História Contratempo - Sakuatsu - Capítulo 11 - Não é apenas sorte

Atsumu percebia que cada vez mais eles confiavam um no outro. Entretanto, havia algo realmente complicado sobre ele que apenas sua família sabia e poderia mudar tudo o que ele e Sakusa estavam vivendo e descobrindo até agora, sem aguentar mais aquela situação, Atsumu estacionou o carro em uma rua pouco movimentada algumas quadras antes do centro de treinamento e encarou Sakusa que o olhava completamente confuso.

"Eu preciso te contar algo. Algo muito complicado, então bom que já está sentado."

Sakusa apenas o encarou, tendo quase certeza de que poderia lidar com praticamente tudo naquela semana. Fazendo um sinal para que Atsumu apenas falasse de uma vez, ele aguardou um pouco aflito.

"Eu sou pai, Omi. Eu tenho uma filha de três anos." Ainda procurando as palavras para explicar a situação, ele prosseguiu:

"E o nome dela é: eu peguei todos vocês pois hoje é 1 de abril!"

***

HAHAHAHAHAHA DESCULPA!!!!! Não resisti!!!!!

Parei com a sacanagem, espero não ter infartado ninguém e vamos para o capítulo real!

***

Antes do aquecimento começar, o técnico falou pessoalmente com Atsumu, Sakusa e com os reservas. Reunindo o time todo em seguida, ele os comunicou formalmente da decisão a respeito da escalação titular para o jogo do dia seguinte. Seguindo as instruções que já haviam recebido na noite anterior, Atsumu e Sakusa fizeram os treinos individuais e a prática em time normalmente, pois de qualquer maneira eles estariam à disposição para algum saque especial ou substituição temporária durante o jogo.

O time como um todo deu o seu melhor e parecia de fato, mais consistente. Ninguém comentou além do necessário a respeito da decisão de substituição deles. Às vezes eles eram um bando de moleques caóticos, mas em momentos complicados como esse, eles eram adultos que se respeitavam com total profissionalismo e apoio.

No vestiário após o treino, tentando afastar a ansiedade pela partida decisiva que estava próxima, Hinata começou a puxar assunto sobre os planos de dia dos namorados dos membros do time. Bokuto foi o primeiro a estufar o peito contando que Akaashi tinha conseguido uma reserva incrível em um restaurante disputado naquela noite e eles viajariam para a casa da mãe dele após o jogo. Meian e Barnes comentaram que iriam jantar com suas namoradas em um encontro duplo visto que elas eram grandes amigas.

Vendo que Atsumu estranhamente não se enfiava na conversa, Hinata provocou: "E você, Tsum? Não conseguiu mesmo alguém pra fazer cera no Dia dos Namorados? Isso é tão fora dos padrões pra você!"

"Vou ficar de vela para o Samu e o Suna no tradicional almoço de domingo na casa dos Miya's. Não tive tempo de conseguir um encontro esse ano." Sakusa respondeu mergulhando no personagem.

"Poxa, Tsum, que tristeza! E você, Sakusa-san?"

"Hinata, eu tenho cara de quem vai a encontros de Dia dos Namorados?" Atsumu finalizou com um riso sarcástico, às vezes era divertido falar como Sakusa.

"Os solteirões poderiam fazer algo juntos, não? Um grande encontro entre amigos!" Hinata sugeriu.

"Você vai levar o Kageyama?" Sakusa revirou os olhos perguntando.

"Claro que sim!" Hinata respondeu com um sorriso imenso.

"Então não é um encontro entre amigos Shou!" E isso foi o suficiente para todos no vestiário caírem na risada, provocando Hinata pelo seu encontro entre amigos com Tobio em pleno Dia dos Namorados.

Enquanto iam para o treino da tarde, que haviam decidido manter para compensar o tempo em quadra que não teriam no dia seguinte, Sakusa falava de amenidades, como da pilha de roupas que precisavam lavar no final do dia e que provavelmente teriam que passar no mercado na volta se não quisessem jantar apenas batatas. Atsumu se perguntava até quando eles iriam ignorar tudo que havia acontecido na noite anterior. Uma parte dele chegava a desconfiar de que estava delirando e que não tinha sido algo tão intenso quanto se lembrava.

*

"Bem, o que você quer praticar hoje, Omi?" Atsumu perguntou quando terminaram de reaquecer.

"Eu estava pensando em focar nas nossas técnicas de emergência. Se entrarmos em quadra amanhã pelo menor tempo que seja, provavelmente será com o foco em recuperar pontos e desestabilizar o adversário."

Atsumu concordou que era um foco excelente. Eles começaram com saques e depois algumas jogadas combinadas, entre elas o levantamento rápido, que acertaram com uma precisão assustadora pela primeira vez na semana. A bola encaixando perfeitamente na mão de Atsumu para uma cortada que bateu com um estrondo do outro lado da quadra.

"Omi, isso foi... incrível! Eu senti que a bola veio como um ímã para a minha mão!"

Sakusa olhava as próprias mãos, pensativo. "Eu não sei explicar, simplesmente consegui calcular todas as variáveis como nunca antes, como se eu já soubesse exatamente onde você estaria posicionado... mas pode ter sido sorte Miya, tentamos isso várias vezes essa semana sem sucesso."

"Ok, Omi, que tal testar a sorte então? Vamos tentar mais uma vez!"

O fato de que acertaram todos os ataques rápidos em sequência, testando diferentes ângulos e posições, os fez concluir que se isso era sorte, ela realmente estava ao lado deles para ficar pelo que parecia ser a primeira vez depois de um bom tempo.

"Eu sei fazer levantamentos rápidos excelentes com o Samu e o Hinata, mas isso é outra coisa. Esses ataques foram idênticos aos que o Shou executa apenas com o Kageyama." Atsumu pontuou durante a pausa, eles estavam sentados lado a lado.

Não era segredo que todos comentavam que o ataque rápido único dos ex-jogadores da Karasuno era uma combinação de suas habilidades, aliada ao fato de que eram uma unidade dentro e fora de quadra. Conectados como almas gêmeas.

Atsumu sorriu meio indignado com esse pensamento e completou: "Ele e o Tobio que precisavam de um biscoito daqueles! Queria só ver o que a magia faria com esses dois idiotas para perceberem o que está bem no nariz deles."

"Não seria necessário muita coisa, se empurrar um em cima do outro eles se beijam e casam no dia seguinte." Sakusa respondeu percebendo tarde demais que tinha trazido à tona um tópico que aparentemente ambos contornaram a manhã toda.

Um meio silêncio se instaurou entre eles enquanto Atsumu abria e fechava a boca várias vezes seguidas, tentando e falhado em encontrar as palavras certas para expressar o quanto se sentia diferente depois dos fatos da noite anterior.

Sakusa fazia praticamente o mesmo, seu cérebro calculando o quanto poderia expor de seus pensamentos, sendo que nem ele tinha certeza ainda de como se sentia.

"Omi, eu-"

"Miya, na verd-"

Eles falaram ao mesmo tempo, se virando um para o outro e se calando em seguida.

Atsumu levantou a mão, praticamente pedindo permissão para falar. "Ok, eu começo. Omi, eu não sei se invadi o seu espaço ontem e inventei coisas na minha cabeça. Então quero na verdade, entender se essa foi sua impressão de tudo que aconteceu."

Sakusa o encarou levantando uma sobrancelha. Atsumu estava sempre sendo altruísta, supondo coisas e assumindo a culpa por situações em que obviamente não tinha feito nada errado. Isso estava começando a irritar ele. "Miya, você não invadiu nada, nem inventou coisas. Você acha que eu me colocaria naquele cenário se não estivesse confortável?"

Atsumu parecia surpreso. "Bom, isso me deixa mais tranquilo. Eu não quero parecer um bebê chorão aqui, Omi, mas você é o tipo de pessoa que evita qualquer contato, é difícil pra mim saber quais são os limites."

Ok, bom ponto. "Precisamente. Eu evito contato, quando não quero contato. Então se eu não quiser que você se aproxime ou faça algo, eu vou dizer isso claramente ou me afastar."

"Então eu poderia ter te beijado ontem? Mesmo que isso infrinja uma das regras do que não devo fazer com o seu corpo?" Atsumu perguntou diretamente. Às vezes ele usava meias palavras e às vezes ele era assim, sutil como um tiro de canhão.

Sakusa não tinha certeza de como responder. "Miya, eu realmente... Não sei. Não entenda errado, mas eu me senti vulnerável de formas que eu ainda não entendo se gosto. Foi estranho ao ponto de que eu parecia ver você, o seu corpo na minha frente."

"Exato, Omi. E você não acha que isso seria o início do caminho para trocar de volta? Não imagino que mudem a escalação mesmo se conseguirmos mas... Teríamos nossas vidas de volta ao normal antes do prazo, certo?"

Ter suas vidas de volta ao normal. Sakusa queria seu corpo de volta, claro, mas pensar na sua velha rotina agora era quase sem graça. Cozinhar, dividir as tarefas de casa, os treinos extras e até mesmo o quarto com Atsumu não tinha sido nem de longe desagradável como ele uma vez imaginou no começo daquela semana. Uma parte dele não queria perder isso, e a outra ainda não estava pronta para dizer em voz alta.

"Sim, isso cruzou minha mente também. Mas foi algo bem específico e que durou pouco tempo... Eu não imagino que forçar a situação vai produzir o mesmo resultado."

Atsumu ponderou por alguns segundos e então se levantou, seu rosto iluminado como se tivesse acabado de descobrir como promover a paz mundial. "Sakusa Kiyoomi, você aceita ir a um encontro comigo hoje?"

Sakusa o olhou desconfiado, ele não tinha certeza se havia entendido. Atsumu então abriu um grande sorriso e explicou seu plano, que ele julgava ser genial. "Você pontuou que recriar aquele cenário de maneira forçada não levaria ao mesmo resultado e eu concordo. Então, vamos tentar fazer isso naturalmente, em um encontro. Eu e você, hoje."

Sakusa concordou, simplesmente acenando com a cabeça como se a ideia não estivesse fazendo-o lutar para esconder o calor que subia de seu peito e ameaçava corar seu rosto. Era isso. Ele iria a um encontro. Com Miya Atsumu.

*

No caminho para casa, Atsumu começou a discutir as possibilidades para o encontro. Sakusa colocou na cabeça que eles estavam apenas indo jantar fora, igual fizeram no início da semana, então não era algo assim tão fora do comum.

"Podemos jantar naquele lugar novo legal que tem uma decoração retrô, o que acha? E com a neve, com certeza a pista de patinação perto do shopping deve estar a todo vapor, podemos passar por lá também. Parece bom pra você?" Atsumu sugeriu empolgado.

"Claro, mas não podemos voltar tarde, lembre-se que de qualquer jeito temos que estar na nossa melhor forma no jogo amanhã à noite. E também de que temos que lavar roupa." Sakusa pontuou, fazendo Atsumu cair na gargalhada devido a última observação.

E então estava decidido. Atsumu esperava enrolado na toalha sentado no futon enquanto Sakusa escolhia algo para ambos vestirem, já que Atsumu não tinha levado roupas exatamente adequadas para um encontro na neve. Era muito conveniente agora, que eles fossem quase do mesmo tamanho.

"Pronto, isso é adequado e tem cor, algo que eu sei que aprecia." Sakusa pontuou colocando sobre a cama um conjunto de roupas de inverno destinado a Atsumu que contemplava um casaco verde escuro.

Atsumu aprovou a escolha e, num momento de confusão ao levantar e soltar a toalha, prendeu-a de volta ao redor do quadril com um som engasgado. Hoje parecia muito estranho se trocar na frente de Sakusa, mesmo que não houvesse qualquer sentido nisso.

Sakusa levantou uma sobrancelha para ele. "Eu vou virar de costas e escolher algo pra mim, não se preocupe, não vou espiar." Ele tentou, mas Atsumu já estava pegando as roupas e explicando que preferia se trocar na sala, dando assim privacidade também para Sakusa, que começava a pensar que estava maluco pois tinha se sentido estranho ao pensar em Atsumu nu em sua frente. Atsumu, que estava preso no corpo dele. Era completamente absurdo.