História Constellation Of Freckles - Estrelas -

 Constellation Of Freckles ~ Capítulo 16 -

Estrelas

O vento gelado do fim da tarde ensolarada fazia o corpo de Yamaguchi ter leves espasmos, fazendo o esverdeado esfregar suas mãos em seus braços, em uma tentativa de se aquecer. Tsukishima estava poucos passos a sua frente, guiando-o. A curiosidade o corroía por dentro, mesmo que a apreensão de estar sozinho com Tsukishima fosse grande. 

- Para onde a gente está indo? Eu estou cansando. - Ele reclama, atraindo o olhar do loiro. 

- Já estamos chegando, calma. 

A mochila que o loiro carregava parecia cheia, fazendo as paranoias de Yamaguchi ficarem cada vez mais aparentes na mente ocupada do garoto. Muitas coisas se passavam pela cabeça dele, desde uma barraca até uma arma para matá-lo.  

Não o culpem, ele só está com medo de uma reaproximação. 

Assim que Tsukishima chega no topo, alguns bons passos à frente de Yamaguchi que diminuiu o ritmo pelo cansaço, ele se vira e estende a mão para que o menor a segurasse. Assim que as mãos se encostam, mesmo que hesitantes, um pequeno sorriso imperceptível surge nos lábios do loiro. 

Ao chegar ao lado de Tsukishima, Yamaguchi vê o início de um pôr do sol no horizonte, hipnotizando-o. Soltando a mão do loiro,  Yamaguchi anda um pouco mais para frente, sem conseguir desviar os olhos dos tons alaranjados que aos poucos tomavam conta do céu. Sorrir era inevitável. Ao se virar para falar com Tsukishima, ele o encontra abaixado, abrindo a mochila. 

- O que vai fazer? 

- Arrumar as coisas. - Curto e seco, como sempre. 

- Quer ajuda? 

Tsukishima resmunga um “sim” e estende uma toalha de mesa grande e xadrez, em tons de azul e branco, em um pedido mudo para que ele estendesse sobre a grama, e assim foi feito. Com ambos se ajudando e em silêncio, apenas com o som do vento balançando as folhas da única árvore que havia no topo do pequeno morrinho, logo o piquenique estava pronto e ambos já começavam a comer. 

- ...daí o Tanaka tropeçou e derrubou a bateria, quase quebrando o bumbo. - Yamaguchi dizia em meio as risadas, fazendo o loiro dar pequenas risadas também. 

- Ok, imagino que o “bumbo” seja uma parte da bateria. - Ele disse após ambos se recuperarem parcialmente das risadas. 

- Sim, é tipo... o maior tambor que tem na bateria, o que tem que usar o pé. - Ele dizia fazendo movimentos com o calcanhar para cima e para baixo, indicando os movimentos do instrumento. 

- Entendi. 

Um silêncio confortável se instala enquanto ambos observavam o sol sumindo no horizonte. Outro vento gelado atinge Yamaguchi, fazendo-o se encolher em si mesmo. Sem que Yamaguhi notasse, Tsukishima abre a mochila e pega um casaco de dentro dela, colocando sobre os ombros do mais baixo, que o encara surpreso. 

- Você sempre sentiu muito frio, achei que seria bom trazer mais um. 

Yamaguchi dá um sorriso agradecido, sem dizer nada. Não era preciso. 

- Mas me fala de você também. Sou o único que falou, praticamente. - Yamaguchi tenta se distrair para tirar aquele rubor das bochechas. - Como anda o seu irmão e a sua mãe? 

- Ah... eles, estão bem, eu acho. - Tsukishima responde simples, tomando um gole do seu suco para disfarçar. 

- Como assim “eu acho”? Não são sua família? 

- Eu tive uma discussão com eles a um tempo, mas eu já me resolvi com o meu irmão. 

- Que discussão? 

Tsukishima fica em silêncio encarando o horizonte, vendo um sol que já estava praticamente escondido atrás dos morros. Um suspiro escapa de Tsukishima e ele balança a cabeça, como se afastasse pensamentos ruins. 

- Não importa mais. Já foram resolvidos. 

- Se você diz. - “É melhor não forçar demais, é só o primeiro encontro.”. - Mas então me conta, como anda o Kageyama? Vi que vocês estão bem próximos, mas não consegui falar com ele no dia do encontro do time, vocês saíram cedo. 

Yamaguchi não estava ajudando, parecia fazer questão de jogar sal e limão bem em cima das feridas de Kei. Mas ele não tinha culpa. Ele não sabia que Tsukishima havia tido uma crise de ansiedade no banheiro, e também não sabia de todos os outros problemas psicológicos que o loiro adquiriu com o tempo. 

- Ele está bem. Faz um bom tempo que está namorando com o Hinata e eu já perdi as contas de quantas vezes ele foi dormir lá em casa porque o Hinata o expulsou de casa. - Tsukishima solta uma leve risada, lembrando das vezes que o moreno chorou no seu sofá por alguma briga besta dos dois. 

- Por que eu não estou surpreso? - Yamaguchi dizia enquanto ria. - Mas e você? 

- Eu? 

- É, você. Está namorando? - Ele dizia como quem não quer nada. 

- Não. Não consigo ficar em um relacionamento estável por mais de uma semana. Pode-se dizer que eu sou complicado demais para as pessoas. 

- É, eu tenho que concordar com eles dessa vez. - Yamaguchi diz levemente ácido, sem conseguir segurar as alfinetadas. Foram anos sentindo raiva dele, não tem como isso sumir de uma hora para a outra. 

- Eu já pedi desculpas. - Tsukishima diz irritado, cruzando os braços atrás da cabeça e se deitando na toalha, vendo o céu começar a escurecer. 

- Eu sei. Desculpa, vou parar com isso. - Yamaguchi responde, encarando o rosto de perfil do loiro. - Vamos embora? 

- Você já quer ir? - Ele pergunta encarando o amigo, levemente decepcionado. 

- Nós não viemos ver o pôr do sol? 

- Também. Quero ver as estrelas. - Ele volta a ajeitar a cabeça, fechando os olhos. - Recomendo que se deite. 

Dito e feito. Ambos se deitaram sobre os braços, voltando a conversar assuntos diversos. 

Tsukishima não sabia ao certo quanto tempo se passou, mas ao voltar o olhar para o céu, as milhões de estrelas já brilhavam, junto da lua cheia, que servia como única forma de iluminação. 

- Olha. - O loiro interrompe a história de Yamaguchi, apontando para cima. 

Assim que Yamaguchi olha para o céu, um sorriso se abre em seu rosto. Era inevitável não lembrar de quando eram mais novos e iam para casa sozinhos, sob a luz do luar. Um sentimento de nostalgia toma conta do lugar, fazendo um suspiro escapar de ambos os garotos que observavam a imensidão acima de ambos. 

- É lindo, né? - Yamaguchi pergunta, encarando o céu. 

Tsukishima desvia seu olhar para o homem ao seu lado. Tão diferente, porém tão igual ao antigo Yamaguchi. Um sorriso surge nos lábios do loiro. Os olhos de Yamaguchi brilhavam graças a lua, que realçava ainda mais as pequenas e adoráveis sardas do rosto do mais baixo. 

- Sim. É lindo. 

Yamaguchi desvia o olhar para Tsukishima, enfim notando o olhar do loiro sobre si, fazendo-o corar. Ele passa a mão sobre a área raspada de sua nuca, fazendo um leve carinho nervoso na região.  

- Sempre que olho para o céu lembro de você. - Tsukishima volta a se deitar e observar o céu. 

- De mim? 

- Sim. Suas sardas me lembram do céu estrelado. Embora sejam mil vezes mais bonitas. - Ele dizia simples, com um sorriso genuíno no rosto. 

* 

Os dois homens, após ajeitarem tudo e guardarem no porta malas, entram no carro se abrigando do frio congelante que tomou conta do lugar após a singela conversa de ambos. O caminho se seguiu com Yamaguchi cantando as músicas que tocavam na rádio e Tsukishima tentando não cantar junto, para não estragar o momento do amigo. 

Após pararem na frente do prédio de Yamaguchi, o esverdeado tira o cinto, se preparando para sair, porém, parando no meio do caminho. 

- Obrigado pela noite. Foi muito legal. - Ele dizia sorrindo largamente, como o velho Yamaguchi costumava sorrir. 

- Eu quem agradeço a companhia. Se não fosse você seria o Kageyama, e convenhamos, você é mil vezes melhor que ele. 

- Está certo. - Ele diz após rir do comentário maldoso do amigo. - Então... boa noite, Tsukishima. 

- Boa noite, Yamaguchi. 

E o esverdeado sai do carro.