1. Spirit Fanfics >
  2. Coração De Gelo (Em Hiatus) NÃO CONCUÍDA >
  3. Alucinação Infernal

História Coração De Gelo (Em Hiatus) NÃO CONCUÍDA - Alucinação Infernal


Escrita por: GirllSallvatore

Notas do Autor


Finalmente a continuação da história saiu, eu odeio quando empaco nas fics🙄
Espero que gostem do capítulo amores❤

Ah, as partes em itálico são os sonhos ou alucinações de Dean.

Capítulo 38 - Alucinação Infernal


Fanfic / Fanfiction Coração De Gelo (Em Hiatus) NÃO CONCUÍDA - Alucinação Infernal

Tempo Atual...

— Cas, onde diabos você estava? Eu te procurei pelo motel inteiro — Sam resmunga preocupado assim que vê o anjo se aproximar com as feições baixas e constrangidas.

Sam sabe que pode estar pegando um pouco pesado com o cara, ele não pode restringir todos de sair e ver a luz do dia, mas mesmo que ele não duvide que o demônio Beelzebub possa fazê-los mal agora que já tem o que quer, é sempre bom manter-se alerta pra qualquer coisa suspeita. Beelzebub pode querer destruir qualquer coisa que desmonte seu plano.

— Uh... fui pegar comida — Cas hesita um pouco e coça a nuca. Seus olhos azuis safira miram a ponta de seus sapatos pretos, obviamente não querendo olhar Sam de frente.

— E cadê a comida? — Sam questiona duvidosamente com uma sobrancelha erguida.

— Eu... eu comi — Cas está obviamente mentindo pelo modo como seu corpo não para de se balançar desajeitadamente. Sam sente vontade de rir, Cas é um mentiroso terrível. Mentir porém é perigoso nos dias de hoje, foi assim que perderam o controle da situação pra começar

— Cas, o que você estava fazendo? — Sam suspira querendo manter as coisas mais cristalinas que água, Cas pigarreia e olha em volta sem focar num ponto específico por maus que dois segundos. Mentir não é algo que os anjos são habituados a fazer, e mesmo que Cas fosse um ótimo mentiroso ele jamais enganaria um Winchester.

— Sam, eu...

— Apenas fala, Cas, já estamos enfrentando problemas demais. Se está escondendo alguma coisa é melhor deixar sair agora antes que eu descubra sozinho — Sam fala com cansaço. Com tudo o que tem acontecido ele só queria se jogar na cama, agarrado a Ariel, e ficar lá por alguns dias pelo menos.

— Fui falar com Crowley — Cas solta rapidamente, talvez receoso da reação de Sam. Ele tinha razão, a veia que está surgindo na testa de Sam com certeza não é de alegria.

— Você o que? — O homem mais alto fala com uma voz baixa e perigosa fazendo Cas se sentir pequeno e patético, um anjo nunca deve se sentir assim. Mas o que ele queria? Cas não é mais um anjo, pelo menos não completamente.

— Falei com Crowley. Ele pode nos ajudar, Sam — Cas diz com mais coragem na voz. Sam lambe o labio e suspira irritado.

— Você sabe que foi o próprio Crowley que nos meteu em tudo isso, não é?

— Eu sei, Sam, mas Crowley tem recursos pra entrar no meio dos servos de Beelzebub. Temos um plano, a presença de Crowley pode passar mais despercebida que a de um anjo ou humano — Cas se explica mostrando apenas os prós de ter a ajuda do demônio. Sam não parece contente, o mais alto atravessa os dedos pelos cabelos compridos e lambe os lábios apressadamente.

— O maldito esquadrão de Beelzebub deve estar preparado pra entradas como essa. Crowley não pode fazer muita coisa sozinho — Sam bufou olhando pra um ponto fixo entre o ombro direito e o pescoço de Cas. Crowley não era o melhor samaritano mas todos sabem que o demônio tem um certo apego esquisito em Dean.

— Eu sei. Enquanto estava preso lá eu notei que Beelzebub deixa o lugar protegido pra invasores demoníacos. Ele não é o mais querido entre os demônios porém, eu sei exatamente onde ele monta guarda com mais força. Eu posso ir junto com Crowley e...

— Cas, entendi que você sabe como entrar lá só que você não pode entrar lá. Você não tem força suficiente pra isso. Perder você agora não é o que planejamos — Sam avisa com cautela tentando não parecer rude, mesmo não sendo as palavras tiveram seu impacto no anjo quebrado. Doeu ouvir da boca de uma das pessoas que mais estima que ele é...

— Inútil — Cas sussurra o mais baixo possível, angústia o tomando por dentro. Ele não precisa que ouçam ele se martirizando pela sua falta de utilidade.

— O que? — Claro que Sam ouviu. Castiel suspira.

— Eu sou ... Você tem razão. Sou inútil, Sam, não posso ajudar a salva-los. Dean já fez tanto por mim, vocês dois fizeram e quando um de vocês precisa de mim eu não posso ajudar — Cas baixou a cabeça escondendo as lagrimas de raiva. Chorar ainda era algo novo pra Cas, o faz se sentir vulnerável e estranho. Sam coloca a mão amigavelmente no ombro do amigo.

— Cas. Não somos seus amigos porque esperamos que você esteja sempre a nossa disposição pra nos ajudar quando precisamos, você é nosso amigo porque você conquistou esse lugar. Dean sempre foi um cara duro e encara duas vezes antes de confiar em alguém, e você conquistou sua confiança sem muito esforço, as vezes acho que ele confia mais em você do que em mim — Sam sorri torto e Cas o encara com espanto óbvio.

— Sam, isso não é...

— Eu sei, cara. Estou apenas dizendo que não temos amigos como você dando bandeira por aí. Anjo ou não você é nosso amigo. Você é família. E cuidamos da família. Por isso não quero perder você também, por isso não quero que vá — Cas pisca pra Sam chocado com o que o homem mais alto falou.

Ele nunca pensou que palavras pudessem fazer tanto bem quanto as que Sam disse fizeram.

Tudo o que Beelzebub disse antes ficou na mente do anjo grudado como uma supercola. Ele não conseguia parar de pensar. E se fosse verdade? E se os Winchester realmente se dissessem seus amigos apenas porque precisavam dele? Como algo útil porém descartável? E mesmo que ele se desse um soco imaginário por pensar isso ele não conseguia segurar esse veneno.

Porém, ouvir Sam falando com ele como se Cas fizesse realmente parte da família foi algo que tirou 100 Kg de seu peito. Ele se sentia feliz e aliviado.

— Isso realmente significa muito, Sam — Cas agradeceu e Sam o puxou pra um abraço apertado. Cas se deixou amolecer no gesto, apreciando o peso sólido de seu amigo com afeição. Sam é sua família, a mesma família que nunca o abandonou. Depois de alguns segundos Sam deu uma tapinha no ombro de Cas e assentiu.

— Se Dean tivesse aqui diria que nos tornamos duas meninas — Sam diz e sorri. Cas não consegue segurar o pequeno sorriso que se forma em seus lábios.

— Temos que salva-los. Crowley pode não ser confiável porém é tudo que temos — Cas fala e Sam assente relutante porém reconsiderando a opção. É uma merda porém se vai salvar seu irmão e Jen... eles podem arriscar.

— Bem.

{...}

A mente de Jen era um turbilhão de pensamentos sujos e cruéis misturados, todos flutuando diante de seus olhos opacos. A realidade parecia obscura e gélida. Estar presa dentro de si mesmo é sufocante, é como estar submerso em uma poça profunda de dor e desespero. Jen só quer se livrar, só quer respirar.

Os pensamentos sombrios do demônio que a possui estão se misturando com os seus próprios e é agoniante. Vermelho sangue cobre a sua visão a deixando cega diante do mundo real. Todo o seu corpo dói e ela sequer pode mover um braço pra melhorar isso.

Ela se sente tão imunda, tão suja. Ela pode sentir todo o seu corpo arder com as feridas abertas dos cortes que o demônio fez por todo o seu corpo, ela pode sentir o líquido espesso e vermelho escorregar de cada canto ferido em sua pele, porém ela não podia fazer nada sobre isso.

Ver a dor nos olhos de Dean impotente sem poder ajuda-la foi uma agonia que Jen jamais vai esquecer. Ver alguém que ama se machucar é com certeza uma tortura horrível, Jen tenta não imaginar em como seria se os lados fossem invertidos.

Ele quis parecer forte pra Jen, quis segurar a barra, porém ela podia ver as lágrimas se formando no canto dos olhos verde esmeralda do homem. E ela não sabe quem sofreu mais, se foi ela ou ele.

Agora ela estava aqui, presa como antes em sua própria cabeça sem poder se quer mover um dedo enquanto o seu corpo queima em chamas.

Suas roupas rasgadas estão repletas de sangue dando amostra as suas feridas recém feitas. Isso vai dar trabalho pra consertar depois.

— Quantos pensamentos, admiro saber que você ainda está consciente. Não é tão fraca quanto Beelzebub me informou então — A voz do demônio surgiu alto em um tom de zombaria. Jen apenas suspira mentalmente antes de dizer:

Foda-se — Jen falou o que apenas o demônio podia ouvir. Ela então pode se ouvir rir alto.

— Você e aquele seu namorado tem a mesma boca suja não é?

Você ainda não viu nada — Jen falou com ferocidade mesmo que a sua voz estivesse apenas em sua própria cabeça.

— Sabe, o olhar desesperado e ridículo que o seu namoradinho fez enquanto fatiava o seu corpo foi memorável. Quase senti pena dele, mas então passou — Jen não disse nada, o que fez o demônio se zangar por seu veneno sádico não ter tido efeito.

— E os gritos contidos? As lágrimas prestes a cair, realmente achei que a qualquer momento ele pularia em mim pra tentar salvar você, mas então lembrei que ele não podia, e seu olhar impotente foi comicamente adorável — O demônio apertou o lábio pra não rir, o que finalmente enfureceu Jen.

Vocês pensam que vão escapar dessa? São tão convencidos. Quando ficarmos livres vamos caçar vocês e vamos mandar vocês diretamente pra onde deveriam estar. Você não passa de um demônio de baixo calão patético que tem que obedecer ordens e se humilhar pra conseguir ser alguém — Jen riu em sua cabeça quando viu o demônio começar a ficar furioso. Jen não podia se libertar mas isso não quis dizer que ela não pudesse se divertir um pouco.

— Cala a boca seu pedaço de merda — O demônio rosnou com pudor porém Jen não deixou se abalar. Dois podem jogar esse jogo.

Precisa arrastar a sua bunda demoníaca e se esfregar em quem tem mais poder, talvez assim você consiga um bônus de natal, não é? — A voz zombadora e firme de Jen fez o demônio rosnar.

— Eu mandei calar essa maldita boca — O demônio esbraveja, seus olhos ferviam de raiva antes de se tornarem negros, apenas aquilo tinha um efeito negativo em Jen, o frio começa a se espalhar em sua pele, é como se o demônio tomasse conta por inteiro, tornando tudo mais escuro e doloroso.

Ou vai fazer o que? Vai desobedecer seu chefe e me matar? Acho que não vai ser bom pra você — Jen grunhiu tentando soar zombeteira e pôde sentir quando o demônio apertou sua mão com tanta força que pode sentir suas unhas afundarem na carne.

— Vou cortar você em pedaços pequenos até não sobrar nada mais do que ossos, e então vou jogar seus ossos pros meus cachorros — O demônio falou com tanta ferocidade e perigo que se Jen estivesse no comando de seu corpo estaria tremendo.

Você pode tentar, mas não sou fácil de matar, cadela — Jen alfineta com veneno na voz baixa.

Ela não teve tempo de reagir quando o demônio bateu com a cabeça de Jen com força na parede fazendo ela gritar. Jen não sabe como mas sua consciência sumiu instantaneamente, sobrando apenas o breu.

{...}

— Não. Não. Não. Não. Já chega. Você não é real — Dean correu entre as árvores apressadamente, se desvencilhando de ramos e galhos caídos. A adrenalina estava fazendo seu sangue borbulhar por dentro de suas veias e o pânico estava nublando seus pensamentos frenéticos.

O lugar era imensamente escuro e ele sabia que não era real, por mais que parecesse em sua mente, por mais que tudo ao seu redor o forçasse a acreditar, ele ouvia a lógica e tudo aquilo ainda era abstrato demais. Ele tinha que estar alucinando. Sua cabeça via tudo confuso e translucido causando faíscas em sua visão.

— Porque foge, Dean? Sabe que é verdade. Você sabe que é — Veio a voz sinistra e tão terrivelmente familiar que apenas o som causa um arrepio desconfortável em sua coluna. Voz cuja Dean temeu por toda a sua infância, temeu ouvir essa voz dizer que se decepcionava, que Dean não passava de um peso em forma de soldado.

— Droga — Dean ofegou, seu coração martelando em seu peito quando tropeçou em um galho caído. Seus olhos verdes focam em suas costas rezando para que tenha o despistado, mas então a voz volta e Dean desajeitadamente tanta se levantar apenas pra paralisar quando ouve:

— Vamos, filho, diga o que eu quero ouvir — A voz soou mais perto dessa vez e Dean apertou os olhos antes de olhar pra cima.

E lá estava ele.

Seu pai.

Seu fodido pai morto.

— Você não é meu pai, meu pai morreu — Dean disse com a voz assombrada e vazia. John riu jogando a cabeça pra trás com o impulso da risada e mesmo que Dean não quisesse ele se encolheu com o som.

— E desde quando um Winchester morreu e não voltou?

— Dane-se — Dean levanta com pernas instáveis. Ele sabe que não pode fugir, se aquilo for mesmo um pesadelo febril ele ficará preso por um tempo sem chance de escape. E de qualquer forma John sempre o encontra, quando queria castiga-lo, ou quando queria gritar com ele por ter desobedecido na caça e ter posto a vida de Sam e de si próprio em perigo. É tão fodidamente irônico que esteja sendo perseguido por seu pai pra poder admitir que é inútil.

— Dean, eu ainda sou seu pai e você vai me respeitar. — John falou duramente fazendo Dean se encolher novamente. Apenas o seu pai conseguia colocar tanto medo em Dean.

Era horrível pra um homem naturalmente duro e forte se sentir tão pequeno e vulnerável perto de alguém e John conseguia trazer isso em Dean.

— Você é apenas uma alucinação doente — Dean revidou sem olhar diretamente pros olhos castanhos do pai, ele não se sentia forte o suficiente pra isso ainda.

— Dean, deve ser duro saber que nunca conseguiu se tornar o homem que tanto batalhou pra ser, que nunca cresceu o suficiente pra se tornar mais que o ser patético que é agora. Temendo seu próprio pai a ponto de vomitar de medo quando sente que vai levar uma surra por desobedecer — John zombou com um olhar frio cobrindo as suas características duras e cruéis. Dean juntou as sobrancelhas e apertou os lábios.

— Do que está falando?

— Estou falando de você e seu modo fútil de sobreviver, perseguindo a morte sempre que a vê caminhando a sua frente. Você se tornou fraco e desesperado por validação, seja minha, seja de Sam, seja de sua mãe — John cospe com pudor, Dean quase pode sentir o veneno salpicando em seu rosto.

— Você não fala da minha mãe — Dean rosnou apontando um dedo acusador pra alucinação de seu pai.

— Mary tem vergonha de você, seu pequeno garoto que nunca se tornou um verdadeiro homem, nunca realmente fez algo que se orgulhasse, que a orgulhasse — Dean se encolheu, apertando os tentando de alguma forma acordar e se livrar desse pesadelo. Seu pai poderia ser duro as vezes mas ele nunca diria isso a seus filhos, disso Dean tem certeza.

— Eu fiz o que pude — A voz de Dean estava fraca e distante, como pequenas ondas em um grande mar de tristeza e agonia.

— Não. Você não fez. Se levantar de manhã e fazer café enquanto grita pro seu irmão andar mais rápido porque estava atrasado pra escola, foi isso que você fez. Onde você estava quando aquele fantasma entrou no quarto de Sammy quase o matando enquanto você estava fora se divertindo? Onde você estava quando Sammy fugiu naquela noite ficando dias sumido? Onde você estava quando Sam foi esfaqueado pelas costas...

— ISSO NÃO É MINHA CULPA. EU NÃO TROUXE ISSO PRA ELE. EU CUIDEI DELE MELHOR DO QUE VOCÊ NUNCA FEZ. EU ESTIVE LÁ ENQUANTO VOCÊ ESTAVA FORA SEGUINDO A SUA MALDITA OBSESSÃO. EU CUIDEI DELE E VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE ME JULGAR — Dean explodiu de repente sentindo a raiva finalmente atingir pelas bordas. Suas pálpebras brilhavam vermelho e suas mãos estavam apertadas em punhos. Seu interior doía, ele não podia segurar. Isso o queimava por dentro como ácido derretendo suas entranhas.

Ele só queria se esconder do mundo e nunca mais ser visto.

E então veio, um soco e depois outro e outro, todos na maçã do rosto do seu suposto pai. Suas mãos doíam com a violência do impacto. Sua raiva ardia como veneno e ele só queria soltar isso de uma vez.

Fazer o que ele já pensou em fazer antes mas sabia que jamais teria coragem.

Enfrentar o seu pai.

Dean apertou o pescoço do outro homem contra o chão, e observou com fúria o sangue escorrendo da boca de seu pai enquanto ofegava por ar.

— Você é um maldito do caralho, nunca foi um pai pra nós, nunca esteve lá quando precisávamos. Eu era uma criança e eu cuidei de Sam mas esse era o seu dever e não meu. Eu também tinha meus sonhos, também queria ser alguém, mas graças a você eu perdi tudo. Tudo por sua causa. Nunca pude ser criança, mas me orgulho de ter dado a Sam a infância que eu nunca tive. E nem você nem ninguém vai tirar isso de mim. Nunca — Dean soltou o pescoço de John e saiu deixando o homem jogado quase inconsciente no chão.

{...}

Crowley sente o solo tocar seus pés um milésimo de segundo depois de se tele transportar pro lugar onde havia planejado. O grande galpão vermelho descascado se encontra a sua frente, centrado no meio de uma comprida mata isolada na Virgínia.

Crowley torce o nariz para o cheiro de campo que está ao seu redor, terra e mato seco é tudo o que se encontra ali. Crowley é acostumado a vida alta, vivendo em hotéis caros e usando roupas de marca, a vida no campo nunca o atraiu, principalmente quando ele fora obrigado a viver em um na sua infância problemática junto a sua mãe louca.

Jogando esses pensamentos frívolos de lado ele caminha até as portas velhas que dão entrada ao lugar, seus olhos focam em uma base não protegida para adentrar. O demônio levanta a mão procurando bases menos ásperas, o lado de dentro contendo sigilos mantém deformidades para mãos não humanas.

Crowley resmunga quando farpas entram em sua pele e logo afasta a mão, sabendo que ali está protegido. Crowley é um demônio velho, conhece as táticas de sua própria espécie, ele sabe como a mente de um demônio funciona.

Beelzebub não é muito diferente dele, e por mais que Crowley odeie admitir, grande parte do que ele sabe foi ensinado pelo próprio demônio torturador Beelzebub.

Crowley sabe montar armadilhas para capturar demônios sem ser afetado com isso, sabe como montar guarda e tocar as áreas mais vulneráveis pra isso, sabe como escolher seus aliados, e nisso entra os Winchesters.

Dean e Sam são humanos, por tanto não exatamente úteis para certas coisas, mas eles tem conhecimento vasto no mundo sobrenatural, conhecem coisas que ele próprio não sabia, esse tipo de coisa é realmente útil pro mundo em que resolveu fazer uma pausa.

Dean se tornou um bom aliado, alguém forte e decidido, alguém capaz, mesmo sendo problemático, mas com problemas Crowley sabe lidar, isso o agradou no mais velho Winchester, a perspicácia, saber como se desvencilhar de problemas mesmo que o mundo pague por isso, os Winchesters tem esse dom.

Dean seria o que Crowley era para Beelzebub, um pupilo para moldar e se tornar mais que um seguidor, talvez um amigo. De certo modo Crowley entende o porque do interesse de Beelzebub em Dean, o garoto é altamente útil e um aprendiz rápido.

Ele levanta novamente as mãos e volta a percorrer a área espessa com mais calma, apenas sentindo cada canto da porta, sua outra mão continua apertada em seu bolso. Um sorriso vencedor aparece em seus lábios quando o choque em sua mão dos sigilos do outro lado da porta somem.

— Parece que precisa aprender umas coisinhas comigo.

Muito bem, hora de invadir o lugar.

{...}

Dean ficou sentado na cama tentando não ouvir os gritos que vinham de baixo, sua família estava desmoronando e ele não podia ajudar, o deixando impotente e frustrado.

Sam e seu pai estavam gritando um com o outro como de costume, só que dessa vez é diferente. Sam quer ir embora, ele quer ir pra faculdade.

Sam sempre foi um geek-boy e Dean sabia que ele tinha potencial pra ingressar em uma grande faculdade como Stanford, porém saber que Sammy tinha conseguido uma bolça de estudos integral e planejava ir embora sem ligar pra sua família era duro.

Dean se odiava por pensar assim mas ele pensava, Sam estava sendo injusto com a sua família, injusto com seu irmão mais velho que praticamente deu seu sangue pra manter o garoto vivo por toda a sua infância, e mesmo agora ainda dá.

Como ele poderia querer deixar a sua família assim sem se quer olhar pra trás? Sim, Dean se orgulhava de Sam, mas saber que ele não fazia parte dos planos futuros do cara foi como um soco na boca do estômago.

— Eu não ligo, pai. Você não pode me trancar em quartos de motel pra sempre. Eu tenho uma vida e eu tenho sonhos, e você não vai me impedir de buscar tudo o que eu quero! — Sam gritou no rosto do pai lançando farpas invisíveis pelo olhar. Dean ficou no topo da escada vendo a troca dos dois sem se meter. Eles nunca o ouviam.

— Você não pode ir pra faculdade, você estaria desprotegido e nem eu nem Dean poderíamos ficar de olho em você o tempo todo — John revidou com raiva, usando a sua famosa voz sargento que usa nos filhos quando quer que eles o obedeçam. Sam riu zombador, com os braços cruzados.

— Talvez eu queira ter a minha própria vida longe de toda essa merda — Sam resmungou e John assegurou de manter a expressão neutra porém com uma pontada de decepção quando disse:.

— Merda? É isso que você acha que somos? Eu e seu irmão somos um monte de merda pra você? — A voz de John estava baixa e ruidosa, doía nos ouvidos de Dean mesmo estando distante, Sam se encolheu e olhou pra Dean pela primeira vez, Dean sentiu vontade de se fundir no piso e nunca mais sair.

— Não foi isso que eu quis...

— Somos tudo o que temos. Essa família fodida foi tudo o que sobrou e você fala como se não passássemos de um saco de porcaria — John lançou com frieza, notava-se que a sua paciência estava ficando fina. Dean sábia que John não iria aguentar por muito tempo.

— Não queira mudar a intenção do assunto tentando me fazer sentir culpado, nunca falei nada disso — Responde Sam secamente.

— Claro que não — John soprou com pudor.

— A faculdade sempre foi meu sonho e você sabe disso, pai. Eu nunca quis me meter nessa vida, nunca quis caçar, eu só queria ser normal, ter uma vida normal, é pedir demais? – Sam dobrou os braços sob o peito com raiva mas tentando manter a calma.

— No mundo em que vivemos sim, é pedir demais. Você tem que ficar aqui, onde podemos observar você e mantê-lo ...

— Pelo amor de Deus, eu não sou uma maldita criança. Eu posso cuidar de mim, eu vou apenas pra faculdade e não pra guerra – Sam resmoneia ainda tentando se manter firme e tornar a conversa menos pior e mais fácil pra poder se mandar mais rápido.

— A guerra seria mais seguro.

— Droga, pai... — Sam se exalta esfregando os longos dedos pelos cabelos compridos

— Você não pode abandonar sua família, Sam. E essa conversa acabou — John simplesmente comandou e começou a caminhar fazendo a raiva de Sam aumentar significativamente.

— Você não vai me prender aqui. Você não passa de um maldito ditador ditando regras e esperando que sejamos seus pequenos soldado, só que tenho algo pra dizer, eu não sou Dean, eu não sou seu soldado sem cérebro que apenas segue ordens e não tem vontade própria, eu tenho meus próprios pensamentos e você não pode manipula-lo a seu favor – Sam gritou e Dean se encolheu com o baque das palavras. Doeu bem no fundo de seu peito saber que é isso que Sam pensa sobre ele, saber que seu irmão acha que seu irmão mais velho não passa de um robô sem vontades.

O pequeno soldado ridículo do papai.

Um idiota sem vontade própria.

— Você é um bastado ingrato, um pirralho seguindo sonhos idiotas e largando sua família pros lobos, quem vai ter as costas de Dean quando você for embora? — John falou, sua voz ganhando volume e perdendo a serenidade.

— Você vai. Eu tô fora — Sam encolhe os ombros e caminha pra longe do pai até a porta.

— Sam, se você sair por essa porta... nunca mais volte. — John falou com a voz dura e Sam levantou a mala do chão decidido sem se quer olhar pra Dean.

— Bem.

***

Dean ofegou com força enquanto acordava de outra alucinação ou sonho, ele não consegue mais definir o que é o que. Ele ainda está na mesma sala na qual Beelzebub o trancou. Maldito Beelzebub, ele está mostrando os piores momentos de sua vida tão claras quanto água. Aquilo foi real, Sam indo embora ainda é uma de suas piores memórias, aquilo não foi uma alucinação, foi uma lembrança.

— Droga — Dean falou pra si mesmo limpando o suor do rosto com o dorso da mão e suspirando enquanto se sentava no chão sujo de fuligem. Ele vai acabar ficando louco assim, são tantos pensamentos e imagens rodando ao mesmo tempo, ele teme acabar preso no meio deles.

Mas é isso que Beelzebub quer não é? Quebrar Dean em níveis extremos, fritar seu cérebro até virar mingau. Beelzebub nunca quis mata-lo, Dean morto não seria útil, Beelzebub quer usá-lo para seus próprios fins sádicos. Dean não passa de uma peça a ser usada no tabuleiro.

E qual o melhor jeito de fazer isso se não com um homem totalmente quebrado e submisso?

Bem, Dean não vai se entregar assim tão fácil. Beelzebub pode jogar o quanto quiser mas ele não vai ceder sem lutar. Nunca.

Dean levanta e coloca as mãos na parede pra ganhar estabilidade quando sente a tontura domina-lo. Isso está comendo toda a sua energia e se quiser fugir daqui junto com Jen ele vai ter que segurar as pontas, mas claro que não antes de ver Beelzebub explodir.

O pequeno canivete está guardado ainda em seu bolso falso apenas esperando para ser usado, Dean se sente seguro apenas em toca-lo. Ali está a sua única chance de se salvar, Dean precisa pensar em como vai fazer isso.

Infelizmente ele não podia carregar a graça de Lariel junto, Beelzebub iria senti-la e todo o seu plano seria desmontado, mas ele pensou nisso também, a graça ainda está no Impala do lado de fora do galpão, ele sabe que Beelzebub não tem interesse no carro então o Baby ainda deve estar lá. Dean precisa apenas sair e pegar, mas essa será a parte difícil, escapar dos capangar de Beelzebub.

Uma ajudinha nessa parte seria bastante útil mas ele está sozinho, Beelzebub com certeza deve ter lançado a sua família pro outro lado do país, e se Castiel se aproximar os demônios o sentiriam. Então ele está realmente só pra pôr o plano em prática.

Sua cabeça volta a doer quando mais vozes soam alto em seus tímpanos.

Dean você não foi curado milagrosamente eu... eu te trouxe de volta... eu fiz um pacto.

Ouvir Jen dizer isso foi uma das maiores dores de sua vida, saber que o amor de sua vida estava destinada a algo tão cruel fazia Dean querer pegar uma arma e disparar em sua própria cabeça.

Dean, eu só tenho um ano.

— Porra — Essas alucinações estão indo e vindo sem contagem de minutos, ele quase pode sentir seu cérebro pulsar com a dor que causa.

Dean ofega e geme olhando ao redor da sala, ele tem que sair daqui, tem que tirar Jen daqui, eles tem que voltar pra Risa e viver a sua vida como estavam, Dean não pode ter uma quebra mental agora.

Ele começa a arrastar os dedos no chão cegamente procurando algo, talvez um pequeno prego que o ajude na fechadura da porta e o liberte daqui. Qualquer coisa pode salva-lo, ele não vai virar saco de pancadas de Beelzebub, Dean se recusa a isso.

Sua cabeça dói como uma porra e ele está começando a ficar desorientado de suas ideias. Suas mãos tremem em correspondência ao seu corpo quebrado e devastado.

Você nunca deveria ter feito isso, não importa o motivo, você percebe no que se meteu? Você não vai sair de férias em uma viagem chata, você vai pro inferno, Jen.

— EU SEI, merda, Dean, eu sei, eu sabia quando saí do bunker desolada por que Cas disse que você poderia nunca melhorar e eu sabia quando eu fui até aquela encruzilhada fazer esse fodido trato, eu sei no que eu me meti, E NÃO PRECISO DE VOCE ME DIZENDO QUE EU FIZ UMA BURRADA, EU NÃO PRECISO DISSO.

Dean piscou rapidamente tentando fazer essa mistura de imagens sumir dos seus olhos. Merda, sua cabeça está girando como um carrossel e ele corre até o canto da sala jogando tudo o que ele não comeu nos últimos dias, seu estômago revira com a força do vômito até não sobrar nada mais que bile. Ele não sabe a quanto tempo está preso mais ele teme que não seja a mesmo Dean que entrou quando poder sair.

Sinto muito estragar a sua vida perfeita, Sam, mas isso não é sobre você dessa vez.

— NÃO. ISSO É SOBRE VOCÊ. É SEMPRE SOBRE VOCÊ NÃO É? VOCÊ ADORA ESTRAGAR A MINHA FODIDA VIDA. E A PRIMEIRA VEZ FOI QUANDO VOCÊ FOI ME PROCURAR NA FACULDADE ...

— EU NÃO TIVE CULPA DA MORTE DE JÉSSICA. EU NÃO A MATEI.

— Você não precisou.

Dean apertou as mãos nos ouvidos tentando parar o som. A voz de Sam cheia de ódio e desprezo soaram na cabeça de Dean como um alto falante.

— Ele está jogando com você, Dean, não cede — Dean sussurrou pra si mesmo com a voz trêmula.

Você não precisou.

— NÃO CEDE, PORRA.

Ele vai me levar. Por favor. Me salve, papai. Não posso me defender.

Dean continuou se debatendo no chão enquanto Beelzebub ria o encarando pelo pequeno vidro da porta.

{...}

Crowley atravessou a parede caindo dentro do galpão onde Beelzebub prende Dean e Jennifer. Como Castiel disse a ala B do enorme lugar tem menor vigilância e proteção, ele não sente a faísca que os sigilos causam nele. Crowley ri, Beelzebub se esconde e tem guarda costas como um mafioso.

Talvez o demônio não tenha mesmo tanto poder quanto demonstra, isso aumenta um pouco o ego de Crowley.

Ele caminha entrando em uma grande sala aberta com nada além de estantes vazias. Algumas paredes estão pichadas e a tinta descascada mostrando a deploração do lugar.

Ele pula quando da de cara com...

— Jennifer? Ou espera, não é Jennifer. Tenho que me lembrar de prestar atenção no rosto de baixo primeiro — O demônio possuído Jen sorri provocando Crowley.

— Crowley, o poderoso rei do inferno, estava me perguntando quando apareceria pra nos fazer uma visita, talvez tomar um chá — Jen/Demônio pisca um sorriso e Crowley se esforça pra não revirar os olhos. Demônio tolo, realmente acha que pode manipula-lo.

— Parece ser um convite amável mas devo recusar, querida, não utilizo de meu precioso tempo gastando com cervos de meus inimigos — Crowley fala com a voz casual. O demônio revira os olhos negros obviamente nada incomodado com o comentário.

— Sua perda, eu costumo ser uma ótima companhia.

— Era o que dizia nos confins do inferno? Soube que não tinha muitos amigos por lá — Crowley alfineta e pela primeira vez ele deve ter puxado algo dentro do demônio pois a sua expressão escurece gradativamente.

— Você não sabe nada sobre mim — Jen/Demônio rosna com a voz imponente.

— Claro que sei. Eu me lembro de você, pequena coisinha medrosa com medo da própria sombra, sempre querendo agradar mas nunca foi suficiente, não é. Devo dizer que estou impressionado, você mudou bastante — Diz Crowley adorando ver com as bordas dos olhos do demônio soltam faíscas de raiva.

— Acho que o mundo humano me deu isso, a liberdade e as escolhas, eu escolhi sempre me abster de caminhar com perdedores como... você sabe — Ela pisca e sorri novamente. Crowley aperta as mãos em punhos mas não mostra emoções pelas feições.

— Hum. Porque não sai logo dessa menina e torna as coisas mais fáceis pra nós dois? — Crowley fala e o demônio levanta a sua sobrancelha.

— Está preocupado com a pequena Jennifer aqui? Isso é adorável — Ela zomba.

— Não é preocupação, apenas quero sair daqui o mais rápido possível, e não posso enquanto você tomar posse dela — Crowley não pode matar esse demônio enquanto ele estiver no corpo de Jennifer e exorcismo seria fácil demais, o demônio obviamente está preso dentro dela. Ele olha pro braço esquerdo da mulher e vê o símbolo que o prova que ele está certo.

— Eu... bem, vou andando — Crowley passa pelo demônio e é parado pela pequena mão de Jen em seu braço.

— Espera ai, Big Boss, não acha que vai passar por mim tão fácil, acha? Enquanto você estiver no trono Beelzebub não poderá ser rei, e eu adoro estar do lado vencedor, então você tem que sumir do mapa — Os olhos negros ofuscantes do demônio brilham com puro cinismo e crueldade.

Crowley adoraria pulverizar esse inseto.

— Sinto muito, amor, eu sou o rei, tenho meus truques — Ele então some nos olhos de Jen fazendo o demônio grunhir de raiva.

{...}

Dean respira pela boca com força fazendo seu batimento cardíaco diminuir, talvez manter a sua taxa de açúcar no sangue normal, ele nem sabe mais o que está pensando. Isso está começando a ficar ridículo.

Ele olha em volta da sala que ele já viu um milhão de vezes pensando em um jeito de sair daqui. Beelzebub não vai deixá-lo sair enquanto não fritar os miolos de Dean, até lá Dean está muito preso.

Quando ele vira o rosto ele vê um pequeno prego jogado no canto da sala, tão minúsculo que está quase invisível debaixo de tanta sujeira, mas um pequeno brilho prateado chamou a sua atenção.

Ele estica a mão e com muito esforço puxa o prego pros seus dedos trêmulos. Ele espera que pelo menos uma vez na sua vida algo seja fácil pra ele.

{...}

Crowley puxa a faca da carne do oitavo demônio que aparece em sua frente, observando ele gemer de dor enquanto o demônio morre dentro da casca antes cair no chão. Tolos, acham que podem enfrentar o rei. Pensa Crowley.

Beelzebub não deve estar por aqui. Provavelmente um desses demônio já o teriam alertado sobre Crowley.

Crowley então vê uma sala trancada. A única trancada pra falar a verdade. Primeiro passo, pegar Dean, segundo passo, tirar o demônio do corpo de Jennifer, terceiro passo, procurar a graça do irritante anjo Castiel. Quarto passo, explodir Beelzebub com a graça que lhe foi informado estar no Impala, graça que Crowley tem posse nesse exato momento.

Crowley vai adorar ver pedaços de Beelzebub voando pelo espaço.

Melhor que apenas o espetar com a faca.

Quando ele está pronto pra abrir a porta ele ouve:

— Fergus, estava esperando por você — Crowley aperta os olhos antes de se virar e ver Beelzebub acompanhado de Jennifer possuída — Sabia que não iria deixar o seu amigo ser torturado.

TBC


Notas Finais




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...