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História Constant Bloom - Aquilo que desordena


Escrita por: kaxxne

Notas do Autor


Oi, oi! Acho que esse foi o domingo o que mais me atrasei pra atualização, quer dizer não é mais domingo, mas era minutos atrás! Ksksksks

Me desculpem, meus vizinhos resolveram fazer aquela farra de sexta até domingo com direito a música no último volume, e eu não consigo me concentrar com barulho! Tentei até beber uma para me deixar relaxar e tentar escrever o capítulo, mas não rolou como das últimas vezes!
E essa semana também foi corrida!

Só quero dizer que estou muito, muito feliz e toda boiola!! Cara, são quase 170 favoritos!! E eu não estava esperando tantos comentários quando postei o capítulo anterior, gente, nem sei o que dizer, real, muito obrigada por todo carinho, vocês sempre fazem o meu dia ficar tão aaaaaaa!

Enfim, boa leitura, me perdoem pelos erros que encontrarem, quando eu os perceber eu vou arrumando!

Obs: O capítulo começa com um acontecimento passado que termina quando dois pontos aparecerem.

Capítulo 9 - Aquilo que desordena


Fanfic / Fanfiction Constant Bloom - Aquilo que desordena

Na segunda série, quando Katsuki tinha sete anos, a professora, que dava aula em sua turma naquele ano, pediu que eles desenhassem as pessoas que faziam parte da sua família, os desenhos iriam ser colocados no enorme mural da sala de aula. Ela deixou que os alunos se sentassem com quem quisessem, desde que ficassem em silêncio.

Momo não perdeu tempo e arrastou sua cadeira até a mesa de Katsuki. Ela colocou sua folha branca na mesa, e colocou a cadeira de frente para o amigo de infância, e disse que iria fazer ali, ele querendo ou não. Katsuki não se incomodou com a presença dela, mas fez uma cara irritada, só para não perder o costume.

Os dois começaram a desenhar em silêncio, dividindo os lápis de cor do alfinha. Com os minutos passando, os traços dos desenhos já existiam, eles pegavam um lápis de cor, pintavam, deixavam sobre a mesa e pegavam outro.

Até que em um momento, Katsuki queria o lápis marrom para pintar os cabelos do seu pai, mas ele estava nas mãos da amiga, então teve que esperar Momo terminar de pintar o sapato do pai alfa dela. Estando bem concentrados em seus próprios desenhos, eles nem deram sequer uma espiada no desenho do outro. Katsuki ficou olhando a alfa pintar, e consequentemente ficou olhando o desenho dela.

No desenho haviam três pessoas, uma mulher, um homem e uma senhora de idade. Ele logo deduziu que o homem era pai de Momo, que a mulher era a mãe dela, e que a velha no desenho era sua avó, e mesmo sabendo disso, ele não evitou comparar seu desenho com o dela. No dele, havia um homem e uma garota, o homem era o seu pai e a garota era a sua irmã mais velha.

Mesmo que já tenha estado muitas vezes na casa de Momo, e sabendo que ela tinha um pai e uma mãe, somente naquele momento ele notou que as famílias deles eram diferentes.

— Não sabia que a sua avó morava com o seu pai e com a sua mãe. — comentou Katsuki, ainda olhando para o desenho da amiga.

— E não mora, desenhei ela porque eu amo ela, e pra ser família não precisa estar morando na mesma casa. — Momo parou de pintar e ficou olhando para o amigo, e depois desviou o olhar para o desenho dele. — Você não tem uma avó ou um avô pra desenhar?

— Não vejo o meu avô com frequência, então não sei se amo ele. Meu pai disse que a minha avó, que é a mãe dele, não se encontra mais nesse planeta.

— E o que isso significa? Ela foi dar um passeio em outros planetas?

— Não sei, acho que sim.

— E dos pais do seu pai ômega, ou mãe ômega? Falando nisso, você tem um pai ômega ou uma mãe ômega? Eu nunca vi, cadê ele ou ela? — Momo franziu levemente o cenho, confusa.

— Pai ou mãe ômega? Não sei, é obrigatório ter um? — Katsuki acabou que fez a mesma expressão da amiga, também confuso. — Como você sabe que tem um?

— Pelo cheiro. Como você soube que seu pai é um alfa? Ele te contou ou você soube pelo cheiro?

— Acho que foi pelo cheiro. Que confuso, como sabemos essas coisas?

— Assim, minha mãe disse que uma criança é feita por pais e mães tanto ômegas, tanto alfas ou até mesmo betas, precisa de duas pessoas para fazer uma criança, só uma pessoa não consegue, minha vó estava nesse dia, ela disse haver crianças que não tem os dois, e falou também que uma família não é só sobre isso, se você tem uma pessoa que ama muito e se sente bem com ela, você pode dizer que ela é da sua família. Enfim, ela disse que eu iria entender melhor daqui a alguns anos.

— Não entendi muito, muito bem.

— Nem eu, mas se for assim, eu amo você então trate de me desenhar na sua folha, que eu vou te desenhar na minha. — Momo abriu um enorme sorriso.

— Eu não vou, não amo você.

— Ama sim, se você não desenhar eu vou ficar sem falar com você por uma semana.

— Você não consegue ficar sem falar comigo por uma semana.

Naquele mesmo dia, Katsuki foi para o escritório do pai assim que chegou da escola, e perguntou sobre aquele assunto que conversou com Momo, e que ficou matutando na cabeça por boa parte do dia.

Ele ficou um pouco chateado quando descobriu ser como as crianças que a avó de Momo disse, mas deixou esse assunto de lado por enquanto, os adultos não tiravam dúvidas de ninguém e só complicavam tudo ainda mais.

×××

Katsuki tinha os olhos voltados para janela aberta do seu carro, as árvores diversas que via lhe davam a certeza que estavam perto. Himiko quem assumia o volante, ele não insistiu depois que ela disse decidida que iria dirigir, não estava com cabeça para discutir aquilo. Não com a sua mente em caos e seu corpo tenso, tendo abundantes sentimentos misturados.

Emoções que ele não conseguia identificar quais eram ao certo, só tinha em mente que queria respostas. Precisava ter Shouto em sua frente, vê-lo com seus próprios olhos lhe dizendo com nitidez as palavras que colocariam seus pensamentos em ordem, quaisquer que sejam. Ele somente conseguia manter os olhos na vista fora do carro, tentando acalmar o tremor em suas mãos, querendo mitigar-se de maneira instantânea.

Desde que entraram na picape, nenhum dos dois irmãos dissera nada. Katsuki sentiu algumas vezes os olhos dourados da irmã em si, ela parecia inquieta, talvez querendo fazer perguntas ou o analisando, vendo se ele parecia calmo o suficiente para não fazer nada sem pensar, algo impulsivo ao chegarem em uma das ruas da cidade que era mostrada na rota. Ou os dois.

O olhar dele acabou sendo desviado da vista cheia de árvores e foi para o porta-luvas, que se encontrava aberto, onde se podia enxergar a carteira de cigarros de menta que, talvez, poderia ter uns três cigarros dentro, e Himiko, atenta como estava aos seus movimentos, expressões, e na estrada em simultâneo, logo seguiu o olhar dele e também olhou para a embalagem dentro do espaço exíguo.

— Nem pense nisso. Ou eu jogo essa porcaria pela janela. — disse Himiko, o olhando de modo atravessado. — Tem que parar de buscar o cigarro quando está estressado ou quando só quer curtir, principalmente quando estiver estressado, há tantos meios, saudáveis, de melhorar o estresse, se poupe de problemas daqui a alguns anos. Não jogue sua vida fora. Podemos falar sobre o motivo que está lhe causando essas sensações...

— Conversar sobre o quê? — Katsuki semicerrou os olhos rubros, desviando os olhos do porta-luvas. — Sobre o que estou sentindo depois de saber que as pessoas ao meu redor souberam de algo, de tamanha importância com relação comigo, primeiro do que eu? Que eu soube disso por outras pessoas? Da falta de insistência para me contar? Da decisão de ir até uma clínica de aborto sem nem falar comigo antes?

— Você acredita que ele tirou? — Himiko perguntou, encolhendo os ombros parecendo temer que isso tivesse realmente acontecido.

— Não. Momo e Ochako pareciam bem animadas com algo. Momo disse haver um motivo para estar feliz, mas que não cabia ela contar e sim outra pessoa. Ochako estava falando sobre apostar nos gêneros de um bebê ontem, e as duas ficaram surpresas por eu ter escutado essa parte da conversa e perguntado quem que estava esperando um bebê.

— Camie me contou sobre a relação de vocês, e considerando que você conhece quase nada sobre ele, e nem ele sobre você, quais as chances de você ser o pai desse bebê?

Se ele não fosse o outro pai então por qual motivo o ômega atendeu sua ligação daquele jeito estranho? Ficou um pouco mais em seu apartamento quando transaram? Por qual motivo ele parecia nervoso com alguma coisa? E se incomodou com ele fumando no mesmo dia e horas depois o ligou e desligou sem dar chance para ele atender?

Shouto teve chances de contar, e na cabeça dele, ocorreu sim uma falta de insistência. Como, por exemplo, quando ele veio lhe procurar em seu apartamento, se o ômega tivesse ligado para dizer que precisava falar urgentemente consigo ele teria voltado da casa do pai, e não ter ficado lá e dormido em seu quarto antigo. E ontem quando se encontraram por acaso, se ele tivesse insistido mais e não desconversado, Katsuki não estaria a caminho da cidade de clima ameno, revoltado por ter descoberto algo por meio de outras pessoas.

— Acredito que tenha grande chance. Não estou com cabeça para falar disso agora. — disse, estando estressado e agoniado ao extremo. — Só quero chegar e receber respostas.

— Sei que você não está com cabeça para falar disso, mas tenha em mente que precisa escutar o lado dele também. — a beta soltou um suspiro. — Sei que está chateado por descobrir assim, por outras pessoas, mas eu não conseguiria não dizer nada para você, eu não saberia me manter em silêncio sobre algo assim, Camie também, e julgo que Momo e Ochako só não disseram nada por serem suas amigas e amigas também desse ômega.

— Não estou condenando você e Camie por me contarem. E também não estou condenando Momo e Ochako por não terem dito nada, mas é frustrante pra caralho.

— Entendo, mas procure saber o lado dele também, o escute, ele, provavelmente, não sabia que não contar poderia te deixar revoltado dessa maneira, e você não sabe que coisas esse ômega passou neste mês. Dizer algo assim deve ser difícil, ainda mais para um cara que você somente tem encontros casuais e que você não conhece muito.

Katsuki permaneceu em silêncio, guardando as palavras ditas pela sua irmã mais velha.

— Sei que quer respostas, mas não pense em somente no que você está sentindo, algo liga vocês dois agora, querendo ou não, então procurem manter um equilíbrio. — Himiko respirou fundo e tentou relaxar os ombros. — Isso pode ser difícil no começo, mas um entendendo o outro já é um começo. Já estamos na rua que queremos, qual dessas casas é? — a beta olhou cada uma das casas que não seguiam uma sequência de cor.

— Aquela ali. Com duas mulheres na frente. — disse o alfa num tom sério, sentindo cada parte do seu corpo ficando cada vez mais tensa.

Assim que Himiko estacionou a picape em frente à casa, as duas mulheres olharam na direção do carro preto, aparentemente curiosas.

— Vou sair primeiro e irei falar com elas. — Himiko tirava o cinto de segurança, apressada.

— Pensa que vou fazer o quê? Passar por cima delas e entrar na casa arrombando a porta? — Katsuki abriu a porta do seu carro, nem se preocupando em tirar o cinto de segurança, porque ele nem havia colocado, não se lembrou de colocar. — Sei resolver as minhas coisas, e ainda não perdi meu juízo.

Assim que terminou de dizer, Katsuki abriu a porta com rapidez e saiu, virando alvo dos olhos curiosos das duas mulheres. Ele analisou as duas enquanto andava, uma delas tinha cabelos platinados cortados no queixo, usava um vestido bege e longo, e segurava um regador azul, a outra já usava um vestido preto, essa estava parada perto da porta com os braços cruzados. As duas não desviaram os olhos enquanto ele andava com passos firmes e nem um pouco receosos.

— Preciso falar com o Todoroki. — Katsuki parou na frente da ômega de cabelos platinados, julgando ser a mãe do ômega por ela ter traços parecidos com os dele.

A mulher lhe olhou um pouco surpresa por alguns instantes, com a cabeça erguida por conta da diferença da altura entre eles. Ele tentou falar da maneira mais serena que conseguiu.

— Ele está lá dentro, na parte da cozinha. Posso saber o porquê precisa falar com ele?

— Não quero ser rude, mas é um assunto entre mim e ele.

— A porta está aberta. — Katsuki não evitou ficar surpreso quando ela disse isso, e ficou curioso com o olhar dela, parecia que naquele instante ela havia entendido, talvez, quem ele era e o que fazia ali.

Antes de ir até à porta ele olhou por alguns segundos para trás procurando a irmã com os olhos, essa que havia saído da picape e se encontrava perto dela, era nítido que ela parecia tensa com alguma coisa, e ele ficou um pouco confuso quando ela lhe direcionou um sorriso nervoso, mas voltou os olhos para frente e começou a andar em direção à porta entreaberta.

Assim que chegou perto, seus olhos rubros logo caíram sobre a ômega de vestimentas escuras. Ela também o olhava com suas írises carmesins, sem desviar e de maneira intensa, assim como ele. Katsuki não soube explicar do porquê uma inquietação se apossou em si, e nem do porquê o seu coração começou a bater forte contra o peito. Nunca havia visto aquela mulher antes.

Katsuki abriu um pouco mais a porta e entrou, a deixando encostada. Passou os olhos pela sala de estar com algumas flores e plantas dentro, o espaço era pequeno e havia muitos móveis, como uma mesa perto da janela com vários livros em cima, um tapete e dois sofás cheios de almofadas, cortinas brancas, panos e tapetes pequenos de várias cores e simetrias. Não deixou de notar um sofá suspendido no teto que havia em uma parte mais para fora da casa.

Andou até chegar na parte da cozinha que tinha uma vista total do quintal, as paredes dessa parte da casa eram de vidro e as cortinas estavam abertas, os olhos carmins logo notaram os cabelos bicolores. O ômega estava de costas para si e mexia em um liquidificador que acabara de bater algo verde, julgou ser abacate, ele parecia bem alheio, tanto que até então não notou sua presença.

Katsuki encostou na parede pintada de marrom-claro que se encontrava atrás de si e cruzou os braços sobre o peito, ainda analisando o outro com seus olhos carmins. O cheiro que estava junto do aroma semelhante aos da chuva, que não era nada enjoativo ao seu olfato, chegou até suas narinas assim que puxou o ar com um pouco mais de intensidade.

Permaneceu assim até o momento que Shouto se virou, bem distraído, e parou surpreso, com os seus olhos, que gradualmente se abriam um pouco, fixos nele. Katsuki logo notou que a boca dele se abriu e fechou algumas vezes por conta do espanto. Eles ficaram se olhando por longos segundos, Shouto com aflição carregada nos olhos, e Katsuki com uma dureza que fazia o ômega se sentir ainda mais agoniado.

— O que faz aqui? — a voz de Shouto saiu um pouco sem firmeza, ele mordeu o lábio inferior deixando claro o quanto estava nervoso com sua presença.

Katsuki desencostou-se da parede e andou em passos calmos até o ômega. Shouto dava alguns passos para trás à medida que ele chegava cada vez mais perto de si, até que seu corpo se encontrou com a parede de vidro que dava a vista do quintal cheio de plantas e flores diversas. O alfa apoiou uma de suas mãos na vidraça e abaixou um pouco o rosto, o deixando bem próximo da face do outro.

— Você sabe muito bem. — Katsuki fixou ainda mais seu olhar nas írises do outro. — Eu já sei que está esperando um bebê, então sabe muito bem qual é a minha pergunta.

— Eu... — Os lábios um pouco trêmulos se fecharam e depois se abriram. Shouto não estava conseguindo sustentar o olhar intenso do outro, ele piscava os olhos tentando não chorar enquanto sentia seu coração querer sair pela garganta. — É seu. — disse, de maneira embargada, tentando se manter firme com os olhos rubros lhe olhando daquela forma.

Katsuki cobriu seu rosto em seu braço que estava sobre a parede de vidro, sentindo o coração bater forte contra o seu peito com aquela confirmação.

— Acredito em você. — Shouto levantou o olhar, encarando o rosto que estava bem próximo do seu com uma expressão carregada de espanto. — O que eu não entendo é, qual é motivo da demora para me contar? Houve momentos que você poderia ter me falado. — disse o alfa, com uma certa amargura na voz. — Porra, você transou comigo no sábado, mas não me disse nada.

— Fui te procurar no seu apartamento, mas você não estava lá, e nas outras vezes, eu... — Shouto respirou fundo, tentando acalmar o tremor que se apossava em seu corpo. — Como eu poderia saber o que você faria quando eu te contasse? Estava com medo da sua reação, eu sei muito bem o que alfas pedem quando algum parceiro de foda diz que está grávido...

— Então você me julgou com base em outros alfas? — Katsuki riu breve, e sem vontade.

— Não é bem isso, eu... — Shouto disse, deixando o olhar cair no piso da cozinha. — Não sabia o que fazer, o que pensar sobre você, como eu poderia saber se, quando eu contasse, você não diria que era problema meu? Ou que mandasse eu tirar, ou que desconfiasse de mim? — era nítido o quanto o ômega estava agoniado.

— Sabe como você saberia? Dizendo. Desconfiança é algo normal do ser humano, ainda mais de coisas e pessoas que você desconhece ou não conhece direito, mas se eu tivesse dúvidas, falaria com a Momo, não acha? — Katsuki abriu os olhos, e tirou o rosto do braço apoiado da parede de vidro, focando as írises nas do outro. — E que eu mandasse o tirar? Não foi você quem tomou a decisão de ir até uma clínica de aborto não sei merda aonde?

— Eu estava desesperado, tá? Não sabia o que fazer. — Shouto sentia sua agonia se fundir com raiva. — Fui sim, mas fiquei parado em frente, liguei e você não atendeu, depois eu decidir não entrar, e escolhi prosseguir com a gravidez, e olhe só onde estou? Muitas coisas aconteceram...

— Você não me deu chance de atender, te liguei depois porque meu celular descarregou horas depois, e você não retornou. — Katsuki disse, não desviando os olhos do outro. — E que coisas aconteceram?

Shouto ficou em silêncio. Seu peito subia e descia em um ritmo frequente, uma de suas mãos, que estava ao lado de seu corpo, se agarrava na vidraça, um pouco suada e gélida. Sua mente entrou em um conflito sobre dizer ou não, e ele sentia um desconforto no peito por estar se sentindo contra parede daquela forma.

— Isso não é importante. — disse, respirando fundo. — Só entenda que eu não consegui falar com você, nas chances que tive fiquei receoso, e você não pode tirar a minha razão por ter me sentido assim, não nos conhecemos direito. E confesso que, depois da minha ida ao seu apartamento, eu decidi não te contar, apesar que na última vez que nós vimos eu quase disse.

— Então iria me contar quando? Quando ele, ou ela, perguntasse para você quem era a outra pessoa alfa, ou beta, que contribuiu para que ela existisse? — Katsuki se sentou atordoado com aquela nova informação. — E eu pensando que não poderia piorar. — ele tirou o braço da parede de vidro, e andou para trás, saindo um pouco de perto do ômega, se encostando no balcão que havia ali na cozinha. — Agora não sei o que tá me deixando mais puto, ter descoberto por outras pessoas, que você julgou as minhas possíveis ações, reações tendo base outros alfas, ou que você ainda cogitou não me dizer agora.

— Não sabia que você se sentiria assim. — Shouto disse, com uma sinceridade carregada na voz, e tirou as costas da parede de vidro, e se encostou no batente da porta dos fundos, de costas para o alfa e com os olhos focados nas plantas e nas flores de sua mãe. — Não sei quando eu iria contar, é difícil falar uma coisa assim.

O silêncio reinou depois, os dois pareciam presos em suas próprias cabeças. Shouto se próprio abraçava  com o olhar perdido em uma das flores vermelhas que haviam perto da mesa rústica e se sentindo cada mais estranho com os olhos de cor rubi em suas costas.

Já Katsuki tinha os olhos fixos no corpo encolhido em sua frente, se perguntando o porquê que Shouto não disse sobre as coisas que, segundo ele, aconteceram. Estava procurando entender melhor toda aquela situação e os motivos de Shouto, mas como entenderia?

— Estou indo agora. — Katsuki se desencostou do balcão, dando alguns passos até o ômega, esse que sentiu o nervosismo voltar assim que sentiu a presença do alfa atrás de si e após inalar um pouco mais do aroma semelhante ao cheiro dos vinhos. — Estarei de volta aqui na próxima semana, para conversarmos melhor.

— Está bem. — Shouto mordeu o lábio inferior, segurando, discretamente, com mais força o pano cinza da sua própria camisa.

Katsuki por fim deu passos para trás, andando em direção à porta da frente, abrindo-a e saindo. Himiko estava perto das duas mulheres, que ele viu quando chegou ali, ela parecia agoniada com algo. Uma das mulheres, a de cabelos platinados, o olhava de maneira estranha, e a outra, a que ele olhou nos olhos antes de entrar, nem olhava na sua cara.

Sentiu de imediato um clima estranho no ar, mas não parou para questionar nada. Ele somente queria deitar em uma cama e tentar organizar a mente.

— Você não vem? — perguntou para a irmã, que mesmo o vendo indo até a picape, continuou parada no mesmo lugar.

— Ah, sim. — respondeu, meio nervosa, e andou em passos rápidos até o carro. — Quer que eu dirija? — dessa vez, ela perguntou e não exigiu que dirigisse.

— Quero. — disse, entrando dentro do próprio carro, tentando relaxar os músculos rígidos.

— Ok.

Antes de entrar no carro, Katsuki notou que a irmã ainda ficou alguns segundos olhando para as duas mulheres ainda paradas, e logo depois adentrou quando uma das ômegas, a de vestido preto, entrou na casa olhando para baixo e usando uma das mãos como apoio nas coisas que encontrava, como a parede, a porta e o móvel cinza que o alfa conseguia ver, mesmo estando dentro do carro.

Não evitou estranhar tudo aquilo, mas ele tinha outros assuntos para pensar do que sobre uma atitude estranha de uma mulher que ele nem nunca falou, e nem nunca havia visto antes. Assim que Himiko ligou o carro, ele jogou as costas no encosto do assento, respirando fundo e fechando os olhos e logo depois os abriu um pouco.

— Acredita que vim sem saltos? — Himiko deu um sorriso breve, dirigindo para fora da cidade, parecendo querer amenizar o clima estranho que estava.

Katsuki levou o olhar para os pés dela e suas unhas pintadas de branco, tendo a certeza que ela estava falando sério. O alfa até riria disso, se estivessem em outro momento, agora ele se sentia esgotado por completo.

[...]

Assim que não sentiu mais a presença do alfa na casa, Shouto procurou um dos sofás da sala de estar e se sentou, levando suas pernas para cima e as agarrando com as mãos trêmulas. Ele se encontrava ao ponto de chorar, e nem sabia por qual motivo ao certo.

Parecia que sua ficha ainda não havia caído. Katsuki soube de tudo e veio ali, parecia que sua cabeça ainda estava processando aquilo tudo de alguma forma, mas ela, a sua mente, ainda o fazia rever o momento muitas vezes naquele instante, o olhar irado e sério do alfa permanecia ali, como se ele estivesse ainda o olhando.

A forma como Katsuki expôs como se sentia antes de ir, causou um aperto em seu peito. Tinha em mente que não era sua culpa, não havia como ele imaginar que ele se sentiria daquele jeito que disse que estava. Seus olhos estavam úmidos por algum motivo, e a forma que Katsuki estava se sentindo não tinha nada a ver com isso, talvez, aquelas palavras trocadas dos dois tenha sido demais para si.

Saiu de seus pensamentos quando Mitsuki apareceu em suas vistas, ela entrava na casa e não parecia nada bem. A ômega apoiou as mãos e o peso do corpo nas paredes até chegar no sofá à sua frente e desabar em cima dele, uma expressão espantosa apareceu no rosto de Shouto vendo os olhos carmesins agoniados e úmidos, mais do que como os dele estavam, Mitsuki respirava pesado muitas vezes.

Não tardou e Rei apareceu também em seu campo de visão. Ela se sentou ao lado de Mitsuki e a segurou pelos ombros de maneira delicada.

— Era ele. — Mitsuki disse, com um pouco de dificuldade, como se estivesse sufocada. — Ele é o bebê que eu deixei.

Shouto não estava compreendendo aquilo. De quem ela falava?

— Shouto, aquele alfa que veio aqui, é o outro pai do seu bebê? — o ômega olhou para a mãe que o olhava de volta.

— É sim. — respondeu, não entendendo nada do que estava acontecendo. — Por qual motivo está perguntando?

— Dei à luz aquele alfa. — Mitsuki disse, deitando as costas no encosto do sofá e respirando fundo, parecendo ter se recompondo um pouco. — Eu o deixei com o pai dele quando ele nem tinha um ano direito, não conseguir ser mãe dele e não sabia cuidar dele direito, por isso eu fui embora e o deixei com Masaru, estive tentando me convencer esses anos todos que ele não precisava de mim, e que essa seria a melhor decisão. — ela passou as palmas de suas mãos em seu rosto molhado, muitas vezes. — Então porque estou me sentindo uma merda?

Gradualmente os olhos do ômega se abriam, assim como a sua boca. Ele ficou observando sua mãe puxar Mitsuki para os seus braços, essa que resistiu por um tempo, mas logo se deixou ser abraçada. Shouto ficou encarando a mão dela se fechar em um dos braços do sofá, boa parte das unhas pintadas de preto sumiam à medida que ela apertava com mais força.

Mitsuki era mãe de Katsuki. Shouto logo lembrou do dia que viu a ômega pela primeira vez, a cor vermelha dos olhos, o jeito que ela os semicerrava, e a intensidade que carregavam lhe deram uma sensação de que já havia visto alguém com os olhos assim antes, uma sensação de familiaridade, naquele dia, ele não conseguiu se lembrar quem que conhecia que trazia aquela sensação, e esse alguém era Katsuki.

— Sente aqui. — a voz de Rei o tirou de seus pensamentos, ela fez um gesto para que fosse se sentar no outro sofá, ao lado dela. — Você também não parece bem. — ela carregava um olhar preocupado.

Shouto tentou engolir o bolo que se formou em sua garganta. Se levantou logo, e se sentou no outro sofá, se agarrando ao corpo da mãe, apoiando sua cabeça em um dos ombros dela, e tentando se acalmar com o cheiro dela. Ele escutava alguns murmúrios vindo de Mitsuki, os fenômenos dela eram os que mais predominavam no ambiente.

— Preciso ir embora.

Assim ficaram amontoados em cima do sofá, com Rei sendo abraçada pelos dois enquanto os abraçava o mais forte o possível, afagando suas costas tentando passar o máximo de conforto.

[...]

Katsuki passou boa parte do caminho tentando dormir, mas ele sentia estressado, tanto que o simples ato de fechar os olhos se tornou algo impossível. Himiko, o vendo daquele jeito, até sugeriu que ele colocasse alguma música, mas ele se sentia agoniado somente em pensar em escutar alguma, seja a mais lenta que for, ou a mais barulhenta.

Eles permaneceram em silêncio, com Katsuki querendo pegar, pelo menos, um dos cigarros de menta da carteira dentro do porta-luvas para dar algumas tragadas até se sentir mais calmo, e com Himiko inquieta com alguma coisa que o alfa não fazia ideia do que era, a irmã respirava fundo algumas vezes, vez ou outra apertava o volante com força, e mordia o lábio inferior.

Assim que chegaram na residência de Himiko, Katsuki deixou a irmã sair primeiro, e sem ela ao menos notar, pegou a carteira de cigarros dentro do porta-luvas. Ele saiu em seguida, e ela o esperava um pouco à frente, ainda dentro do estacionamento. Os dois andaram com calma pelo caminho de pedras até a porta, e novamente o alfa reparou na inquietude da irmã.

— Por qual motivo você tá desse jeito? Se for por causa da minha conversa com o Todoroki, não se preocupe com nada, é assunto meu, mas pode ficar feliz, você vai ser titia. — Katsuki disse, tentando passar alguma tranquilidade para a irmã.

— Não é por isso que estou assim. — Himiko parou de andar, soltando um suspiro.

— Então fala logo o porquê, ainda mais se for sobre mim. É sobre mim? — Katsuki parou de andar, analisando a irmã com os olhos. — Se for é melhor dizer agora, não pode ser algo mais maior do que descobri que vai ser pai, não é? — riu, tentando fazer a expressão agoniada do rosto de Himiko sumir.

— Estou tentando decidir se é melhor dizer isso, ou não, é sobre você sim. — ela assumiu uma postura séria, e tensa. — Foram muitas emoções por hoje, não é? Então é melhor deixar isso para daqui a alguns dias. — Himiko voltou a andar em direção à porta, passando por Katsuki.

— Himiko, quero saber agora. Não estou a fim de ficar estressado daqui a alguns dias. — o alfa disse agora num tom sério, olhando para as costas da irmã, essa que parou de andar e voltou os olhos dourados para a suas vistas.

— Sabe aquela ômega de vestido preto? Vocês dois se encaram, e... — Himiko respirou fundo, dando um sorriso carregado de tristeza e agonia. — Você não sentiu nada quando olhou para ela? Nada mesmo?

— Não sentir nada, e daí?

— Katsuki, aquela mulher se chama Mitsuki. — Himiko disse, piscando os olhos dourados que começaram a ficar úmidos. — Não percebeu a semelhança entre vocês? Minha nossa, vocês são tão parecidos... Os olhos, o jeito de olhar, o gosto pelas roupas da cor preta, o cabelo loiro. — a beta dizia, parecendo impressionada com a semelhança. — O que quero dizer, dizendo isso, é que aquela ômega é a sua mãe biológica. Nunca esqueci do rosto dela, eu tenho certeza, e nunca tive tanta certeza na minha vida.

Katsuki ficou alguns segundos olhando para o rosto da irmã, ainda processando aquilo. Ele logo sentiu um torpor em seus ouvidos, e o seu peito subiu e desceu de maneira notável. Se antes se sentia que precisava de um cigarro entre seus lábios, naquele momento ele sentiu que necessitava. E diferente de horas atrás quando ele não sabia o que exatamente estava sentindo, naquele instante ele teve certeza qual era o sentimento que predominava, era a raiva.

Passou pela a irmã, andando pelo caminho de pedras com passos pesados. Ele ouvia algumas vozes e risadas dentro da casa, mas entrou de modo afobado, abrindo a porta de maneira nada calma. Seus olhos passaram por Camie sentada no sofá, logo depois desviou os olhos para o seu pai, Masaru, sentado na poltrona perto das paredes de vidro, e por Shino que vinda da cozinha com uma jarra de vidro cheio de água e um copo.

Os três no ambiente olharam espantados, assustados para ele. Katsuki passou reto, indo em direção aos quartos que ficavam no segundo andar, ele podia escutar a voz do seu pai ao longe, e logo depois escutou a da irmã. Houve uma balbúrdia de vozes por alguns instantes, mas se cessou quando ele bateu a porta do quarto com força, e por fim a trancou na chave.

Katsuki tirou a camisa preta, e a jogou longe. Suas mãos logo procuraram a carteira de cigarros de menta. Pegou um e acendeu com isqueiro, o colocando na boca, puxando e dando uma tragada.

Em passos calmos andou até a sacada, onde estava no começo da tarde, e ficou olhando as flores do quintal, principalmente as vermelhas, sentindo o corpo ficando cada vez menos tenso.


Notas Finais


É isso, e aí pessoas que chegaram até aqui? O que acharam? Me contem tudo!!

Pessoas que comentaram nos dois últimos capítulos, eu vou responder vocês amanhã pela manhã que onde tudo está calmo por aqui, peço desculpas pela demora para responder!!

Pergunta: Que horas vocês acham melhor postar capítulo? Ou que parte do dia? Amanhã? Tarde? Noite?

Se cuidem, bebam muita água e até dia 10!!


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