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História Cores, flores e borboletas - Ansiedades e desconfortos


Escrita por: baej

Notas do Autor


Nem sei com que cara apareço depois de tanto tempo!

Esse capítulo pode parecer que tem muita informação aleatória, mas ele é uma ponte importante.

Boa leitura!

Capítulo 7 - Ansiedades e desconfortos


 

“O hoje é um presente que eu não quero

Então estou pensando: neste mundo

Sou mesmo o único 

Que está querendo se esconder do Sol

E fugir?”

Zombie (english version) - Day6

 

Taehyung abriu os olhos com dificuldade. Seu corpo doía, provavelmente por causa da tensão acumulada. Querendo tirar forças sabe-se lá de onde para levantar e enfrentar mais um dia, suspirou. 

Ao chegar na cozinha para tomar café, encontrou um bilhete feito por seu irmão antes de sair. Ele desejava um bom dia, dizia que o amava e que havia feito um lanche especial para que o Kim mais novo levasse para a faculdade.

O rapaz de cabelos azuis apreciou a atitude do irmão, porém seu desânimo era tão grande que mal sorriu. 

Enquanto tomava seu café, mandou uma mensagem agradecendo Jin. Sabia que o irmão estava, nos últimos dias, super preocupado consigo e seu bem-estar. E entendia que existia razão, uma vez que suas crises de ansiedade estavam piores e o mais velho nem imaginava o motivo. 

 

(...)

 

Taehyung sentou-se no gramado verde. Não acreditava que ainda teria de aturar mais duas aulas, pois a (pouca) energia que possuía já havia chegado ao fim. 

Ele viu uma garota se aproximar. Sorriu minimamente ao ver que se tratava de uma amiga, a Handong. Ela se abaixou, sentando-se bem ao seu lado. 

A ruiva e Taehyung compartilhavam de uma conexão forte. Apesar de raramente conversarem sobre assuntos delicados, eles eram a companhia um do outro para boa parte das atividades dentro da Universidade. 

— Então… o que tá rolando? 

O jovem a encarou, permanecendo em silêncio. Tanta coisa passava por sua cabeça, que ele achou impossível responder precisamente. 

— Tae, eu sei que nunca falamos de coisas muito profundas, problemas e tal. Mas eu estou aqui. De verdade, não sei o que aconteceu, mas sei que você não está nos melhores dias. Eu e a galera estamos com você. Sempre que precisar. 

A "galera" a que ela se referia era o restante dos amigos que os acompanhavam vez ou outra. Ele assentiu, sorrindo para ela. 

— Obrigado. E saiba que você também pode contar comigo. 

— Eu já sei disso, mané — caçoou, bagunçando os fios azulados. Taehyung a olhou bravo. Acabaram rindo. 

Juntos, atravessaram o campus conversando, em direção à sala de aula. Handong contou sobre o conflito familiar com sua mãe, e Taehyung desabafou sobre suas chateações, como o fato de Jungkook estar ignorando todas as suas tentativas de contato.

 

(...)

 

— Penso seriamente em desistir de apresentar o projeto. De verdade, noona, tudo que eu havia pensado para ele não faz mais sentido. 

— Tae, nem cogite isso! É uma chance única na vida!

O rapaz a olhou com as sobrancelhas arqueadas. Como um projeto de uma disciplina universitária poderia ser uma “chance única na vida”?

— Você não soube? — perguntou Handong, arrastando o amigo até a um grande mural. Taehyung ficou boquiaberto, quase como se tivesse levado um banho de água fria. — Ainda pensa em desistir? 

— Estou ferrado — respondeu, constatando que teria não só que finalizar o projeto, como também fazer aquele ser o melhor trabalho de todos. Afinal, o cartaz à sua frente informava a presença de fotógrafos importantíssimos, que iriam selecionar os melhores resultados e, assim, oferecer oportunidades profissionais em seus estúdios para estes alunos. 

— Ah, me poupe, Taehyung. Eu, se fosse você, aproveitaria que a professora está logo ali e pediria conselho. Como um dos queridinhos dela, acho fácil ela te ajudar com algum incentivo. 

O Kim observou a mulher carregando pastas indo em direção à saída do prédio. Então, antes que se arrependesse, correu atrás dela.

Ao contar de sua desmotivação para a professora, ela o tranquilizou. Disse que o projeto, por ser feito em um período de tempo extenso, vivia de fases e, por isso, estar passando por um momento de desmotivação era perfeitamente normal. 

Ela o aconselhou a continuar capturando as escolhas de acompanhamento (que se resumiam em: cachorros do petshop em que trabalhava, um cantinho especial de sua casa  — mais especificamente onde via o Sol se pôr  —, Jin, Jimin e Jungkook). Os dois últimos eram sua real preocupação. Desde a “discussão” na Hope Art, Jeon não o respondia e Jimin andava ocupado demais para o encontrar. 

Despediu-se pensativo da mulher, buscando formas de contornar aquele desafio. Seu desejo naquela manhã passou a ser muito claro; Ele queria conquistar a vaga em um dos importantes estúdios.  


 

“No meio da guerra vamos dançar

Dança, dança

Comigo nesse caos

Dança, dança, dança

Comigo nesse caos”

Dança - Dois é Par

   

 

Jimin havia chegado cedo demais para sua aula de dança. Não achou ruim, entretanto. 

Apesar de novato na Hope Art, ele já entendia algumas das possibilidades do lugar. E uma de suas favoritas era poder entrar em uma sala espelhada e usufruir do espaço e do aparelho de som quando bem quisesse. 

Assim, até gostava de quando conseguia chegar com antecedência, pois podia se alongar e esquentar à vontade. 

Fechou a porta atrás de si e ligou o aparelho de som. As roupas confortáveis o deixavam mais leve, antes mesmo de colocar o corpo em movimento. 

Uma canção bem suave tocava. Suspeitou que fosse de alguma classe de balé, uma vez que na sala existiam várias barras. 

Tratou de se alongar com carinho. Estava tão feliz com o fato de ter voltado a dançar que, mesmo após semanas tendo aulas, continuava extremamente motivado. 

Quando seu corpo já se mostrava preparado, improvisou alguns passos de dança. Fechou os olhos, focando na sensação do seus pés no chão. Rodopiou, pulou e sorriu. 

Energizava-se a cada pequeno movimento. Apesar do esforço físico, sentia-se muito melhor. Sentia-se ser ele próprio. 

Não soube quanto tempo exato ficou imerso em sua dança, mas, quando se deu por si, já estava em cima da hora para sua aula.

O professor Taemin abriu um grande sorriso quando viu o novo aluno entrar. Ele a cada dia se impressionava mais com as habilidades de Jimin. Achava que o jovem realmente nascera para dançar.

Segurava-se para não enchê-lo de elogios, uma vez que outros alunos poderiam ficar enciumados. Mas via em Park um grande potencial. Ele tinha algo natural, que alguns dançarinos — focados demais em aprender somente técnicas — deixavam de lado:  a capacidade de se expressar verdadeiramente por meio de seu corpo. Desde a posição de seus braços ao seu olhar, enquanto dançava. 

E isso era, para Taemin, a verdadeira essência de um dançarino nato. 


 

“Se for preciso, eu pego um barco

Eu remo por seis meses, como peixe, pra te ver

Estão pra inventar um mar grande o bastante

Que me assuste, que eu desista de você”

Partilhar - Rubel 


 

Jimin viu sua irmã caminhar delicadamente até seu quarto. Estava de noite, não tão tarde, mas a casa já encontrava-se silenciosa. 

— Posso ficar aqui? Minji está super empolgada em ter sua primeira festinha do pijama com uma amiga. As duas estão conversando debaixo do cobertor, quase como se estivessem cometendo um crime. — Riu, contando ao rapaz o que acontecia no quarto ao lado. 

— Mamãe disse para você vigiá-las?

— Sim! E ainda proibiu as coitadas de ficarem acordadas até tarde. Saí de lá para elas sentirem um pouquinho de liberdade. E, segundo elas, irão ficar acordadas a noite toda. 

O Park deu um sorriso bonito. Aquele era, de fato, um momento apreciável. Os pais nunca permitiram que Yoohyeon ou ele trouxessem amigos para casa, muito menos que deixassem alguém dormir lá. Os dois ficavam felizes quando Minji, a caçula, podia desfrutar de coisas que, no passado, eles não conseguiram. 

 

(...)

 

Fugindo do frio, Yooheyon e Jimin deitaram abraçados, debaixo de camadas de cobertores. Os irmãos dividiam um silêncio confortável, até que a mais velha o quebrou: 

— Mochi — Eles sorriram abertamente pelo uso do apelido alguns meses esquecido. —, como você está? 

Jimin encarou os olhos castanhos carregados de emoções. Ele não conseguiu decifrar tudo que eles expressavam, mas conseguia ver claramente um misto de preocupação e afeto. 

Sabia que, com a irmã, não adiantava dar respostas vazias, genéricas ou mentirosas. Era como se ela soubesse de tudo, mas sempre fizesse questão de ouvir dele. Isso poderia até resultar em um sentimento de pressão em Jimin, de forma que ele se sentisse obrigado a contar as coisas para ela.

Contudo, ele não tinha dúvidas que, se quisesse mentir ou enrolá-la, Yooheyeon respeitaria seu espaço e não o forçaria a falar nada, mesmo sabendo que a resposta não havia sido verdadeira. E, talvez, fosse justamente por isso que Jimin, na maioria das vezes, abria-se.

— Não sei. Muita coisa tem acontecido. 

— Quer falar sobre?

Jimin suspirou, assentindo. Ele queria sim botar tudo para fora. 

— Meu trabalho está insuportável, noona. Mais do que nunca. Eu estava saindo bastante com Taehyung, e isso vinha me ajudando. Mas, agora… nem temos tempo e disposição. A única coisa que tem me salvado são as aulas que comecei na Hope Art. É exaustivo, um ritmo pesado, porém é algo que gosto, sabe? 

Yoohyeon concordou. Chegou mais perto do rapaz e o apertou um pouco em um abraço. Já havia percebido que o irmão estava passando por um turbilhão de coisas. De uma vida monótona e chata, baseada no seu trabalho detestável, ele havia conhecido novas pessoas, enfrentado o pai sobre seu sonho de dançar e se permitido sair romanticamente com alguém. 

— Eu entendo, Mochi. São muitas situações novas e que mexem com você. 

Ela o encarou receosa. Cogitou até desistir de falar, mas como sua irmã mais velha, sentia-se na obrigação de ajudar Jimin e conversar com ele sobre as coisas da vida, uma vez que nem o pai nem a mãe realizavam tais atos. 

— Queria te falar sobre os cigarros, Jimin. — O jovem fez uma expressão incrédula. Como sua noona sabia disso? Podia jurar que era um segredo, pois só fumava longe de si. — Eu já desconfiava, mas nesses últimos dias você está incontrolável com isso. Deu diversos vacilos, deixou tudo exposto e voltou com as roupas fedendo diversas vezes… Imagina só se a mãe ou o pai desconfiassem disso! 

— Eu estaria fodido. 

— E não só por isso. Você sabe que isso não faz bem, né, Jimin? Eu não vou ficar te passando sermão sobre essa coisa, não! Você já é bem grandinho para saber dos riscos. 

Houve um momento pesado de silêncio. 

 — Sei, noona. E tenho sim exagerado nas últimas semanas. Inclusive, o intuito de começar na Hope Art assim, de repente, foi como motivação para diminuir o hábito de fumar. 

— Fico feliz que tenha pensado em algo para parar com isso. 

Jimin assentiu. De fato, se colocar em uma posição de dançarino o levava a um maior autocuidado, envolvendo desde sua alimentação a tentativa de eliminar hábitos ruins adquiridos, como o de fumar todos os dias. 

A conversa teve um rumo mais leve, em que os dois trocaram risadas divertidas. Em algum momento, entretanto, Jimin mencionou Taehyung e pôde notar uma mudança súbita na expressão da irmã. 

— Que cara é essa?

— Eu odeio isso, Jimin, eu odeio essa conversa. Mas preciso ter com você, porque sei que o mundo não é como gostaríamos. 

— Do que está falando, noona? 

Ela pegou seu celular, desbloqueando a tela. Passou por várias fotos, parando em uma que deixou o mais novo boquiaberto, desesperado e com medo. Nela, ele e Taehyung se beijavam no banco da praça, onde haviam se encontrado da última vez. Sua reação foi xingar-se de todos os nomes mentalmente, perguntando-se como pôde fazer aquilo em público. O receio de que alguém o visse agora era real, estava bem ali em sua frente. 

— Fica tranquilo, isso não chegou aos nossos pais. Foi uma amiga minha que te reconheceu e ficou meio chocada, me mandando a foto para eu confirmar se era você mesmo. 

Yoohyeon ponderou as palavras seguintes. 

— Eu sinto muito que as coisas tenham que ser assim, Mochi. Mas você precisa ter cuidado em público. Se isso chegasse ao pai… 

Seus olhos estavam cheios d’água. A mais velha odiava com todas as forças ter que aconselhar Jimin a se esconder e se reprimir publicamente, mas ambos sabiam que, enquanto ele morasse ali, era a única opção possível. 

Só de ter contado aos pais que voltaria a dançar havia quase apanhado, que dirá contar que gostava de rapazes. O pai iria lhe matar, e nem era exagero. 

O clima em casa estava péssimo desde sua matrícula na Hope Art, com o pai insultando-o a cada vez que se viam. A mãe, por outro lado, ignorava-o. 

Mais um silêncio se instalou no quarto. Jimin estava extremamente afetado, lutando contra inúmeras tensões e medos que se instalaram em si, além do sentimento de culpa ao pensar em sua proximidade com Taehyung em público. Na pior das hipóteses, traria problemas até para o Kim. 

Yoohyeon o abraçava consoladoramente. Sabia que não havia o que pudesse dizer que aliviasse a tensão. Afinal, só mudando a cabeça de seus conservadores pais — e daquela sociedade maldosa — que poderia garantir a Jimin que o fato de ser gay não alteraria em nada sua vida diária, relações e oportunidades. 

Cansados emocional e fisicamente, os irmãos permitiram-se aconchegar nas cobertas e fechar os olhos. Entretanto, a cabeça de Jimin latejava ligeiramente, mostrando-lhe que não seria tão fácil cair no sono. 

 

(...)

 

Na manhã seguinte, Park acordou sua irmã mais velha. Como ela trabalhava de home office, não se levantava tão cedo quanto o mais novo. 

Porém, naquele dia, eles decidiram ter uma manhã diferente: Iriam tomar café fora de casa. 

Vestidos adequadamente, os dois saíram calados. O céu escuro da manhã causava uma sensação de preguiça em Yoohyeon. 

Pararam de caminhar quando chegaram à lanchonete desejada, bem próxima ao trabalho de Jimin. 

Fizeram seus pedidos rapidamente, já que não havia fila. A mais velha pediu um café forte, desejando acordar de vez. Já o rapaz pediu um cappuccino com leite, o que, em sua opinião, misturava e equilibrava sabores. 

Após escolherem uma mesa para sentar, Jimin puxou assunto:

— E você, noona? Como está? Ontem falamos de tantas coisas que nem consegui te perguntar propriamente. 

Yoohyeon sorriu pequeno. Seus olhos piscaram algumas vezes, enquanto decidia agarrar a brecha da pergunta e compartilhar sua angústia de muitos dias. 

— Eu e Heeseung terminamos. — Jimin a encarou com uma expressão vazia. Ouviu o que foi dito, mas não processou a informação.

Heeseung e Yoohyeon mantiveram um relacionamento por quase 7 anos. Jamais esperaria uma notícia daquela, ainda mais dita tão casualmente.

— Está brincando?

— Claro que não, Mochi. É real… Terminamos semana passada. 

O jovem piscou várias vezes antes de soltar algum outro comentário. Pestenejou internamente, pois não sabia o que dizer à irmã. Ela não parecia tão abalada, mas, ao mesmo tempo, era muito improvável que de fato não estivesse. 

— O que houve entre vocês, noona?

— Ah… Heeseung é ótimo. Mas eu percebi que havia me apegado a ele porque desejo muito sair de casa. Não nego que gostava dele, mas a ideia do que ele me possibilitaria me atraia muito mais, entende? E isso não é saudável, muito menos justo para ele. 

Jimin suspirou. Ainda estava surpreso, então não conseguia pensar em algo para dizer. Não foi preciso, porém, pois Yoohyeon bebeu seu café e tornou a falar:

— As coisas lá em casa não são fáceis, Jimin, você sabe bem. Mas, para mim e Minji, as filhas mulheres… Oh, é bem mais complexo. Você está tentando alcançar sua liberdade, o que é ótimo. Mas, para nós, isso nunca dependeu exclusivamente do nosso esforço e vontade. A ordem é clara: devemos nos casar se quisermos ir morar em outro lugar. E eu sinceramente não suporto mais isso. 

Jimin nunca havia ouvido a irmã reclamar do modo e costumes que seus pais os criaram, mas sabia bem que inúmeras coisas a incomodavam. 

Tentando consolá-la, buscou sua mão e a apertou, como se dissesse que estava ali por si. E realmente estava, de todo seu corpo e coração. 

— Sinto muito.

Yoohyeon sorriu, mostrando os dentes bonitos e deixando os olhinhos menores. 

— Vai ficar tudo bem — afirmou com firmeza na voz. — Agora, se não quiser chegar atrasado e ouvir xingo daquele seu supervisor nojento, você deve se apressar. 

Jimin conferiu o relógio e viu que ela estava certa. Por isso, terminou seu pedido de maneira desajeitada, respingando um pouco do líquido na mesa. 

— Te vejo mais tarde — disse e beijou o topo da cabeça da irmã. Andou apressado até a saída do estabelecimento e, de lá, gritou: — Te amo! 


 

“Tem um quarto

No meu coração, com memórias que nós fizemos

Escondi-as, mas elas ainda estão em suas molduras

Não tem como eu esquecer”

Never Not - Lauv

   


 

Hoseok bufou ao escutar o início da melodia, entrando no quarto do irmão a passos firmes.

We were so beautiful

We were so tragic

No other magic could ever compare

 

Lost myself, seventeen

Then you came found me

No other magic

Could ever compare

 

There’s a room

In my heart with the memories we made

Took em down but they’re still in their frames

There’s no way I could ever forget

 

A voz harmoniosa do cantor ecoava pelo ambiente. 

— Okay, já chega disso.

O dedo comprido desligou a caixinha de som que repetia a mesma música desde que havia chamado Jungkook para tomar café da manhã — há uns bons quarenta minutos antes de sua invasão no quarto escuro. 

Abriu as cortinas, ouvindo o resmungo do garoto deitado. O mais velho detestava os momentos em que tinha que bancar o adulto responsável, mas às vezes era necessário. 

— Levanta, Jungkook. — Nenhum movimento. — Sério, levanta. 

Cruzou os braços esperando que seu pedido fosse atendido. 

— O que foi, hyung? Por que está fazendo isso? Hoje não tenho aula nos primeiros horários.

— Primeiro: isso é mentira. Segundo: eu não vou deixar você ficar o dia inteiro nessa cama igual fez ontem.

Jungkook sentou-se com os cabelos desgrenhados. Nem tentou discutir, sabia que o irmão queria ajudar. 

— Olha, eu sei que é difícil. Sei mesmo, já fiquei muito frustrado na vida. Existem maneiras e maneiras de extravasar e definitivamente ficar encarando o teto ouvindo essa música melancólica não é uma delas. Não está te fazendo bem. Vem, vamos tomar café. Vou ter que ir à Academia e você vai comigo. 

— Hyung, eu não sou uma criança! Não tem necessidade nenhuma de-

— Jungkook, te dou vinte minutos para estar pronto para ir embora comigo. E garanto que se eu tiver que te chamar de novo, vai ser pior.

Eles se olharam e não conseguiram segurar o riso. Era engraçado quando Hoseok tentava bancar o sério, ambos sabiam que era em grande parte atuação. Entretanto, sempre surtia efeito, pois Jungkook sabia que o que o irmão não tinha de braveza, tinha de habilidade para o irritar até conseguir o que queria. 

     

(...)

 

Hoseok foi dar a primeira aula do dia. Havia sido um custo para Jungkook convencer o irmão a deixá-lo ficar do lado de fora. Ele amava as aulas do mais velho, mas definitivamente não estava no clima. 

Assim, sentou-se no chão do corredor e colocou seu fone de ouvido. Ficou tentado a reproduzir Never Not, que o lembrava tanto de sua relação com Taehyung. Entretanto, teve uma ideia para distraí-lo: avaliar seu cover gravado anteriormente, com a ajuda do Kim. 

Bufou por se lembrar desse detalhe, tendo a sensação de que não conseguiria esquecer-se do amigo de fios azuis naquele dia. 

Viu o cover repetidas vezes. Jungkook era meio perfeccionista com seu canal, então era difícil para ele ficar completamente satisfeito com algo que gravava. Entretanto, por mais irônico que fosse, tinha achado aquele cover muito bom. 

Suas costas doíam pelo contato duro da parede. Pretendia se levantar, mas foi surpreendido pela presença de Namjoon ao seu lado. 

— Não deveria estar na faculdade? 

— Sim. Mas se eu não estivesse aqui, estaria na cama me remoendo. 

O mais velho assentiu, voltando sua atenção ao celular nas mãos de Jungkook. 

— É um cover? 

— Uhum. Gostei dele, mas sei lá… Ainda não decidi se vou postar. 

— Posso ver? — Jeon concordou sem nem relutar. Se tinha uma pessoa a quem confiaria a sua vida, essa pessoa era Kim Namjoon, o sábio amigo que dava conselhos e conversas preciosas. 

Eles assistiram juntos e em silêncio, focados.

Assim que o vídeo finalizou, Namjoon procurou os olhos do mais novo. 

— Isso ficou ótimo, Kookie. Parabéns! — Seu sorriso gigante e as covinhas marcadas fizeram Jeon sorrir também. 

— Acha que eu devo postar?

— Mas é claro! E não só porque ficou bom, mas porque assim é um jeito de colocar para fora esse tanto de emoção guardada aí. — Mexeu a cabeça, indicando o peito de Jungkook. — Bom, agora tenho que ir. Ficou sabendo da novidade?

O mais novo, ainda sentado no chão, negou. 

— Quando tiver aula com Yoongi, vai perceber que finalmente a direção aumentou o tempo de algumas turmas. A sua é uma delas. A de dança também, se não estou enganado. E, para começar essa nova fase na Academia, projetos interdisciplinares estão por vir.

Namjoon soltou uma risada animada, fazendo Jungkook rir também. Ele ficou feliz com a novidade, pois além de saber que o aumento do tempo das aulas era uma demanda importante na Hope Art, estava empolgado para se distrair com algo novo. 

 

(...)

 

A ida à Hope Art havia sido inegavelmente saudável para Jungkook. Além de ter se ocupado com outras coisas senão seus pensamentos, terminaria o dia confiante após a aula de música. 

Internamente, fizera um combinado que, naquela noite, postaria seu cover e finalmente voltaria a manter seu canal ativo. E aquilo lhe trouxera uma motivação estranha, mas muito bem-vinda.

Quando achava que nada mais o iria abalar, avistou uma cabeleira chamativa no final do corredor. Kim Taehyung. 

Jeon cogitou voltar pelo caminho e fingir que não avistara ninguém. Entretanto, antes que seu corpo pudesse o obedecer, o olhar do mais velho encontrou o seu. 

Jungkook rapidamente desviou, pegando seu celular e prendendo seus olhos nervosos na tela apagada. Seus dedos apertavam o aparelho com um pouco mais de força do que o necessário. 

Assim que ficaram lado a lado no corredor, pôde ver que Kim havia passado cabisbaixo. Suspirou triste, tentando voltar à boa sensação de segundos antes. 

Falhou. Abalado, balançou a cabeça, quase como se pudesse tirar a sensação desanimadora no ato. 

 

(...)

 

Faltava algum tempo para Yoongi finalizar a aula. Contudo, ele interrompeu o momento de concentração dos alunos para explicar o motivo de sua felicidade. 

Com um sorriso persistente, anunciou:

— Acho que vocês já estão sabendo do aumento de carga horária das nossas aulas, certo? — Os alunos assentiram em ritmos diferentes. — Pois bem. Como forma de comemoração desta conquista, eu e os professores Hoseok e Taemin vamos propor um projeto a vocês. 

— Vamos trabalhar com os dançarinos? — Ryujin perguntou, arrancando risadinhas e burburinhos dos colegas. 

— Sim — Yoongi estava tão contente com a situação que nem se importou com o clima de exaltação criado na sala. — Basicamente iremos juntar vocês e os alunos de dança para apresentarem, em grupos, uma coreografia baseada em uma música que, em conjunto, será decidida. 

— Nós teremos que dançar? – uma das meninas mais novas da classe perguntou. Claramente era uma que sofria com a timidez, pois suas bochechas já estavam extremamente ruborizadas. 

— Só se quiserem. A forma de apresentação será decidida pelo grupo. Quem irá tocar, cantar, dançar ou se todos irão fazer tudo isso, é vocês que decidirão. O que eu, Hoseok e Taemin iremos fazer é simplesmente avaliar como foi o desempenho de cada um. Alguma dúvida ou já podemos ir até o auditório?

Após ver que ninguém mais tinha perguntas, a turma seguiu até o local indicado. As outras duas salas já os aguardavam. 

Qualquer resquício de alegria que restara em Jungkook foi embora assim que passou seus olhos pelos colegas e viu Jimin sentado perto de alguns meninos. Seus olhos estavam arregalados, e Min notou.

Deu uma risadinha de seu ex, desejando mentalmente que ele mantivesse sua postura. Caso contrário, cada vez que ele olhasse Jimin faria aquela expressão de surpresa e, em seguida, de descontentamento. 

Jungkook sentiu seu humor ficar péssimo. Lembrou-se de Park e Taehyung juntos, enquanto ele fazia papel de palhaço… A raiva começou a lhe preencher. 

Para deixar os alunos confortáveis, os três professores propuseram algumas dinâmicas. Depois que o nervosismo inicial havia se dissipado e todos pareciam mais à vontade, as explicações mais precisas foram sendo feitas. 

— E como os grupos serão separados? — Uma aluna de Hoseok perguntou, fazendo todos ficarem ainda mais atentos diante da espera da resposta. 

— Ponto importante! As divisões foram feitas previamente por nós. Utilizamos critérios sigilosos, que nos ajudarão na avaliação. Os grupos variaram de quatro pessoas a duplas, então não se assustem com as diferenças. — Yoongi disse com a voz calma. 

— Os papéis com os grupos estão ali, com a Mina. Ela nos ajudará a organizar o projeto. Portanto, façam uma fila e verifiquem com quem irão trabalhar.

Os jovens prontamente se levantaram e se ajeitaram uns atrás dos outros. 

Jungkook entrou na fila emburrado. Tentou distrair-se observando Mina, que sorria educadamente para cada um que em sua mesa parava. Era nítido o quão atenciosa ela era.

O rapaz de cabelos escuros sorriu educado quando viu que chegara sua vez. Aproximou-se e a garota procurou seu nome em uma grande lista, antes mesmo que ele precisasse se apresentar. Jungkook não se surpreendeu, pois ela havia sido uma das alunas dedicadas de Hoseok antes de ser funcionária na Academia de Artes e, por isso, sabia bem o nome do irmão do professor. 

— Jungkook, você está no grupo oito. Seu parceiro será... — Seu dedo passava pelo papel, buscando a informação. — Park Jimin. 

O sorriso dele murchou em seu rosto, formando uma careta. Mina franziu o cenho, pronunciando-se:

— Isso é estranho, na verdade. Park entrou há pouco tempo. Ei, Taemin-ssi! 

O professor chamado veio andando com uma expressão curiosa. Assim que ele chegou perto o bastante, a assistente perguntou:

— Jungkook e Park Jimin são uma dupla. Houve algum engano? Park é novato, certo?

— Ele é novato na Hope Art, mas tem muita experiência. Não houve engano, eu os coloquei juntos. Sei que serão uma dupla impecável!

Taemin sorriu amável e, após dar uma piscadela em direção ao mais novo, se afastou, indo a um grupo que falava alto demais.

— Bom, então será você e Jimin-ssi. Se não souber quem ele é, peço a Hoseok para lhe mostrar. De toda forma, ele tem cabelo descolorido. Não vai demorar a vê-lo por aí. 

Jeon estava incrédulo. O quão azarado ele podia ser?

— Tem alguma dúvida? 

Ao ouvir a pergunta, percebeu que empacava a fila. Negou, sem graça, e caminhou para um dos assentos que tinha ali. 

Estava sem coragem de procurar por Jimin, então ficou observando o espaço do auditório. Alguns grupos já estavam reunidos, e as pessoas restantes na fila estavam claramente em êxtase e curiosas. 

Jungkook percebeu que Jimin estava na fila. Contra sua vontade, levantou-se e foi até ele. 

Assim que o viu, Park ficou surpreso pela aproximação. 

— Não precisa ficar na fila. Somos uma dupla. 

Jungkook mal terminara de falar quando percebeu que Jimin prendeu o ar. Ele estava completamente sem reação, quase esperando que o mais novo dissesse que era uma piada. 

— É sério. Somos uma dupla — repetiu. 

Talvez a seriedade de sua voz tenha despertado o loiro do transe, pois ele o seguiu para fora da fila. Os dois estavam demasiadamente desconfortáveis. 

O mais alto procurou o irmão com o olhar, mesmo sabendo que ele não tivera nada a ver com a situação. Afinal, se tivesse consciência da informação, Jeon tinha certeza de que o irmão teria feito Taemin desistir de colocar os dois juntos. 

Quando Hoseok os viu, aproximou-se quase tão surpreso quanto Jimin. 

— Vocês ficaram juntos?

Os dois mais jovens assentiram automaticamente, como robôs. 

Um silêncio constrangedor se instalara. 

O professor coçou a cabeça, sem saber ao certo o que fazer. 

— Querem trocar? Posso tentar conversar com Taemin e Yoongi. Eu não sabia… Sinto muito, meninos.

— Não precisa, hyung. Imagino como deve ter sido difícil organizar os grupos. Nós conseguimos superar isso. 

Jimin surpreendeu-se com a maturidade da resposta de Jeon. Assentiu, reforçando suas palavras. Por ele, de fato, poderiam passar por aquilo sem muitos problemas. 

— Jungkook está certo. Nós conseguiremos participar.

    Jimin deu um pequeno sorriso, que foi imitado por Hoseok. 

    — Fico feliz por ouvir isso. Se precisarem, me chamem. Por ora, estamos sugerindo que os grupos troquem ideias sobre que tipo de coreografia, música e elementos artísticos pretendem usar.

    Os dois foram deixados com uma expressão vazia. A estranheza fez-se novamente presente. 

    Jungkook suspirou, sentando-se no local escolhido. Jimin e ele se encararam por tempo demais, ambos sem saber como conversar. 

    O primeiro passo parecia muito difícil de ser dado.

 


Notas Finais


E os jikook entram em contato uuuuh

Betada pela linda @ifminie

Novidade e pedido de apoio: Essa história agora está também no wattpad! Queria pedir para quem tem conta lá dar um apoio, ajudar a divulgar e votar <3
O link é esse: https://www.wattpad.com/story/266371945-cores-flores-e-borboletas-taekookmin

Sobre as músicas desse cap:

Zombie (english version) - Day6: https://www.youtube.com/watch?v=WehhSc1knYY
Dança - Dois é Par: https://www.youtube.com/watch?v=Vp4F0p-49XM (o vídeo é a coisa mais linda)
Partilhar - Rubel: https://www.youtube.com/watch?v=ivHE7pQEEHI
Never Not - Lauv: https://www.youtube.com/watch?v=VT_hLby9uSY (impossível não lembrar de taekook quando escuto)

É isso!

Beijo grandão e até breve!!!


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