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História Contos do Acaso - Favor


Escrita por: 1000Hands

Notas do Autor


Boa Leitura!

Capítulo 2 - Favor


Fanfic / Fanfiction Contos do Acaso - Favor

Os raios do sol que, passavam pelas brechas das cortinas, invadiam o quarto. Camila mexeu seu corpo na cama, acabando de perder o sono. Mexeu suas pernas e percebeu que havia outras pernas entrelaçadas as dela, abriu os olhos com espanto e viu que estava com a cabeça enterrada no peito de uma linda mulher, que dormia serenamente a sua frente. Fechou os olhos e inspirou satisfatoriamente, sentindo-se extremamente confortável. Ao lembrar-se da noite passada abriu os olhos violentamente e empurrou a mulher, de uma forma não tão brusca para não acordá-la, levantou-se da cama rapidamente e logo as dores tomaram o seu corpo todo. Sentia-se como se alguém a tivesse espancado e com esse pensamento recordou os acontecimentos do dia anterior, olhou para cama constatando que a moça deitada ali dormia tranquilamente, caminhou até a sacada ainda com dores. Espirrou três vezes seguida, com certeza, estaria gripada.

Abriu as cortinas e a porta da sacada, sentiu o sol tocar o seu corpo e suspirou com a sensação, olhou para o horizonte avistando a cidade a frente. Agora pela manhã a visão era melhor. Memórias invadiam sua mente, lembranças da infância, as brincadeiras com os pais nos parques daquela cidade, os dias em que ela e pai andavam de bicicleta na pracinha do condômino onde moravam.

Camila estava feliz por estar de volta a Merton, mas lembrou-se do real motivo de estar ali, ela precisava pedir perdão aos seus pais, não os via há tanto tempo que a saudade chegava a doer. Mas não podia simplesmente correr para eles, não sabia se a aceitariam, se acreditaram quando ela disse que não pisaria naquela casa nunca mais. Sentia-se tão culpada, se não quisesse assustá-los, talvez, tivesse evitado tanto sofrimento. A última imagem de seus pais não era nada agradável, sua mãe gritando com ela e seu pai com um olhar assustado, porém não se importava mais com o passado falaria com seus pais de qualquer jeito, ao menos, para explicá-los o que aconteceu. Lembrava-se de sua irmã, de como ela já estaria crescida, afinal foram cinco anos sem vê-la, sem abraça-la, sem sentir aquele cheirinho gostoso que só ela tinha. Talvez, sua irmã nem se lembrasse mais dela, talvez, seus pais também tivessem se esforçado para que ela esquecesse. Em todo esse tempo nunca a procuraram, nunca foram atrás dela. Essas memórias permaneciam frescas em sua cabeça, lembrava-se perfeitamente deste momento, foi algo que a marcou.

Lauren que havia cordado com a jovem empurrando seu corpo e agora a olhava ainda deitada na cama. Queria saber que motivo estava fazendo aquela jovem, na sacada, chorar. A posição do corpo da moça lhe permitia ver as lágrimas que rolavam por seu rosto. Pensava que ela poderia estar sentindo dor, afinal, havia alguns hematomas no corpo dela. Ou talvez, ela tivesse se lembrado de algo. Ela poderia ter lembrado do, por que, de está jogada na estrada embaixo de chuva. Com esse pensamento Lauren moveu seu corpo para levantar-se da cama, mas ao ver Camila voltar para o quarto enxugando as lágrimas, fingiu está dormindo novamente.

Camila caminhou até as malas de Lauren e abriu a mesma em que havia mexido na noite passada. Lauren observava tudo com os olhos estreitos, fazendo uma pequena brecha com eles.

_ Onde está? _ ouviu a moça murmurar.

Pensou consigo mesma, o que ela poderia está procurando.

_ Achei _ murmurou novamente.

Lauren não conseguiu ver o que era já que a jovem colocou o objeto a frente de seu corpo e logo saiu em direção ao banheiro. Mas assim que a porta do porta do banheiro foi fechada, ela se levantou e foi em direção à mala, abrindo-a e procurando por algo que sentisse falta.

No banheiro, Camila colocou o vestido no apoio para toalhas e tirou o seu roupão em seguida, agora conseguindo ver seus hematomas. Foi para frente do espelho e percebeu em sua costa, era aonde se concentrava mais hematomas, com essa visão lembrou-se dos golpes que recebeu ali. Havia apenas um em sua barriga e em seu braço mais alguns pequenos, mas na parte interna de sua coxa  direita, próximo a virilha, tinha um hematoma muito grande e de cor arroxeada que estava doendo mais que os outros. Entrou em baixo do chuveiro e tomou um relaxante banho quente.

Lauren não viu nada de errado com suas malas, não estava faltava dinheiro, então concluiu que não havia sido roubada, mas esperaria até que a outra saísse do banheiro para perguntá-la.

Enquanto esperava ligou pedindo o seu café da manhã, o seu e o de Camila, que rapidamente foi entregue. Porém, não aguentava mais a demora da jovem no banheiro. Aproximou-se da porta e quando iria bater na mesma, ela foi aberta.

_ Que susto!_ Camila levou a mão ao peito.

Lauren desceu o seu olhar por todo o corpo da jovem a sua frente, porque Lauren era boba e ela não pôde deixar de reparar que aquela camisa ficou muito bem nela. Agora viu que Camila tinha pegado sua camisa social listrada, em rosa e branco e, o seu cinto trançado, também. A combinação até que ficou boa.

_ Ah, desculpa _ Camila percebeu seu olhar e logo tratou de se explicar _ Eu peguei uma roupa sua emprestada, é que eu não tenho nada. Você estava dormindo e eu não quis te acordar pra te pedir, apenas, isso. Mas si tiver problema eu posso tirar...

_ Não tem problema _ Lauren cortou a moça que falava sem parar.

Camila abriu um sorriso em agradecimento.

_ Então, como o vestido ficou mim?

_ Curto _ Lauren respondeu seca, só agora tirando o olhar do corpo da garota a sua frente _ Até porque não é um vestido. É uma camisa, uma pouco comprida, mas ainda é uma camisa.

O sorriso de Camila se desfez, assim que ela teve sua resposta.

_ Mas é o que tem! _ela respondeu fechando a cara passando por Lauren, que sorriu ao ver deixou a garota irritada.

O seu sorriso se desfez ao perceber que a moça estava mancando, com certeza, os remédios de ontem perderam o efeito.

_ Você está sentindo dor? _ saiu atrás dela.

_ Não muita _ respondeu.

_ Está vendo? Pra quê você foi fugir daquele hospital? Seu corpo vai doer agora que está com sangue frio, você está machucada, garota!

_ Eu não estou machucada! _ Camila sentou-se a mesa _ E eu não gosto que me chamem de garota!

_ A gente vai num hospital quando sair daqui! _ Lauren ignorou a resposta da jovem e sentou-se a sua frente na mesa.

_ Eu já falei que eu não quero.

_ E eu não tô nem aí!

Depois dessa breve discussão, elas tomaram o café em silêncio e evitaram olhar uma para outra, também. Após o café Camila voltou para o banheiro e Lauren foi separar uma roupa para vestir.

_ Olha só que legal! _ Camila saiu do banheiro _ Eles têm secador aqui.

Lauren sorriu da empolgação dela e quando ela estava voltando para o banheiro, chamou-a a atenção.

_ Oi _ Camila fez um gesto com a cabeça para que ela prosseguisse.

_ Eu não te levo ao hospital, como você quer, mas você vai ter que me fazer um favor.

_ Que favor?

_ Vem cá _ Lauren foi até cama e sentou-se, pedindo para que a mais nova fizesse o mesmo.

_ Então eu preciso de um favor seu... _ ela hesitou, não sabia como pedir, nem se ela aceitaria. Também não conhecia a sexualidade da mulher a sua frente, muito menos seus preconceitos.

_ Fala! _ Camila pediu curiosa.

_ Eu preciso que finja ser minha noiva _ falou de uma vez.

Essa foi a melhor piada que Camila já tinha ouvido, tanto que, começou a rir. Engatou uma gargalhada exagerada, sem se importar com o olhar irado da mulher a sua frente.

_ E agora, o que é que foi? _ Lauren perguntou irritada. Não gostando do modo como a latina ria dela.

Camila se esforçava para se controlar, na verdade, nem ela sabia o porquê de sua reação, mas achou tudo aquilo muito engraçado.

_ O quê? _ foi tudo que conseguiu dizer, após se recuperar do ataque de risos.

_ Você não é surda! _ Lauren gritou.

_ Mas você é louca, não é? _ revidou no mesmo tom _ É sério, eu não estou entendendo essa história!

_ Eu preciso de uma noiva de mentira e você vai me fazer esse favor _ disse de forma lenta e explicativa.

_ Não vou não, Quem disse isso? _ Camila se levantou da cama bruscamente.

_ Eu disse isso! _ Lauren também se levantou de modo a ficar de frente para ela _ Você me deve um favor e agora eu estou cobrando.

Um sorriso irônico tomou os lábios da jovem, após um tempo encarando a mulher a sua frente.

_ Eu sabia _ Camila sorriu cruzando os braços.

_ Sabia o que? _ perguntou a morena confusa.

_ Sabia que você era lésbica _ sorriu.

_ Ah! Então esse é o problema? _ Lauren cruzou os braços _ Você tem preconceito?

Camila a olhou, confusa e descruzou os braços.

_ Eu não disse isso.

_ Fique sabendo que quem te ajudou, foi a lésbica, aqui _ apontou para si mesma.

_ Eu não tenho preconceito, sua louca! _ Camila esbravejou _ Muito pelo contrário _ assumiu um tom de voz mais calmo _ Eu só não acredito que está falando sério.

Lauren descruzou os braços suspirando, ela não estava gostando dessa situação também, mas ela queria fazer o desejo de seu pai, mesmo que tudo não passasse de uma mentira.

_ Vai ser só por uma semana _ falou e viu a jovem a sua frente revirar os olhos. Isso causava raiva em Lauren. Ela odiava que fizessem pouco caso, de suas palavras _ Quer saber? Eu não tenho que te pedir nada, você vai fazer isso, e pronto!

A latina olhou-a incrédula e visivelmente alterada.

_ Ah é? E quem vai me obrigar?

_ Você me deve a vida e o que eu estou te pedindo não é nada demais _ Lauren lhe deu as costas, mas Camila segurou em seu braço, virando-a de frente novamente.

_ Me solta _ ordenou fuzilando com os olhos a jovem mulher a sua frente.

Camila a soltou, espirrando novamente.

_ Vai jogar na cara agora?_ perguntou em tom firme, porém não tão alto _ Eu não te pedi pra me pegar naquela estrada, eu não te pedi pra me ajudar, eu não te pedi pra me levar no hospital, não te pedi um quarto, nem lugar pra passar a noite...

_ Mas, me pediu ajuda pra sair do hospital _ Lauren falou de forma debochada e dando-lhe as costas novamente, sem impedimentos desta vez.

_ O que foi uma burrice minha. Eu já deveria saber que ninguém me ajuda com boas intenções! Você já tinha planejado tudo, não é?_ a jovem parou de olhar para Lauren e foi andando até a mesa.

_ Não.

Lauren suspirou frustrada, ela não sabia pedir favores. Estava pressionando a garota, falando que ela a havia ajudado e que lhe devia um favor, por puro medo da moça não aceitar ajuda-la. Ela só não queria chegar à casa de seu pai e desapontá-lo, ela o amava e saber que ele estava morrendo, e estava triste por sua filha não saber lidar com suas perdas, a deixa amargurada.

_ O meu pai está morrendo _ Lauren disse quase em um sussurro, mas a jovem conseguiu ouvir.

Camila a encarou surpresa e a morena não conseguiu sustentar o seu olhar.

_ Eu não sei bem o que ele tem _ Lauren sentou-se novamente na cama _ Minha mãe disse que ele não está bem e queria conhecer minha noiva, ele pensa que vou levá-la.

_ Desculpa, eu não sabia _ Camila se aproximou _ Eu sinto muito pelo seu pai. Espero que ele fique bem _ Camila sentou-se ao seu lado.

Fazer-se de vitima estava dando certo, finalmente a morena conseguiu que a latina ficasse mais calma. Ainda de cabeça baixa continuou com sua ideia.

_ Eu sei que ele vai ficar bem, mas quero cuidar dele. Por isso, quero sua ajuda. Só para que ele pense que eu tenho alguém, ele estava tão empolgado com meu noivado.

Camila estava começando a baixar a guarda, sempre teve o coração mole para algumas coisas e agora, estava comovida.

_ Mas você tem certeza que quer enganar seu pai? _ a encarou esperando uma resposta.

Lauren não gostou daquele termo, na verdade, não pensou que estaria mentido para o seu próprio pai.

_ Hey! Não é mentir! _ fitou-a.

_ Então é o quê? _ a jovem latina perguntou debochada.

_ Só vou dar o que ele quer _ sorriu sem mostrar os dentes _ Será, somente, uma semana.

_ Por que está fazendo isso com ele?

_ Meus pais me enchem o saco,  eu não estou a fim de dizer que estou sozinha novamente, eles começariam a pegar no meu pé de novo.

_ Parece uma adolescente que gosta de aprontar _ a jovem ironizou.

_ Tá bom, já chega! _ Lauren se levantou da cama _ Vai me ajudar ou não?

_ Eu nem sei o seu nome! _ a mais nova lembrou.

_ Lauren Jauregui, muito prazer! _ sorriu estendendo a mão _ Quer ser minha noiva?

_ Mas é claro _ Camila também se levantou e usou o mesmo tom debochado da mulher a sua frente.

Um sorriso se formou nos lábios de Lauren, ela até pensou em abraçar a moça a sua frente, mas se conteve.

A suposta latina lhe devolveu o sorriso e logo após fechei seu semblante em uma carranca, deixando Lauren confusa.

_ Que não! _ Camila completou sua frase anterior e voltou a entrar no banheiro.

O rosto de Lauren assumiu uma expressão surpresa e incrédula. Xingou a jovem mentalmente, de todos os palavrões e apelidos maldosos possíveis.

_ E é a minha vez de usar o banheiro! _ gritou para que a outra ouvisse.

Seu celular começou a tocar, ao pegá-lo e ver o nome no visor, não pôde deixar de sorrir.

_ Já estava demorando _ atendeu.

_ Minha filha como você está?

_ Bem mãe, e a senhora?

_ Estou bem filha. Quero saber à que horas vocês chegam _ sua mãe falava do outro lado da linha.

_ Estarei aí para o almoço, mãe _ a informou.

_ Sua noiva vem, não é, filha?

Camila entrou no banheiro, ainda sorrindo com a resposta que dera a Lauren, segundos antes. Ligou o secador que estava em sua mão e começou a secar seus cabelos. Realmente ela não achara a ideia absurda, ainda mais, que seria uma saída pra ela. Perguntou-se que doença o pai de Lauren poderia ter, se ele corria risco de morte. Dava para ver que a morena que a ajudou, o amava muito, ao ponto de mentir para que ele morresse feliz. A julgar, Lauren parecia ser uma boa pessoa, com certeza não lhe faria mal. Mas isso não era garantia de nada, já tinha percebido que o seu humor era bem variável, como ela iria conviver com alguém assim? Mas seria apenas uma semana e ela estaria livre desse “favor”, já poderia seguir com sua vida.  Mas que vida? Ela não tinha nenhum lugar. Só se lembrava de seus pais e que eles não estavam nada satisfeitos com ela. Apenas sabia que precisava pedir perdão a eles, mas ainda não estava preparada para isso, tinha medo da reação de sua mãe. Se ela não aceitasse a proposta da tal Jauregui, não teria pra onde ir, pelo menos assim, por uma semana, ela teria onde ficar.

Com o cabelo já seco, saiu do banheiro e adentrou o quarto, avistando Lauren ao telefone, sentada na cama.

_ Está sim _ Lauren levantou o rosto e quando a viu lhe lançou um sorriso irônico _ Inclusive acabou de sair do banheiro agora _ falou ao telefone.

Camila não entendeu nada, a olhou confusa e calçou umas pantufas que estavam próximas a cama.

_ Sim, eu vou passar pra ela _ disse ainda olhando para Camila _ Amor, meu pai quer ouvir sua voz _ Lauren sorriu para Camila.

Camila abriu a boca em surpresa, não estava acreditando que aquela mulher louca, estava mesmo fazendo isso.

Lauren lhe estendeu o celular.

_ Eu não vou fazer isso! _ a jovem esbravejou _ Você tem problema, eu acabei de crer!

Lauren voltou a colocar o celular no rosto.

_ Desculpa pai. Só um momento _ se levantou da cama e foi até o outro lado onde Camila estava _ Não precisa ter vergonha, amor. Ele só vai falar com você. Pega! _ jogou o celular na direção da moça, obrigando-a a segurá-lo.

Camila ficou com o celular na mão. Ela ainda encarava Lauren com uma expressão de incredulidade no rosto.

_ Atende! _ Lauren sussurrou.

Camila se recompôs assustada e colocou o aparelho em seu ouvido.

_ A-Alô?

_ Oi querida, não precisa ficar tímida. Eu só quero te conhecer _ Michael falou do outro lado da linha _ Como você está?

_ Estou bem _ falou olhando diretamente para Lauren. Sua raiva era visível _ E o senhor?

_ Estou bem na medida do possível, com algumas privações, mas ainda estou bem.

_ Fico feliz que esteja bem _ disse ainda com a raiva estampada em seu rosto. Porém não havia mentido, não o conhecia, mas nem por isso, deixaria de desejar a saúde dele. _ Acthim! _ espirrou.

_ Você está gripada?

_ Não é nada de mais, já vai passar.

_ Estou tão feliz que minha filha tenha encontrado alguém, e você parece ser legal para ela, pois estão até noivas.

Ao ouvir aquilo, a jovem latina direcionou seu olhar para a morena a sua frente, avistando um sorriso debochado em seu rosto. Percebeu que estava colaborando com os planos de Lauren, agindo daquela maneira e sua ficha caiu.

_ Escuta senhor, me desculpa, mas sua filha e eu não estamos noivas!

_ O quê? _ o Sr. Jauregui perguntou confuso.

Lauren saltou de onde estava tirando o celular do rosto de Camila.

_ É que eu ainda não a dei o anel de noivado, por isso, ela está chateada _ Lauren disse ao pai mostrando certo ódio à Camila através do olhar.

O rosto da latina tinha uma expressão indecifrável, como se fosse um misto de surpresa com incredibilidade, não acreditou no que ouviu.

_ Cínica cara de pau! _ a mais nova murmurou com da mais velha _ Mentirosa!

_ Mas você também, filha! _ Lauren ouviu seu pai resmungar no celular.

_ Eu tenho que deligar pai. Precisamos arrumar nossas coisas.

_ Beijo pra vocês, não demorem.

_ Beijo pai _ se despediu e encerrou a chamada. Olhou para Camila que ainda tinha aquela expressão indecifrável no rosto _ Você enlouqueceu garota?

_ Eu? _ a jovem continuava incrédula _ Eu quem tenho que te perguntar isso!

_ Não brinca comigo menina! _ Lauren se aproximou ainda mais.

_ Eu vou embora! _ Camila se virou em direção a porta, porém Lauren segurou os braços dela e fez virar-se, novamente.

_ Você não vai embora! E vai fazer exatamente o que eu digo _ Lauren apertava os braços da moça a sua frente e mirava seus olhos com fúria _ Eu não estou a fim de gracinhas hoje.

_ Me solta _ Camila pediu assustada, seus braços estavam doendo _ Por favor.

Quando se deu conta do que estava fazendo Lauren a soltou e se afastou de Camila, encarou o chão por um momento, queria pedir desculpas, mas a raiva a impedia. Ela não imaginava que Camila pudesse desmenti-la a seu pai, antes mesmo, de colocarem a mentira em pratica. Caminhou até a porta, onde a chave descansava na fechadura e girou-a trancando a porta do quarto.

_ Para o caso de você tentar alguma coisa _ Lauren falou olhando para Camila.

Camila não a respondeu estava na mesma posição de antes, em pé observando cada passo da morena bipolar, ainda assustada tinha mil pensamentos em mente.

Lauren pegou uma roupa e uma toalha e entrou no banheiro.

Embaixo do chuveiro, enquanto a água caía por todo o seu corpo, Lauren se lembrava de seu descontrole. Não queria agir assim, mas não gostou do jeito como Camila a desafiou. Não gostava de ser desafiada por ninguém. Percebeu Camila aturdida, não achava que sua reação era pra tanto. Ela sentiu uma raiva absurda, porém nunca quis assustar aquela garota, ela via naqueles olhos castanhos como a jovem estava intimidada e não queria que ela sentisse medo.

Enfim Camila se mexeu, saiu daquela inércia e deitou-se na cama. Começou a chorar. Um choro calado, abafado, impedido de sair. Mais uma vez sentia-se encurralada, mais uma vez travou diante de um olhar furioso. Travou com a força posta em seus braços, não foi tanta, mas o momento lhe trouxe lembranças de um passado recente. Dos maus tratos sofridos tantas vezes, por isso, o medo. Lembrou do medo que sentia, em algumas ocasiões do seu passado.

As lágrimas que desciam por seu rosto, eram um reflexo da angústia que feria o seu peito. Da impotência que sentia, da vulnerabilidade. Não chorava pelo que tinha acontecido há minutos atrás, mas sim, por tudo que já tinha vivido. Só conseguia pensar, se realmente, estaria livre desta vez. Lembrava-se de momentos difíceis da sua vida. Novamente sentia-se suja, desejou ter morrido naquela estrada. Sentia seu peito cansado agora, sua respiração estava querendo falhar. Rapidamente cessou o choro e tentou controlar sua respiração. Seu peito subia e descia rapidamente, ela inspirava e espirava, tentava manter-se calma. Após um tempo assim, já estava voltando ao normal, sentou-se na cama e ficou olhando para o nada. Recuperando-se da falta de ar.

Lauren saiu do banheiro batendo a porta do mesmo para chamar a atenção da mais jovem, que estava sentada na cama de costas para ela, não obtendo sucesso pôs-se a caminhar na direção de Camila.

Aproximava-se a passos lentos e parou ao lado da cama.

_ Camila.

Camila não respondeu nada.

_ Camila? _ chamou de forma mais recuada.

A jovem nada falava, continuava cama com a cabeça baixa e as pernas cruzadas, como as crianças fazem para imitarem os índios.

Lauren desacostumou a pedir desculpa, pois a amargura que levava em seu peio a fez esquecer-se de como se fazia isso então, estava tendo uma luta consigo mesma, agora, na tentativa de quebrar aquele clima pesado. Como não sabia o que fazer, falou o que lhe vinha à mente.

_ Olha, desculpa por ter gritado com você e ter te agredido, eu juro que não foi minha intenção, nunca quis te assustar _ esperou uma resposta que não veio _ Eu não sou assim Camila, não precisa ter medo de mim, eu não sou uma má pessoa. Não vou te machucar no tempo em que estiver comigo. Eu só estou estressada com isso tudo, sabe? _ elevou a voz _ Meu pai está doente, nem sei o que ele tem, só sei que é grave. Se ele partir dessa para uma melhor, eu só quero que tenha uma imagem de sua filha tentando refazer a vida, que ele me veja bem.

Camila desceu da cama com dificuldade, tentou esticar o corpo, mas estava difícil.

_ Estou sentido dores _ comentou olhando para a morena.

_ Você não ouviu o que eu disse? _ Lauren se irritou com o desdém da moça a frente.

Camila apenas respirou fundo.

_ Eu quero me trate bem, enquanto toda essa mentira durar; Não quero que seus pais saibam que eu perdi a memória e também quero algum remédio pra dores _ sorriu fraco, sem mostrar os dentes e sem alargar os lábios.

A decisão de Camila não foi baseada nas palavras de Lauren, e sim em suas necessidades, naquele momento. Não tinha onde ficar naquela cidade, se bem que ficar com Lauren não era nada tranquilizador, mas aceitar sua proposta era a única saída, por agora. Também não tinha como se libertar daquelas dores e poderia exigir isso de Lauren, em troca de uma ajuda com a mentira.

Lauren suspirou entregue.

_ Está com muita dor?

_ Sim _ respondeu.

_ Vamos embora daqui.

Lauren começou a arrumar sua mala e Camila esperava paciente. Ao ver Lauren calçando os sapatos nos pés, lembrou-se que não tinha o que calçar.

_ Você pode me emprestar um calçado? _ apontou para os pés.

Lauren tirou umas sapatilhas de sua mala e a entregou.

 

[...]

Após deixarem o hotel, pegaram a estrada novamente, Camila lutava para não dormir.

_ Pode dormir se quiser. Eu não vou te fazer nada _ Lauren ironizou _ Se quiser ir para o banco de trás eu paro carro.

_ Não precisa, aqui está bom.

_ Tem certeza?

_ Eu não quero dormir enquanto não tomar o remédio _ Camila explicou.

_ Já estamos entrando na cidade. Vou parar na primeira farmácia que eu ver.

_ Obrigado.

Lauren a olhou por um momento, querendo responde-la, mas não conseguiu. O remorso pelo que fez há algum tempo atrás, ainda a perturbava, mas estava tentando esquecer aquele momento desagradável. A cara da latina não ajudava, emanava tristeza e desconforto. Lauren estava começando a se sentir culpada e nem sabia por quê.

_ Podemos resolver os detalhes da sua mentira por enquanto _ Camila cortou os pensamentos de Lauren _ Assim eu não durmo.

_ Tudo bem.

Resolveram os detalhes, desde como se conheceram a planos que faziam juntas. Até trocaram alguns sorrisos, mediante as besteiras que diziam. Já estavam no centro da cidade e agora Lauren procurava por alguma farmácia.

_ E agora o mais importante _ Lauren dizia _ Você tem que mostrar que me ama.

_ Isso é impossível _ Camila debochou.

_ Hey! _ protestou a mulher dos olhos verdes _ Eu estou falando sério, minha família não é boba e aposto como vão ficar marcando em cima. Se prepare para as perguntas.

Camila olhava para a cidade e percebia que estava bem diferente de como ela se lembrava. Ela estava se lembrando da cidade sem muitos prédios e sem um transito tão engarrafado. Merton sempre foi bem movimentada e agitada, por ser um local de grandes investimentos, mas há alguns anos atrás estava, apenas, começando a ser uma cidade comercial. Hoje Camila pode notar que o centro comercial de Merton estava imenso e super agitado.

_ Como isso daqui mudou...

_ É mesmo _ Lauren que também observava a cidade, comentou _ Espera! Você conhece Merton?

_ Eu sou daqui, quer dizer, me criei aqui.

_ Você está se lembrando? _ Lauren pergunta num misto de surpresa e de curiosidade.

Camila espantou-se, não havia percebido o que tinha falado, até Lauren lembra-la disto. E realmente percebeu que era verdade. Lembra-se de Merton.

_ Acho que sim _ deu de ombros.

_ Isso é bom! Não é?

_ Ali Lauren! _ Camila agradeceu por ter visto uma farmácia e poder sair daquele assunto, não gostava de falar sobre sua memória perdida era decepcionante. Não queria falar sobre isso.

_ Vou estacionar ali à frente.

Lauren parou o carro e encostou-o ao beiral da rua.

_ Me espera aqui _ disse quando Camila fez menção de descer atrás dela.

No mesmo instante, Camila se condenou por não saber dirigir, pois seria a hora perfeita para fugir dali. Já estava em Merton, dali pra frente ela se virava sozinha. Mesmo assim foi ao banco do motorista, quando ia ligar o carro percebeu que a chave não estava na ignição e amaldiçoou à Lauren, por isso. Mas ainda podia fugir correndo, tentou abrir a porta do motorista, mas estava trancada, repetiu o gesto com todas as portas e percebeu que seria inútil. Bufou frustrada com isso.

_ Tentando fugir? _ Lauren abriu a porta do carro.

_ Você não pode me deixar trancada em um carro todo fechado, sabia? _ perguntou aborrecida _ Eu poderia morrer sem ar!

_ Nem foi tanto tempo assim _ ligou o carro e a deu os remédios _ Só consegui remédio para as dores corporais.

_ Melhor que nada.

_ Tem certeza que não quer ir ao hospital? Apenas ver se está tudo bem? _ perguntou enquanto dirigia.

_ Eu já disse que não_ Camila fez cara de tédio _ Nossa, você é muito chata!

_ Tá bom! Eu não insisto mais.

Voltaram ao silencio. Lauren com os pensamentos no retorno a sua casa, em sua família, na saudade que estava prestes a matar. Sentia tanta falta do aconchego de seus pais, das loucuras de seus irmãos, da companhia de suas amigas. Sentia falta até do seu trabalho. Mas não admitiria nada disso em alta voz.

Camila voltou a olhar a paisagem, que agora era repleta de prédios enormes, alguns que ela não conhecia. Mas Lauren já começava a se afastar da bagunça daquele centro. Camila se lembrava daquela cidade, mesmo que agora parecesse diferente do que suas lembranças a mostravam. Ela se lembrava vagamente de coisas parecidas que via pelo caminho. Começaram a passar por ruas e mais ruas, e nessas ruas havia casas pequenas e grandes, algumas mais elegantes outras nem tanto. Ficou pensando se a sua casa estaria do mesmo jeito de quando a deixou, pois de sua casa ela lembrava perfeitamente. Pensou, se os seus pais moravam no mesmo lugar, porém não se ela lembrava o caminho de casa. Ainda lembrava o nome da rua, mas não sabia como chegar nela, também não poderia procurar por sua casa, agora, pois tinha que ir para casa de seus falsos sogros.

“Falsos sogros.” Isso soava tão ridículo, que Camila se perguntou, por que aceitou participar daquilo. Era tudo tão bizarro! Agora mesmo ela podia descer do carro e tentar achar a casa de seus pais.

_ Lauren para o carro _ disse de repente.

Lauren a olhou, confusa.

_ Por quê?

_ Para o carro, por favor! _ Camila não tinha mais paciência.

Lauren parou o carro no acostamento e fitou a moça, esperando por uma explicação, que não veio.

Camila tentou abrir a porta, mas não conseguiu.

_ Destrava essa porta.

_ Você pode me explicar o que está acontecendo?

_ Sinto muito por você, mas não dá! _ Camila bufou.

_ Não dá o que?

_ Não dá pra fingir, eu não vou mais ser noiva, eu quero ir embora! _ perdeu a paciência de vez.

_ Ah! Poupe-me! _ Lauren ligou o carro e acelerou novamente.

_ Para esse carro. Eu não estou brincando!

_ Muito menos eu!

_ Eu só quero ir embora _ Camila disse derrotada, levando as mãos até seu cabelo e encostando a cabeça na janela.

_ Ah, você quer ir embora! _ Lauren ironizou. O carro estava em alta velocidade _ E pra onde você vai? Mi diz! Você está machucada e sem memória. E nem conhece isso aqui direito _ fez um gesto mostrando a cidade.

Disso tudo Camila já sabia, não precisava ser lembrada.

_ Eu vou pro inferno, mas não vou com você _ disse entre dentes _Grossa! Arrogante! Cavala! Abre essa porta!

Lauren já estava em um nível avançando de irritação, assim como Camila esperava, o plano estava dando certo. Camila queria irritá-la a ponto de Lauren a mandar embora daquele carro, desse jeito se veria livre daquele acordo e não teria “favor” algum cobrado.

_ Cala essa boca! _ Lauren gritou _ Para de gritar!

_ É você quem está gritando _ Camila retrucou debochadamente.

_ Pois que você vá para o inferno, para o caralho a quatro e onde mais lhe der na telha!

_ Ótimo! _ sorriu irônica _ Apenas abra a porta do carro para mim.

Lauren freou o carro bruscamente, parando-o no meio da rua, destravou as portas do carro e dirigiu seu olhar para frente do para-brisa de seu carro, quando percebeu que já estava na rua da casa onde seus pais moravam.

_ Pai? _ sussurrou assustada. Ao olhar para frente, viu uma ambulância estacionada em frente à casa de seus pais, e uma pequena agitação perto dela. Seu corpo se enrijeceu de medo, sua mente só pensava no pior, paralisou-se diante da surpresa. Camila, que tirava o cinto seguiu seu olhar e ao ver a circunstância à frente, entendeu do que se tratava.

_ Pai! _ Lauren correu. Camila só se deu conta de que estava sozinha no carro, quando ouviu esse grito desesperado e olhou em direção som, avistando Lauren mais a frente, correndo para se aproximar da ambulância. Camila também seguiu em sua direção, após pegar a chave do carro e trancá-lo.

Ao se aproximar das pessoas perto da ambulância, pode ver o desespero no rosto de cada um ali e também se sentiu mal com aquela situação.


Notas Finais


Até semana que vem!


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