História Conta Comigo - Quem procura o que está quieto encontra o que está mexido

Diz o ditado que quem procura encontra. Ellie havia procurado e encontrara. Ou ela havia mexido no que estava quieto? Que droga! E agora? Estava até estranhando o fato de ninguém vir até ela ameaçando-a. Seus lábios já estavam adormecidos entre seus dentes. Continuava a mordê-los receosa pelas consequências que isso iria lhe causar. Tentava ainda afastar pela centésima vez a teimosa sensação dos lábios dele em contato com os dela.

- Hum... Se ele as beijara dessa maneira, não tem como culpa-las por essa paixão doentia. – Pensava Ellie enquanto se levantava para se preparar para o jantar.

Durante todo o trajeto seus pensamentos saltavam entre as consequências e o beijo. Não conseguia pensar em outra coisa. E isto a estava irritando. Ficou agradecida por não encontrar ninguém. Ainda distraída não percebeu quando Rosa entrou no quarto e a chamou.

- Ellie? Ellie? Terra chamando! – Rosa fez vários gestos com as mãos diante dos olhos de Ellie. – Helloooo!

Elizabeth despertou com a voz estridente de Rosa lhe chamando.

- Desculpe Rosa, não estava aqui...

- Não estava mesmo! E posso saber onde a senhorita estava? – E com um sorriso debochado acrescentou. – Estava nos braços do nosso ruivinho “simpático”?!

Ellie riu diante do gesto de Rosa ao sinalizar aspas no “simpático”.

- Mais ou menos. Estava mesmo era perdida no que isso acarretará.

- Hum... Em minha opinião você está muito encrencada.

- Hã? – Ellie olhava incrédula para Rosa. – Obrigada pelo apoio emocional.

- Pelo menos você conseguiu um beijo dele! Ah! E que beijo Ellie!

- Hei! Você não deveria estar toda animadinha assim!

Ambas começaram a rir e só pararam quando estavam quase a passarem mal.

- Venha Ellie, vamos jantar.

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Ao chegarem ao refeitório viram um grupo de pessoas reunidas em uma mesa. Foram se aproximando e era Kentin a razão de todo aquele reboliço. Viram que ele tinha uma de suas mãos enfaixadas, não conseguiram ouvir toda a conversa; ouviram o suficiente para compreender que ele estava dramatizando o seu acidente. Nada mais sensato já que o grupo em sua maioria era de garotas.

- Kim, você deveria estar lá também. – Rosa a cutucou.

- Não Rosa, ele não precisa. Como se vê ele está bem servido.

Kim tomou mais um gole do seu suco e se levantou para sair. Sentiu uma mão segurar o seu pulso.

- Kim, eu não acho que seja uma boa ideia você ficar sozinha agora. – Era Violete quem a aconselhava fuzilando Rosa com os olhos. – Fica conosco. Sente-se desse lado. Assim você acaba se distraindo.

- Desculpa Kim. – Rosa se lamentou. – Entretanto se você quer alguma coisa com aquele garoto você tem agir, não ficar apenas observando.

Ellie ouvia tudo isso tentada a interrompê-las e dizer tudo o que achava de Kentin. Achou melhor ficar calada. Nem ela tinha certeza de nada em relação a ele. Deu uma olhada na direção do garoto e o que viu foram dois olhos verdes querendo perfurar-lhe a alma. Mais uma vez o calar a boca seria uma boa opção.

Seus olhos se desviaram a aproximação de Castiel. Sentiu seu estômago embrulhar. Baixou seus olhos e notou que algo estava acontecendo. Viu algumas pessoas reclamarem apontando na direção da televisão. Olhou na mesma direção e viu Castiel sobre uma das cadeiras mudando o canal do aparelho e causando um rebuliço geral.

- Vão pro inferno vocês! – Castiel estava em um dos seus bom-humor. – Vocês vão me agradecer!

Com um sorriso no canto de seus lábios, ele desceu da cadeira e se direcionava para a mesa onde Ellie estava. Ele caminhava de costas ora olhando para televisão ora para onde estava a mesa. Todos ficaram em silêncio quando a banda favorita de quase todos ali naquele lugar apareceu em uma entrevista coletiva. Ellie ficou petrificada ao ver seus amigos ali na tela. Sentia saudades deles. Não sentia saudade das entrevistas. Era algo que ela não gostava. Enquanto a entrevista decorria, todos prestavam atenção em silêncio, Ellie, porém mais uma vez naquele dia se perdia em suas lembranças. Sentia saudades de cantar. É, talvez era isso o que estava faltando no seu dia-a-dia.

- Iris! É isso! Rosa onde está a Iris? – Ellie estava encarando sua amiga.

- É... Ellie, não sei se ...

- Ela deve estar no quarto dela, eu vou lá conversar com ela.

- Ellie, espera... – Rosa tentava chamar-lhe a atenção sem êxito.

Pryia até o momento calada levantou-se e seguiu a Ellie.

- Rosa, não seria melhor irmos junto?

- Não sei Violette. Talvez seja melhor assim. De qualquer forma as duas terão que se entender.

- Só mais uma pergunta. O que representará para vocês e para os fãs uma turnê sem a Lizzie? – Era o entrevistador quem falava. Todos esperavam pela resposta.

Ellie parou e olhou para a televisão. A câmera focou em Dimitri. Não tinha forças para continuar ouvindo. Saiu sem saber a resposta do homem a quem amava.

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Olhando para o carpete, Ellie respirou fundo e estava prestes a bater na porta do quarto de Iris quando sentiu uma mão lhe segurar. Ainda com os olhos no chão percebeu um par de sapatos próximos ao seus. Oxe! Lá vem problemas!. Levantou seus olhos e se deparou com Pryia. Uma Pryia com olhos tristes e um semblante severo. Ai! Problemas em dobro!

- Posso falar com você um instante? – Pryia lhe perguntou com uma voz de poucos amigos. Ellie sentiu sua respiração falhar um pouco. Não queria ter problemas com ela. Gostava dela. Recebera-a tão bem. Conseguiu apenas assentir.

- Eu sei que você chegou agora, e que ainda está nos conhecendo. Entretanto, acho que você está indo rápido demais em suas amizades.

- Está dizendo isso pelo que houve entre o Castiel e eu? – Pryia sentiu-se um pouco incomodada pela interrupção.

- É que isso não afeta apenas a vocês...

- Ah! Isso eu sei. Vai afetar metade do colégio pelo visto. Mas não sabia que afetava a ti também.

- A mim não diretamente...

- Desculpe, mas não entendo. Você não é amiga nem de Debrah e nem da Ambre. Não vejo aonde isso irá te afetar. Pelo contrário, achei que você gostava de vê-las irritadas ou que alguém as afrontasse.

- Ellie me... – Pryia foi interrompida com a porta abrindo e uma Iris com cabelos desgrenhados e cansada.

- Iris? Você está bem? – Ellie perguntou com uma voz preocupada.

- Iris, entre. Deixa que eu resolvo isso. – Pryia ordenou para sua amiga.

- Tudo bem Pry! Agradeço sua preocupação. Uma hora ou outra isso sempre acontece.

- Iris... – Pryia sussurrou e recebeu um sorriso carinhoso de Iris.

- Entre Ellie. Estava esperando por você.

- Estava? – Ellie olhou para Iris desconfiada.

- Sim. – Iris lhe sorriu. – Estou esperando sua resposta.

- Resposta? Resposta de que Iris? – Agora era Pryia quem estava desconfiada.

- Então... Era sobre isso que eu queria conversar com você. Porém acredito que o que Pryia quer conversar parece ser mais importante.

- Podemos dizer que está tudo relacionado Ellie. Uma coisa irá puxar a outra. Então você pode me responder primeiro. Aceita fazer o teste?

- Aceito. – Ellie respondeu com um entusiasmo maior do que gostaria de ter expressado. – Gostaria muito de pode te ajudar.

- Ótimo! Muito obrigada! – Pryia olhava sem entender nada.

- Te ajudar? Como assim te ajudar Iris? Como ela vai poder te ajudar? Ela praticamente te traiu...

- Não tem como ela ter feito isso Pryia sendo que ela não tinha como saber.

- Saber? Saber o que? – E o momento da expressão “Tô entendendo nada” era da Ellie. - Desculpa gente, mas ainda não entendi.

- Iris, o fato de ela entrar no grupo não quer dizer que mais cenas como as de hoje se repetirão?

- Pryia, desde que não seja a Debrah, não me importa.

- E ela não será uma nova Debrah Iris? Abra seus olhos por favor!

Ellie estava tentando conectar os assuntos. Olhou para Iris e Pryia. De repente duas teorias vieram em sua mente.

– Ai meu Deus! - Ellie sentiu as pernas tremerem. Preferiu focar em apenas uma das teorias. As duas seriam demais naquela noite. Lembrou-se do beijo. Lembrou-se que Iris também estava lá. Ela havia presenciado tudo. Sentiu um nó na sua garganta. Putz! Por essa eu não esperava! Pensa Ellie, pensa! Você tem que corrigir isso

- O que foi Ellie?

- Oh! Iris, eu sinto muito.

- Hã?

- Você também gosta dele! – Ellie se apoiou na parede. – Droga! Droga!

- Ellie, se acalme. – Iris começou a se aproximar de Ellie.

- Agora entendo. Mas eu não sabia Iris. Sinto muito. Não teria me aproximado. Mas eu sou uma burra! É claro que aconteceria, eu cheguei muito perto... Perto demais. – Virou repentinamente para Iris. Lagrimas escorriam em seu rosto. – Sinto muito. Não queria que isso acontecesse. Não queria te prejudicar. Pelo contrário, eu quero muito ser amiga de todas vocês. Oh céus! Não acerto uma. Desculpa Iris.

Ellie se dirigiu até a porta e Iris entrou na sua frente.

- Ellie, você não tem culpa! Ninguém tem culpa. Nem sempre os sentimentos são correspondidos. Já me acostumei com a ideia de não ter chances com ele. Não faz mal. Sempre fomos amigos. Ele nunca disse o contrário. É que ainda dói um pouco saber que eu não sou uma das opções.

Ellie olhou para Pryia e as duas abraçaram Iris.

- Eu... Iris... E-eu não sei ao certo o que te dizer. Só quero ajudar você, e voltar a cantar. Eu não estou interessada no Castiel, e por isso deveria ter interrompido o beijo. Mas naquele momento só pensei em desafiar as duas. Coisa que percebi logo em seguida que foi um erro. Por isso vim falar com você. Ajudando-te eu poderei retornar a cantar e ainda continuar a desafiá-las. Ai Iris! Como eu sinto muito!

As três permaneceram ali abraçadas. Iris se sentia leve. Não teria que conviver mais com Debrah. Não suportaria ter que passar por tudo aquilo de novo. Tudo bem que agora ela teria mais pessoas a quem recorrer. Mas Castiel? Não conseguiria o ver sofrer daquela maneira mais uma vez. Até quando Pryia teria que ver sua amiga sofrer por aquele idiota? Aquilo estava lhe corroendo por dentro.

- Obrigada! – Foi Iris quem interrompeu aquele momento. – Obrigada a vocês duas! Não poderia desejar melhores amigas!

Sorrindo, separou-se das duas e foi em direção a sua cama.

- Agora, eu gostaria de descansar. Amanhã será um dia cheio. Terei uma tarde toda ouvindo garotas desafinadas. Vejo-te amanhã Ellie. Até daqui a pouco Pryia. – Deitou-se e se preparou para dormir.

Ellie tocou no ombro de Pryia e quando esta lhe olhou fez um sinal para que saíssem do quarto. Pryia a seguiu.

- Pryia, eu sinto muito mesmo. Acho que tudo isso foi minha culpa por não ter participado daquela noite dos pijamas. Se eu estivesse lá, saberia mais sobre vocês. Não precisaria aprender com os erros.

- Eu também peço desculpa. Mas não consigo ver meus amigos sofrerem. E Debrah nos causou grandes sofrimentos. Não gostaria de revivê-los.

- Eu entendo. É... – Ellie se sentiu desconfortável. Queria saber se sua outra teoria estava correta. Não sabia como perguntar. – É...

- É? – Pryia a olhou esperando pelo resto da frase.

- Você tem um interesse a mais pela Iris né? – Resolveu ir direto ao ponto. Viu Pryia sentir um leve incomodo. – Não precisa responder se não quiser.

- Você não é tão lerdinha quanto estava demonstrando alguns minutos atrás. – Pryia lhe deu um meio sorriso.

- Na verdade tudo veio de uma vez só. – Ellie não conseguia encarar Pryia. Sentia como se estivesse caminhando por um campo minado.

- Você percebeu. Acredito que você foi a única. Na verdade, você foi a que chegou mais perto de me ver um pouco descontrolada.

- Confesso que comecei a ver toda a minha vida passando diante dos meus olhos. – Olhou para Pryia sorrindo e as duas caíram na gargalhada.

- Não precisa tanto. Mas já sabe que ela é muito valiosa para mim.

- Sei. Ela também sabe.

- Não tudo. Ainda não sinto que seja o momento correto para que ela saiba tudo. Talvez seja melhor deixar assim por enquanto.

- Só não deixe o tempo passar demais. – Sorriu novamente. – Boa noite! E desculpe pelo transtorno.

Pryia acenou-lhe um tchau com as mãos e entrou. Depois de alguns minutos se arrumando para se deitar, aproximou-se da cama de Iris. Acariciou os seus cabelos, Iris não se moveu. Pryia observou Iris dormir. Aproximou-se e beijou-lhe a testa sussurrando.

- Eu te amo minha ruivinha! – Sorriu e se deitou. Concentrou-se para se acalmar e esperar o sono chegar. E com ele os sonhos.