Coraline caiu nos braços de Chris, sua visão estava turva e seus batimentos fracos. Ela via luzes fortes, sombras escuras passando de um lugar para o outro.
- Sonhos não são perigosos. – Disse Coraline, com quase um murmúrio.
Chris tentava entender o que acontecia, mas segundos depois Coraline apagou, antes de ouvir uma voz muito familiar:
- Você está errada, Coraline... – Era a Bela Dama, com aquele mesmo tom soturno e ameaçador.
Coraline então viu ao seu redor tudo ficar escuro, como se a noite caísse sobre a terra sem lua ou estrelas para iluminar.
Flashback on
Ela se viu no mesmo lugar, mas sozinha. O mundo inteiro estava sendo reconstruído, e as sombras se refugiavam na escuridão da floresta no horizonte. Do seu lado estava a árvore, e encostada na árvore uma menina linda: de cabelos escuros que caíam sobre os ombros, pele branca como porcelana, e um vestido azul cheio de estrelinhas. Coraline lembrou-se naquele instante do moletom que a Bela Dama fez para ela como presente, na última noite que esteve no outro mundo.
A menina segurava uma boneca de pano com olhos de botões, embora um dos botões estivesse quase caindo a menina continuava sorrindo, e via ali uma ótima oportunidade de virar médica.
- Não se preocupe, filha, eu vou cuidar de você. Está vendo? Uma agulha! Não vai doer nada! – A menina disse aquilo com doçura na voz. – Eu faço isso porque eu te amo. – Sorriu para a boneca, perfurando o rosto de pano.
Coraline se aproximou, percebeu que a pequena menina não podia vê-la e que tudo aquilo não passava de uma lembrança.
- Como a Bela Dama se tornou tão horrível? – Se perguntava, com as vozes que somente ouvimos em nossa mente, percebendo que a resposta para a sua pergunta estava bem na sua frente.
Um homem estranho e alto se aproximou da árvore segundos depois, cobria os olhos com um chapéu e escondia a mão por dentro do paletó.
- Olá menininha.
- Oi.
- Sua boneca é linda, sabia?
- Eu sei, ela é bonita igual a minha mãe.
- E onde está sua mãe?
- Ela não está aqui, Deus precisava dela mais do que eu, então ela foi para o céu ficar perto dele.
A menina era tão inocente que não conseguia entender o sorriso do moço que estava ao seu lado.
- E quem fez essa boneca?
- A minha amiga Freira, ela me ajudou.
- Ela é muito boa nisso, sabia?
- Eu sei. – Dizia enquanto tentava colocar o olho da boneca no lugar.
- Sabe, eu tenho algo para você....
- Eu não posso aceitar nada de estranhos.
- Mas é algo que você vai gostar muito...
A menina olhou para o lado e viu o homem mover as mãos com certa delicadeza, fazendo aparecer em sua frente um véu translucido e brilhante, era magia.
- Não! – Exclamou Coraline.
O véu translucido se tornou escuro como fumaça, e o homem por sua vez jogou o véu por cima da menina, o que a fez desaparecer em meio a escuridão.
Flashback off
Coraline acordou assustada.
- Eu sei o que aconteceu! – Exclamou.
- Sabe o que?
- Tudo! Eu sei como tudo começou. Vamos! – Disse Coraline, puxando o Chris pelo braço.
Eles voltaram para o hotel. Coraline jogou a bolsa em cima do sofá, pegou as pastas e começou a revisar tudo com bastante pressa.
- Coraline. – Chamou Chris, mas ela não dava ouvidos. – Coraline, eu sei pelo o que você está passando, mas precisamos conversar... Coraline! – Advertiu.
- O que foi?! – Exclamou.
- Para com isso agora mesmo! Você está agindo como uma lunática.
- Eu tive uma visão naquela árvore.
- Uma visão?
- Sim, e se tem alguma forma de trazer os meus pais de volta então eu farei.
- Coraline... eu lamento, mas...
- Mas o que?! Eu estou perto, Chris! Finalmente tenho uma... – Ela parou.
- Uma o que? Coraline?
Ela estava paralisada, parecia hipnotizada.
- Ei! Aqui! O que você tem?
Os olhos dela aos poucos se tornaram negros, sua pele ficou ainda mais pálida e seus cabelos ficaram escuros.
- O que está acontecendo? ... – Disse ele.
Todos os móveis do quarto de repente começaram a flutuar. No rosto de Coraline as veias começaram a aparecer, seu sangue estava preto, e escorriam pela boca e nariz. Ela continuava imóvel, olhando para o nada.
Segundos depois todos os móveis caíram e Coraline voltou ao normal.
- Ei, ei. – Disse Chris, andando até ela. – Está tudo bem? O que aconteceu? O que foi isso?!
- Ela...
- Ela quem?!
- A Bela Dama, ela não morreu naquela noite.... Ela está viva, ela está viva dentro de mim.
- Do que você está falando?
- Ela vive em mim, ela é uma hospedeira do meu corpo, Chris!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.