Desci as escadas em direção a sala de jantar. Tentei andar devagar averiguando se não havia mais ninguém em casa. Com o estômago vazio e a maquiagem borrada, tomei o devido cuidado de não cortar meus pés com os cacos caídos do meu coração partido há umas horas atrás.
Passei por eles devagar, virando pó. De repente me sobressalto e dou um pulo. Engulo o grito que estava prestes a se formar em minha garganta e vou em direção a pessoa desconhecida que me encara do outro lado do espelho.
A figura era horrenda, mas estranhamente sorriu para mim. Mas, analisando com bastante atenção, comecei a achá-la familiar até. Traços, espinhas, cores e sinais. Definitivamente, a criatura não era tão feia assim. Na verdade, me acostumei com ela. Quis pô-la no colo e cuidar. Dar carinho e atenção. Algo nela me atraía.
Dias se passaram. Ela se tornou minha companheira e confidente. Como uma sombra estava sempre comigo. Era dócil. E, notava uma mudança discreta nas suas cinzas.
Meses mais tarde, notei como ela se parecia comigo e como o pó dos cacos, antes caídos na escada, coloria sua imagem cada vez mais. Finalmente, conheci seus contornos. Ou melhor, reconheci.
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