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História Coral - A Filha de Coraline - Queda Livre


Escrita por: ElanePimentel

Capítulo 42 - Queda Livre


 

— Você vai ficar calada?

Concordei com a cabeça lentamente.

— E vai me obedecer?

Concordei novamente.

— E vai segurar minha mão? – ele falou aquilo e deu um sorriso divertido com toda aquela situação onde agora ele sabia que tinha todo o controle.

Fiz a expressão mais raivosa que podia pra ele entender que eu estava concordando com tudo aquilo, mas não estava nem um pouco satisfeita.

— Não importa se você está satisfeita ou não, o que importa é que agora você sabe que esse não é um lugar muito amigável e que se você não confiar em mim, vamos morrer, seus pais vão morrer, seu irmão vai morrer, e seus dois namorados vão morrer. Esqueci alguém?

Car era algo que ainda não conseguia aceitar se era real ou coisa da minha cabeça, ou simplesmente um sonho. Ele sabia tudo que passava por meus pensamentos, e agora, começava a perceber certas semelhanças nele com duas pessoas que de certa forma estavam ligadas a mim.

Ele me olhava estreitando o olhar como alguém que dedica toda a sua atenção a um assunto. Mas agora eu sabia que realmente deveria confiar nele, se fosse um sonho ninguém se machucaria, mas se fosse real, minha falta de confiança no desconhecido poderia causar danos irremediáveis. Ele se comprometeu em me ajudar e agora eu me comprometeria em confiar naquele toco velho.

Car começou a dar gargalhadas exageradas e aquilo me fez ficar apreensiva com a atenção que ele poderia chamar naquele lugar infernal.

— Toco velho? – ele olhou pra mim como se não conseguisse acreditar naquilo. — Eu sou um magnifico Carvalho tão antigo quanto a existência de todos os mundos.

— Então não deixa de ser verdade, você é um toco e é velho. – falei sem notar imediatamente que minha voz finalmente entoava som. Agarrei minha garganta sem esconder minha expressão de felicidade por conseguir falar. Car me observava pacientemente. Minha raiva dele começava a diminuir, se ele realmente iria me ajudar então não tinha motivos para ter raiva.

— Antes de qualquer coisa, você precisa saber: Nesse mundo você pode ser morta a qualquer momento. Essas criaturas estão sempre famintas por carne. Então sempre fique perto de mim.

— Que lugar é esse?

— Estamos dentro de um mundo que tem três mundos. Esse é o Terceiro Mundo. – ele olhou ao redor e fez um giro com o dedo. – Em algum lugar aqui tem uma porta para o Segundo mundo.

— Meus pais estão aqui?

— Não.

— Então o que viemos procurar?

— Uma coisa que vai ajudar você a usar seus poderes.

Queria fazer um milhão de perguntas para ele, mas naquele momento comecei ver vultos se mexendo ao nosso redor, dentro das casas destruídas que tinham em todos os lados. Instintivamente me aproximei ainda mais de Car que também começou observar todos os lados com a expressão ligeiramente seria, mas logo seu rosto se suavizou. 

— Não precisa se preocupar, você está segura comigo. - Car falou e pegou em meu ombro como se aquele gesto fosse me confortar. 

Comecei a notar que o tempo começava a escurecer mais do que já estava escuro, e então os vultos começavam ainda mais se agitarem. Algo dentro de mim gritava que eu estava em serio perigo e que aquele lugar poderia ser mais maligno do que Car estava demonstrando ser, mas se todo aquele perigo fosse necessário para me ajudar a encontrar minha família, eu enfrentaria milhões de vezes.  

Estávamos andando por o que seria a calçada de uma rua deserta e destruída cercada por casas e prédios, não existia luzes nas casas ou mesmo nos prédios, nem nos postes destruídos das ruas e nem em lugar nenhum. Estava ficando cada vez mais difícil enxergar alguma coisa, e a cada segundo os vultos pareciam se aproximar ainda mais. Car andava a minha frente e agora começava a notar que uma aura esverdeada emanava suavemente dele. Ele olhou para trás, para mim, rapidamente e deu um leve sorriso. 

— Você também está iluminada. - ele falou.

Olhei minhas mãos e um brilho vermelho leve emanava delas, dos meus braços, das minhas pernas, e aparentemente do meu corpo todo igual havia observado em Car momentos atrás. 

— O que é isso?

— Nossa aura. 

— Aura?

— Você sabe o que é. Nossa energia, nossa força, nossa personalidade... Vermelha a sua, algo forte. Não é surpresa. 

— Porque está aparecendo agora? Aqui?

— Veja bem, esse lugar aqui não é como o mundo que você vive, ele é extremamente magico, assim como a maioria dos mundos, mas esse ele além de magico é maligno, sua aura é meio que uma proteção, porque as criaturas desse mundo não possuem uma, e elas morrem de medo de luz, por mínima que seja. É um extinto natural era aparecer agora, mas você também pode controlar a intensidade que ela emana. 

— Me mostra. 

— Não eu. Você pode. Mas como eu disse, no momento você não consegue controlar toda a magia que existe dentro de você, toda a força. - ele falava como se fosse bastante encantado por tudo aquilo.

Eu ia abrir a boca para fazer uma nova pergunta, mas um som horrível e bastante alto tomou todo o lugar fazendo Car parar abruptamente e novamente o som entoou mais próximo da gente, meu coração acelerou e o olhar de Car parecia, dessa vez, demonstrar medo. 

— O que é isso? - murmurei e o som novamente, mais próximo, e dessa vez fez todos os pelinhos do meu corpo se arrepiarem. 

Uma mão enorme surgiu do meio da escuridão e por um fio não agarrava Car, que se jogou no chão rapidamente e eu me esquivei para o lado me batendo em um carro que estava no meio da rua. 

— Corre, Coral, corre. - ele gritou enquanto ainda estava no chão, não esperei ele repetir uma segunda vez e comecei a correr para uma casa que estava próxima, aquela criatura estava na rua e a melhor opção seria encontrar um abrigo com porta. 

Segurei na maçaneta da porta da casa e sem pensar duas vezes empurrei que para a minha alegria estava aberta, entrei e antes que tudo sumisse, escutei a voz de Car ao longe gritando "Na casa não"

Estava caindo rapidamente no meio de uma escuridão infinita, sabia que aquele finalmente seria o meu fim, tudo começou a passar pelos meus pensamentos, tudo que passei até chegar naquela porta diretamente para  aquele abismo. Minha família estava em algum lugar longe de mim e de meu irmão por bastante tempo, e tinha que confiar na palavra de uma árvore de que conseguiria salvar todos eles. Pensei em Toby que deixei para trás aos cuidados de minha tia Mikaella que mal conseguia cuidar de si mesmo, e agora começava a pensar no tamanho do erro que cometi ao concordar em confiar em Car, eu poderia estar ali em busca dos meus pais, mas Toby estava sem segurança, Rowena morava na mesma casa, Dra. Elza na casa da frente, e eu estava ali caindo em um buraco tão profundo que chegava a ser tedioso esperar pelo meu fim. 

A imagem de Jack sorrindo veio ao meu pensamento, ele era sempre tão despreocupado com tudo e estava sempre fazendo piadinhas. Mas aquele era o Jack que estava tentando esconder seu verdadeiro eu, não era aquele que passou anos no manicômio junto comigo que agora conseguia lembrar e entender nossa verdadeira conexão, ele era um idiota, fazia brincadeiras idiotas, me deixava irritada, mas nunca deixou de ser uma boa pessoa e era o único que estava ali tentando me fazer a todo custo lembrar de tudo que havia acontecido, apesar de que todas as minhas lembranças naquele momento pareciam mais nubladas do que nunca. Por outro lado, existia também a imagem de Rudy, foi por ele por quem mais me sacrifiquei, foi por ele que fiz tudo, e agora ele parecia tão distante. Rudy foi o meu melhor amigo, mas não ficou do meu lado quando meus pais sumiram, não ficou do meu lado quando tudo dentro de mim gritava que havia algo estranho acontecendo, e naquele momento, no meu fim, ele novamente não estava ao meu lado. Por muito tempo tentei perdoar Rudy por feito tudo que havia feito, por não ter ficado do meu lado quando mais precisei, mas naquele momento percebi o quanto seria difícil perdoa-lo e que agora, se eu sobrevivesse, ele entraria para a lista dos meus inimigos. Não por vingança, não para me fazer sentir melhor, e não porque ele merecia, mas sim porque ele sabia exatamente de tudo que estava acontecendo e não fez nada para ajudar. Tudo aquilo remoía dentro de mim ao pensar em Toby, indefeso, e em Rudy, que estava lá e poderia fazer de tudo para protege-lo, mas eu sabia que aquilo era impossível. Ele havia escolhido o lado que ficaria. E não era o meu. 

Comecei a ver uma pequena luz no que seria finalmente o fim daquela queda livre, uma luz vermelha, verde, amarela, branca. As luzes foram ficando cada vez mais forte, mais e mais perto e mais e mais grande. Meu coração começou a acelerar novamente, e todos os pensamentos que a pouco me incomodavam tanto foram esvaindo e me fazendo perceber que nada daquilo importava. Meus pais desaparecidos não importavam, meu irmão sozinho não importava, o sumiço de Jack não importava, minha raiva de Rudy não importava, a maldade de Rowena e Dra. Elza não importava. Logo logo minha queda acabaria e eu estaria morta no chão e tudo isso iria desaparecer. Todos os problemas, todas as tristezas, desapareceriam. Mas aquilo não era a solução. Desistir não era a solução. As pessoas que eu amava precisavam de mim e não desistiria sem lutar. 

— Eu não quero morrer!! - gritei e senti todo o meu corpo esquentar, a luz vermelha que antes emanava suavemente de meu corpo parecia bem mais forte quase juntando-se as luzes que estavam cada segundo mais perto. Minha queda repentinamente tornou-se mais lenta, e quando toda a luz tomou conta de todo o ambiente, cai suavemente em cima de alguma coisa que parecia plumas de tão macio que era. 

A medida que minha visão foi adaptando-se a luz intensa daquele ambiente pude ver melhor onde estava. Era uma sala com paredes vermelhas e verdes, e luzes amarelas. Tinha uma árvore de natal bastante alta e enfeitada com presentes embaixo dela. Olhei para onde havia pousado e realmente eram grandes almofadas de pelúcia com brilhos e desenhos natalinos, foi então que vi que estava vestindo um moletom vermelho com uma rena divertida gravada bem ao meio. E antes que pudesse pensar em como aquilo havia acontecido algo chamou minha atenção logo a frente.

— Feliz Natal! - uma voz feminina soou atrás de uma mesa alta que estava logo depois da árvore de natal. Fiquei de pé rapidamente em alerta e pude ver direito a mesa e quem estava sentada de frente para mim me encarando curiosamente. A mesa estava enfeitada de comida, um grande peru, um bolo, milkshake de... manga. A garota não parecia ser mais velha do que eu, aparentava ter entre 15 e 16 anos, seus cabelos partido ao meio eram longos e platinados iguais os de Jack. Seus olhos eram da cor de mel e ela vestia roupas estranhas e pretas. 

— Quem é você? - perguntei dando alguns passos para trás.

A garota saltou da mesa e começou andar em minha direção, não aparentava estar com medo, sua expressão de curiosidade permanecia. Por um segundo pensei ter visto um leve sinal de fúria passar por seus olhos, mas logo depois ela balançou sua cabeça negativamente como quem espanta algum pensamento e olhou dentro dos meus olhos. 

— Meu nome é Kali Lira. - ela cruzou os braços e com um ar de curiosidade perguntou quase sorrindo. — O que você está fazendo dentro do meu sonho? 



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