História Conta Comigo - O número de formigas para sorrir

Nina estava cabisbaixa naquela manhã. Observava o caminho que as formigas faziam em meio às flores. Sorriu ao se lembrar dos episódios que assistira do Pica-pau, Tom e Jerry, entre outros, onde as formigas deixavam todos loucos. Lembrou-se também que formigas era a única coisa que ela sabia desenhar. Alé é claro de que se sentia como uma formiga naquele colégio.

         - Bom dia Nina! – Nina sobressaltou-se. Não esperava que alguém viesse conversar com ela, ou melhor, que alguém percebesse a sua presença. – Me desculpe se te assustei.

         - Bom dia Ellie. Está tudo bem! – Nina sorriu. Além de Tomas, Ellie era uma pessoa queela gostava bastante. – Estava distraída com as formigas.

         - “Todo enigma da vida está fechado na cabeça de uma formiga” – 

Ellie citou em voz alta tentando se lembrar onde leu isso.

         - Teixeira de Pascoaes.– Nina deu um pequeno sorriso. – As aulas de literatura tem sido marcantes.

         - Nem me fale Nina. Você acredita que cada semana nossos horários são diferentes? – Ellie respirou fundo.

         - Tomás me contou. A irmã dele está no ultimo ano.

         - Sério? Quem é a irmã de Tomas? – Ellie perguntou intrigada.

         - É a Iris. Ela esta na sua turma?

         - Está sim! Que legal. Prevejo que em breve irei conhecer mais o Tomas. – Ellie sorriu para Nina.

         - Vocês irão cantar juntas né? Nem tive tempo de te parabenizar. – Nina a abraçou.

         - Obrigada Nina. – Ellie agradeceu com a voz um pouco triste. – Não sei se será tão bom assim.

         - Por causa da Debrah? Acredito que muitos de nossos santos não batem com o dela. – As duas riram.

         - Nina, eu sei que não devo me meter, mas, você não deveria desistir.

         - Do jornal? – Nina encarou Ellie que acenou afirmativamente. Nina levantou sua cabeça e olhava para o céu. – Eu conhecia o jornal. Deveria ter imaginado que Peggy faria uma coisa assim. No entanto eu não me preparei para esse choque.

         Ellie pousou sua mão no ombro de Nina, porém não disse nada.

         - Você foi a mais afetada pela Peggy, e mesmo assim vem me consolar... – Ela voltou seus olhos para as formigas no chão tentando se controlar para não chorar.

         - Não se preocupe Nina. O que ela escreveu ou escreve para mim não faz diferença. Aliás, para nenhum de nós. – Ellie puxou levemente o rosto de Nina para que esta olhasse para si. Com um pequeno sorriso aconselhou. – E sabe de uma coisa? Eu acho que você deveria criar uma concorrência com ela.

         - Você só pode estar brincando! – Nina riu olhando para Ellie. Ellie se manteve séria e sem reação. – Estás a falar sério?

         - É claro Nina. Você pode escrever um jornal totalmente diferente do dela. Um jornal de verdade. Não uma revista de fofocas. Você é inteligente. E você tem o Tomás para te ajudar. Sei que você terá ideias maravilhosas. E conseguirá criar um jornal que nos traga conhecimentos.

         - Obrigada Ellie. – Nina agradeceu com um brilho nos olhos. – Vou fazer o melhor jornal desse colégio. Tomás e você terão muito orgulho de mim.

         Nina abraçou Ellie e foi correndo para dentro do colégio. Muitas idéias já surgiam em sua mente. Faria isso por eles. Por sua nova amiga e por seu amor.

         - Já estamos orgulhosos de você! – Ellie declarou com a voz baixa observando Nina ir embora. 

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- Deu de falar sozinha agora é? – Ellie teve um leve sobressalto ao sentir um corpo sentando de qualquer maneira ao seu lado. Castiel tinha uns hábitos que a fazia se lembrar de Dake. Sorriu para o ruivo.

         - Isso pode ser contagiante tá? – E começou a tocar no garoto e este tentando fugir.

         - Sai pra lá. Não quero essa loucura para mim não!

         - Como se você fosse muito normal! – Ellie disse revirando os olhos e voltando a se comportar um pouco envergonhada. O que deu nela? Nem tinham intimidade para tal?

         - Me passa teu numero. – Castiel disse seco. Ellie olhou de canto para ele. Havia entendido o que ele queria. “Irritá-lo até que é divertido”.

- 48.741.

         - Hã? – Castiel olhou para ela sem entender.

         - Você pediu meu numero. Estou passando. Pelo menos foi esse o numero que Nathaniel me deu quando cheguei. – Ellie apenas viu Castiel ficando mais sério que o normal. – Ah! Desculpe-me. Não era esse numero? Acho que não, se fosse você teria dito “Me passa tua matrícula”. Ai que distração a minha. O meu numero é 35 dependendo do modelo.

         - Do que você está falando garota? – Castiel estava ficando irritado.

         - Também não é do sapato? – Ellie ficou pensativa. – Se fosse ele teria dito “Qual numero do seu sapato? Ou que numero você calça?”.

         - Chega! Não precisa continuar. Já entendi. – Ellie olhou para ele e sentiu um arrepio na nuca. Ele estava assustador. Preferiu não dizer nada. – Eu quero o numero do seu celular. Aquele que adicionamos no wattsapp por exemplo. Tá difícil ou terei que desenhar.

         - Você está de brincadeira né? Você não explica e quer que eu adivinhe? Poderia ter sido um pouco mais claro. – Ellie então o encarou com um sorriso travesso. – E é dessa maneira que você pede o telefone para uma garota? Cadê a educação e o cavalheirismo?

         - Estão com o Lysandre. – Castiel respondeu em um tom seco e direto. O que não impediu de Ellie explodir em risos. Ele arqueou uma de suas sombrancelhas e riu também. Não tinha como evitar, ela tinha uma risada contagiante. Depois de alguns minutos que demoraram a se recompor Castiel continuou. – Vamos, passa logo o numero. Não temos tempo de ficar te procurando pelo colégio inteiro para te dar os recados da banda.

         - Está bem não vou te irritar mais.

         - Acho bom mesmo.

         Ela passou o numero e Castiel a adicionou no grupo. Assim poderiam decidir as coisas mesmo enquanto não estivessem juntos.

         - Foi assim que você conseguiu o numero da Ambre? – Ellie perguntou vendo que ela estava em primeiro lugar nas conversas do ruivo. Ouviu-o suspirar.

         - Não, ela mesma o ofereceu sem eu pedir.

         - E como estão indo as aulas de química?

         - Um inferno. Podemos mudar de assuntou? A não ser que você queira ficar sozinha, eu a deixo sem questionar. – Castiel ia se levantando e ela o segurou.

         - Tudo bem. Desculpa. Mas é tentador irritar a sua pessoa. – Ela ria dando um tapa de leve em seu braço.

         - Para com isso, já disse que não quero ficar louco. – E novamente começaram a brincadeira.

         Uma brincadeira e conversa que não estava sendo bem vista pelo representante de turma. Nathaniel não via essa amizade com bons olhos. Nem sequer concordava em que Castiel formasse dupla com sua irmã. Mas de qualquer forma, os dois se mereciam. Já Ellie, não era como sua irmã. Arrependia-se de um dia ter apresentado um ao outro. Se perguntava como mesmo foi que os dois deixaram de serem amigos e apenas toleravam a presença um do outro quando não podiam evitar?

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- Não precisa se preocupar com os dois Nathaniel. Você sabe que ele é um bom amigo. – Nath virou-se para o dono da voz. Era Lysandre. – Vocês só não conseguiram se perdoar ainda.

         - Talvez. Mas isso ainda não me deixa tranquilo.

         Não deixava Nathaniel, e tampouco deixava Lysandre. Não entendia ainda porque ver os dois se divertindo daquela maneira o incomodava tanto. Porque ele tinha a sensação de que ele gostaria de estar ali ao lado dela no lugar de seu amigo, era algo que o intrigava e ele não tinha ideia do porque tudo isso vir em sua mente.

         - Nathaniel, precisamos conversar. Estou tentando falar com você desde segunda.

         - Está uma correria! Além dos estudos tenho o grêmio para tomar conta. Dividimos muitas coisas entre todos os representantes. Mas está muito complicado. – Nathaniel desabafava. – Coitado do Samuel, praticamente joguei 50% das tarefas somente para ele.

         - Mas e a Melody? Ela também esta no grêmio não.

         - Não me fale dela! Kate e eu estamos passando por uns momentos complicados por causa dela. Tenho muita paciência, mas ela e o Kentin estão me fazendo perdê-la.

         - Bem é sobre o Kentin que eu gostaria de conversar com você. – Nath olhou um pouco surpreso para Lysandre. Este mantinha uma calma e um olhar distraído. Já não olhava mais para Castiel e Elizabeth. – Descobri algumas coisas no final de semana.

         - Vem. O meu quarto é o mais próximo. Não acho que isso seja assunto para se tratar nos corredores, estou certo? – Lysandre apenas afirmou com um gesto e se dirigiram ao quarto do representante. O quarto do representante não era muito diferente do de Lysandre. Um pouco menos bagunçado talvez. E a pouca organização tinha suas peculiaridades. Os dois não se diferenciavam tanto em questão de organização. Já Cggastiel, deixava Lysandre louco. Nathaniel também se lembrava disso.

         Lysandre começou a contar o que ele havia presenciado entre Elizabeth e Giles. Não foi interrompido nenhuma vez pelo .brepresentante. Apesar de Nath estar curioso sobre certos detalhes que Lysandre nem sequer referia-se a eles, sabia que se o interrompesse ele se perderia no seu relato. E retornar a ele com todos os detalhes seria algo difícil para seu amigo distráido e esquecido.

         - Não acredito. – Nathaniel tinha dificuldades em digerir todas aquelas informações. – Isso é muito sério!

         Lysandre demonstrava preocupação, apenas resmungou algo confirmando o comentário que Nathaniel havia feito. Após algum tempo de silêncio e reflexões Nathaniel quebrou o silêncio.

         - E depois, o que aconteceu? – Natanhaiel questionou o amigo.

         - Nada. Deixamos Giles e voltamos para minha casa. – Nathaniel fitava o amigo com uma expressão que Lysandre não entendia.

         - Sério? – Nathaniel tinha uma expressão divertida e Lysandre apenas o encarava.

         - Não compreendo o que você quer dizer. – Nathaniel começou a rir e Lysandre sem entender.

         - Realmente não entendo como você e o Castiel são amigos. Vocês são totalmente diferentes. – Nathaniel ainda ria.

         - O que isso tem a ver com o assunto? – Lysandre estava confuso.

         - Enquanto você passa o dia todo com uma garota e apenas conversa. Seu amigo em apenas uma troca de olhares já a beija. – Nathaniel estava sério agora e Lysandre o olhava com repreensão.

         - Não deveria falar assim de sua amiga. – Nathaniel o olhou surpreso. O tom de sua voz era rude. – Ela não tem culpa das inconsequências de Castiel. E até onde eu sei a culpa é toda tua.

         Nathaniel abriu a boca para falar algo. Não conseguiu. Raramente Lysandre se comportava assim. E mais raro ainda era ser tão duro com as palavras.

         - É. Você está certo. – Nathaniel olhava pela janela. Não estava afim de encarar o amigo novamente. – Mas tudo isso que você me contou me faz ficar temeroso com Ellie. Ela estava desolada quando enfrentou o suposto Kentin aqui no colégio. Chorava muito. Era como se ele já não estivesse mais aqui.

         - Ela falou algo sobre isso. E fez o mesmo após a conversa com Giles. Só o fato de ter a possibilidade de ele ter morrido acaba com ela. – Lysandre se aproximou da janela. Ellie não ria mais com Castiel, e sim com suas amigas. – Momentos como esse são importantes para ela. Não importa muito com quem, desde que o sorriso esteja estampado em seu rosto.

         - É meu caro. – Nathaniel colocou a mão no ombro de Lysandre. – Acredito que iremos a consolar mais vezes quando Kentin for o assunto.

         Viram Kentin passando com Dajan. Conversavam sobre algo. E o sorriso no rosto de Ellie se esvaíra rapidamente.

         - E mais uma coisa Lysandre – Nathaniel completou. – Vamos ficar de olho nela. Ellie tem a mania de agir sem pensar e por conta própria. Ela é durona.

         Lysandre tinha a visto ser forte ao enfrentar Giles, e ser frágil ao pensar em Kentin. Concordava com Nathaniel. Sabiam que teriam um trabalho difícil nesse caso.

         - Você tem alguma ideia de como vamos resolver isso Nathaniel?

         - Ainda não. Tenho certeza que vamos encontrar uma maneira. – Nathaniel sentiu o celular vibrar. O pegou. – Preciso ir Lys. Eu marquei com a Kate agora.

         - Tudo bem. Até logo então.

Lysandre e Nathaniel deixaram o quarto deste e cada um foi para um caminho diferente. Lysandre pegou o celular para ver que horas eram. Havia esquecido seu relógio no quarto. Foi o inverso dessa vez. Ele se lembrou do celular e esqueceu o relógio. Havia algumas mensagens para ler. Alguns lembretes de seu irmão Leigh e alguns recados de Rosa em relação ao colégio. Os dois sempre estavam ali presentes quando sua memória o abandonava. Viu também que havia muitas mensagens no grupo da banda. Sentou-se na escada e começou a ler. Viu que Castiel havia adicionado um novo numero no grupo.

Iris: Seja bem vinda Ellie.

Castiel: Só não queremos aqui aquelas mensagens melosas que vocês vivem enviando.

***: Aff! Até aqui você é impertinente.

Iris: kkkkkk Vocês não vão começar né?

Lys cadê você para por ordem aqui?

Castiel: Pelo visto deve ter deixado o celular perdido em seu quarto.

Iris: Ellie você não encontrou o celular dele por aí?

***: E por que eu deveria encontrar?

Castiel: Como você foi quem encontrou o bloco de notas dele, poderia ter encontrado o celular também.

Iris: kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Castiel: kkkkkkkkkkkkkkkk

***: Vocês dois não tem jeito mesmo.

Cassy, você disse que eu veria recados aqui, mas só estou vendo vocês rirem do Lysandre.

Iris: Cassy? Desde quando? Kkkkkk

Castiel: VOU ACHAR VOCÊS DUAS E VOCÊS IRÃO VER

Iris: Lys cadê você. Segura o mocinho aí.

***: kkkkkkkkkkkkkkkkk

Castiel: Aff. Vão caçar algo para fazer que não seja me encher.

A conversa se desenrolou mais um pouco. Ler aquilo fez Lysandre rir e ao mesmo tempo ficar constrangido. Castiel iria sofrer um pouco com elas. O bom é que não seria só ele a ser o motivo das piadas. Ele já adicionou Ellie em seus contatos para não esquecer. Ficou curioso para ver sua foto no aplicativo. Não dava para entender direito a foto. Eram dois rostos pela metade. Um deles parecia ser o de Ellie, já o outro não dava para identificar, somente que eram azuis. De quem seria aquele rosto? Perguntaria a Ellie mais tarde.

Lembrar-se de quando Ellie lhe entregou o bloco de notas, despertou nele a mesma sensação daquele dia. Lembrou-se também da primeira vez que a vira na loja de Leigh. E de como se sentia bem ao cantar com ela. Eram muitos momentos para recordarem de tão poucos dias que se conheceram. E uma mistura de sentimentos e sensações desconhecidas por ele. E isso o preocupava.