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História Contos da Meia-Noite - A Doce Vingança


Escrita por: giulsAn

Notas do Autor


Um conto único

Capítulo 1 - A Doce Vingança


Fanfic / Fanfiction Contos da Meia-Noite - A Doce Vingança

Cleck. Cleck. Cleck. Toda vez que a água que vazava do cano de cima se encontrava com a bandeja de metal do canto da sala. Aquela cubículo branco, que diferente do que muitos pensam, lembram a morte, foi o lugar que se deu o ínicio de tudo. E não digo como uma forma bíblica, se é que existe Deus, mas se for observar com olhos católicos, sua forma era diabólica. Não me leve a mal. Eu nasci e cresci em um família católica e, aparentemente feliz. Talvez tenha sido esse o problema. Não a família, mas o que ela representava, o que ela fez. O que eles fizeram comigo. 

    Lembro-me de pouca coisa. A pandemia estava causando pânico. O vírus que o próprio governo criou, invadiram jornais e notícias afirmando ser apenas um fator de segurança que o país necessitava. Como se os livros de história constatasse que em algum momento armas biológicas deram certo. Cômico, se não fosse trágico. Não demorou muito para que alguém vazasse a tal substância. Não sei ao certo como isso se espalhou, mas a velocidade com que o caos foi criado chegou a ser catastrófico. Sinais de televisão cortados, rádios com chiados constantes, pessoas ensandecidas na rua. Pareceu, primeiramente, que o vírus, além de se espalhar pelo ar, afetava o cérebro de modo rápido e deteriorante. 

    Você deve estar se perguntando como eu não fui afetada. Bom, nunca fui de sair de casa, mas tinha plena visão dos horrores que as pessoas faziam uma com as outras. Não nego que o medo de invadirem a minha casa e atacarem a minha família era enorme. Contudo, o que eu não esperava foi o que aconteceu. As pessoas que invadiram a minha casa não estavam insanas ou violentas, muito pelo contrário, suas vestes brancas, cobrindo seus corpos até a cabeça, com a utilização de máscara. Aquelas máscaras vistas em filmes de terror ou apocalipse viral. O engraçado é que tudo isso se tornou realidade. Tornou-se a minha realidade. 

    Os indivíduos que invadiram a minha casa, por algum motivo conheciam meus pais e os mesmos não relutam quando fui arrastada contra a minha vontade para dentro de uma van branca.Olhei pelas janelas e os olhares inexpressivos de meus pais na janela perto da porta confirmaram que eu estava completamente sozinha. Senti minha respiração falhar consideravelmente no momento que algo beliscou meu braço. Encarei a pessoa mascarada assustada e tentei o empurrar para longe, mas a força foi se esvaindo.

    - O que… - Não consegui finalizar a frase. O meu mundo estava girando. Fechei os olhos para que conseguisse me concentrar em ficar bem, porém não foi um sucesso.

    - Avise, Loehim! - Disse o homem ao meu lado de forma abafada. - A primeira paciente está a caminho.

    E então apaguei. Foi assim que tudo aconteceu para mim. Perdi a noção de quantos dias estava ali há muito tempo. A única constante que existia era que todo dia, uma dose. Não sabia do que era feita a dose, mas ela causava algo em mim. A primeira quase fritou meu cérebro, assim como meu corpo. Minha pele é constituída por inúmeras cicatrizes de bolhas que estouram enquanto a mesma fritava. Não sei como continuo pensando. Como continuo lúcida. Deve ser por isso que continuavam com os testes.

    Logo após a fritura corporal, a segunda dose causou congelamento total de meus ossos gradativamente. Eu conseguia sentir o frio sair das minhas extremidades, paralisando cada movimento, atrofiando cada músculo. A sensação era quase indescritível. Queria gritar e arrebentar as correntes que me mantinham presa nesta cadeira branca, mas de nada poderia ser feito. Eu estava fisicamente morta. No primeiro momento, conseguia sentir meus músculos lutarem contra o atrofiamento, se contorcendo, causando uma dor insuportável. E, enquanto isso acontecia, os de branco só assistiam, anotando algo em uma prancheta. Acredito que estavam anotando o resultado desse fracasso. 

    E então veio a terceira dose, no momento em que ouvi a gota encontrar a bandeja de metal. Queria saber o que isso iria fazer comigo agora. Por que não me avisaram? Eles sabiam que eu estava consciente, não?

    - O que há neste coquetel, Eziquiel? - Perguntou um dos brancos. Quase senti um leve alívio. Queria saber o que havia ali.

    - A Substância A.

    - Substância A!? - Disse um incrédulo. - Você viu o que ela causou nos animais que testamos! Isso pode assinar a nossa morte!

    - Para de ser tão fresco! - Riu. - DNAs diferentes. E olhe para ela. - Tentei mover meus olhos, mas não precisava estava congelada para sentir o peso do análise sobre meu corpo petrificado. - Não vai acontecer nada. No máximo ficará mais peluda.

    Ambos riram. Eu queria chorar, me mover, sair correndo daquele lugar, mas de nada adiantava. Prendi a respiração assim que senti o liquido grosso invadir minhas veias, as quais estavam tão atrofiadas quanto os músculos. Aquilo arquia. Conseguia ouvir a máquina que controlava meu batimento cardíaco começar ir a loucura, enquanto eles observavam. Meus ossos, que antes estavam completamente estáticos, começaram a quebrar e aumentar de tamanho, desfigurando toda e cada parte do meu corpo. Eu conseguia ouvir, em meio a dor, minha pele sendo dilacerada pela expansão óssea. Meu ombros estalavam, assim como meus braços e mãos, que aumentavam brutescamente. Eu conseguia sentir a pele do meu rosto de desprender dos músculos. Eu estava me tornando um monstro. Minha boca, a qual estava fechada por dias, foi obrigada a abrir, pois meus dentes alargaram e se expandiram para fora de meus lábios.

    Eu, de fato, queria chorar. O monstro que eu estava me tornando e por quê? O que todo este teste significa!? Por que eu!? 

    Ao aumentar de tamanho, meu corpo que estava completamente congelado, ao receber tal substância, não só recuperou levemente em movimentos, como arrebentaram as correntes que me mantinham presa naquela cadeira. Movimentei minha cabeça para os lados e assim que minha orelha bateu meu ombro, engoli o seco. Eu estava horrenda e deformada. Não precisava olhar um espelho, apenas as reações dos brancos fizeram com que concluísse a mera realidade. 

    Virei meu corpo, com cuidado, pulando da cadeira e no segundo em que meus pés encontram ao chão, minha cabeça encontrou com o lustre preso no teto. O encarei, tampando levemente meus olhos, mas assim que vi minhas mãos eu senti um sopro de ar rasgar a minha garganta. Eu gritei. Elas estavam enormes e minhas unhas, podres. O que eles fizeram comigo!? 

    Os encarei, completamente transtornada e quando vi que um deles anotava algo na prancheta, a raiva borbulhou em meu estômago. Respirei fundo e caminhei desengonçadamente até o branco que havia me injetado a tal Substância A e que agora anotava em sua prancheta. No momento que ele me viu em sua frente, sorri. Não precisou muito mais que isso para que ele tentasse correr, mas já era tarde, pois minhas grandes mãos já haviam agarrado seu pescoço. Vi-o contercer, mas tudo que eu queria era a morte dele. Vê-lo em desespero eletrizou uma enorme carga de prazer. Prazer, do qual ardia minha garganta e coçava a minha gengiva. Antes que ele pudesse gritar por socorro, comecei a abrir a minha boca e não nego o quão surpresa fiquei com o tamanho que ela conseguia expandir. Não podia evitar, tudo isso era instintivo e eu tinha fome. Muita fome. 

    Assim que a minha boca se fechou em sua cabeça, forcei minha mandíbula, ouvindo seu crânio rachar facilmente, e sua pele se prender entre meus dentes. O gosto era bom. E quando digo isso, não me refiro ao sangue. A vingança, como muitas histórias adoram parafrasear, é doce. Depois de um tempo, não houve luta. Soltei o pequeno corpo, ouvindo o mesmo encontrar a poça de sangue e me virei. Havia mais um na sala, não havia?

    O medo é um odor chamativo demais para um animal como eu. Os suspiros e respirações alteradas eram no mínimo engraçadas a altura do campeonato. Queria perguntar “Cadê você?” num tom de brincadeira, mas minhas deformações não me permitiam se comunicar. Começando a andar, percebi que o sangue do homem branco estava fazendo com que meu pé deslizasse pelo chão. Isso não era bom, mas era o que tinha. Eu sabia aonde o outro homem estava. O cubículo era pequeno demais para se esconder e eles só poderiam sair assim que colocassem a prancheta em um buraco de plástico na parede. Sem prancheta, bom, sem saída. Observei o canto escuro da sala, o qual ficavam os armários com os remédios e, por mais que esteja um monstro, pelo menos minha visão melhorou no mínimo uns 80%. Isso era algo para se adicionar na prancheta.

    E lá estava ele. Tremendo atrás do armário branco. Patético. No segundo que me viu, de alguma forma, criou coragem e correu para o outro lado da sala, a qual continha um grande botão vermelho. Emergência. Não demorou muito para o barulho ecoar pelo local, vibrar cada estrutura e queimando meus tímpanos. Ah, que inferno! Corri até ele da forma que pude, mas antes de tocá-lo, o pequeno se encolheu trêmulo.

    - Eles estão vindo! - Gritou, gaguejando. Queria rir, responder, porém não conseguia. Apenas o olhei, analisando seu desespero e sem pensar muito nisso, minhas unhas, as quais estavam afiadas e nojentas, atravessaram o pequeno espaço denominado pescoço, rasgando cada parte de constituía aquele local. 

O sangue que espirrou pelas paredes, eram um aviso. Um aviso para aqueles que estavam vindo. Eu estarei aqui, esperando por mais. Eu estarei aqui, pronta para matá-los.

E se você está lendo isso e, de alguma forma, contribuiu para esse meu final, saiba: eu não irei a lugar algum e você irá pagar caro pelo que deixaram fazer comigo.



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