História Corações divididos - Sakura e Itachi (Itasaku) - Kin Tsuchi

O final de semana passou muito rápido e, por mais que quisesse ter saído um pouco, preferi ficar em casa com meus pais. Meu coração estava bastante aflito por saber que eu trabalhava com um traidor. Em pensar que eu permiti que ele me beijasse. Ainda não acreditava no quanto fui idiota. No quanto fui ingênua em me deixar sentir algo por ele...

No domingo, Ino fora na minha casa, levou umas revistas de moda para que eu pudesse ver, mas não sabia bem por que ela fez aquilo, já que ela tinha bastante noção de que eu não gostava muito dessas coisas. Ficar olhando para ela toda empolgada com tudo era difícil, normalmente eu adorava passar tempo com ela, mas eu não estava com cabeça para besteiras. Ino não podia nem sonhar sobre o que aconteceu e, enquanto ela falava comigo, só conseguia imaginar o quão sozinha eu estava nessa situação.

Me senti um brinquedo nas mãos dele e talvez era nisso que ele queria me transformar. Isso era tão desconfortável... e por nunca ter passado por nada parecido, nem sabia como me defender, me sentia mais fraca a cada momento que se passava, em principal por não conseguir desviar meus pensamentos dele por muito tempo, mesmo insistindo comigo mesma que a pior coisa na minha vida seria me envolver com um sujeito como ele.

Sasuke me fazia falta e era inevitável para mim pensar que talvez eu tivesse deixado aquele beijo acontecer e tivesse sentido tantas coisas por eles serem tão parecidos. Mas eu acreditava que ele tinha entendido bem que eu não queria nada com ele, achava o Sasuke frio e até arrogante, mas o irmão dele conseguia ser mil vezes pior. E Sasuke só era dessa forma graças ao Itachi.

Eu queria tanto nunca ter visto esse monstro, queria nunca ter conhecido ele.

O único sentimento que meu coração tinha por ele era raiva e os pensamentos sobre ele me assolavam de forma intensa, era como se eu não conseguisse mudar o canal da TV. E o motivo para eu ficar ainda mais tensa era o medo de acontecer alguma coisa com minha amiga: nunca se sabe o que uma pessoa como ele poderia fazer.

O meu final de semana se foi, o aperto no peito e a confusão permaneceram e olhar aquele esconderijo tão de perto me fez ter calafrios, senti meu estômago embrulhar. Em pensar que teria que ficar cinco longos dias por lá, meu corpo já pinicava. Ao menos já estava começando a escurecer, logo poderia dormir tranquilamente.

Ao entrar, ouvimos uma movimentação estranha e resolvemos ir até o local após deixarmos nossas coisas nos nossos respectivos quartos. Para nossa surpresa, eles estavam treinando e no pátio havia umas pessoas que não conhecíamos junto. Os únicos que não treinavam eram Itachi e Kisame, esses dois se achavam. Farinha do mesmo saco, com certeza. E tinha uma mulher com vestido supercurto perto deles e os três estavam com copos nas mãos. Ninguém foi falar com a gente, foi como se nem notassem que tínhamos chegado, extremamente indiferentes. 

Os olhos de Ino brilhavam com malícia enquanto via Sasori manipulando as marionetes, e eu fiquei muito nervosa ao ver Deidara se preparando para atacá-lo.

 Não consegui me segurar, tinha pavor de gente teimosa.

— Será que ele não tem nada na cabeça? Falei pelo menos três dias de repouso, mas ninguém parece me ouvir neste lugar — sussurrei para mim mesma.

 Passei pisando fundo por uma mulher bem bonita com cabelos azuis que disputava contra um homem de cabelos laranja e alguns piercings no rosto. Dei um cascudo no alto da cabeça de Deidara e pude ver Sasori quase cuspindo as tripas ao ver o que eu fazia. Peguei o loiro pela orelha, que se abaixava como se tentasse reprimir a dor que sentia, e o arrastei até o canto em que Ino estava com seus olhos arregalados e rindo com a mão na boca.

— Ai... O que eu fiz? — falou, passando a mão para cima e para baixo na orelha, que ficou vermelha pelo apertão.

— Como assim o que você fez? Sabe muito bem que tem que ficar de repouso, como vai sarar desse jeito? — Ao terminar de falar, irritada e com ambas as mãos na cintura, pude notar o silêncio que se abateu no local.

Virei minha cabeça lentamente, e todos estavam olhando para nós. Os únicos que riam era Sasori e a mulher de cabelos azuis, esta que tentava disfarçar tampando a boca com as duas mãos. Meus olhos correram até onde Itachi estava, mas ele nem parecia estar ali. Estava falando alguma coisa no ouvido da mulher de roupa curta, que agora saía de onde eles estavam e caminhava na nossa direção.

— Relaxa! — falou Deidara, se sentando no meio fio. — Eu vou ficar bem. Pode deixar que não me esforço mais até você dizer que posso — disse, e piscou um dos olhos para mim.

Ino, abusada como sempre, mordia os lábios enquanto me apontava o loiro com os olhos. Me surpreendi ao sentir um toque no meu ombro e ao olhar para trás ver que era a mulher de cabelos azuis, e o rapaz que treinava com ela estava seguindo em direção à Itachi e Kisame.

— Oi, meu nome é Konan. Tudo bem? — disse ainda rindo. Sua voz era suave e bondosa, era bom ter uma pessoa que ao menos parecia ser legal por perto.

— Tudo! Eu sou...

— Eu sei quem são vocês. Sasori e Deidara não pararam de falar das duas nem por um minuto!

Senti minhas bochechas arderem com o comentário. Vi a mulher de cabelos longos e negros que estava com Itachi entrar no casarão e logo sair com uma garrafa de bebida na mão. Ela nem mesmo olhou para nós.

— Para de ser fofoqueira, Konan. — Deidara se levantou rapidamente, apontando o dedo para ela. Se eu pensava que estava vermelha, então ele já era um tomate!

— Vamos parar com isso, gente — falou Sasori, se aproximando de nós. Ino chegou a balançar o corpo de um lado para o outro feito criança ao vê-lo olhando para ela. — Já está ficando escuro, a gente podia aproveitar para relaxar.

— Como assim? — perguntei.

— Hoje o dia foi tranquilo e agora não temos nada para fazer — disse Konan.

— É, e a gente podia aproveitar para tomar uma — complementou Deidara, com copos descartáveis nas mãos e uma garrafa, que nem vi onde ele pegou.

 — Aiii, gente, essa é uma ótima ideia! — Ino, como sempre empolgada, já tomava um copo da mão de Deidara.

— Eu não sou muito de beber — falei sincera, mas sabia que não poderia fugir, porque Ino nunca aceitava um não como resposta. E ela já foi me entregando um copo cheio, um biquinho manhoso nos lábios. Eu, boba como sempre, peguei o copo dando um sorriso para ela.

Nos sentamos no meio fio e começamos a conversar. Konan nos mostrou um pouco do seu jutsu, e eu achei muito bonito todos aqueles origamis perfeitos. Deidara ficou com um pouco de ciúmes, pois logo depois fez um pequeno pássaro de argila e me deu, mas quando ele falou que explodia, eu joguei longe na hora. Todos ficaram rindo da minha cara de susto, e eu fiquei sem graça por ter exagerado um pouco.

— Konan, quem é aquele cara que estava treinando com você? E aquela mulher que está com ele, Itachi e Kisame? — Eles estavam mais afastados de nós, então nem precisei falar baixo, pois sabia que eles não ouviriam.

— O que estava comigo é Yahiko.

— O namoradinho dela! — falou Sasori, que estava exagerando na bebida com Ino.

Konan ficou visivelmente morrendo de vergonha, ela era tão legal que era muito fácil esquecer que ela também era uma criminosa. Passei minha mão sobre a dela com um sorriso, para tentar fazer com que ela se sentisse melhor e também para tentar afastar ao menos por um segundo da minha mente que eu estava rodeada por pessoas de caráter duvidoso.

— E aquela mulher é Kin Tsuchi, ela era da aldeia do som. — Ao ouvir aquilo, paralisei. Só podia ser brincadeira.

Nunca me esqueceria do dia em que a enfrentei durante a segunda fase do exame Chunin. Ela e seus companheiros de grupo me humilharam como eu nunca havia sido humilhada antes, por causa dela que cortei o meu cabelo naquele dia. As sensações que tive naquele momento me perseguiam até então, mesmo tendo me tornado uma excelente Kunoichi médica, ainda sentia o peso das palavras dela em cada situação difícil que enfrentava.

Senti a mão de Ino tocar meu ombro, olhei para trás e a vi com um olhar tenro e confiante. Ela estava lá naquele dia, inclusive foi o Shikamaru que derrotou a Kin na fase de classificação. Dei um sorriso para ela, tentando demonstrar que já havia superado, mas sabia que não podia esconder muita coisa da minha amiga.

— Eles se merecem — disse olhando para frente e, ao seguir o olhar de Ino, senti uma força como uma descarga elétrica passando pelo meu corpo.

Eles estavam se beijando. Kin estava pendurada no pescoço de Itachi como se fosse uma fruta madura pendurada em uma árvore. Ele não a retribuía, suas mãos estavam tentando afastá-la, mas a garota parecia insistente. E, caramba, precisava admitir que ver aquela cena me deixou confusa. Se ele tinha namorada, então por que veio atrás de mim? Sem contar que ela, apesar de ser uma das piores pessoas que já tive o desprazer de conhecer, era muito bonita.

Eu queria mesmo era me levantar de onde estava e jogar a bebida do meu copo na cara dele e depois contar para ela como o namoradinho dela era safado, mas isso seria impossível, mesmo que eu pudesse, porque estava tão nervosa que, sem querer, apertei meu copo, fazendo todo o conteúdo que estava dentro dele se derramar. Afastei meus pés enquanto Konan pegava o copo da minha mão em uma tentativa de ajuda.

— Esses dois são uma piada — falou Deidara enchendo um novo copo para mim, enquanto Konan o segurava.

— O Itachi trai ela com todas as piranhas que ele vê pela frente, e ainda assim ela finge não saber de nada — a garota falou me devolvendo meu copo.

— Sakura, esquece! Eles não merecem um pingo da nossa atenção — Ino falou e se sentou ao lado de Sasori de novo. Eu vi o ruivo colocar o braço sobre os ombros dela e quase não acreditei. Acho que estavam todos pirados mesmo.

 — Acho que a coisa mais sensata que tem para se fazer agora é beber — falei com um sorriso falso e virei todo conteúdo do copo por goela a baixo. Konan, compassiva, afagou meu braço com um sorriso tristonho, como se compreendesse o que eu estava passando, mas com certeza não poderia.

O Itachi trai ela com todas as piranhas que ele vê pela frente.  Acho que essa frase nunca mais sairia da minha cabeça. Se já me sentia mal antes, agora nem tinha palavras para descrever o que estava em meu peito. Mesmo nutrindo um forte sentimento de rancor por ele e pelo que ele representava na vida de Sasuke e para a Aldeia, eu me entreguei a ele, mesmo que por instantes. E a culpa de ter feito isso iria me perseguir pelo resto da minha vida.

Kisame e Yahiko se aproximaram de nós, enquanto Itachi e Kin entravam. Kisame pegou na minha mão direita e levou para sua boca, me dando um beijo. Ele até parecia ser legal, mas era muito estranho. Já o Yahiko apenas acenou para mim com um sorriso enquanto se sentava ao lado de Konan. Tinha que admitir que os dois faziam um belo par e pareciam gostar muito um do outro.

Continuei a beber enquanto eles conversavam, todos estavam se divertindo enquanto eu apenas fingia prestar atenção, soltando um sorriso falso de tempos em tempos.

O tempo passou, já estava ficando tarde e eu não estava mais aguentando beber, nem sabia mais quantos copos já tinha tomado. Para falar a verdade, acho que nunca havia bebido tanto quanto nesse dia.

As coisas já estavam ficando engraçadas só pelo fato de eu olhar para elas. Resolvi que estava na hora de eu ir para cama, aliás, já passava da hora. Mas Ino não me deixaria sair de lá sem ela, eu ia ter que inventar alguma coisa para fazer minha amiga não se importar com minha ausência. 

— Gente, eu vou ao banheiro. — Kisame quase morreu de rir ao ouvir minha voz grogue, e eu, vermelha pela bebedeira, tentei me levantar, mas acabei vendo tudo girando. A sorte foi Deidara, que me pegou pelo braço, me ajudando.

— Quer que eu vá com você? — perguntou Ino, ameaçando levantar.

— Não, pode deixar que eu vou sozinha. Eu não tô tão ruim assim.

— Vai com calma, Sakura — Konan falou com toda sua meiguice enquanto eu saía.

O corredor dos quartos estava escuro como sempre e eu precisei ir escorando na parede para ter certeza de que estava seguindo o caminho corretamente. Caramba, eu nem sabia se amanhã iria conseguir acordar! Com certeza minha cabeça ia ficar... Foi nesse momento que meus pensamentos foram mortos. Não conseguia acreditar no que os meus olhos estavam vendo.

O quarto, no fim do corredor, estava com a porta semiaberta e a pouca luz de um abajur iluminava o local. Itachi se encontrava sentado em uma poltrona, com a cabeça recostada em seus braços cruzados, como se estivesse dormindo. Suas calças estavam aos seus pés, e Kin em seu colo, ainda com seu vestido. Apertei um pouco os meus olhos tentando entender o que estava acontecendo e pude ver que suas mãos seguravam a blusa dele e ela sentava e se levantava do colo do nukenin com o corpo arqueado para trás.

— Eles estão...