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História Consequências - Capitulo Três


Escrita por: Lana_Mills

Capítulo 3 - Capitulo Três


    — Encare isso como um serviço público.

Regina pousou o uísque sobre um guardanapo limpo e, lutando com todas as forças contra o sorriso que ameaçava lhe curvar os lábios, escorregou-o na direção de Emma – a cliente que estava tornando sua última noite naquele bar memorável.

— Permitir que me leve embora daqui? Muito bem, estou ouvindo.

— Vai mesmo me obrigar a dizer isso? – Emma perguntou, com um olhar que implorava para que a morena a forçasse a dizer.

Regina podia lhe dar as costas e se afastar. Nunca saía com clientes ou permitia sequer aquele tipo de interação. Mas havia algo naquela mulher. Alguma coisa que a impedia de dispensá-la da mesma forma que fazia com qualquer outro ser que cruzasse seu caminho.

Até mesmo naquele instante, podia sentir os lábios quase se contraindo em um sorriso traidor. E Emma estava percebendo. A observava, com uma das sobrancelhas erguidas. E, em seguida, os olhos observadores se encontravam cravados nos dela.

— Quase a convenci. Sim, foi por pouco.

— Está bem, desisto. Em que sentido o fato de sair com você deste bar pode ser considerado um serviço público?

A satisfação iluminou o sorriso de Emma.

— Para o meu ego. – Quando Regina cruzou os braços, ela prosseguiu: – Você o viu. É absurdo. Sinceramente, o tamanho é quase uma anomalia. – Aquilo não estava indo muito bem. Regina franziu a testa, desejando mais, porém incapaz de perguntar por medo de explodir em uma gargalhada.

— Se você abater esse monstro… não serei capaz de arrastá-lo daqui para fora.

— É tão grande assim?

— Como se precisasse perguntar. – Aquela loira significava encrenca. E era exatamente o tipo de diversão que Regina merecia em sua última noite em Las Vegas. Desde que não passasse de um flerte suave.

— Estou lhe dizendo, ele irá se debater pelo chão e se tornará um fardo quando eu tentar recolhê-lo.

— Uau! Quase como uma outra pessoa.

Emma assentiu.

— Eu o chamo de Killian.

— Um ego chamado Killian. – Agora ela ouvira tudo… e, de alguma forma, queria mais. Emma deixou escapar uma breve risada e passou o dedo indicador acima dos lábios vermelhos, cobrindo sua boca ligeiramente, como se quisesse apagar o sorriso dos lábios, antes de continuar.

— E aí é que reside o problema. Esse ego vai precisar receber muita massagem para se recuperar de sua rejeição. – Os olhos castanhos começaram a se estreitar, mas Swan a impediu de falar.

— Será necessário paquerar todas as mulheres que cruzarem meu caminho. O que me forçará a ligar o charme. Com força total…

— Como uma mangueira de incêndio? – perguntou ela, se arrependendo logo em seguida, mas… bem… foi incapaz de se conter.

Os lábios de Emma se encontravam entreabertos, prontos para prosseguir com aquele discurso ridículo, quando ela congelou. A loira encarou-a com um olhar estreitado que irradiava divertimento e advertência.

— Exatamente como uma mangueira de incêndio.

Mas, apesar da forma como Emma a envolvia naquela conversa, havia algo na loira que a fazia parecer segura. O que quer que fosse, isso estava tentando Regina a brincar com fogo.

— Então, depois de encharcar essas mulheres com a enorme mangueira de incêndio, o que acontece?

— Uma devastação total. Mulheres chorando por todos os cantos. Corações partidos espalhados pelas ruas. Todas se apaixonarão por mim, mas tudo em que estou interessada é um encontro. Nada sério. Apenas divertimento.

Ahh! A história se voltara outra vez para Regina e, de repente, o contato visual parecia demais para que a morena pudesse suportar.

— E isso acontece todas as vezes que uma mulher a rejeita?

Emma deu de ombros, esticando a mão para o uísque.

— Não posso saber. Ainda não aconteceu. Sinceramente, que tipo de mulher se arriscaria a ter essa carnificina emocional na consciência?

Regina a mediu de cima a baixo, detendo-se mais aos detalhes. A massa espessa de cabelos loiros que parecia descer em cascatas sobre suas costas estava em total desacordo com o corte clássico do terno que ela usava.

Mas, se os cabelos e o terno formavam uma contradição, aquilo não era nada comparado ao rosto daquela mulher. O verde intenso dos olhos e os dentes minimamente tortos. O sorriso lascivo e a pele de um tom suave de neve. Apenas aquela aparência seria suficiente para deixar as mulheres curiosas. Mas, quando se acrescentava a isso o charme e a confiança que dela emanavam, não era de admirar que as mulheres se mostrassem dispostas a entrar no jogo de Emma por quanto tempo ela permitisse.

Sim, aquela loira era definitivamente mais perigosa do que Regina pensara.

Estava na hora de esclarecer as coisas.

— Ouça, Emma. Estou lisonjeada, mas não saio com clientes. Nunca.

— Foi o que percebi desde que cheguei aqui. Gosto disso.

Humm! Aquilo era o tipo de coisa com que Regina estava familiarizada.

— Porque isso me torna um desafio?

— Sim – respondeu ela, com um sorriso impenitente e uma insinuação de malícia no olhar.

Está bem. Não estava tão familiarizada com aquele tipo de coisa, afinal.

— Uau! É honesta também.

— É a melhor política. Elimina o risco para todos os tipos de problema. Garante que todos estejam na mesma sintonia. Mas voltemos à presente questão… sou uma companhia divertida. Iria passar bons momentos. Deve haver algum lugar nesta cidade que sempre quis conhecer, mas nunca teve oportunidade. Diga-me qual é e a levarei lá esta noite.

Regina estava prestes a dispensá-la, mas, enquanto se encontrava parada lá, observando aquele sorriso tentador, quase brincalhão, tudo em que conseguiu pensar foi nas coisas que dissera a si mesma que faria e nunca conseguira. E há quanto tempo não se divertia para valer.

Seu tempo em Las Vegas acabara. Estava partindo no dia seguinte.

Emma estava lhe oferecendo a chance de… Deus! Estava seriamente considerando aquela possibilidade?

Nunca dissera “sim”. Nunca cedera e fizera coisas divertidas apenas por prazer. Talvez naquela noite, após viver de modo tão regrado por tanto tempo, fosse capaz de quebrar todas as regras, sem se preocupar com o dia seguinte.

— Vou pensar no assunto.

 

◊◊◊◊◊

 

Minutos mais tarde, Emma trocava um abraço cordial com Killian Jones. O telefonema fora um sucesso, como tudo que o amigo se empenhava em fazer. A única exceção fora o término de seu noivado, duas semanas antes, em relação ao qual Killian não havia esboçado nenhuma reação. Aquela era a razão da tão necessária intervenção de sua parte.

Emma passara pelo mesmo problema. Sabia qual a sensação de descobrir, de uma hora para outra, que o romance perfeito em que estava prestes a apostar o próprio futuro… não era tão perfeito, afinal.

Não, eu não te amo. Não tem nada a ver com ele. Ou com você. E sim com o fato de eu me sentir presa e estar desesperada para escapar. Sinto muito.”

Sim, era uma sensação horrível. Portanto, os dois haviam percorrido o circuito dos jogos na noite anterior, ido a alguns clubes e confraternizado como nos velhos tempos, garantindo, assim, que o fim de semana para o qual atraíra Killian não se tornasse um total fracasso. Mas a parte da diversão havia chegado ao fim e, como os dois eram amigos de longa dada, Emma não fez rodeios. Empurrando o uísque que pedira na direção de Killian, ela gesticulou com o queixo na direção da bebida.

— Acho melhor começar com esse.

Killian a brindou com o meio sorriso que nunca se expandia.

— Estamos um pouco velhos para jogos que envolvem bebidas, certo?

— Está na hora de evocar seu lado feminino, camarada. Eu o trouxe aqui para conversarmos sobre sentimentos. Sentimentos profundos. E como sabe que sou sua melhor amiga e estou sempre certa, você vai ficar sentado aqui e enfrentar isso como o homem corajoso que sei que pode ser.

O meio sorriso se evaporou do rosto de Killian.

— Emma, eu já lhe disse…

— Nem se dê ao trabalho de continuar. Não mudarei de ideia. Mas, pelo fato de respeitar os limites do bloqueio de sua intimidade emocional, depois de dizer o que penso, jogaremos conversa fora para voltarmos à zona de conforto e então o deixarei sozinho. Provavelmente, levando comigo aquela morena fenomenal que, por acaso, é a garçonete que está nos servindo. Combinado?

Killian ergueu o copo que lhe fora oferecido e tomou um gole confortador. Em seguida, inclinando a cabeça para o lado, se recostou para trás na cadeira e fechou os olhos.

— Muito bem. Vamos conversar. Mas seja breve.

Emma se surpreendeu com Regina a observando do bar. Leves rugas lhe vincavam a pele perfeita da testa. Após brindá-la com uma piscadela, a empresária cruzou os braços e voltou a se concentrar em Killian.

— Seu desejo é uma ordem. Portanto, deixe-me impor o tom dessa conversa… Eu te amo, cara…

Após uma dúzia de velhos provérbios, lugares-comuns, metáforas adequadas e uma seleção de pensamentos contidos em biscoitos da sorte, a tarefa de Emma chegou ao fim. Havia coisas que precisava fazer o amigo escutar e outras que ele necessitava escutar.

Acabou por concluir que Killian não estava tão mal, afinal. Ao menos não da forma que imaginara.

Porém, no que dizia respeito às questões de intimidade, a expressão “bloqueado emocionalmente” seria um eufemismo para descrever o amigo. Mas aquele era um aspecto a ser explorado em outra viagem. Killian a havia dispensado minutos atrás e, no momento, ela se encontrava recostada ao balcão do bar, observando Regina morder o lábio inferior.

Não, a morena não era a mulher fria e inalcançável que parecia ser.

— E quanto ao seu amigo? Ele parecia muito aborrecido durante a conversa que tiveram.

Constrangido, sim. Aborrecido, provavelmente não.

— Ao que parece, o coração partido estava mais para um ego ferido.

— Vocês e seus egos. Ele também batizou o dele?

Emma gesticulou para que ela se aproximasse.

— Não costumamos contar o nome de nossos egos um para o outro.

Dessa vez, quando a loira percebeu um dos cantos daqueles lábios tentadores prestes a se curvar, agiu por impulso e roçou o polegar naquele ponto vulnerável que ameaçava agraciá-la com aquilo que ela estava se esforçando para conseguir.

Ao simples toque, os lábios de Regina se entreabriram em um suave ofego e os olhares das duas se encontraram.

— Não vou para o seu quarto – afirmou a garçonete em tom calmo, porém firme.

Emma não resistiu e acariciou também a cicatriz intrigante no lábio superior da morena e, em seguida, recuou a mão, enfiando-a com força no bolso da calça.

— E então, quando podemos sair daqui?

Regina lhe procurou o rosto como se buscasse uma razão para dizer “não” e, por um terrível instante, quando a morena baixou a cabeça e desviou o olhar, Emma pensou que a havia perdido. Mas, logo em seguida, Regina começou a retirar o avental. E, quando voltou a encará-la, o fez com confiança, clareza e determinação. Excitação.

— Assim que eu me livrar deste uniforme.

 

◊◊◊◊◊

 

— Pode-se dizer que a fiz flutuar? – gritou Emma. As linhas que lhe enrugavam os olhos se aprofundavam pela expressão alegre e o riso, que prometia um furacão de prazer, se alargando.

— Estou literalmente voando! – ofegou a morena, em meio à risada encorpada que se permitiu.

A brisa da noite fustigava os cabelos de Regina, à medida que ela escorregava na direção da Freemont Street, apertando com força o cinto de segurança e imaginando se aquele tsunami de alegria tinha mais a ver com a tirolesa ou com a loira a alguns centímetros de distância.

Ainda trajada com o terno e balançada no estilo 007, com o cinto de segurança, o vento e tudo mais, Emma inclinou a cabeça na direção dela.

— Sua vez de escolher a próxima aventura, linda. Estou querendo conhecer mais atrações locais. Algo interessante.

As duas estavam se divertindo há horas. Haviam começado com um jantar frugal em um dos pontos mais badalados e bem frequentados da cidade. Um telefonema de Emma, vinte minutos antes de chegarem, lhes garantira uma mesa, com tratamento VIP e uma vista de tirar o fôlego. Fora Regina a escolher o restaurante. O sorriso presunçoso de Emma e a afirmativa de que poderia levá-la a qualquer lugar que ela desejasse se tornaram um desafio irresistível e tornaram atraente aquela sugestão.

E, ao que parecia, a loira tinha outras virtudes, além da lábia.

A despeito do ambiente luxuoso, o jantar transcorrera informal e tranquilo. A conversa, variada e agradável. Emma era um dessas pessoas que parecia saber um pouco de tudo, não importava se o tema fosse cinema, a lista de destinos de viagem de Regina ou economia local. Emma escutava tanto quanto falava. E, quando terminaram de tomar o café, Regina parou de se perguntar se ter aceitado sair com a loira havia sido um erro. Em vez disso, se encontrava ansiosa por descobrir aonde iriam a seguir.

De lá, se encaminharam para uma montanha-russa. Em seguida, pararam para que Emma comprasse um petisco na barraca de tacos favorita de Regina e partiram de carro para o Neon Museum, onde antigos letreiros de cassinos eram exibidos. Depois, pararam para observar as fontes coreografadas e, em seguida, foram conhecer a galeria de belas artes do cassino e hotel.

Ao longo do caminho, Emma parecia fazer amizades instantâneas. Informava-se do resultado dos grandes jogos com os camareiros, trocava palavras gentis com as senhoras, enquanto segurava as portas para que elas passassem. Possuía uma afabilidade que costumava acionar alarmes vermelhos no cérebro de Regina, mas por algum motivo, com Emma, nenhuma de suas autodefesas ou reações de fábrica pareciam estar funcionando. Na verdade, ela se descobriu envolvida pela loira de uma forma que raramente se permitia.

E a risada que Emma se esforçara tanto para conseguir… bem, no instante em que deixaram o cassino, Regina abandonara a resistência e, desde então, lhe fazia a vontade. Ria das histórias ultrajantes que a empresária contava, de si mesma, de uma última noite na Cidade do Pecado que Regina jamais esperara ter. E que duvidava que algum dia esquecesse. Porque não estava apenas experimentando um lado de Vegas que antes lhe era inalcançável. Graças à curiosidade de Emma sobre seus gostos, estava tendo a última oportunidade de desfrutar de suas diversões favoritas, apresentando-as a loira e explicando por que estavam no topo de sua lista.

Era um jogo do tipo “conhecendo você”. Um que Regina jamais teria jogado, se não estivesse de partida. Mas havia uma sensação de segurança em saber que se tratava de uma noite só. Nenhum risco de criar expectativas.

Regina conhecia as regras. Aquilo se resumia a algumas horas de divertimento. Era seguro.

Ao menos era esse seu pensamento até a tirolesa chegar ao fim e seus pés tocarem o chão. Emma se aproximou, lhe segurou a mão e a puxou gentilmente contra o corpo em um contato que poderia ser interpretado como nada além de casual. Porém, o calor que emanava daquela mulher forte, e o hálito quente que fustigou os cabelos atrás da orelha de Regina, quando a loira perguntou, naquele tom baixo e rouco, se ela estava se divertindo, fizeram o casual lhe parecer íntimo como nunca.

Inclinando a cabeça para encará-la, Regina assentiu, engolindo em seco a reação silenciosa à qual não estava acostumada. Um tipo estranho de tensão em seu baixo ventre a fez ter a sensação de estar voando e despencando ao mesmo tempo. Os olhos de Emma procuraram os dela, antes de vagarem mais para baixo, lentamente. A mente de Regina voltou ao momento em que a loira lhe tocara a boca, ainda no bar, e às próprias palavras…

Não vou para o seu quarto…

E ela se questionou se ainda pensava da mesma forma.

— Vamos procurar um lugar para tomar um drinque e descobrir a próxima atração que está planejando – disse Emma, dando um passo atrás e soltando-a. O movimento foi tão inesperado que Regina quase cambaleou quando se viu privada daquele contato.

Por um instante, tivera certeza de que a mulher de terno a beijaria. Até mesmo agora, enquanto Emma olhava ao redor, à procura da próxima parada, não conseguia acreditar que não sentira a pressão daqueles lábios sensuais contra os dela. Pior, não acreditava que desejara senti-los. Que tipo de loucura a teria acometido?

A mão da loira se espalmou na base da espinha de Regina.

— Qual é o melhor bar em um raio de três quarteirões?

O contato leve lhe provocou uma agradável sensação, mesmo que, por um momento de insanidade, tivesse desejado ainda mais que aquilo. Aquele era um encontro de qualidade e Regina não tinha nenhuma intenção de estragá-lo. Mas quanto a um bar…

— Que tal tomarmos um sorvete? Há uma sorveteria logo ali à frente. – E, diante do olhar especulativo de Emma, ela respondeu à pergunta não verbalizada:

— É um terreno seguro.

— Não confia em mim? – Não havia nenhum tom ajuizado na voz de Emma. – Ou, já que você trabalha servindo drinques, devo pensar que não confia em si mesma quando bebe?

Regina soltou uma risada, liderando o caminho pela calçada.

— A única pessoa em quem confio é em mim, portanto não leve para o lado pessoal. Gosto de me manter sóbria, porque não quero descobrir da pior forma possível em quem posso ou não confiar.

O sorriso fácil que Emma exibira durante toda a noite se evaporou e algo obscuro e protetor se refletiu em seus olhos.

— Não me olhe desse jeito – advertiu Regina, com um movimento negativo de cabeça. – Não há nenhuma história macabra por trás desse comentário. Ao menos, não minha. Mas aqui em Las Vegas, como provavelmente em qualquer outra cidade, é comum ouvir casos. E eu presto atenção. Sou muito… prática. Sempre fui.

A expressão de Emma se tornou mais suave.

— Então, tem aversão a correr riscos.

— Alguns diriam que isso é um defeito meu.

— Mas você não pensa assim?

— Não. Se achasse que estava fazendo algo errado, vivendo de uma forma que não me satisfizesse ou me deixasse com a sensação de que estava perdendo alguma coisa… mudaria meu modo de vida. Como disse, sou ótima em cuidar de mim mesma. Sou minha prioridade número um. Portanto, não sou do tipo que fica sentada, esperando que alguém identifique meus problemas ou os resolva para mim.

— Então, é uma mulher de ação, com aversão a riscos e que dirige o próprio destino.

Os cantos dos lábios de Regina se ergueram diante da maneira sucinta com que Emma a categorizara. Regina fora chamada de várias coisas, por várias pessoas que não conseguiram o que queriam com ela. Fria, difícil, frígida. Nomes que sugeriam que aquela indiferença se originava de alguma deficiência de sua parte, em vez da simples falta de interesse em dar abertura a paqueras em seu ambiente de trabalho.

Regina a olhou de soslaio. Emma era exatamente isso. Uma pessoa que a paquerara enquanto ela estava trabalhando. Mas, ainda assim, algo na loira lhe parecia totalmente diferente. O suficiente para fazer uma pequena parte de si imaginar se não a teria acompanhado mesmo que não estivesse partindo, embora insistisse em repetir para si mesma que só aceitara sair com Emma por ser aquela sua última noite em Las Vegas.

Não. Regina colocou tal pensamento para escanteio, fazendo uma careta de aversão em seu íntimo diante do pensamento de ter feito algo que ia de encontro aos seus princípios, após ter acabado de se gabar do próprio instinto de autopreservação.

— Forte e independente. Uma mulher que se conhece bem. Gosto disso.

— É mesmo? – perguntou ela, girando e andando de costas, para ficar de frente para Emma. – E de mim?

— Sem dúvida, gosto de você. – A loira suspirou, antes de escanear o céu por alguns segundos e voltar a olhá-la nos olhos. – Gosto do modo como me surpreende. De não ter sido capaz de defini-la dentro dos primeiros trinta segundos ou… Diabos! Até mesmo agora, horas depois, ainda não ter conseguido. – Os passos de Regina diminuíram e a empresária fechou a distância que as separava. Em seguida, pousou uma das mãos suavemente na curva do quadril da morena. – E gosto de ser capaz de fazê-la rir, porque o som da sua risada… – Emma fez um movimento negativo com a cabeça, ainda a encarando. – Quando riu para mim… – Os dedos longos se contraíram com força no quadril de Regina em um breve aperto possessivo. – …tudo em que pensei foi em como conseguir isso de novo.

— Emma.

◊◊◊◊◊

 

Se Emma Swan pensara ter sido nocauteada pelo sorriso daquela mulher, aquilo não era nada comparado ao som ofegante da voz de Regina ao pronunciar seu nome daquela forma. Era como se, talvez, a morena estivesse desejando aquilo que Emma estivera se matando para não pressioná-la a lhe dar.

Claro que, quando conseguira fazer com que Regina saísse do bar com ela, imaginara que a conclusão natural daquela noite seria o sexo. Ambas eram adultas e havia química entre elas.

E ela desejava que assim fosse.

Diabos, sim, como queria! Mas algo a detivera sempre que a oportunidade de mudar o tom do divertimento daquela noite aparecera. As emoções conflitantes naqueles olhos castanhos eram diferentes de tudo que Emma já vira, o que acabou por lhe despertar um tipo de necessidade instintiva de protegê-la.

Aquela mulher, que Emma julgara ter gelo nas veias, capaz de colocar um homem em seu devido lugar com apenas um olhar, era vulnerável. Por alguma razão, Regina confiara nela para lhe revelar o tipo de diversão que raramente se permitia e lhe proporcionar a noite que merecia, sem as preocupações que fizeram a morena morder aquele lábio inferior apetitoso. Podiam ter a diversão descomplicada e prazerosa que cada uma se lembraria pelos anos que se seguiriam.

Um sorriso curvou os lábios de Emma diante do pensamento de Regina caindo vítima de seu ego com a potência de uma mangueira de incêndio. Quem diabos poderia saber se a morena se lembraria dela até mesmo na semana seguinte, quanto mais no próximo ano? Mas esperava que se lembrasse. Porque Emma certamente não a esqueceria.

 

◊◊◊◊◊

 

O que ela estava fazendo encarando aquela loira como se fosse incapaz de desviar o olhar? Nunca fizera uma escolha insensata. Em nenhum momento. Não costumava ceder ao prazer momentâneo. Gostava de estar no controle. No trabalho, na vida pessoal, no coração e na mente.

Mas, de alguma forma, Emma, com toda aquela conversa sobre ego, segura de si, confiante em suas ações… A maneira como a loira perseguia o que desejava como se nunca lhe ocorresse a possibilidade de não conseguir… Aquele conjunto a estava induzindo a um comportamento que nunca se permitia ter.

E estava fazendo-a almejar algo que sabia que não deveria desejar: a experiência de se entregar a um sentimento; àquela química, que lhe fazia a pele formigar, o baixo-ventre pulsar, que lhe sussurrava tentações desde o primeiro instante em que seus olhos encontraram os de Emma. Aqueles olhos verdes simplesmente perceberam algo que ela jamais mostrava a ninguém, e do qual Emma se agradara.

Regina experimentou um frio na barriga diante da ideia de se afastar tanto de sua zona de conforto. Já fizera muitas concessões até aquele momento. Começando por conversar com uma cliente sentada à mesa do bar em que ela trabalhava e terminando com as duas paradas ali, olhando-se nos olhos. Emma era como uma miragem deliciosa. O tipo de fantasia capaz de fazer uma pessoa se perder na vã esperança de encontrar abrigo no frescor de um oásis que nunca alcançaria. Emma estava ali para desfrutar de uma única noite. Algumas horas de divertimento.

Regina não podia se dar ao luxo de esquecer isso, porque o orgulho não lhe permitiria ser uma dessas mulheres que depositavam todas as suas fichas em uma bilionária da classe alta, esperando que “o divertimento” que ela escolhera em Las Vegas – a cidade turística, cujo slogan garantia que o que acontecia em Las Vegas, permanecia em Las Vegas fosse, na realidade, seja a pessoa pela qual esperara durante toda a sua vida.

Não. A única maneira de ceder em qualquer aspecto seria fazendo as coisas em seus termos. Com os olhos abertos e sem expectativas.

Não havia amanhã com aquela loira.

— Há muitos questionamentos em seus olhos esta noite – disse Emma, roçando a junta de um único dedo na lateral do rosto delicado. – Mas não há necessidade. Diga-me que quer pôr um fim nesta noite e eu a levarei para casa e lhe agradecerei por um divertimento do qual me recordarei por muito tempo. Ou podemos continuar a fazer o que estamos fazendo, sem passar disso. Ficar acordadas até o dia amanhecer. Ver o sol nascer – acrescentou, com os olhos verdes cravados nos dela. – O que deseja fazer agora?

Regina sentiu o coração disparar. Emma a estava deixando à vontade. Dando-lhe a oportunidade de se despedirem da forma mais fácil. Ela poderia lhe dizer “adeus”, pegar um táxi e voltar ao apartamento, onde suas coisas já estavam empacotadas. Dormir com a certeza de que cortara o mal pela raiz. Antes de ceder aos riscos que a empurravam além dos limites da segurança.

Ou poderia dar uma resposta sincera. Que algo na ideia de ficar com Emma a fazia ansiar por coisas que nunca quisera. Fazia seu corpo estremecer e esquentar. E, acima de tudo, agarrar aquele momento e simplesmente se render. Entregar-se.

Regina esticou a mão para a gravata que Emma ainda usava e segurou-lhe a ponta com firmeza, dando um passo a frente, como se precisasse de um apoio. Em seguida, pressionou seus lábios aos da loira.

Foi um beijo delicado. Apenas um roçar prazeroso, que diferia de um beijo de amigos apenas pela promessa silenciosa e pulsante de algo que ela não encontrara palavras para dizer. Palavras essas que não se faziam necessárias, a julgar pela satisfação estampada nos olhos verdes que a encaravam quando ela recuou um passo. Pelo sorriso predador quando Emma fez que não com a cabeça, antes de lhe segurar a mão e a puxar de volta contra o corpo.

— Estive dizendo “não” a mim mesma durante toda a noite – murmurou a loira contra a orelha macia, roçando a lateral do rosto nos cabelos castanhos. – Se está dizendo “sim”, essa insinuação de beijo não será suficiente para me satisfazer até retornamos para meu quarto de hotel.

A resposta de Regina soou como um sussurro trêmulo.

— Então, é melhor se servir do que precisa agora.

Quando Emma a beijou outra vez, não havia nada de hesitante na forma com que o fez. Nada de amigável. O contato era firme e autoritário. Um ousado movimentar de lábios contra os dela que a violava a cada pressão até que Regina estivesse totalmente vulnerável.

A língua exigente lhe invadiu a boca, encontrando a dela em um roçar úmido e aveludado que fez com que as mãos de Regina se apoiassem nos ombros da outra e seus dedos se contraíram sobre o tecido do terno. Um gemido impotente lhe traiu o desejo.

Seus joelhos deviam ter cedido, porque Emma a segurava com força contra o corpo, apoiando-a nos braços fortes, enquanto a beijava como se ela nunca tivesse sido beijada antes.

Sem reservas.

Sem fôlego.

Invadindo-lhe o interior da boca com os movimentos firmes da língua e… Oh, aquilo era tão bom!E os repetindo até que todas as células vivas de Regina se liquefizessem.

Ávida.

Viva.

Outra investida da língua experiente, e Regina sentiu o ventre se contrair com um desejo sensual que ameaçava escravizá-la. Só então ela se deu conta de que estivera ansiado por aquilo. Os braços musculosos a envolveram em um abraço apertado. Uma das mãos deslizou pelo comprimento de suas costas até lhe encontrar a nádega e pressioná-la contra os quadris, curvando-lhe as costas fazendo com que ela sentisse…

Oh, céus. Era isso mesmo?

De repente, Emma interrompeu o beijo e a afastou, embora continuasse a segurá-la. Os olhos verdes a encararam em plena duvida, ciente que de ela sentira o que tinha entre suas pernas.

— Isso foi suficiente? – Regina perguntou, ofegante. Os lábios estavam sensíveis de uma forma que a fazia ansiar por mais, não importava se Emma não era como a maioria das mulheres, ela a queria.

— Não chegou nem perto – respondeu a loira, antes de levar uma das mãos aos lábios da outra mulher, com expressão de pura perplexidade. – Mas, a julgar por esse beijo, nenhuma de nós duas quer arriscar ver o que vai acontecer se eu colocar minhas mãos em você em público outra vez.

Regina não tinha a mesma certeza. Para conseguir mais do que acabara de experimentar, seria capaz de arriscar qualquer coisa.  


Notas Finais


Primeiramente, miiiiil perdões pela demora, aconteceram uns rolos ai e acabei me esquecendo de postar ^^'
Segundo, já que vocês disseram que amam capítulos longos (um enoorme obrigado a todo mundo q respondeu ❤❤❤) e faz mais de um mês que eu não atualizo, vou postar mais um capitulo daqui a pouco para finalizarmos o flashback!
Terceiro, GENTE, o que vocês acharam do capitulo?


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