História Confissões de uma perturbada - Capítulo 15: Remexendo no passado.

Hinata

- Como está se sentindo hoje Hinata?- Asuma me pergunta.

- Como acha que estou me sentindo?- devolvo mau humorada.

- Achei que estávamos nos entendendo.

- E estamos. Mas não estou em meus melhores dias.

- Quer me contar porque?

- Bom, primeiramente. Estou chateada por não ter adivinhado que minha mãe faria uma coisa dessas. Segundo, permiti que ela me afastasse da primeira pessoa que eu realmente gosto, depois de anos. E terceiro, prometi que nunca mais permitiria ser internada em um lugar assim, mas acabei fracassando. Eu sou um completo fracasso! Hanabi deve ter vergonha de mim.- digo e cubro meu rosto com o lençol. Asuma respira fundo, não tenho facilitado nem um pouco para ele ultimamente.

- Hinata, eu sei que está chateada, mas tem sérios motivos para você estar internada aqui. Afinal, você perdeu o controle e agrediu sua mãe.- ele diz, com sua voz calma.

- Eu sei. Mas ela já havia ligado para cá, antes mesmo de eu bater nela. Já estava tudo armado. E agora, Naruto pode ser preso por um crime que não cometeu.- digo indignada.

- Você gosta mesmo dele, não é?- ele pergunta, tirando o lençol de meu rosto para olhar nos meus olhos.

- Gosto. Muito. E não é só algo sexual, é mais que isso.

- Você está apaixonada.- ele afirma.

- Eu sei.- digo. E é a primeira vez que admito isso para mim, e para alguém em alto e bom tom. Agora só falta admitir para Naruto.

- Ele vale a pena mesmo? Acha que vale a pena, expôr os erros de sua mãe para salvar Naruto?- ele pergunta.

- Ela nunca foi minha mãe. Não me lembro se quer se ela já me tratou bem algum dia. Se lá no fundo ela me ama, ou já amou. Eu devo isso a Hanabi. Devo isso a Naruto, que é inocente. Ele tentou não se envolver, mas eu... Eu tentei também, mas não consegui. Ele tem algo que me atrai. Me faz sentir algo diferente, ele me faz querer ser diferente.- respondo.

- Entendo. Você tem ido... "Naquele lugar"?- ele perguntou. Asuma sabia tudo sobre mim. Tudo mesmo. Cada pessoa que fazia parte de minha vida, de meu passado. Tudo que eu já havia feito, meus erros, meus medos, meus defeitos, meus anseios... E é claro que contei sobre minhas tardes, noites e madrugadas que passei naquele clube de apostas, batendo e apanhando. As pessoas que machuquei para conseguir um dinheiro que eu nem mesmo precisava. As pessoas de lá me chamavam de "Princesa Hyuuga", com razão pois, nasci numa família rica, uma das mais ricas da cidade e talvez até do estado. Nunca precisei do dinheiro das lutas, mas o pegava e me arriscava por um capricho bobo.

- Não. Quando sumi, naquele dia depois do meu aniversário, eu fui para o "clube". Estava muito chateada, por ter esquecido nosso aniversário e precisava extravasar.- dei um sorriso amargo ao me lembrar daquela noite.- Foi a primeira vez que perdi uma luta... Quando todos estavam preocupados e me procurando, Naruto me achou deitada na frente do prédio. Ele me levou para a casa dele e cuidou de mim. Quando contei, o que fazia lá dentro, ele me fez prometer que jamais voltaria lá. E eu não posso ser a pessoa mais exemplar do mundo, mas quando faço uma promessa, eu cumpro.- digo. Enfatizando que seja lá a decisão que ele tomar, não vou desistir de tentar ajudar Naruto e deixar Hanabi em paz. Mesmo que eu seja dada como louca, e fique internada aqui para sempre, será melhor que ver Naruto ser acusado de algo que não fez.

- Muito bem. Eu vou ajudar você a provar a inocência de Naruto. Não só porque ele foi a pessoa que te ajudou, mas porque é sobrinho de Kurenai e eles são de uma boa família.- ele fala e eu sorri.

- Você está saindo com Kurenai?-perguntei, sem conseguir me conter.

- Nós estamos namorando.- Ele diz sorrindo.

- O QUE?! - grito surpresa.- Aquela traidora não me disse nada!

- Eu pedi para ela não contar.- ele disse sorrindo.- Eu queria fazer essa surpresa.

- Bom... Deu certo!- disse sorrindo e me sentando na cama.

Já faz uma semana que estou internada aqui. Fico mais no meu quarto, em vez de fazer as atividades recreativas com os outros pacientes. E às vezes converso com uma senhora chamada Chiyo , que antes de entrar um uma depressão profunda, era contadora de histórias. Ela me conta histórias e conversa comigo de forma vaga. Mas gosto dela. Às, vezes, vovó Chiyo tinha crises de histeria, e precisava ser acalmada com calmantes de dosagem mais fortes. Ela ficava muito fraca e eu ficava no quarto, velando por ela. A família a tinha abandonado no hospital psiquiátrico. Não tenho nada que reclamar desse hospital psiquiátrico, é muito limpo, seguro, e as pessoas são tratadas com toda a dignidade e respeito que ainda lhe restam. 

Mas não é um lugar que você queira passar o resto de sua vida. É um lugar triste, apesar de todos os esforços que os médicos e enfermeiros fazem para fazer os pacientes sorrirem.

Prometi à vovó Chiyo que, assim que me formasse na faculdade, se ela ainda estivesse aqui, voltaria para buscá-la. Levaria para morar em meu apartamento. E ela contaria histórias até a hora de nós dormirmos.

Pedi Asuma para me deixar ver vovó Chiyo, pois fazia dois dias que não a via, desde o último de seus ataques de histeria.

Ele me levou até seu quarto onde ela dormia tranquilamente. Fiquei com ela por um tempo, mas depois de perceber que ela não iria acordar, decidi voltar para o meu quarto.

- Hinata! - Asuma me chamou quando fazia o caminho até meu quarto.

- Pois não?

- Você tem visita.

- Pode mandar ir para o meu quarto?- perguntei.

- Claro!- ele disse e se foi.

Quando entrei no meu quarto, olhei-me no espelho para ver se estava apresentável, e me surpreendi ao ver que estava, tirando as roupas brancas, é claro. Estava me perguntando quem seria meu visitante. Papai, Kurenai, Sakura ou...

- Neji?- perguntei de olhos arregalados. A muito tempo não o vejo. Ele estava diferente. Mais bonito, alto, os cabelos mais longos, e mais sensual no estilo bad boy. Usava um terno três peças preto o que o deixava ainda mais sexy.

- Hinata!- ele disse e veio andando em minha direção lentamente. Não sei o motivo, mas meu coração disparou e eu fiquei nervosa.

- O que... O que você está fazendo aqui...? - perguntei e antes que me desse conta, ele estava me abraçando. Senti meu rosto esquentar, como acontecia quando eu era mais nova e ele fazia isso.- O que...?

- Shhh...- ele disse colocando um dedo em meus lábios, como um bom sedutor. Depois me beijou. Em outra época, eu teria ficado caidinha por ele. Mas agora, só tinha espaço para Naruto.

- O que você pensa que está fazendo?- pergunto me afastando dele.

- Calma Hinata! Só estou relembrando os velhos tempos...- ele diz colocando uma mecha de meus cabelos atrás da orelha. 

Neji Hyuuga é meu primo e minha primeira obsessão. Lindo, charmoso, sedutor, educado e conquistador. Nós sempre fomos unidos quando criança, o que me fez ser obcecada por ele, quando cheguei na adolescência. Tudo que fazia era tentando chamar a atenção dele para como eu já não era mais uma garotinha. E funcionou algumas vezes, mas Neji se mudou e nós acabamos nos afastando. Ficávamos escondidos, pois somos primos e tínhamos medo de como nossos pais iriam encarar essa intimidade entre nós.

- Me economize desse seu charme.- disse revirando os olhos e sorrindo.- Vai me dizer porque está aqui ou não?

- Você continua mandona, como sempre.- ele disse e me olhou da cabeça aos pés e mordeu o lábio inferior. Qualquer outra garota teria molhado a calcinha só de ver essa cena, mas como eu disse, Neji não me afeta mais.- E continua linda! Porra, Hinata, você está muito gostosa!

- Devo sentir-me lisonjeada?- perguntei ironicamente.

- Só se você quiser...- ele diz e me puxa pela cintura colando nossos corpos.

- Para com isso Neji, que droga! Me diz logo o que veio fazer aqui.

- Eu vim ver você. Apesar de tudo, Hina, nós somos primos. Somos uma família.- ele diz. Neji pode ser um conquistador, mas não é mentiroso. Dou um sorriso e o abraço. Não o vejo desde o enterro de Hanabi, antes do meu mundo se desmoronar.

- Estou feliz em vê-lo. Pena que só precise acontecer tragédias para nos vermos.- disse e ele sorriu.

- O que aconteceu Hinata? Eu realmente não consigo acreditar na história que sua mãe contou, e sinceramente, tio Hizashi também parece não acreditar.- Neji diz. O convido a sentar em minha cama, e conto tudo o que aconteceu. Neji, eu e Hanabi sempre contamos tudo um para o outro. Ele era o mais próximo de um amigo que minha irmã teve. As mesmas angústias que dividia comigo dividia com ele. E Neji nunca nos traiu. Durante muito tempo cheguei a pensar que nós fôssemos um triângulo amoroso, mas, mais tarde, percebi que estava errada.

- Então você me trocou por esse tal de Naruto...- Neji diz sorrindo.

- Ah! Dá um tempo. Você sabe que eu nunca fui apaixonada por você.- digo dando uma cotovelada nele.- Obcecada, mas não apaixonada.

- Revelações! Devo pegar minha câmera? 

- Não enche!- disse sorrindo.

- Mas, Hinata você bem que podia abrir uma pequena exceção para mim, para fazermos um sexo selvagem. Meu Deus você está muito gata!- não acredito que mesmo nesta situação Neji continua com suas gracinhas. Mas só ele consegue me fazer rir. Naruto também, mas ele não está aqui, e talvez ele nunca queira me ver novamente.

- Me respeita, Neji! Quando eu queria você, você não me quis. Agora já era!- digo e ele coloca uma mão no peito de forma dramática.

- Essa doeu Hina! Sério, você feriu meus sentimentos.

- Para de graça! Preciso que me faça um favor, em nome dos velhos tempos...- digo e ele fica sério.

- Se você está pedindo um favor, é grave. Hinata Hyuuga nunca pede favores.- ele diz. Eu dou um sorriso fraco. Temo não ser a mesma Hinata de antes.- O que posso fazer por você? - ele pergunta e eu me ajoelho na frente dele para pegar meu bloco de anotações que guardo de baixo da cama.- Vai me fazer um boquete?

- Talvez mais tarde.- respondo tentando alcançar o pequeno bloquinho. Sabendo que Neji estava olhando meu traseiro. 

- Sério?- ele pergunta todo animadinho.

- Certamente que não.- digo balançando o bloco na frente do seu rosto.

- O que é isso?

- Um endereço. Pedi meu pai que procurasse por ela mas ele não encontrou, ela deve ter mudado de endereço e trocado o telefone.- disse e quando Neji abriu a bloco, seus olhos se arregalaram antes de me olharem furiosos.

- Por que você está procurando por ela?- ele me pergunta furioso.- Não sei se você se lembra,mas ela traiu sua irmã!

- Eu sei... Sei que não devia pedir ajuda dela, mas tudo que Hanabi queria era ser livre. E se ela contar a verdade, todos vão saber que a morte dela não foi um acidente.

- Acha que é a coisa certa a se fazer? Quero dizer, se expôr isso, sua mãe estará acabada.- Neji diz.

- Acha mesmo que eu me importo com ela, depois de tudo que ela fez? Com Hanabi, comigo, com meu pai... Com Naruto? Se eu não a parar, ela vai continuar prejudicando as pessoas que não fizerem suas vontades.

- Tudo bem. Eu vou tentar entrar em contato. Quando é a audiência?- ele pergunta.

- Semana que vem.- respondo. Já tenho tudo que preciso, organizado, mas essa pessoa será essencial.

- Ok. Vou procurar, e fazer o possível para convencê-la. Afinal também quero que Hanabi descanse.- Neji diz e se levanta. Eu o acompanho até a porta.

- Obrigado! Por ter vindo...e por me ajudar. Sério, está sendo muito importante.- digo e o abraço.

- Você sabe que pode contar comigo.- ele diz e se afasta, seu rosto ficando apenas alguns centímetros do meu. Uma mão vai para a parede e a outra para meu rosto. Neji me beija, sabendo que esse será nosso último beijo, e eu permito.

- Esse tal Naruto é um cara de sorte.- ele diz ao se afastar de mim.

- Não, eu é que sou uma garota de sorte.

- Eu vou voltar para cobrar o nosso sexo selvagem.- ele diz e eu reviro os olhos.

- Vai sonhando.

- Se cuida, Hina.- Neji Duz e me dá um beijo na testa.

- Pode deixar.- digo. Ele vira as costas para mim e vai andando com toda sua elegância no seu terno caro.

Sorri comigo mesma. E torci para que tudo desse certo. E torci para que Naruto me perdoasse quando todo esse turbilhão virasse uma calmaria.