergar nesses últimos dias... como as coisas mudaram, como você está... se o seu cabelo cresceu... - Bia mordeu os lábios vendo suas mãos nervosas. - O Antônio... os saltos... céus, bia... eu só quero enxergar - Confessou desesperada. Bia não aguentou. Soluçou acompanhando a mulher que tinha a cabeça enterrada contra o seu peito. A realidade era dolorosa. É óbvio que ninguém deseja estar numa posição dessa, e também não agradece, mas não tinha nada de bom? A rotina tinha mudado. Era fato. Se alterou. Moveu. Virou do avesso. Fora das gavetas. Dentro. Tudo em posições diferentes. Exatos cinquenta e dois dias que foram inseridas numa nova realidade. Contra a vontade. Cinquenta e dois dias em que Bianca aprendeu a não deixar toalha em cima da cama e tentava, a todo custo, preparar o jantar. Os brinquedos de montar, aqueles que numa madrugada de loucura ambas compraram para Antônio mesmo ele não tendo idade, não se espalhavam pelo chão da sala. Cinquenta e dois dias de processo. Adaptação. Uma nova condição. Rafaella sentia muito. Compreensível. Quem não sentiria? Eram seus olhos. Teve que ceder muitas coisas. Inclusive o lado da cama. Agora dormia no lado esquerdo porque era na reta do banheiro. Tudo estava encaixado em formas diferentes. Criando uma nova forma.

 

Rafa: Eu... quero tudo de volta - Confessou em tom baixo. Em súplicas. - Eu não quero mais isso... eu nem gosto de preto e... - O coração da carioca se apertou. Preto. Era assim que ela enxergava agora? - Eu só quero enxergar, Bia... não quero ter pena de mim e...

 

Bia: Rafa - Pegou as mãos da mulher. - Você sabe que eu sinto muito, muito mesmo por você né? - Sua voz saiu fraca. Forçou. Rafa assentiu. Sabia. - Você não é digna desse sentimento, você não é digna de pena, jamais... - Rafa negou tentando sair dos seus braços. Não queria conversar. Sabia que Bianca não respeitaria esse limite dessa vez. - Porque você acha disso?

 

Rafa: Porque eu não enxergo - Soltou alto seguido de um soluço. Soluço amargo. Insatisfeito. - Porque eu dependo de você para tudo e...

 

Bia: Você acabou de fazer um bolo sozinha, Rafa – Devolveu em tom alto. Também. -

 

Rafa: Que eu nem sei se deu certo - Rebateu com a voz embargada. Bia levantou com pressa. - Onde você vai? - Perguntou sentindo a mulher se afastar. Tinha noção de espaço quando tinha barulhos pelo ambiente. Tinha noção de muitas coisas que não achava que era possível não enxergando.

 

Bia: Você colocou o forno no time certo - Falou surpreendendo a mulher - Sabe porque você fez isso? – Ela não respondeu à pergunta, mas sabia, só tinha medo. - Porque você sabe o que fazer! Porque você fazia no mínimo, três bolos por semana antes de ficar cega... A pia está um lixo, mas você sempre deixava ela assim todas as vezes.... Rafa, você é ainda a mesma pessoa....

 

Rafa: Não sou, eu não enxergo

 

Bia: Me desculpa, amor, me desculpa mesmo, eu odeio toda essa merda o mesmo que você - Confessou entre soluços. Precisava falar. - Mas..., mas você é a mesma, você é a mesma mulher que me pegou no colo e...

 

Rafa: Eu não sou a mesma, Bianca, eu não sou a mesma - Cortou puxando o ar depressa. Se engasgou com o choro. - Eu te enxergava, você me encarava nos olhos, agora... agora parece que você é minha mãe e que para todas as coisas, eu preciso de você e...

 

Bia: Você é ainda melhor - Gritou interrompendo-a - Eu não me apaixonei pelos os seus olhos, mas eu ainda continuo te encarando, mesmo você não me vendo - Confidenciou limpando os olhos. Estava cansada. - Eu sei que não é mais do mesmo jeito, mas eu ainda continuo te amando, te desejando e... e querendo viver o resto da vida do seu lado... Eu não me apaixonei pelos seus olhos, Rafa - Fungou vendo a namorada limpar o rosto - Eu não sou sua mãe, eu sou sua mulher e cuido de você, cuido porque você fez muito por mim, você cuidou muito de mim - Rafa soluçou. - Você precisa deixar que eu entre mais - Implorou - Você precisa se permitir acreditar e confiar....

 

Rafa: A esperança é paralisante, Bia - Sussurrou -

 

Bia: E se não tem, faz o que?

 

Rafa: Porque você age como se eu fosse voltar a enxergar? - Perguntou na defensiva. Quase que um ataque. -

 

Bia: Porque você age como se não fosse? - Devolveu a pergunta e Rafaella se calou. Porque agia assim? Bia se aproximou. - A mesma chance que você tem de voltar a enxergar, você tem de não voltar....

 

Rafa: Mas agora eu já estou cega

 

Bia: Eu sei, eu sei, Rafa - Levou às mãos ao rosto da amada. - Mas você continua sendo a mesma, e se você não compartilhar comigo, todas as coisas, aí mesmo que você vai deixar de enxergar... - Bia beijou brevemente seus lábios. Rafaella precisava falar. Precisava falar com ela. - Eu estou com você, Rafaella.... Não age como se estivesse sozinha, isso não é justo com você, comigo... são cinquenta dias já amor.... cinquenta dias que você não fala comigo... que você me joga fora... que você desdenha meus cuidado - Rafa não a afastou dessa vez. Não faria isso sentindo a dor das palavras. Não era a única que estava sofrendo. Não era. Puxou com cuidado a cintura de Bianca a abraçando. Soluçou. Tinha perdido a capacidade de contar, mas Bianca não. Cinquenta e dois dias em que cavou um buraco entre as duas. Céus, não conseguia acreditar como Bianca queria ficar com ela. Teve tanto amores frágeis, que agora sendo amada de maneira digna, não sabia como reagir. Caramba, tinha se afastado tanto da mulher, cada uma em uma margem do rio. E mesmo assim Bianca ficou. Cuidou do seu filho. Cuidou de si. Tentou cozinhar. Tentou. Ficou. Nada que Rafaella falava era suficiente para ela ir embora. Nada despertava a vontade dela de ir embora. Nada. E era isso que não conseguia entender. Não tinha que entender. Bianca não era como todos os outros. Era ela. E ficaria.

 

Rafa se apertou mais contra os braços da carioca sentindo o peso dos dias. Precisava entender que pronto, essa era uma nova realidade. Um novo limite. Não era uma bênção estar assim. Não sabia nem o porquê de ter acontecido isso. Mas dada as circunstâncias, e todas as estatísticas, qual seria o benefício de culpar a todos e negar a si? Qual o benefício de mandar a única pessoa disposta embora? Nenhum. Mesmo não entendendo, tinha que aceitar. Tinha que falar. Como todas as outras coisas na sua vida. Não querer fazer a cirurgia só ia reforçar a sua condição atual, mas e fazer? Poderia voltar a enxergar? Sim. Não era a regra, não era sinal de sucesso, mas precisava tentar. Ia perder algo a mais? Não. Então porque se negava? Porque tinha medo. Estava cercada por ele. Por todos os lados.

 

 

Rafa: É agonizante às vezes, sabe? – Sussurrou quando sua mente ficou insuportável demais para aguentar.

 

Bia: Eu sei - Respondeu - Porque é agonizante em mim também - Beijou o queixo da namorada - Eu também perdi seus olhos, Rafa..., mas eu não perdi você, e não gostaria de perder.... Eu não quero te forçar, mas é a nossa realidade agora, e eu estou aqui porque eu escolhi estar... e eu quero que você fale algo a mais do que o silêncio...

 

Rafa: Eu sei - Apertou a namorada nos braços - Eu não entendo... Não entendo porque escolheu ficar, criar uma criança que não é sua... amar uma cega e..

 

Bia: Que tipo de pessoa eu seria se fosse embora? - Perguntou. Rafa se calou. - A mesma que você se apaixonou?

 

Rafa: Não – Respondeu de forma arrastada - A Bia que eu me apaixonei é surpreendente, forte e amável....

 

Bia: A Rafa que eu me apaixonei é muito mais forte, e muito mais guerreira que isso - Devolveu na mesma frequência - Estamos juntas nessa Rafa, não quero romantizar sua cegueira, mas você precisa me falar como está.... Você precisa me deixar entrar.... São semanas... semanas que você me afasta - Lembrou com a voz carregada de agonia - Eu não quero te pressionar, mas sozinha não dá... você não aguenta, eu não aguento - Sussurrou. Rafa soluçou. Dolorida. Estava cansada de negar a ajuda da mulher. Precisava aceitar que Bianca ficaria e pronto. Ela sentia a sua dor, como se fosse a própria. E de fato era. Era de se admirar que um sentimento tão bom tenha nascido e se fortalecido no meio de tanta dor. Era raro. Frágil, mas forte. Muito raro e forte. Delas.

 

Rafa: Dói - Confessou - Eu sinto.... Sinto que ninguém vai me amar - Sussurrou - Mas você me ama né? Você tá aqui e... só dói - Mordeu os lábios - Mas eu não quero ficar assim, eu quero trabalhar, mas eu tenho tanto medo, tanto medo e...

 

Bia: Está tudo bem... eu também tenho medo - Colocou a mão por cima da mão da namorada vendo a agitação. Rafa suspirou. - Eu também compartilho das suas inseguranças e... e tenho medo... e é normal ter medo... ainda mais agora

 

Rafa: É tudo diferente agora, Bia

 

Bia: Eu sei - Admitiu cruzando seus dedos - Muito diferente... assustador - Puxou Rafa com cuidado - Você não precisa voltar a trabalhar agora, não quando acha que não consegue... a não ser que você queira muito, aí a gente pode vencer isso tudo... nós vamos vencer isso tudo, Rafa, tudo, não tem nada que a gente não possa adaptar e...

 

Rafa: Como, bia? - Perguntou com a voz falhada. Estava assustada. A semanas.

 

Bia: Eu não sei - Confessou - Eu juro que eu não sei - Os lábios da mineira tremeram - Mas o que nessa vida a gente não deu jeito ainda, Rafa? - Perguntou acariciando o pulso da namorada - Olha para trás... olha nossa história - Sussurrou aconchegando Rafaella nos braços. - Nosso amor não aguenta mais uma volta sozinha, vida.... Então, por favor, para de me mandar embora, não me afasta, porque vamos condenar tudo... tudo que ainda temos - Rafa fungou beijando a pele exposta da sua clavícula.

 

Rafa: Você... você promete que vai me falar caso... caso não aguentar mais? - Perguntou baixinho -

 

Bia: Eu não vou te abandonar, Rafa - Sua voz saiu firme - Eu não vou te abandonar, te deixar... meu amor não é frágil, eu sei o que eu quero - Levantou o rosto da mulher pegando nas mãos - Você poderia perder qualquer parte do corpo, e eu ainda ficaria... - Confessou - Eu só preciso que você me fale, me fale o que a gente pode fazer... eu preciso que você grite comigo e taque as coisas, só fala comigo.... Porque... porque se você não falar - A voz carioca vacilou. - Você vai para um lugar que eu já tive... e lá é pior do que todos que você já esteve - Rafa se apertou nos braços da namorada. Não poderia afastar Bianca. Precisava falar. Processar. Ressignificar.

 

Rafa: Eu... não quero que você saia do meu lado - Sussurrou - Só quero que você seja franca - Pediu - Porque eu não te enxergo, não te leio e.… se ficar pesado, eu quero que você sente comigo e me diga... me diga tudo. - Bia limpou seus olhos. - Parece que eu vou lutar a batalha mais pesada da minha vida... eu não nasci assim Bia, eu fiquei e isso é muito mais desesperador - Bia soluçou com a voz cortante da mulher. - É muito difícil viver uma vida que você conhece superficialmente, o tempo todo eu me pego comparando isso.. Com medo e.. e me sinto impotente - Confessou sentindo a liberdade das palavras se expelir pelos seus poros. Tirando um peso. - Eu penso que... que todas as coisas estão do avesso e.… e as vezes eu penso que o avesso nem existe e me pego... me pego me sentindo sortuda - Soltou um risinho sem humor - Eu poderia ter morrido - Lembrou. O arrepio cortou a espinha de Bianca a fazendo segurar o corpo de Rafaella com mais força. Poderia mesmo. - Mas eu não morri e agora... agora eu só lamento por estar cega e não agradeço por estar viva...

 

Bia: Porque você já agradeceu - Lembrou naquele primeiro dia do pós coma. O desespero de Rafaella enquanto orava. - Você não precisa se culpar por não entender, Rafa... ninguém agradece quando perde algo - Lembrou – Você teve seus olhos arrancados de você, é normal se sentir assim... – Rafa assentiu tentando controlar o choro – Você perdeu algo valioso, mas não tudo... – Bia fechou os olhos tentando se concentrar. Sua mente foi invadida por memorias dos últimos cinco anos. Do começo até a data atual. - A gente só está perdendo as coisas, amor? - Perguntou baixinho. De forma retórica. Só estava perdendo, mesmo?

 

Rafa: A cada duas coisas ruins, uma boa compensa... e isso é bizarro - Puxou a manta sobre seus corpos divagando pelo mesmo lugar sombrio que Bianca. - Parece que só acontece coisas ruins na nossa vida... e que não fomos feitas pra durar e.. e estamos lutando contra isso e...

 

Bia: Parece que a gente espera que aconteça coisas brilhantes para contabilizar como boas... - Bia falou fazendo Rafa se calar. É de se impressionar quantas vezes miramos em uma só direção e só enxergamos por uma ótica. - Eu sei que.... Sei lá - Riu confusa tentando recuperar o raciocínio - Acho que não acontecerá nada tão grande e bom para compensar o fato de você não enxergar... mas... mas eu estou aqui e suas amigas também, o seu filho e bem... deixa pra lá - Fechou os olhos - É confuso...

 

Rafa: Eu entendi – Confessou baixinho - Talvez não aconteça nada grande mesmo, não de uma vez só... Mas você está aqui, Antônio está aqui e minhas amigas estão aqui, isso é tão grande e extraordinário quanto - Bia sorriu. Ela estava entendendo. Você não pode continuar sendo a mesma pessoa e esperar resultados diferentes.

 

Bia: Eu estou disposta por você, Rafa... muito - Frisou - Só que agora precisamos nos focar no que fazer... - Rafa suspirou - Aceitar... - Rafa concordou. Tinha como negar? - Deve ser horrível ter que aceitar uma nova condição..., mas precisamos...

 

Rafa: É mais difícil ainda não aceitar - Interrompeu brincando com os dedos de Bianca sentindo os detalhes. As marcas. - Eu...

 

Bia: O que? - Perguntou quando ela se calou -

 

Rafa: Preciso que você tire o móvel do corredor - Confessou sem vergonha. Precisava ficar nua para Bianca. Ela já tinha se despido muitas vezes para Rafaella. Todos os medos. Era sua vez de pedir ajuda. De ser cuidada. De se despir. - Ele... ele me atrapalha - Sussurrou. Bia beijou o topo da sua cabeça. -

 

Bia: Vou tirar - Prometeu - O que mais você precise que eu faça? – Perguntou. Essa era a primeira pergunta que queria fazer desde que voltaram para casa.

 

Rafa: Eu quero meu antigo lado da cama - Pediu. Bia tencionou o corpo. - Eu sei que é mais fácil, mas você acorda três vezes a noite para fazer xixi, eu não...

 

Bia: Mas e seu um dia você acordar? – Argumentou -

 

Rafa: Aí vai ser só um dia

 

Bia: Rafa...

 

Rafa: Você não pode só cuidar de mim, se não, não vai dar certo... - Bia concordou com um resmungo. Equilíbrio. Estavam esboçando. -

 

Bia: Eu quero... quero que você me acompanhe na vacinação do Antônio amanhã, hoje - Se corrigiu vendo o dia clarear. Rafa não respondeu. - Você não pode ficar para sempre aqui...

 

Rafa: Eu sei... só... só tenho medo - Admitiu mordendo os lábios. -

 

Bia: Eu também tenho - Apertou a mão da carioca - Mas eu não quero viver assim... - Confessou - Tem muitos caminhos alternativos agora....

 

Rafa: Que eu também tenho medo - Soltou um risinho - 

 

Bia: Só vamos tentar - Pediu - Aos poucos e...

 

Rafa: Ainda não Bia – Sussurrou baixo. - Eu sei que preciso ser mais para ele, mas ainda não... ainda não consigo...

 

Bia: Você só precisa ser a mesma – Respirou fundo - Não quero que você se esforce mais, você sabe o que fazer, está com medo, tudo bem... mas sabe o que fazer - Rafa respirou fundo. Sabia fazer todas as coisas. Todas. Só precisava voltar a fazer. Sabia que a negação não ia ser arrancada do seu peito em instantes, mas precisava dar o primeiro passo para isso. Ficou em silêncio sobre o peito da namorada. Bia desenhava círculos sobre seus braços nus pela camisola. Raro. Era raro o que tinham. Fechou os olhos se aconchegando enquanto o cheirinho de bolo circulava pela sala. Se aconchegou com mais vontade sobre Bianca sentindo a falta do calor humano. A última vez que tiveram um contato íntimo, foi no dia do acidente. Bia a respeitava, e muito. Rafaella ainda se sentia insegura. Não enxergar levava a sua autoestima no chão. Mas Bianca a respeitava. Não forçava os limites. Aconteceria de forma natural. Quando ela se sentisse segura. Isso era amor. Não paixão. Existia desejo entre ambas, mas existia amor. E ele estava acima de qualquer envolvimento carnal. Primeiro vinha o bem-estar. Estavam se conectando novamente. Aprendendo a lidar. Equilibrando. Criando mais um laço da conexão. Estavam criando novos limites. Superando muitos outros. Estavam entendendo que nem sempre uma limitação tem um caráter limitante. Rafaella estava enxergando isso. Disposta a enxergar isso. De forma figurada.

 

 

Rafa: Ficou pronto - Falou quando o time do forno soou pela sala. Sentou no sofá depressa. Estava nervosa. Fodasse que era só um bolo. Era mais que isso. Era seu primeiro bolo cega. Bianca fez o mesmo. Sentou. Tão nervosa quanto. Encarou o rosto de Rafaella. Mesmo que ela não visse, fazia isso com frequência. Nunca pararia.

 

Bia: Vem

 

Rafa: Pega a câmera - Pediu e Bia sentou novamente confusa - Pega a câmera e filma... filma porquê... porque se eu voltar a enxergar, quero ver - Bianca abriu a boca tentando assimilar o pedido. Não respondeu. - Bia?

 

Bia: E se.… se não voltar? - Perguntou baixinho se amaldiçoando logo em seguida. Estava até agora a falar de esperanças e no primeiro sopro que Rafaella teve, tacou uma pá de terra. - Me perdoa... eu só...

 

Rafa: Se eu não voltar, você poderá ver - Respondeu calma - Está tudo bem, Bia... não precisa ser otimista o tempo todo... - Pegou a mão da mulher - Estou disposta - Contou fazendo a mulher sorri. Tudo bem. Tentar era a única consequência do sucesso ou do fracasso.

 

Bia correu para o quarto pegando a câmera que foi sua companheira por tantos anos de YouTube. Voltou para a sala encontrando Rafaella com Luete no colo. Riu chamando a atenção. Click.

 

Rafa: Você não me pegou desprevenida - Reclamou escutando mais uma unidade de click seguidos. Riu. Leve. Mudando.

 

 

Bia: Vem - Pegou a mão da Rafa, mas ela recusou. Com cuidado se aproximou do balcão. Sozinha. - Você quer que eu tire?

 

Rafa: Acho que consigo - Respondeu sorrindo. Outro click. - Para com isso - Abriu o forno. Bia não parou. Rafa tirou o bolo com cuidado jogando a forma sobre a bancada - Quente - Balançou a mão com pressa. Outro click. - Bianca - A gargalhada da carioca ecoou pelo ambiente. Não parou. - O que foi?

 

 

Bia: Seu bolo cresceu – Gargalhou mais alto. Sem se importar. Rafa sorriu. Seu som favorito. - Seu bolo nunca cresceu - Rafa riu lavando a mão apressada. Bia acompanhou os movimentos. Rindo. Rafa colocou a mão sobre o bolo se surpreendendo. Uma nova dimensão se abriu. Bia sorriu. Emocionada. O toque era preciso agora. Para as duas.

 

Rafa: Cresceu - Gargalhou feliz. Bia continuou filmando. Era lindo de ver. De guardar. - Eu não acredito que tive que ficar cega para fazer um bolo descente

 

Bia: Rafa – Se surpreendeu com a naturalidade -

 

Rafa: O que? - Levantou a cabeça em direção a mulher. - O que?

 

Bia: Você falou....

 

Rafa: Cega - Completou - Nada muda o fato central, estou cega, sou cega, fim - Riu apertando o bolo - Não tem palavras bonitas... se eu sou assim, precisamos neutralizar isso para aceitar... parar de pisar em ovos... você acabou de falar sobre isso...

 

Bia: Eu... tudo bem, você tem razão - Sorriu limpando os olhos. Em uma madrugada evoluíram mais do que nas últimas oito semanas.

 

Rafa: Bate... bate a foto - Levantou a forma. O movimento seguinte foi rápido. A forma quente caiu sobre o balcão despedaçando o bolo. Bia abriu a boca assustada. Rafa gargalhou. Gostoso. Divertida. - Eu não acredito nisso – Bateu os pés com força no chão. Bia não aguentou. Outro click.

 

Bia: Ainda dá para comer - Tentou juntar os pedaços enquanto Rafa ria. Parou para a admirar o rosto da mulher. Céus, linda. Outra gargalhada e foi contagiada. Gargalhou também. - O que a gente vai tomar de café da manhã? - Pegou um pedaço da massa sobre o balcão. Rafa fez o mesmo sem saber que a namorada fazia. - Ficou gostoso - Elogiou - Com esse gostinho de mesa então.... - Rafa riu jogando o pano de louça contra ela -

 

Rafa: Bia... - Chamou - Eu não quero que você vá embora nunca – Confessou sentindo seu coração expulsar as palavras com leveza. Não queria mesmo. Nunca.

 

Bia: Eu não vou - Disse de forma casual. E era. Não iria ir embora. Comeu outro pedaço do bolo encarando a mulher na sua frente. Rafaella continuava linda. Linda. Não conseguia parar. Seu peito estava rasgando pelo momento juntas.

 

Rafa: O sol já nasceu? - Perguntou sentindo um clarão. Isso era estranho. Rafaella sabia diferenciar muito bem os tons claros dos escuros.

 

Bia: Quase... quer ir na sacada sentir? - Perguntou. Rafa aceitou. Bia continuou parada esperando a mulher circular o balcão. Precisava controlar seus impulsos. Rafaella gostava de ser independente. Dela. Então respeitaria. Estava claro, agora, que a mulher não negaria mais as ajudas, mas tentaria sozinha primeiro. Pegou a mão da mineira quando ela ofereceu e foram para a sacada. Bia sentou na grande almofada puxando Rafa para seu peito.

 

Rafa: Antônio vai acordar já, já - Falou respirando fundo - Onde... em qual posição estamos? - Perguntou. Bia se arrumou atrás dela sentando.

 

Bia: Você lembra daquele prédio feio? Que você...

 

Rafa: Aquele verde? - Bia resmungou um sim -

 

Bia: O sol está nascendo atrás dele - Pegou a mão de Rafaella apontando com o dedo. - Talvez uns três minutos... menos até.... O céu está laranja - Rafa assentiu imaginando. A vida era isso agora. - Da cor da vitamina C que você toma - Rafa riu com a comparação genuína - O céu está azul igual o lacinho de pescoço da Lua - Fez outra comparação. Elas tinham um benefício: Rafaella não foi a vida inteira cega. Obvio que se continuasse pelo resto da vida que tinha pela frente, precisariam se adaptar mais. Mas agora, tinham o benefício de comparação. Da lembrança. - Não tem uma nuvem e o céu... está muito, muito lindo - Sussurrou -

 

Rafa: Acho que consigo imaginar direitinho - Virou o rosto para a Bianca - Parece que você injetou adrenalina nas minhas veias... - Sorriu - Hoje é a primeira vez que me sinto feliz e disposta desde que tudo aconteceu... - Confessou - Eu prometo que vou ser mais sincera com você - Tateou o rosto da mulher - Você deve estar linda... - Rafa passou a mão pelos olhos de Bia sentindo a umidade - Mas moças bonitas não choram - Bia riu -

 

Bia: Como é? Como é estar assim? - Perguntou receosa. O sol estava nascendo. Sobre elas.

 

Rafa: Fecha os olhos - Continuou com o carinho. - Continua assim... - Disse tocando os olhos de Bianca. -

 

Bia: Agonizante - Admitiu sem filtro -

 

Rafa: Depois de um tempo fica confortável - Confessou - O sol nasceu? - Bia abriu os olhos. -

 

Bia: Está sobre nós, bem mais laranja que a sua vitamina c - Rafa riu. - Eu amo essa covinha - Tocou o rosto da maior. Rafa deitou o rosto sobre sua mão. Bia sentiu o peito inflar com a imagem. O solta estava atrás da cabeça da mineira, banhando seu rosto. Bia sorriu sentindo seu estômago doer de emoção.

 

Rafa: Obrigada por me amar assim... - Sussurrou - Obrigada por ficar por mim....

 

Bia: Por nós - Aproximou seus rostos - Estamos juntas nessa, em cada etapa, vamos comemorar cada vitória... lamentar as derrotas, mas vamos fazer isso juntas - Falou firme - Já atingimos um nível de maturidade alto para entender que sozinho é muito, muito pior de enfrentar as coisas... - Rafa beijou a palma da mão da mulher -

 

Rafa: A dois anos atrás, sua mãe me disse que a gente sempre precisa de alguém que nos perdoe quando não conseguimos fazer isso.... - Bia passou o nariz pela sua bochecha. - Você é essa pessoa para mim...

 

Bia: Você é a minha... - Sussurrou e Rafa roçou seus narizes. Avançando sobre seus lábios, Bia puxou sua nuca, sentindo a maciez. Quando pensou em aprofundar o contato, o choro estridente invadiu o ambiente. Riram. Nem sempre tudo muda. Modifica, mas ainda continua com a mesma essência. - E eu ainda quero mais três... - Se afastou levantando apressada. Rafa sorriu sentindo seu peito arder. Amava Bianca. Amava todas as Biancas que já conheceu dentro dela. Chegava a doer. Respirou fundo ainda sentindo insegurança. Menos que ontem. Era um processo. Precisava pensar no que fazer. Estava cega, fato. Continuaria? E a cirurgia? Faria? Precisava entender antes de decidir.

 

Bia: Aí que preguicinha mamãe - Falou com a voz manhosa sentando ao lado de Rafa. Sem avisar, colocou o corpinho sobre as pernas da mulher. Antônio se agitou reconhecendo as mãos de Rafaella. -

 

Rafa: Grãozinho - Passou o nariz sobre a bochecha do filho que balançou os pezinhos. Bia sorriu admirada.

 

Bia: Ele está te olhando... apaixonado - Confessou - Como sempre foi - Rafa sorriu. Tinha medo da rejeição. Mas não a tinha. Não precisava nutrir. Seu filho a amavam. Mesmo cega. Mesmo sem entender.

 

Rafa: Você está me olhando é? - Passou a ponta do dedo na sua testa. Tomtom agarrou levando até a boca e sugando. - Ei... - Ralhou rindo - Ele está com que roupa?

 

Bia: Aquele tip top feio que a minha mãe comprou - Rafa riu empurrando ela com o ombro - Meias amarelas do pio-pio e toquinha do bob-espoja.

 

Rafa: Que tanta informação que a tia bia colocou em você - Continuou passando o nariz nas bochechas rechonchudas. - Meu milagre... - Sussurrou antes de dar um beijo casto sobre a testa pequena e levar o corpinho de encontro ao peito. Bia a abraçou por trás obrigando-a deitar sobre seu peito. Luete pulou deitando sobre os pés de Rafaella e os quatro fecharam os olhos quase que na mesma frequência. O sol aproveitou para se posicionar ao lado, garantindo que eles ficassem quentinhos entre os arranhas céus. Bia passou a mão pelo corpo da amada até chegar no corpo do neném. Abraçou os dois com vontade acariciando com a mão livre, a gatinha. Estavam bem. Iam ficar. Em segurança. - Que horas é a vacina? - Perguntou depois de um longo silêncio. Antônio já tinha caído novamente no sono.

 

Bia: Vamos deixar para amanhã - Falou sonolenta aconchegando-os nos seus braços. 

 

Rafa: Porque? - Questionou rouca. Estava com sono. Pela primeira vez em semanas, estava com sono. Estava em paz.

 

Bia: Eu não quero sair daqui... desse abraço - Confessou de olhos fechados. Rafa concordou. Também não queria. Nunca mais. Agora entendia isso. Felizmente.

 


Notas Finais


aaaaaaaa, lembrei agora e to rindo. Eu vi que alguém no tt falou que eu tinha morrido por causa da demora, fiquei até envergonhada e tomei vergonha na cara kkkkkkkkkk


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...