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História Corte de Luz e Sangue - Primeiro Contato


Escrita por: CeriseBordeaux

Notas do Autor


Resolvi adiantar o capítulo 4 para conseguir postar o 5 na quinta-feira. Sei que o combinado foi postar às quartas, mas eu quero dar uma adiantada no andamento de tudo.

Espero que estejam gostando da história! Muito obrigada por todo o carinho e apoio, vocês são incríveis!

Vejo vocês em dois dias ^.^

Capítulo 4 - Primeiro Contato


Fanfic / Fanfiction Corte de Luz e Sangue - Primeiro Contato

Entreguei mais uma maçã à Hortelã, que a abocanhou sem pensar duas vezes. Eu sorri e afaguei sua crina. Já era a quinta que ela comia desde que me acordou com relinchos famintos pela manhã; fiquei tão preocupada de algo ter acontecido-lhe que não consegui mais pegar no sono desde então. — Criatura exigente e esfomeada — disse com carinho. — Juro pelo Caldeirão que um dia você ainda comerá uma dispensa inteira… — ela bateu com os cascos no chão, furando a grama com facilidade. — Vou tentar arrumar comida decente para você, Horty, só espere as coisas se acalmaram um pouco, sim? 

Ao terminar de comer, ela encostou o focinho em minha mão em agradecimento e se distanciou, cansada de ter que me ouvir falar.

— Tudo bem, milady, não venha me procurar quando estiver entediada! — ela continuou trotando para longe, me ignorando com sucesso.

Revirando os olhos, voltei para dentro da mansão. 

O cheiro de canela estava por todos os cantos, forte do jeito que eu gostava, e eu não demorei muito para me lançar no sofá onde dormira e me servir com o chá. O sabor adocicado me fez suspirar baixinho — nada como uma bebida quente em um dia frio. 

Peguei o caderno que trouxera comigo e encarei a folha em branco por alguns segundos, pena e tinteiro repousando à minha frente na mesinha de centro. Por fim, molhei a ponta da pena e comecei a escrever:

Já fazem longos dias desde que deixei a Corte Estival. Sinceramente, não faço ideia de como não fui atacada durante a jornada — gosto de pensar que eu consegui ser discreta o suficiente para não despertar as criaturas, mas talvez elas só não tenham me achado apetitosa o suficiente para ser devorada. De qualquer forma, tenha que fazer uma prece à Mãe em agradecimento mais tarde. Sem dúvida tem dedo dela nisso.

Tudo está muito diferente do que eu me lembrava, isso é, considerando que eu não vi muita coisa por aqui antes de buscarmos refúgio em Saera. Tudo que era verde e colorido e vivo simplesmente… Murchou. Secou. Morreu. 

É uma boa metáfora para o que aconteceu com todos nesses últimos tempos, em especial quem sobreviveu. Não conheço uma pessoa sequer que esteja com a cabeça inteira após tudo isso. Mas acho que a guerra faz esse tipo de coisa.

Quando cheguei em Vale da Alegria há alguns dias, contudo, fui recebida em uma pequena taverna e apesar da situação complicada em que a população restante da cidade se encontra, pela primeira vez em três anos pude sentir um pingo de normalidade novamente.

De esperança.

E me sobreveio a certeza de que o que estou fazendo é certo. Que vai importar para alguém…  

Caso o Grão-Senhor se recupere, é claro. O estado em que o encontrei quando cheguei a Rosehall era deplorável, e não me refiro apenas ao ferimento físico dele. É sabido que ele ainda não superou o fim de sua relação com a Grã-Senhora da Corte Noturna, mas não imaginei que fosse tão sério. Não que eu deva me intrometer, óbvio, mas é difícil não notar quando ele em nada parece com o macho que conheci em Blooming Manor. É como ver um fantasma. Ele está definhando, não passa de um morto em vida. 

Torço para ele conseguir se recuperar, caso contrário minha viagem até aqui terá sido à toa.

Uma gota de tinta pingou sobre a primeira letra da frase seguinte enquanto eu pensava no que escrever a seguir, manchando-a de preto no mesmo instante. Resmungando, baixei a pena e soprei a área para secá-la o mais rápido possível. Fechei o caderno e o vidro com tinta, guardando-os cuidadosamente com a pena em minha bolsa de viagem.

Um grunhido de dor capturou minha atenção, fazendo-me parar e erguer o olhar em direção às cobertas verde-escuras.

O cheiro de sangue se intensificou sob o aroma do chá de canela que eu bebericava e franzi o nariz, náuseas surgindo rapidamente. Não era a melhor coisa a se sentir logo após o desjejum. Se bem que mingau de aveia — a única coisa que ainda era comestível naquela mansão — mal poderia ser considerado um desjejum propriamente dito, em especial um que fora queimado e estava cheio de pelotas amargas (cortesia das lamúrias de Lady Hortelã). 

Ainda assim, era melhor que pão duro e água.

 O Grão-Senhor movimentou o rosto de um lado para o outro, como se a luz do sol que entrava pela janela o irritasse. Com lentidão, ele abriu os olhos, que pareceram demorar a focar no lustre de ouro acima de nós. E então, devagar, ele tentou se sentar, apenas para grunhir novamente. 

Eu me apressei, tentando colocá-lo de volta à posição que estava, só então percebendo que me aproximara. 

    Conforme ele se virou para mim, seus olhos se arregalaram e pude sentir seus músculos tensionarem sob meu toque. Seus lábios pálidos e rachados abriram-se levemente, mas eu apenas o silenciei:

— Não se esforce demais, você perdeu muito sangue e precisa descansar… — alertei, voz o mais suave possível.

Estiquei-me até a mesinha de centro, tomando em minhas mãos a jarra com água e um copo que deixara ali justamente para quando o macho despertasse. Conforme o enchia, notei que os olhos verdes não me deixavam em momento algum. 

Ergui meu rosto, sustentando seu olhar em silêncio. Duvidava que ele se lembrasse de mim após me ver uma única vez, mas ao menos parecia tentar entender o porquê de achar uma desconhecida razoavelmente familiar. Ou talvez ele simplesmente esperasse um ataque.

Coloquei o copo em suas mãos e ele hesitou por um instante. — Não está envenenado, se é o que está se perguntando. — o Grão-Senhor nada disse, mas não tocou no conteúdo do copo. Nos encaramos mais um pouco, ambos dispostos a mostrar firmeza. — Sua garganta deve estar ardendo como o inferno, quer mesmo fingir não estar sentindo nada só porque está com medo de que eu lhe faça mal? Não acha que se quisesse fazê-lo já teria tirado proveito de sua condição?

Por algum tempo, ele permaneceu com os olhos semicerrados. Contudo, dessa vez, ele levou a água à boca.

Estava tão sedento que mal percebeu que boa parte do conteúdo escorria por seu queixo, parando de virar o copo quando já não havia nada nele. Ele suspirou afobado e eu ri, atraindo sua atenção.

— O quê? — perguntou irritado, a voz mais rouca do que da vez em que nos conhecemos.

— Nada, nada… — ergui a jarra, notando como seus olhos brilharam ao vê-la — Quer mais um pouco?

    O Grão-Senhor assentiu, estendendo o copo em minha direção. E de novo. E de novo. Antes que ele pedisse mais água, levantei-me com a jarra em mãos.

— Deve estar faminto, quer que eu lhe traga um pouco de mingau? Não está maravilhoso — apressei-me em dizer —, mas a única coisa que não estava inteiramente estragada em sua despensa era aveia e um pouco de leite, e também tenho um pouco de pão… Qual deles soa melhor para você?

    Ele franziu as sobrancelhas. — Não tenho fome, tenho sede.

— Se beber mais após ter passado mais de 3 dias sem se alimentar, vai acabar vomitando e piorando seu estado, já é o suficiente. Agora escolha, pão ou mingau?

— Já disse que não tenho… — um ronco alto o interrompeu e eu arqueei uma sobrancelha ao vê-lo enrubescer.

— O que ia dizer mesmo?

    Se olhares matassem, eu teria sido lançada em uma cova naquele momento. Talvez pelo fato de estar faminto, ele pareceu engolir a vergonha e baixou o olhar para o copo em suas mãos: — Mingau… Por favor.

    Pela manhã ficava fácil encontrar o caminho certo até a cozinha, mesmo que há alguns dias eu houvesse limpado a trilha de sujeira que criei em minha chegada. Para falar a verdade, eu já estava começando a me acostumar com a mansão. Não que eu estivesse explorando-a propriamente, mas conseguir me localizar pelas áreas que eram importantes (basicamente a cozinha, salão e banheiro) era o suficiente para mim.

    Além disso, não era como se eu de fato tivesse a oportunidade para explorá-la — não com o macho fraco que precisava de atenção no meio do salão de visitas.

    Quando voltei ao salão, ele mal conseguia desviar o olhar da tigela de porcelana que ainda fumegava. Sentei-me ao seu lado, mas não coloquei a comida em suas mãos, optando por encher uma colher e erguê-la em direção ao seu rosto. Ele pareceu ultrajado. — O que você pensa que está fazendo?

Arqueei uma sobrancelha. — Te ajudando a comer?

Ele inclinou o corpo para trás, tentando se desvencilhar da colher. — Eu não sou uma criança, não preciso de ajuda! 

— Mas está em recuperação após ser gravemente ferido! — rebati, sentindo a pouca paciência que me restava começar a se esvair.

— Pensa que sou fraco a ponto de não conseguir me alimentar por conta própria? 

— Penso que estou tentando te ajudar, só isso! 

— Me humilhar ainda mais, você quer dizer! — declarou entredentes. 

— O quê? Não! — eu o encarei em choque — De onde você tirou isso?

— Quem te mandou aqui? Acaso Rhysand — o nome era puro ácido ao sair de sua boca e mesmo sua expressão escureceu ao proferi-lo. — deseja mostrar às outras cortes o quão misericordioso e benevolente ele é para aqueles que o odeiam? Ele quer me humilhar ainda mais para continuar a ser bem-visto por todos?

— Não fui mandada por Rhysand.

— Quem foi então? Foi Lucien querendo que eu o perdoe após ter torcido a faca com a qual Feyre me apunhalou nas costas?

— Não fui mandada por ninguém — reiterei. — além de mim mesma.

    Ele semicerrou os olhos para mim, suas bochechas já um pouco mais coradas do que na noite anterior.

— Quer mesmo que eu acredite que alguém viria aqui por livre e espontânea vontade? 

Suspirei. Ele estava se mostrando mais difícil do que eu esperava, até mesmo um pouco paranoico demais. 

— Escute, eu não me importo se quiser acreditar que fui mandada como espiã para seja lá o que alguém poderia querer fazer com essa corte — declarei com uma expressão séria, os olhos nunca deixando seu rosto. — mas sei pelo quê vim e nada mudará isso. Portanto, peço para que pare de citar pessoas aleatórias que claramente não vieram te ajudar; elas não têm nada a ver comigo e também não desejo que tenham! Agora abra a boca e me deixe te alimentar, não quero ter que te remendar mais uma vez!

    O Grão-Senhor me olhou sem dizer nada por longos instantes, o barulho das folhas balançando ao vento no jardim era a única coisa que rompia o silêncio. Eu quase podia ouvir a análise de seus pensamentos. Será que de fato tinha aparecido ali por pura e espontânea vontade? Será que eu era confiável? 

    A contragosto, abriu a boca e eu enfiei a colher com cuidado dentro dela. Ele fez uma leve careta ao mastigar, provavelmente por conta do gosto de queimado, mas não reclamou. Entre uma colherada e outra, semicerrou os olhos, finalmente me indagando o que queria desde o começo: — Quem é você?

— Me chamo Ophelia Olaris. Já faz algum tempo, não é, primo?



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