História Consequences - A garota e o garoto quebrados

Violet Tate

Chego na gravadora após o almoço e volto imediatamente para o trabalho. Essa época do ano é sempre mais trabalhosa e precisa de minha total atenção, pois é a época perfeita para lançar novos cantores, bandas e especialmente CD's. Eu e Alexis já resolvemos a maiorias dos contratos em um dia inteiro — o que foi muito exaustivo — porém acabou sobrando uns que precisavam da minha assinatura, como representante e administradora da gravadora.

Subo até meu escritório pelo elevador; cumprimento as pessoas que encontro no local com um sorriso. Um deles era o novo contratado, que estava gravando uma música nessa semana. E ele era extremamente deslumbrante. Ficamos trocando olhares e sorrisos maliciosos até chegarmos em meu andar. Eu conseguiria facilmente tê-lo, se não fosse por Alexis, que não permite relacionamentos — nem simples transas — entre funcionários e contratados.

Falado em Alexis, ela estava esquisita nos últimos dias, mesmo com a presença de Cameron diariamente ao seu lado. E eu sabia exatamente o porquê. Hoje, caso se seus pais estivessem vivos, eles estariam comemorando vinte anos de casados. E esse tipo de data mexia fortemente com ela.

— Oi, Violet. — Madison assusta-me no meio do corredor, com um enorme sorriso nos lábios. — Já pensou na minha ideia?

— Aquela ideia louca de que a Alexis irá se apaixonar pelo Cameron? — Rio sarcástica — Alexis não irá se apaixonar por ele, Madison. Supere!

— Então aposte comigo, Violet! — Insiste — Essa é a minha única chance de ver a minha melhor amiga contente novamente. Amando alguém! E eu não irei desistir facilmente! São apenas cinquenta dólares, por favor!

— Está bem! Apostado! — Reviro os olhos e Madison sorri abertamente, batendo palminhas. — Agora saia da minha frente, tenho que resolver papeladas. E você, vá terminar de gravar o seu CD.

— Opa, chefinha, já estou indo... — Diz e volta a andar em direção contrária da minha. — Espero que goste da sua surpresa... — Cantarola no final do corredor.

Arqueio uma sobrancelha sem entender e entro em meu escritório, dando de cara com Hayes com um buquê de flores.

Reviro os olhos e ando até minha cadeira, sentando-me.

— O que está fazendo aqui, Grier? — Pergunto, enquanto ele deixa as rosas vermelhas em minha mesa e sentando em minha frente.

— Adoçando a minha fera.

— Sabe que eu não quero um relacionamento, Hayes. Sendo que eu tenho quase vinte e três anos e você tem dezenove!

— Quem disse que eu quero um relacionamento? — Pergunta com um sorriso malicioso. — Posso ter apenas dezenove anos, mas sei muito bem como lhe fazer gritar de prazer e te enlouquecer. Prove o contrário.

— Está tentando transar comigo aqui no meu escritório? — Pergunto, mordendo os lábios.

— Depende... Estou conseguindo? — Questiona chegando mais perto de meu rosto.

— Talvez... — Retribuo o sorriso malicioso.

Talvez eu tenha que deixar as papeladas para mais tarde...​

Alexis Lahey

Desde que eu abri os meus olhos eu senti que hoje seria um dos piores dias da minha vida. Hoje se meus pais estavissem vivos, estariam completando vinte anos de casados. É uma data tão boba, mas mexe tanto comigo. Deixa-me vulnerável e fraca. Doía tanto.

Violet e Mad tentaram me animar de várias maneiras possíveis, porém eu só queria saber de chorar e chorar até não poder mais. Mary também fez de tudo, até bolo de chocolate ela fez, mas nada ajudou. Fiquei trancada o dia inteiro no meu quarto sem se levantar da cama. Minha cara deveria estar devastadora e assustadora. Meu nariz já estava entupido de tanto eu chorar. Meu travesseiro estava encharcado. E meu coração doía. Doía muito.

Era isso que o amor fazia comigo. Deixava-me fraca. Eu não sentia nada bom vindo do amor, apenas dor, sofrimento e saudade. O amor definitivamente machuca

Chamei Cameron, imaginando que ele me aconchegaria em seus braços e eu poderia me sentir um pouco melhor. E quando ele chegou, foi a única vez que levantei da cama nesse horrível dia. Corri até a porta e abri-a, jogando-me em seus braços. E ele abraçou-me fortemente, como se fosse a última coisa que faria na vida. Me senti segura em seus braços. Coloco minha cabeça na curvatura de seu pescoço, deixando algumas lágrimas descerem por sua nuca.

Ele deitou-me em minha cama, com minha cabeça em seu colo, e insistiu para que eu contasse o porquê. Mas era tão difícil. Eu tinha medo dele me achar uma louca e abandonar-me. Ou julgar-me.

— Eu praticamente matei os meus pais, Cameron. — Sussurro.

— O que você fez? — Pergunta no mesmo tom que eu.

— Eu comprei duas passagens para eles comemorarem o aniversário deles, que era no mesmo dia. — Falo, fungando meu nariz. — Duas passagens para Paris. Eles sempre quiseram ir para lá, mas nunca tiveram tempo suficiente. Não podiam largar as gravadoras. Aí eles foram. Mas quando eu comprei as passagens, vi a previsão do tempo antes, aconselharam-me fazer isso. E dizia que nesse dia haveria possível chances de chuva forte, e mesmo assim eu comprei aquelas malditas passagens. Eles foram naquela maldita viagem e aquela merda de avião perdeu o controle e não conseguiu fazer o pouso de emergência e caiu. Ele simplesmente caiu. Eu matei eles, Cameron! Eu matei os meus pais! — Digo calmamente cada palavra, enquanto mais e mais lágrimas caiam pelo meu rosto.

A expressão de Cameron não se alterou em nenhum momento. Mas seu corpo tenso denunciava que estava intrigado com minhas palavras. Normalmente eu não perceberia isso. Mas eu estava tão sentimental e vulnerável que as barreiras em minha mente estavam em ruínas. E no meu estado, eu sentia tudo. Sentia como ele estava após minhas palavras. Sentia a sua preocupação sobre mim. Sentia a sua tristeza.

— Há sete anos atrás, eu comecei a trabalhar no meu primeiro emprego. — Diz depois de alguns minutos apenas encarando-me. — Eu e minha irmã queríamos dar um presente para nossa mãe, por tudo o que ela havia feito por nós dois. Sempre foi apenas nós três. Minha mãe movia o céu e o mundo para nos ver contentes. Nos dava de tudo. Trabalhava pesado para manter-nos. Ela merecia cada centavo que eu e Sierra juntamos. E o seu sonho era ir para Paris. Passamos meses guardando dinheiro e resolvendo os assuntos chatos para que ela fosse. E ela foi. Ela entrou naquele avião e esse mesmo avião perdeu o controle e caiu. Ele simplesmente caiu. — Olhou-me com lágrimas os olhos. — Se você matou os seus pais, eu e minha irmã matamos a nossa mãe, Alexis. — Fala quase num sussurro, segurando as lágrimas. Pude perceber que ele também estava tão quebrado quanto eu, talvez, até mais do que eu. — Minha mãe era tudo para mim. E quando ela morreu, eu me senti devastado. Quebrado. Fraco. Inconsciente de meu próprio corpo. Como se uma parte minha, tivesse sido arrancada brutalmente de mim. Eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia ficar em pé. Não conseguia sair de casa ou apenas sair de meu próprio quarto, Alexis. — Diz em meio de soluços e lágrimas que saiam de seus olhos. 

Sem pensar duas vezes, jogo-me em seus braços novamente, abraçando-o forte. Agora eram as suas lágrimas que molhavam meus ombros. E era eu que segurava-o do abismo. 

— Elizabeth, a mãe de Nash e Hayes sempre me falava uma coisa quando eu estava mal e ia para a casa deles. Uma coisa que sempre me ajudou a se sentir melhor. "Há muito tempo atrás, a vida e a morte se apaixonaram. Mas eles não podiam ficar juntos. Desde então a vida envia incontáveis presentes para a morte. E ela os guarda para sempre. Ela está em um lugar melhor. Esse mundo é muito cruel para pessoas boas. E ela estará aqui, ao seu lado em cada passo seu." — Fala contra meu pescoço, ainda chorando. — A culpa não foi sua, Alexis. Deus escolhe quem tem que ir e quem tem que ficar. Você não pode passar o resto da sua vida se culpando ou apegada ao passado. Porque não importa o quão forte você segure, ele já se foi. Eu não posso prometer que vai ficar tudo bem, que um dia você irá superar, mas eu estou aqui. Sempre estarei. Porque agora eu encontrei alguém que me entende. Que sabe exatamente como eu me sinto. A dor que eu sinto. A solidão. A saudade. A dor bem no meio do peito. A ferida que deixou a maior cicatriz da minha vida. E quando você estiver perdida, eu irei te achar. Eu serei a sua luz. Assim como você pode ser a minha. Eu prometo com todas as minhas forças que irei sempre te proteger e estar do seu lado. Porque você merece toda a felicidade desse mundo cruel. — Cameron fala lentamente cada frase. Cada palavra. Segurando meu rosto e olhando dentro de meus olhos.

Uma vez na minha vida eu havia encontrado uma pessoa que me entendia cem por cento. Que entendia cada pedacinho do que eu sentia. E eu tenho certeza que a partir desse dia, estaremos ligados por essa promessa de estar um do lado do outro sempre.

Não consigo falar nada, apenas jogo-me no colo de Cam novamente; abraço-o e agarro seu pescoço, colocando meu rosto na curva de seu pescoço. Dallas responde o abraço na mesma intensidade, respirando lentamente.

— Estou tão quebrada há tanto tempo, que nem sei se conseguirei me reconstruir novamente. — Falo, derramando mais lágrimas em seu ombro.

— Eu sei. Eu estou tão quebrado quanto você. Sinto isso também. Mas agora seremos a luz no final do túnel um do outro. Melhores amigos. — Responde, abraçando-me, fazendo carinho em meus fios de cabelo enquanto fechava seus olhos com força, tentando proibir que as lágrimas caíssem. — Somos a garota e o garoto quebrados. Não sabemos e não queremos saber mais o que é amor. Mas precisamos ser fortes. Nem que seja um pelo outro e pela nossa maldita ligação por aquele trágico acidente. Estarei aqui ao seu lado para tudo que precisar. Independente de tudo. É uma promessa.​

"O garoto quebrado conhece a garota quebrada, você diz que já tentou de tudo antes e isso só fez piorar... Oh, mas dessa vez, talvez dessa vez, dois errados façam isso dar certo."

Continua…